fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

sexta-feira, abril 30, 2010

fanzine Tertuliando (On-line): Manoela Sawitzki, suite dama da noite

Manoela Sawitzki, suite dama da noite

Convido-vos a sentarem-se num lugar à beira mar.Num bar onde haja música ambinte e deixe-se embalar por esta autora. Um livro surpreendente que a revista ler no número de Dezembro do ano passado o considerou uma revelação.Nesta história Júlia Capovilla é uma personagem que tem medo de tomar uma relção a série,escrita em várias vozes em camadas, são conhecidas as diversas marcas da escritora, poética e profunda. Desengane-se o leitor mais preconceituso se vir no rosto do site da Cotovia onde está a foto de Manoela, como uma modelo do católogo da La Redote ,no dizer da jornalista que a entrevistou então. Para mim a autora tem tudo menos uma cabeça oca, dá-nos um livro profundo e sentimos a presença de Júlia e sentimo-nos nós mesmos incapazes de em certas alturas de partilharmos os nossos afectos nas relações com familiares e com a nossa cara metade. A litertura é feita de reflexão, num sentido quase monástico onde oramos pelo destino da nossa personagem favorita, um filho,um amigo, com que nos identificamos. Não deixem de perder esta Obra que é um marco da nova geração de escritores brasileiros que vem sendo conhecida por todos nos últimos anos para todos aqueles que não podem ir ao ouro lado do atlântico e achar a boa nova das letras brasiliras .Prepare-se vai ver que não se vai arrepender. A história deve ser lida por cada um de vós que pode ter interpretações diferentes consoante as suas experiências. Vai ver que não se vai arrepender.

quarta-feira, abril 28, 2010

Projecto Sherazade : Regresso a casa ( II Temporada )

Daqui a sete milhares de anos numa galáxia distante um historiador está encarregado de investigar a vida de três jovens, Carlota Joaquina, Benedita e Caetana. Qual era a relação entre elas para entrarem num projecto de investigação em História antiga?

Esse investigador tinha em mãos um robot chamado Vieira. Vieira não era mais do que uma versão das ideias do Padre António Vieira sobre a condição dos índios. Este robota revoltava-se contra a condição da sua espécie, nomeadamente os robots bem como as larvas que eram feitos em laboratórios numa discoteca chamada Vigário. A origem deste projecto vem de um tempo muito antigo na Suméria quando uma mulher descreveu um texto em que a população teria a possibilidade de produzir fotossíntese. Esse mesmo texto iria dar início a uma tradução para português coordenado por um investigador belga de Louvaina. Durante esse período de investigação iriam decorrer vários acidentes desde um atentado num café onde se encontravam para trabalhar no texto, em discotecas ou mesmo a descoberta de que esse tratado dera origem a uma onde de crimes durante a Primeira Guerra Mundial se não a origem dessa mesma guerra. Será aqui o reencontro de três mulheres que fazendo uma viagem no tempo elas foram escolhidas pela própria filha de Sargão de Akad para evitarem uma catástrofe mundial e mesmo uma epidemia. As provas vão-se acumulando e o próprio investigador terá que ler as teses de doutoramento das candidatas num futuro. O que as unia? Porque funcionavam também em grupo? E fora dele se comportavam como inimigas? Com que pessoas se davam?

Era em parte este o curso de escrita criativa dado por Agatha Cristie aos seus alunos no além . Tendo ela nas mãos a vivência da guerra, ter sido casada com um dos maiores arqueólogos da humanidade Max Malloman. Traria a Gulbenkian numa das suas visitas a Portugal um envelope com um manuscrito seu a Gulbenkian. O historiador recebera esse mesmo romance através da Internet onde enigmaticamente ele era colocado diariamente por um ser misterioso .Apenas ele lera toda a história e concluíra uma multiplicidade de seres e ao mesmo tempo de épocas ,nomes. Foi nesse momento de pausa que Poirot, o novo foi interrompido por uma jovem.

