Hoje vamos fazer uma viagem, mas não é uma viagem qualquer. É uma viagem  aos sentidos, das palavras , da magia  dos cheiros  que estão por trás de cada ingrediente  esconde uma  recordação da nossa infância. O objectivo desta viagem é revelar a história de um banquete mesopotâmico descrevendo  todos os passos desde o momento da confecção na cozinha onde existe uma  enorme azáfama nos preparativos  deste afamado banquete. Para  este povo  comer  e beber é um acto político, místico e sagrado. Um banquete era uma demonstração de hospitalidade, exigia-se uma organização antecipada  uma rígida etiqueta   que devia ser  respeitada. Recebia-se o convidado  com palavras  amistosas  actos  de afecto, abraços  e beijos, oferecendo-se água  para lavar  as mãos, óleos  perfumados  e roupas limpas. Quando  estavam acomodados  em cadeiras em redor  de pequenas mesas, iniciava-se o banquete. Os empregados traziam  bandejas com iguarias finamente regadas  com muita cerveja e muito vinho. Antes da sobremesa   fazia-se  um brinde  antes de se iniciar um espectáculo  que anunciava  saltibancos, bailarinas  e músicos.
A civilização assíria  exercia para Emília  um enorme fascínio  e profissionais como cozinheiros, padeiros, cervejeiros, não eram personagens comuns. Ao contrário da maioria  das pessoas  que encontra em romances de  cavalaria, a nossa amiga, a bonequinha de  pano  inventada por Monteiro Lobato  quis  conhecer  a história da cozinha  da Mesopotâmia. Para Emília  descobrir a língua e a escrita  feita por este povo era   uma forma de criar a sua imaginação  diante de formas onde  as palavras deviam ser proferidas  quando  fossem necessárias,  é que ali as terrenos eram diferentes de outras terras. Para  poder encontrar nesse reino encantado da arqueologia, das tábuas cuneiformes  onde estavam incluídas os tesouros das receitas  que  um velho senhor  lhe  havia deixado.
- O que está a fazer? –perguntou o  velho investigador  quando  a viu guardar  uma pequena tábua de argila.
- Vim aqui porque queria pedir-lhe um favor, o meu marido o rabicó, um porco  que  tem uma fome deste mundo e do outro decidiu viajar no tempo quis ir a um desses banquetes  e desapareceu, tenho a sensação  de que ele  foi comido numa dessas recepções  e eu  queria saber o que se passou nesse jantar , pensei  que estivesse o relato nesta tábua.
- Estamos perante uma assirióloga  de trapo? –perguntou o investigador em tom irónico.
- Conta-me uma história–disse ela então.
O investigador sabia das manhas  da Emília, aquela bonequinha era astuta e sabia  sempre o que fazer. Queria  saber o que se passara com o seu  esposo o marquês de Rabicó. Emília tinha a certeza de  que o seu porquinho  fora vítima de uma armadilha  e enviado  para um dos palácios, imaginava-o já a esguinchar, a esvair-se em sangue e a ser preparado para um grande banquete, segundo os livros  que  lera sobre o assunto dizia-se na mesopotâmia  o porco era um animal sujo, mas que era várias vezes consumido. Para saber  tudo isso ela estava ali  para saber que género de ossos devia procurar para os destinguir dos restantes ossos  de animais, já que aquele senhor que ali estava era arqueólogo. No fundo  eles são um pouco como os médicos legistas.  Ela procurava então novas pistas  saber o que acontecera ao seu esposo, mas o arqueólogo perguntou-lhe então:
- Que história  queres   que te conte? –perguntei o investigador olhando para os ossos de porco.
- Queres então saber como eram os hábitos alimentares  desse mesmo povo, queres então provar que num dos banquetes  eles comeram os porcos  e processá-los. Minha cara Emília vais ter que ir para esse período.
