Proposta de trabalho :
Utéis foram as leituras do Instituto Oriental na Faculdade de Letras de Lisboa (2000/2001) , ou ainda a pretimosa ajuda do senhor conservador Mário de Castro Hipólito que me facultou alguma bibliografia sobre o baixo relevo neo-assírio de Lisboa , muito embora alguma da bibliografia que eu tinha comigo cruzava informação quer através de Janúz Jensky ( “ Die relifs von Assurnarsirapli II: die rieliefs von Assurnararsiapli II : Die samulgen Assenhald des Irak , 1977 ) esta informação viria a cruzar-se com uma outra que havia recebido algum tempo antes através de um albúm de Andre Conradie (“ The inscriptions of Assurnarsirpal II : A reprisal of available ) .
Muitos são os caminhos de uma investigação e ela não se esgota por um ou dois artigos , assim deste modo gostaria de estudar este baixo relevo no âmbito da História da Arte através das bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian . Gostaria de continuar o trabalho que iniciei em 2001 e que outros autores tanto portugueses têm vindo a estudar não só no âmbito da história de arte . Na altura estudei o baixo relevo no seu tempo, porque foi feito , em que moldes e para quê . Agora é chegada a altura de me virar para outros aspectos desta obra . Não são só os símbolos de poder , não só o tempo que define a inscrição e a faz ver se ela é ou não estrandardizada . Cabe estudar uma figura mitológica dentro do âmbito da história da arte , em que medida é que ela é desenvolvida , porque é que se veste desta forma , porque se pronunciam desta ou daquela forma os braços musculados e se eveidenciam toda uma masculinidade que é habitual a um praticante de desporto . Para já proponha –me a estudar algumas dessas peças no Brookelin Museum de Nova Iorque já que tive que me socorrer na altura de um livro que estava esgotado e que tive que pedir através do Empréstimo Inter- Bibliotecas na Biblioteca Nacional à Biblioteca do Congresso . O meu objectivo vem ainda no sentido de trazer algum avanço a esta área levando o mesmo a congressos durante este eos próximos anos com o tema da iconografia do poder . Creio estar apto a voltar a um tema que de certa maneira me é querido mas que agora se anuncia sob uma envolvência mais técnica e especializada .
Ponto 1
A civilização assíria sempre exerceu sobre mim um enorme fascínio . Fascínio esse que eu só compreendi quando cheguei à Universidade e quando preparei o meu trabalho de fim de curso e me aventurei nas lides sobre um país remoto descoberto no século XIX das areias do deserto . Diante de si os exploradores viram com temor e fascínio seres estranhos e aterradores que não dizendo qualquer palavra impunham respeito . Eu encontrei –me frente a frente com um desses seres numa terça feira quando esperava uma entrevista com o conservador Mário de Castro Hipólito . Na altura de encontro a esse ser que descobri mais tarde tratar-se de um génio alado um ser intermediário entre o Deus e o Rei , havia de ser também o intermediário da aventura científica que correrram durante alguns anos de imaginação . A lenda dos vampiros sanguinários que se fizeram descrever na Bíblia nos relatos das suas deportações e nas imagens que registaram nos seus palácios foram a ponta de lança deste segredo . Entre a dama enamorada e o seu herói apaixonado que pretende fisgá-la do seu pai que sede às charadas que este envolve aos candidados para resolver para se casarem com a sua filha . Eu tinha diante de mim a grande paixão da minha vida e para a resolver pesquisei , contactei pessoas e sonhei e e inventei mil narrativas . No entanto surgiram outros detectives que passearam no jardim do Éden e tentaram resgatar o fruto da árvore proibida . Os últimos anos deram-nos as notícias mais tristes de um património perdido onde quase nada resta a não ser nos museus europeus . Nós temos o previlígio de convivermos com um achado desses diaramente na Fundação Calouste Gulbenkian .