- Desculpe, mas não sei a quem mais hei de recorrer. Creio que o seu robot corre risco de vida.
- Mas porquê? –perguntou o investigador.
- Eu faço parte de uma formação de um curso de escrita criativa e num dia uma pessoa descreveu um robot como aquele que costuma apresentar debates sobre a liberdade de robots.
- Deve de achar-me com cara de quem lê romances históricos? Isso já passou à história…
- Garanto-lhe que Vieira escreveu um ensaio intitulado “Eu ROBOT” num blogue do passado chamado Tertuliando.
- Porque me conta tudo isso? Qual é o seu nome ? –perguntou Poirot.
- Encontramo-nos aqui amanhã, à mesma hora e no mesmo lugar…
A jovem saiu dali. Voltou a por o lenço. Desceu as escadas. Eclipsou-se no ar.

- Sherazade, estás aí minha linda? –perguntou o homem que estava junto da cama dela. Sabes, vi uma lata chamada Vieira. Junto da tua cama. Quem é, meu amor?

domingo, abril 25, 2010

Charlie Haden - Carla Bley - Grândola Vila Morena

sábado, abril 24, 2010

O Dr. Luís Raposo em conferência no MFTPJ sobre “A transposição do solo de habitat de Vilas Ruivas para o Museu de Francisco Tavares Proença Júnior"





Luís Raposo, Aida Rechena e António Salvado.

Luís Raposo e Luís Norberto Lourenço


As fotografias são de Luís Norberto Lourenço (Arquivo Tertuliano).


Decorreu esta tarde pelas 15h na Biblioteca do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, uma conferência intitulada “A transposição do solo de habitat de Vilas Ruivas para o Museu de Francisco Tavares Proença Júnior: uma experiência-piloto e um despertar geracional”, proferida pelo Dr. Luís Raposo, arqueólogo e Director do Museu Nacional de Arqueologia. Foi uma iniciativa realizada no âmbito das comemorações do Centenário do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior.

Entre os presentes o Dr. António Salvado (ex-Director do MFTPJ), a Dra. Ana Rechena (Directora da MFTPJ), o Dr. Carlos Banha, o Dr. Lopes Marcelo, a Dra. Celeste Capelo (Vice-Presidente SAMFTPJ), Dr. Luís Norberto Lourenço...


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Preciosas Beatas*

Há uma anedota portuguesa que conta a história de uma beata tão beata que era fumada por um padre .Este começo popular leva-me a falar-vos hoje de duas coisas : das mulheres dentro da igreja e da sua impossibilidade de ministrarem as missas.
É claro que muitas são teólogas,fundamentalistas acérrimas sobre a interrupção voluntária da gravidez e da eutanásia, mas que serve para exemplificar este tipo de marca de tabaco.