- Por isso te pedi para me contares uma história que fosse eu a protagonista. O arqueólogo já estava a ficar  cansado com os delírios da bonequinha de pano. Aquilo era demais .Como se não bastasse ela havia dito a Narizinho e  Pedrinho  que ela era a protagonista  de uma nova história onde o seu pai o escritor Monteiro Lobato estava a escrever sobre ela e a morte  do seu esposo  Rabicó.
- OH, Emília   não podias ter pensado noutra coisa  se não numa morte? –perguntou  Narizinho.
- Eu quero escrever romances policiais como a esposa  do arquéologo Artur Max malloman, a senhora Agatha  Cristie  eu tenho falado com ela   na sua casa de Verão no Iraque. Estão–me a contar como é que eles comiam, eles até me mostraram receitas com mais  de cinco mil anos, muitas delas  estão conservadas em museus. Acreditam que eles conhecem mais  de 100 espécies de pães e outras tantas quantidades de cerveja?
Para ouvir toda aquela história Narizinho e Pedrinho  recuaram talvez uns cinco milhares de anos, ali estavam homens que  comiam pão e bebiam  cerveja com uma palhinha. As crianças quiseram beber aquela  bebida.
_ Não podem estar  aqui, disse a taberneira, para além do mais estas bebidas  são para os  adultos.
Emília disse  que era uma senhora. A taberneira  começou-se a rir e disse:
- Minha  querida, você  só será senhora daqui  por muitos anos porque nesta altura só pode ser a deusa Inana, a  deusa  do amor e da guerra, só pode estar...
- É verdade, disse a bonequinha, por tanto pode  dar-nos  um daqueles sumos a mim e aos meus empregados...
- Emília! Não posso acreditar! Sua mentirosa!
A taberneira  olhou-a e disse interrompendo a bonequinha:
- Sabe que a mentira pode ser  punida aqui! Não sei de que país vocês vivem....
Se quiserem  beber alguma coisa bebam  um refresco granizado feito com gelo das montanhas. O que  querem beber, sumo de uvas, tâmaras ou romãs? Mas  a menina...!
Agatha  Cristie  apareceu  naquele  momento. Apresentando-se:
- Muito boa tarde! Meninos, vamos  embora!
- Peço desculpa, mas não sei de que país vêem. Devem ser  quê? Hititas! Aqui as mulheres não podem aqui entrar! Até uma boneca por amor de Samash, o que é que se passa aqui? Não conhecem as leis? As senhoras podem ser até  queimadas... e eu sabe-se lá o que pode acontecer...
- Mas  a senhora é uma mulher, muito metida  por sinal!
- Emily, estar a passar da marca! A menina não conhecer a culture de um país, portanta não poder julgar, understand? –disse Agatha  Cristie. O que iam  beber afinal? Posso  beber um sumo de uvas com eles, então senhora? Quanto é? Peço desculpa  a minha aluna  é muito egoísta!
Agatha  Cristie começou por explicar  que estavam na Mesopotâmia. O local onde hoje é o Iraque. Ali as mulheres eram completamente diferentes dos homens  e as tabernas eram um local  de rituais  onde não permitiam a presença de mulheres. Aquele país era  diferente onde viviam. Variava de acordo com a região, a norte  as montanhas eram cobertas  de neve no inverno, enquanto  no sul , nas margens  do Golfo Pérsico o calor era permanente. Em média  nota-se  uma variação das  estações, predominando um verão  rigoroso de maio a novembro. Este país  é rico em recursos naturais. A flora  é variável: pinheiros, carvalhos, nogueiras, ao norte, palmeiras, ao sul .Poderemos  ver ainda  a vinha aclimatada na Assíria. A agricultura, a criação de gado, a indústria  e comércio, eram as actividades económicas.
Emília interrompeu as explicações da escritora enquanto bebiam um sumo de uvas granizado com gelo.
- Então?A  indústria não apareceu no século  XIX?
