Uma das coisas que nunca entendi na história contemporânea portuguesa é a incapacidade de se moldar e transformar os temas e torná-los originais. Daí que todas as pessoas que conheço ficaram admiradas quando eu lhes dei a notícia de que queria fazer o mestrado em História Contemporânea. Na época estava a fazer a exposição "povo".
Creio que na época a pessoa responsável por eu ter mudado de área foi José Neves, meu formador e mais tarde professor de Ideias POlíticas e de História Cultural e das Mentalidades. Passado algum tempo depois da parte curricular do mestrado e de ter olhado para os moldes feitos do barro, feitos por cada professor e pelos meus colegas. Reconheço que não fui feito para moldar o ferro, o estanho e o aço, e não são bom contabilista de mortes. Nem sequer sei dar notícias trágicas, nem se quer sei se consigo escrever, se tenho uma boa capacidade de síntese ,ou se como me foi dito por um professor que o meu problema era estar no lugar errado: eu devia fazer stand- comedy. Nunca compreendi, porque razão é que nós devemos seguir as ideias de um momento e devemos respeitar velhos ditadores, seguir as linhas estruturais de cada professor.
Sei muito bem para onde vou, mas uma coisa tenho a certeza, eu não sei escrevo sobre o estanho. Não sei fazer composições sobre a sagrada bandeira e as saudades da nossa colónia. Também não sou saudosista de uma época em que todas as pessoas tinham medo uma das outras e que ainda hoje sofrem dos mesmos preconceitos. Sofri esse estigma à onze, doze, treze anos, por ter estudado numa universidade. Primeiro, porque era um aluno burro, ou filho de um burguês... Oh, meu Deus, quantos dos que lêem estes artigos não estudaram em universidades privadas, onde a maioria dos professores davam aulas nos estabelecimentos de ensino públicos. Mais tarde, essas pessoas forma obrigadas a ter regime de exclusividade, não que eu tenha qualquer respeito ou falta de respeito por elas ou não. Essas pessoas viram-me como números, como ovelhas que deviam seguir os estigmas da fé daquela religião. Quando me inscrevi no mestrado, pensei que tudo havia mudado, que poderia fazer questões mais ousadas, desafiar os professores. Fui tido como mal educado, mal estruturado, e ainda pior, era filho de classe burguesa, ou de classe média alta. Meus queridos, não só existe preconceito de direita, mas também da esquerda, porque quem se inscreve nestes cursos deve ter vocação para a carreira política. Porque é que temos que continuar a fazer fatiotas para o rei quando ele vai nu? Quando temos sempre os mesmos resultados de investigação... as mesmas premissas. Salve-se a história do desporto, da praia ( da tese orientada por um dos meus professores ) talvez haja aqui uma mudança... Talvez eu seja meramente limitado para compreender as mudanças do nosso mundo contemporâneo. Abandonei o barco, antes dele cair... porque há coisas que nós devemos ser capazes é de construir o nosso refúgio, o nosso pensamento, e não uma coisa lusco-fusca. Não, a história contemporânea deveria ser mais ousada, estudar coisas como o surf, a banda desenhada como Major Alvega, ou noutros casos imagens de lâminas dos séculos XIX e Século XX sobre a economia portuguesas. OU noutros casos, estudar as seitas portuguesas e aí tiro o chapéu à minha colega Mafalda Carvlho pela sua tese sobre as testemunhas de Jeová. Ou a tese de Ricardo Noronha sobre o futebol. Digam o que disserem, é um bom passo na alteração dos temas de investigação. Estudem a praia e levem-na para o campo de investigação. Gabo aqui também o trabalho meritório do meu colega Jaime Neves, professor na escola secundária D. João II onde os seus alunos fizeram um trabalho meritório na pesquisa. Podem dizer alguns que se trata de alzeimer cronológico, isso, meus amigos, como diria o outro, não havia, necessidade.Quando existem engenheiros a fazer trabalhos de investigação histórico,será esse também o alzeimer cronológico?Ou não será uma invejazinha?Porque sejamos sinceros meus amigos,todos nós vivemos de conhecimentos,mas também necessitamos por outro lado de que nos paguem... todos nós, independentes ou não, de cor política ,religiosa, desportiva ou humanitária. Iremos ter fé de que um dia o historiador, o professor de história possa inovar ensinar aos seus alunos possam acreditar na história. Tive uma colega de liceu que me dizia que "A aldeia da Roupa Branca era o filme da sua vida e que por ele queria ser historiadora."Vinte anos depois ela é doutoranda em História Contemporânea sobre a Maria de Lurdes Pintassilgo. O que podemos desejar a Paula Alexandra Borges Santos é que o Futuro lhe possa sorrir... E a todos os futuros historiadores que inovem... e não façam as mesmas coisas. Boa sorte!