Permitam-me que faça aqui uma comparação com uma viagem ao passado que nos permite descobrir algo mais do que aquilo que se tem falado não só estrangeiro como também no nosso país . Já se descreveram as imagens sobre baixos relevos idênticos em revistas de História de Arte bem com em dissertações de mestrado . Basta-nos agora olhar para este caso estranho , bizarro que não nos deixa indiferentes .Passados sete anos sobre a nossa investigação decidimos criar um jogo que nos permite olhar os objectos de frente , as suas imagens e as suas regras .
A Assíria tem a rara capacidade de nos transpor para um mundo mágico . Ao mundo de Oz onde a Dorothy a rapariguinha do Kansas tem uns sapatos mágicos e ao dar os seus passos mágicos chama a atenção dos deuses assírios que a olham e lhe ditam as regras , tal como as imagens que observavamos à muito tempo atrás alguns dos seres humanos estalavam os dedos chamando os seres sobrenaturais .
A Assíria fascina-me porque tem uma magia idêntica aos romances de ficção científica as suas imagens onde os sacerdotes fazem libações tentando limpar as águas dos maus espíritos , os rituais que se fazem às estátuas dão-nos a impressão de uma realidade paralela . Para isso temos que nos socorrer de diversos autores que nos dão as pistas para desvendarmos os níveis deste jogo . Enigmáticas as suas figuras seguem o fio deixado pelos últimos jogadores para entramos dentro da sala do trono do rei e lhe comunicarmos a nossa preseça , mas até lá muitos perigos espreitam os nossos heróis . Grifos demónios , lamassus , touros alados , leões que espreitam a cada momento o próximo jogador . Mas para resolver este mistério milenar mal resolvido temos que percorrer talvez outros lugares . Por isso optei por continuar este jogo criado pelo vigário (o rei assírio) que nos dá uma perspectiva de imagens simbólicas que reacendem a magia da guerra , do poder e do olhar sobre outro . Ao mover-me diante destes seres , tentamos voar sobre as asas deles e voltar ao passado .
Como definir este jogo que iniciamos agora ? Para além das imagens existem outros aspectos mais subtis , as suas características , os seus desejos de ligação da imagem ao texto . O nosso interesse nestas imagens centram-se precisamente nestas regras nos modelos de representação. Para nos centrarmos melhor nelas temos que conhecer a sua época , porque razão nasceu este tipo de arte, pois achamos tratar-se de uma espécie de marketing político , tencionamos estudar a imagem da realeza assíria através da sua marca , aumentando deste modo a sua credibilidade e prestígio. Procuraremos relacioná-la com otexto bíblico através da relação pai-filho e de Rei-Deus. Será este Rei capaz de administrar o reino e expandir o império aos olhos do Deus Assur?
A construção de uma imagem de poder engloba sempre um grupo de interesses , interesses esses já de si dentetores de uma novidade através de uma capacidade de análise, estruturas , regras que visam o estabelecimento da arte ao bom funcionamento da instituição política da assíria.
A imagem é construída no propósito de eleger o rei ou de que ele acredita ser neste período , forte, musculado, víril, jovem, amante do desporto da guerra e capaz de trazer prosperidade ao país. Se de um lado estamos perante o plano ideológico e que nos dá todas as informações através da arte ela caracterisa um “terror psicológico “ mostrando um poder esmagador , todas as descrições das batalhas, os nomes dos reis têm um único sentido . Assur fez deles reis do Universo, Senhores da terra inteira , a quem os povos obedecem e tremem face à sua ordem pois Assur tudo pode e manda .
Neste sentido a imagem substitui a pessoa ou o ser que se pretende representar , mas não torna insignificante o resultado final do relevo assírio . Assim a imagem pretende evocar mas não torna insignificante o resultado final da mensagem . Na nossa opinião os baixos relevos poder-se-ão centrar sob diversas formas já que está implícito um público muito importante (o povo assírio e os diplomatas).
À sete anos viajamos até Lisboa à Fundação Calouste Gulbenkian procurando vestígios dessa presença no nosso país estudar o relevo sob uma perspectiva da época e das características gerais da arte neo-assíria. Procurei investigadores portugueses que me auxiliassem nestas lides do famoso génio –alado.Os múrmurios vindos da Mesopotâmia são pedidos de auxílio para resgatá-los da poeira do tempo e da devassidão dos interesses dos homens.Assur-nar-sir-pal II inaugurou uma nova forma de fazer política através da arte . Se história é filha do seu tempo como dizia March Bloch , então a História deve ser chamada a depor pelos crimes que fomentou e continua a criar.