- Darling, Are You mind? Não se diz aparecer , mas surgir. Quem aparece  é uma pessoa. Quando se  diz indústria  é num outro sentido , não naquele  que nos conhecemos. A agricultura  era  a mais  importante  das  actividades  económicas. Os principais produtos agrícolas   eram a cevada, cuja a medida servia  moeda, o sésamo , do qual se extraía o óleo  e a palmeira   cuja  utilidade  era variadíssima.  A vinha   e a figueira  eram igualmente  cultivadas  ao lado  de outras plantas usadas na indústria. Indústria, tomem atenção crianças um outro sentido, não comecem a escrever romances de história alternativa. Reparem   como este povo era inteligente  usavam técnicas muito avançadas para a época em questão .Foram os Sumérios  que criaram o primeiro sistema de refrigeração, muito parecido com os granizados que bebemos nos cafés .Eram extraídos do gelo  das montanhas.
Depois seguiram caminho  pelos campos onde viram uma  enorme  diversidade de animais  entre os quais, as vacas, burros e cavalos. Assim que  viu um grupo  de pessoas ali a trabalhar Emília  retirou de um dos bolsos uns ossos  que tinha consigo. Agatha Crystie ficou abismada .
- O que é que aquele cromo de pano vai fazer? –perguntou a escritora inglesa às crianças .
- Ah, ela é assim!- disseram Narizinho e Emília.
- Ando à procura  do meu marido. Viram-no? –perguntou Emília a um grupo de homens  que iam para as vinhas  das montanhas trabalhar. Os grupos traziam uvas  que iam ser colocadas  num lagar  e posteriormente ia ser prensado. A bonequinha quis saber todo o processo da operação, pouco tempo depois ficou a saber  que  ali perto  havia um templo onde iam  decorrer umas cerimónias consagradas ao deus Samash.
- Viram o meu marido?
- Quem é a senhora?
- Marquesa de Rabicó, e este, disse apontando  para os ossos que tinha nas mãos era o meu marido.
- Desculpe lá, se sabe que isso é o seu marido, porque nos pergunta?
- Porque queria falar com a pessoa  que falou com ele a última vez.
- Emily, quantas vezes não disse para não sair da margem  do rio. Que criaturinha  desancantadora!
- Eu tenho convite!
A escritora agradeceu  a amabilidade dos trabalhadores do palácio  e foram  recebidos por um grupo de pessoas  que os recebeu, abraçou   e levou-os  a lavar as mãos. Naquele país havia um ditado popular “não se podia comer com as mãos  sujas “ e tudo aquilo  fazia  sentido. Antes dali chegarem a escritora  deu-lhes algumas indicações. Começaram por dizer que eram uma família abastada  estava  para apresentação do novo rei. A  escritora disse logo que eles deviam retirar todos os objectos  que dessem muito nas vistas. Emília quis vestir-se como uma deusa. Usando um toucado contendo uma tiara  de cornamentas com um alarga túnica de volantes. A  escritora estava a perder  a paciência. Porque toda aquela  imprudência ia sair-lhes caro.
Pedrinho vestiu uma larga túnica de linho com flancos na parte de baixo   que cobriam a parte de baixo, calçou ainda umas sandálias, usou ainda um gorro pontiagudo.
-Oba! Genial! –disse o menino.
- Ainda falta mais uma coisa, disse a escritora. Um bastão, e ainda uns colares    umas braceletes ornamentados em metais preciosos. A escritora inglesa escolheu  uma túnica larga  para  esconder a sua obesidade, mais drapeada que cozida caíam  aos pés, escolheu um véu, e a velha senhora aconselhou Narizinho a usar também um. A menina escolheu  também uma túnica simples idêntica à da  escritora. Ambas escolheram sapatos, bastante leves de tecidos diferentes  que se adornavam consoante de apliques artísticos. Voltou-se para Emília e ordenou que uma aia lhe retirasse todas aquelas roupas.
- Quer ser comparada a uma escrava? Por favor não queira ser uma
- heroína  que não lhe fica nada bem, estamos aqui  de
- férias não queira ser  uma fonte de problemas, porque se não... é comparada a uma sacerdotisa de Isthar...
As aias  que as ajudavam começaram a rir-se. O olhar altivo da  escritora fê-las calar.
- Vamos lá  encontrarmo-nos com esses nossos amigos  de infância. A escritora  olhou para as crianças do Sítio  e disse-lhes:
- Preparem-se! Vamos visitar  a Mesopotâmia! Vou contar-lhes como é  que os Sumérios e  os Assírios  comiam. Emily, onde está?
Agatha  Cristie  andava  com muita dificuldade, suando por todos os lados. A escritora sorria ironicamente  para todas as pessoas  que a olhavam. Num quintal onde passaram lá estava Emília  a falar com  dois insectos que  as crianças identificaram ser besouros, os  seus agentes  secretos. Lá  estava mostrando o osso minúsculo dando-lhes indicações para falarem com cabras e carneiros.
Foram visitando algumas casas onde as pessoas  os receberam muito bem  e foram-lhes explicando como cozinhavam os alimentos .Através de água e fogo era um ponto essencial a tornar os alimentos mais saborosos  e constituía uma verdadeira revolução. O recurso à águia  fazia com que a cozedura  fosse mais fosse mais  fácil de controlar toda a operação  e que lhe desse ao mesmo tempo um verdadeiro valor nutritivo e ainda adicionavam  gordura e algumas especiarias. Este povo consagravam alguns alimentos aos  deuses, especialmente a carne  que a consumiam cerca de 6 vezes ao ano. Nas suas  casas não haviam salas dedicadas  ao comer  como hoje temos, disse a escritora quando uma senhora lhes mostrou não só como eles comiam, em liteiras e colocavam as bandejas no chão .Há um dado curioso eles não tinham uma hora certa para comer. Faziam-no sempre que queriam., disse uma senhora  que ali estava a mostrar-lhes os diversos locais.Quanto aos outros grupos sociais eles apenas se sentam de pernas cruzadas e  punham as liteias junto ao chão.
- O que comem, então? Não têm doces? Comem carne ou peixe?
- Vamos por partes , disse a dona da casa. A base da nossa alimentação centra-se  em cereais ,no trigo e milho  da qual fabricamos  nas nossas casas, pão e cerveja, há também uma torta plana,  e ainda trituramos   e transformamos esses grãos em bebidas. Comemos  ainda cebolas, pepinos e hortaliças.
Emília interrompeu então a senhora:
-  Pelo amor de Deus! Isso deve dar cá um hálito! Ah! Que horror! Deve ser para se protegerem  dos vampiros.
A senhora ficou atónita. Não percebia  do que estavam a falar e que deus seria aquele  que a bonequinha  estava a falar? Foi então a vez de Narizinho comentar:
- Mas hoje em  dia há pessoas  que as comem, cebola, alho...
A escritora olhou-os a todos e remediou a situação dizendo:
- Tudo isso   não passa  de uma história literária de um romance, mas quem consume cebolas e alhos também fica prevenido  de várias doenças e melhora sem dúvida a circulação sanguínea.  Vamos ouvir o que esta senhora tem para  nos dizer ou não crianças?
A senhora agradeceu  e continuou  as suas explicações.  Passaram então a falar do pescado. O peixe era muito apreciado pelos mesopotâmicos. Era também acessível a todas as bolsas.  Para além do peixe, as aves  de curral eram também apetecíveis pela sua carne e os seus ovos.
Emília a bonequinha  de trapo  aproximou-se para ouvir aquela história já que se tratava de uma novidade. Agatha  Cristie disse que podiam resolver o problema do marquês de Rabicó procurando especialistas da área  como os professores Kátia Paim Pozzer, Jean Bottero  e ainda António Ramos  dos Santos. Tal como acontece  nos contos de fadas, todos eles entraram na floresta de barro onde haviam ilustrações de banquetes, jantares que eram apresentados através da arte. Naquele lugar apareceu um senhor  de idade avançada  que nos convidou  a sentar e jantar com ele. Antes de começarmos a comer  ele disse-nos  que devíamos lavar as mãos. Entraram  então uma senhora  que lavasse  as mãos  e preparasse: Nada  de mãos sujos! Os nossos amigos sumérios  já tinham  hábitos  de higiene! E essa máxima  livrou-os de grandes problemas...