Em 2004 no Quinquagésimo congresso de Assiriologia realizado em Pretória o tema era dirigido à fauna e flora na antiga Mesopotâmia e aqui podemos descortinar numa só uma imagem uma parte do nosso jogo . O génio alado parece atirar o polén sobre a terra sob a mão direita, já que a esquerda segurava um cesto de vime . Se o ser sobrenatural pensa numa que lhe é favorável , mas aos nossos olhos não é de todo vísivel .Como é possível seguir essas pistas?
Voltando ao contexto do Congresso que nos permitiu elaborar estas questões a partir da imagem de Lisboa tem uma presença da fauna e da flora parte integrante para o nosso estudo.Como é que se pode perpetuar uma imagem do poder ? Como é que se elege um rei poderoso? Como é que se pode ter a certeza de que o inimigo não nos faz frente ? De que forma é que se constrói o herói ? Será ele escolhido pelas divindades?
Como é que a fauna e flora nos avisam destes pormenores ? Então a arte é muito mais do que isto.É por frente a frente emissor e receptor ao identificarmos a fauna e a flora como uma prova neste tribunal da história para ilibar o réu que está a ser acusado de um crime .
Procuremos então as provas directas dos intervenientes que nos escaparam à vista desarmada quem é o ser que tem nas suas mãos o pólen das flores? Por que razão tem asas? Será um sacerdote ? Ou será afinal um elemento importante na hierarquia social da corte assíria ? Basta-nos apenas levantar um pouco o véu sobre esta testemunha , ela não é mais que um protector do rei que busca a intervenção directa do Deus Assur .
Enquadrando esta testemunha como a imagem que está patente ao público , ela expressa a sua expansão territorial, a garantia de que o rei será aquele que estará mais capacitado para exercer esse modelo de poder e de imagem.
Deste modo podemos citar as palavras do Senhor Professor Doutor António Augusto Tavares em 1985 “ É uma realidade que precisa de ser estudada sistematicamente em toda a sua amplitude, sabendo que alguns estudos têm sido realizados (...) De facto a propaganda , estando ao serviço dos poderes, político religiosos e económicos , é sempre reveladora duma sociedade das suas estruturas e dos seus mecanismos.A utilização dos séculos possíveis,discurso retórico ou poético, arte figurada(...)mitos ou heróis ou de deuses que tocam largas massas,é algo que deverá estudar-se, pois faltam estudos de conjunto a este respeito deste meio que serviu sempre as classes dirigentes(...) “
Ditadas as regras do jogo resta-nos apenas esperar que ditem a partida e que os jogadores conhecedores das regras usem as melhores estratégias para localizar não só o adversário e fazê-lo cair. Preparem-se meus senhores que se aproxima a hora da verdade , de conhecermos uma civilização, reconhecer talvez o modelo que se construir para podermos penetrar dentro da sala do trono do rei . Esse será um reconhecimento maior do vencedor deste jogo.
Mas tudo estará à espreita, desde emissários comuns a seres aterradoredes . Minhas senhores e meus senhores. Os dados estão lançados. Jogadores preparem-se ...
Ponto 2 - Projecto do trabalho: Optamos por chamar a este trabalho O Jogo do Vigário , não só porque toda a ideologia se centra no vigário, isto é, o representante do rei na terra , o deus emanava as ordens e o rei dava as ordens no mundo terrestre . As representações dos génios alados são uma espécie de emissários dos deuses.São eles que dão as ordens aos reis . São eles os mediadores de uma eleição político-celeste num universo onde a justiça é feita através do alto . Mas para chegarmos até acima temos que invocar uma série de entidades como mum jogo de estratégia . E é esse sentido que eu quis seguir . Voltar aos tempos de adolescente e estudar este universo paralelo que é o da mitologia assíria