Emília gritou. Olhou-nos a todos como se fosse um detective  das histórias  de Agatha Cristie e disse:
- Já sei  o que aconteceu! A senhora também sabe! Escreveu  imensas histórias parecidas a esta!
- Darling! É  de ver mesmo uma boneca casada com um porco com sangue real é que é mesmo irreal! –disse Agatha Crystie a rir. Já estou a imaginar o título” a mulher  de trapos  à procura do seu porco legítimo “Ah ! Ah! Desculpar isto não é normal! Emily, nunca se deve interromper  quem  está a falar! É  falta de educação! Já estou a perder a paciência consigo!
Emília sorria e não ligava nada ao que a escritora estava a dizer. Aparecia  e desapareciam  com letras  e algarismos  em acádico  e sumério  que chamou a atenção do assiriólogo. Aquela  bonequinha  conseguia ser por vezes  incoveniente! Todos olharam-na com verdadeiro ar de desagrado à excepção do sumérologo francês.
- Permitam-me  que fale, a vossa amiga  foi buscar alguns termos  que eu estudei para explicar a ordem das palavras como comida, água, sopa  que podem ter  diversos significados  e a sua própria  explicação está nas suas próprias imagens A cozinha mesopotâmica é verdadeiramente sedutora. Eles tinham uma cozinha sacrificial  onde dedicavam bois e ovelhas aos deuses como forma  de lhes prestar culto.
- Senhor Jean, existem contos literários sobre a alimentação? –perguntou Narizinho.
- Claro  que sim, todos os seus hábitos dão um melhor conhecimento sobre a sua  cultura  e estratificação  social. Podemos até extrair  desses contos explicações plausíveis pela própria geografia, e outras histórias  dos cereais, até dos animais que foram domesticados. O que fazia parte da dieta alimentar ou então sobre o aparecimento do homem. Num  desses textos há duas divindades protectoras  dos alimentos  onde  a origem vegetal e animal. Nesse texto chamado Asnan contra Lahar. Estamos num outro plano. Há animais de pequeno  e médio porte, como suínos  ou porcos. Emília aproveitou a oportunidade para  mostrar um osso de porco   que tinha nas mãos mostrando-o ao arqueólogo .Emília prontificou-se a apresentar a sua tese  de que o osso  que tinha nas suas mãos era o seu marido o Marquês de Rabicó. Pouco depois o historiador francês olhou-a e fez-se um grande silêncio. Foi então  que ele transmitiu a sua grande revelação:
- Emille, ma petite poupée, esse é um osso muito recente. De facto trata-se de um osso de um porco, mas daí a reconhecer  que ele seja o seu marido... Marido? Mas é tão  novinha!
- Mas eu sou uma senhora!!!
Todos olharam a boneca de trapos.
- Emília! Estás a passar das marcas!-disse Narizinho.
- Não se preocupe , disse o historiador. Já vamos descobrir esse segredo, está bem? – disse  ele piscando-nos o olho.
- Como vimos, esse consumo leva-nos  a descobrir como aves à excepção  das galinhas  que chegaram tardiamente na Assíria.
- Que animais  de caça  consumiam o povo mesopotâmico? –perguntou Pedrinho.
- Boa observação, já vi  que gosta de desportos de caça! Temos muitos peixes de água doce  e salgada como crustáceos, mariscos  e insectos como os gafanhotos.
Todos se olharam.
- Que nojo!-gritou Emília. Vou criar  a Associação  de Protecção aos Gafanhotos . Como é que os vamos ouvir cantar?-  perguntou Emília.
O historiador começou a rir:
-Mas é claro que sim! Nos banquetes  com a barriga  a dar horas. Vamos  continuar? Há ainda  conhecimento de  que eles produziam leite, manteiga, gorduras vegetais (sésamo e azeite)  e ainda produtos minerais e cinzas.
- Cinzas? – voltou a perguntar.
- Petit Popée, você devia ser júri. Tem uma curiosidade e um poder de observação muito forte .É normal  que as pessoas reajam assim ,tratam-se de cinco mil anos  de diferenças. Hoje em dia olhamos para o passado, mas para  os historiadores e os arqueólogos vivem as informações de uma forma diferente.
Ah! Agatha  Cristie não a reconheci, desculpe–me! Como está o seu marido? –perguntou o historiador.
- Bem, estamos aqui no Iraque  numas escavações, ele descobriu um palácio umas placas  que descrevem a inauguração do palácio de Kallah. Estamos a investigar todos os pormenores, entretanto conhecemos estes  amigos brasileiros .Já ouviram  falar do rei Assur-nar-sir-pal II? Há um relato da inauguração de um palácio  que  nos conta a par e passo o que se passou durante dez dias. As festas, as roupas  que deram aos convidados.
- Ah! O palácio, a sua inauguração. Tantas saudades das investigações, a história da recepção, das boas maneiras.
Jean Bótero sorria para Emília , dizendo-lhe:
- Petite poupée, o problema da sua história está resolvida! Nós podemos ir ao palácio  do rei gafanhoto! Ele também pode ser músico
Agatha Cristie tentou em vão dissuadir Emília das suas observações mirabolantes. O investigador  indicou-nos  então uma jovem assirióloga brasileira: Kátia Maria Paim Pozzer. Jean Bottero disse-nos  então  que a jovem tem se dedicado a fazer uma investigação na área da história  da alimentação. O investigador estava fascinado  com  Emília. Ela lembrava-lhe algumas histórias mitológicas que ele traduzira durante anos. As crianças, Emília e a escritora  optaram então por viajar para o Brasil. Lá estava  a investigadora à espera deles.
- Oi o meu nome é Kátia. Em que vos posso ser útil?
Nós viemos do País da Cozinha mesopotâmica. Decidimos falar  consigo.  Kátia cumprimentou as crianças, Emília  e a escritora inglesa. Enquanto  falavam Emília  retirou da sua arca algumas imagens  de baixos relevos, cilindros selos e de outras  formas de arte  onde se vislumbravam  homens  e mulheres a beberem  cerveja. A historiadora disse-lhes então que eram imagens  do fabrico  e do própria cerveja. A cerveja era a bebia mais popular  e antiga! Todos os dias eram enviados  dois litros  de farinha para a fabricação da cerveja, não só teriam que saber as suas diferenças, como aquelas  que eram  de primeira qualidade, como os  diferentes ingredientes ,ou os diferentes tipos de cereais. Tais como a escana  a chamada  triticum  dicccum usada para fazer  pão e cerveja, ainda era conhecido a triticum monoccum. O centeio e a aveia não era cultivado no médio oriente. Além disso usavam uma palhinha para evitar  que fossem absorvidos alguns grãos. A historiadora  explicou-lhes  que haviam alguns textos  referentes à embreaguez. A cerveja era servida em vasilhas  cuja a sua qualidade  variava  com a sua posição económica dos seus utilizadores, quer em actos sociais, bodas de casamentos, baptizados e funerais. A bebida e a comida gozavam de uma enorme estima e amizade. Além disso foi através do comércio externo de que  os mesopotâmicos  necessitavam  de importar alguns alimentos. Os sumérios faziam  outras iguarias  que  eram consumidos em ocasiões especiais. Além disso  ainda comiam carneiros, cordeiros, lebres, patos e gansos. Já os babilónicos consumiam  um enorme  variedade  de frutas  entre elas as maçãs ,pêras, tâmaras, uvas, figos e romãs. a hortelã, o alecrim e coentro  e até usavam algumas aromáticas como hoje usamos a canela. Como adoçantes tinham o mel  e açúcar de tâmara  e misturavam óleo das sementes de gergelim, azeite  e linhaça. Consumiam  uma torta de ave  com tempero de pequenas colheres de sal  deixando-as numa panela. Bem  estou a ver que estão  com fome. Não querem comer nada? Uma  comida típica desta  região .Só assim podemos  conhecer  melhor a cultura mesopotâmica. Naquele instante apareceram alguns produtos alimentares  à frente  do grupo. Ninguém parecia acreditar  no que estava a ouvir .Apenas Emília  que havia dito Faz de Conta.
- Estou encantado  convosco. Chamo-me Rolo de Sebetu.
- Muito prazer -disseram as crianças.
- Eu sou feito a partir  de azeite  ,farinha, sal, água, leite  e dente de alho  e cebolinha, mas só a parte branca. Depois disso o forno  aqueceu-me e  deu-me  esta cor dourada!
- Oba! Até parece  que esteve na praia  de havianas   de bermudas, óculos de sol, tomando água de coco. – gritou Emília correndo atrás  do rolinho. Este vendo  que tinha a vida por um fio não teve outra alternativa se não fugir. A torta de ave  surgiu meio tímida. Com muito medo. Começou a chorar:
-  Há um porco  que me que me quer comer! Posso esconder-me? Eu  estou  quase a morrer!!!
- Como é que se chama? –perguntou  a escritora.
- Sou uma torta de ave  e havia um homem   que se dizia marquês. Eu pensei  que ele  fosse diferente  de todos os outros animais  e  tentou  comer-me...
- Que horror! De onde é que ele  era? –perguntou novamente a escritora.
- Do Brasil, de uma fazenda. Ele  dizia   que o queriam por num forno. Eu tive pena dele   e lembrei-me de tudo  o que sofri. Lembrei-me da panela com água a ferver, quando me abriram, depois quando me puseram todos aqueles ingredientes como leite, banha  e alguns temperos. Não consegui  escapar à sua sedução. Calculei  que fosse alguém muito poderoso. Não encontrei  nada sobre aquele marquês.
Naquele instante estava  resolvido o segredo  do desaparecimento de Rabicó. Só alguém como ele  é que fazia  todos aqueles disparates  degustativos. Rabicó apareceu  a frente  de todos com uma dor de estômago.
- Ah! – disseram as crianças. A Emília queria era ve-lo assado. Kátia  trouxe uma  erva aromática chamada hisopo. Disse-lhe:
- Tome isto, Rabicó!. È bom para as  suas dores.
- Está a ver Rabicó. Você acha  que o mundo acaba  hoje, daí  que tenha  essas dores... Agradeça à Doutora Kátia – disse  Narizinho.
- Obrigado, Doutora Kátia, disse Rabicó.
- Rabicó, você vai me jurar  que não vai voltar a fazer besteiras. Está me ouvindo? Eu vou ficar  muito zangada, se  continuar a fazer  estas tropelias. Ouviu? – disse ela dando-lhe um  beijo  no rosto.
Rabicó  corou.
- Oh! O que foi Rabicó? –perguntou Pedrinho.
- È que ninguém m e  trata assim. Ninguém me vê com bons olhos.
- Conte Rabicó, disse a escritora  como se estivesse ela na pele  de Miss Marple pronta  para ouvir uma cuscuvilhice.
- Acho que estás  a ser  injusto Rabicó! Todos nós tratamos com respeito!-disse Narizinho triste.
- Neste país  todas as pessoas  me acharam porco, mau, sujo, e não hesitavam em fazer-me  o prato  principal.
- Sabem  uma coisa? Eu li as vossas  histórias  e estou muito por feliz   estar aqui  convosco. Por isso   temos aqui  um jantar à vossa espera. Com tudo aquilo   a que tem  direito. Venham comigo, disse a historiadora. Vou-lhes mostrar uma coisa. Há muita  coisa  por saber. Entraram  numa sala onde o porco  corria como uma criança para se ver nas imagens.
- Nada  disso. Temos aqui uma base de dados, sobre a alimentação, textos mitológicos, alimentos e ingredientes importantes. Há uma equipa  de trabalho em filologia.  Há  muita coisa a fazer...
- È verdade, disse a escritora. Na maioria  dos casos é através da alimentação  que podemos ver o comportamento  das pessoas. Mas é ainda através da arqueologia  e da botânica.
- Por exemplo descobrimos através da arqueologia uma espécie de manual de cervejaria onde são indicados cerca de  50  espécies diferentes  de cervejas. A cerveja  era uma bebida consumida  quer por ricos e pobres. Há ainda um pormenor   que nos indica os benefícios da cerveja é que ela é também medicional. Narizinho prontificou-se  a comentar:
- Já viram Rabicó a beber  para resolver os problemas de digestão?
- Estão a falar do meu marido!-ripostou Emília.
- Então crianças! Não estão na vossa casa! São  convidados, disse a escritora.
- Vamos então  comer? –perguntou Kátia. Não estão com fome? Há uma salada deliciosa. Salada  de récula  com camarões.
- Já que estamos a falar de comida. Quais  eram as técnicas de conservação  dos alimentos? –perguntou Pedrinho.
- Os alimentos podiam ser  secos  ao sol tais  como os cereais, legumes e frutas. A carne e o peixe eram defumados, mas podia ainda ser  conservados em sal  e em azeite. A salmoura era um outro desse tipo  de conservação. Temos exemplos  como os peixes, os crustáceos  e os gafanhotos. Podemos assim  chegar às fontes para estudarmos  através do Sumerian Lexicon  num catálogo  bilíngue  em 2 colunas  de todas os componentes  materiais, repartidos  por 24 placas  com  rubricas. Há relativamente pouco  tempo  apareceram 2 receitas  como Pão de Mel  mas isso vamos descobrir  depois de comermos esta deliciosa  salada.
- Como é que eram  os fornos  da Suméria? –perguntou Rabicó preparando-se  para tirar mais um pouco da salada de récula  com camarões.
- Estou a ver  que estão muito interessados nesta matéria.
- Só de ouvir  essa palavra  ele até fica a tremer, não é Rabicó? Não é para  se proteger se voltar à Mesopotâmia.
Rabicó olhou  em redor. Lembrou-se  da altura em  que os cozinheiros eram artistas  e havia uma enorme  variedade de partos.
- Eu sei  que ainda  há muita  coisa para  esclarecer, mas meu meninos. Vamos ter   que agradecer  este maravilhoso jantar  à Doutora Kátia.
Naquele instante Emília saiu da sala. Chegou perto  da historiadora e fez-lhe um pedido:
-Posso  guardar um gafanhoto?  Quero  fazer um Museu.
A seguir foi  até a uma sala e retirou um telemóvel:
- Estou sim, O meu nome é Emília  de Rabicó! Será possível falar com o senhor Dexter?
- Sim, está a falar com ele.
- Tenho uma confissão  a fazer. Há  aqui no Brasil  um criminoso  que não foi apanhado. Ele é o marquês de Rabicó. Vou-lhe enviar todas as imagens e relatórios completos sobre ele...
Emília  imaginava a morte de Rabicó  desde o primeiro minuto.
- Emília? –perguntou uma voz masculino.
A boneca de trapos tremeu. Era Dexter.
- Parece  que quer perder a sua voz. Você é que a criminosa. Nada me daria maior prazer  em retirar-lhe a sua voz. Já não a consigo ouvir mais.
A máscara  da escritora  estava ali caída  no chão. Desde o princípio o médico legista  estava com eles. Emília era um elemento a abater.
- Ninguém vai dar pela sua voz. É só retirar as pastilhas do Doutor Caramujo. Serás uma boneca como tantas outras...
*  Texto apresentado no Jantar  Cultural em 18.10.2008 no Café  Experimental