Confuso? Passo a descrever esta campanha publicitária sobre as beatas humanas. Recordem-se da lei que vigora desde 1 de Janeiro de 2008 que obriga as pessoas a fumarem na rua, fora do seu lugar de trabalho, centros comerciais, bares, discotecas. Nessa altura correu logo uma piada“Ainda dizem que a igreja católica está em crise desde esta manhã que há uma manifestação de beatas nas ruas à procura de novos fiéis (…)”Perguntam-me vocês o que é isto tem a ver com as mulheres na igreja e na sua impossibilidade de poderem dar missas? Ou terem outros cargos dentro da igreja para além de só serem téologas ou freiras? Claro que tem. Falo-vos então das mulherzinhas, habituadas a estar na igreja , crentes , ajudantes , como se fosse uma doméstica da igreja que só servisse para rezar o terço ou no melhor dos casos, a governanta do Senhor Padre… Mas há algo de podre no reino da Virgem Maria… Apesar de muitas terem abraçado a fé, serem missionárias, freiras nos mais variados cantos do mundo, algumas estiveram nas antigas colónias em Angola ,Moçambique, Timor , outras até receberam o Prémio Nobel da Paz em 1979, recordo-me então de Madre Teresa de Calcutá.
Mas questiono-me logo… será que ela não foi para o Seminário? Será que deu alguma vez missa? Haverá alguma vez espaço dentro da igreja católica para uma mulher padre , bispo ou papa? Contam-se lendas de uma papisa… mas será que o Vaticano aceita? Será que nos livros de Nostradamos haverá passagens que falem sobre isso? E o Padre António vieira falou nalguma parte delas no famoso Quinto Império?
A mulher na Igreja Católica estará sempre condenada a ficar nos bastidores,apesar de terem um olhar crítico e viperino sobre o que se passa sobre a vidinha de cada um, não gostam de mudanças… até parece que têm medo de estar no palco de uma arena da fé …mas elas continuam lá na igreja, caladas a apararem-lhe os golpes,dão-lhes uns beliscões psicológicos para ver se os acordam, mas nada, algumas até manipulam os fieis quando estes seus meninos continuam a esticar as cordas nas suas acções dominicais e pessoais , preparam ardilosamente um abaixo-assinadodirigido ao senhor bispo, para correm com aquele herético dali para fora. Digam lá se não há aqui um serviço de bastidores?
Afinal as beatas dão cházinhos na hora do terço, nas missinhas aos domingos e noutros locais de beneficiência, coitadas não podem entrar nos quadros da fé corporativo ou até mesmo absolutista, porque o galo de Roma continua a cantar no seu poleiro como quer e dispõe. Alguns deles até comentam: E se elas fossem papas o fumo deixaria de ser branco ou passaria a ser rosa choque? Haveriam pastoras de interiores? Haveriam hóstias com sabor a diversos pratos culinários? De onde é viria o vinho? Teriam que dar a missa a correr para fazer as tarefas domésticas? Haveria espaço para terços Ives Saint- Laurent? As velas da Igreja do Vaticano seriam do Emporio Armani casa? Seria lançado algum perfume da Carolina Herrera com o nome de Santa Teresa de Ávila?
Serão estes os pontos que os homens temem? Ou serão outros em que elas responderiam aos problemas com uma maior eficácia? Até porque a Igreja foi e ainda é hoje um óptimo instrumento de poder. Não tomariam elas com mãos de ferro a questões ligadas à pedofilia dentro da igreja? Não evitariam os abortos que se fazem quando são padres a sugerir o aborto a algumas das fiéis mais fervorosas que trarão dentro de si um novo salvador do mundo? Ou não vigiariam alguns homens que iriam para a Igreja para se casar com Deus? Já que a família não permite que me case com uma pessoa do mesmo sexo que eu, a sociedade não aceita e a igreja também não? Porque não casar-me com Deus, ao menos assim comiam dois ovos da Páscoa de uma vez só. Dariam o laço matrimonial perfeito sem se manifestarem, até porque como diz a Igreja o que Deus uniu, jamis ninguém pode separar…

Se elas chegassem a padres , bispos ou até mesmo papas, será que não haveria um novo cisma ou até mesmo uma crise de fé? Não haveria aqui um remake do século XVI das 95 teses de Lutero? Não seriam construídas as bases de uma nova fé?
Nalgumas seitas ou derivações do Cristianismo já existem mulheres pastoras, bispos. Alguns pastores evangélicos quando viram mulheres a ministrarem cultos converteram-se ao Cristianismo. O que eles pensaram foi mais ou menos isto, bem se não os posso vencer, junto-me a eles. Creio que eles temam o resultado do Livro do Apocalipse de São João tendo que se curvar à besta da Lilith.. Pensemos que o grande mistério desta situação é que a sua bíblia não seja aquela a que é lida nas missas, mas sim um livro de Moliére “As preciosas Rídiculas “.

Bento XVI até poderá escrever um livro com o nome de “As preciosas Beatas “podendo até escrever mesmo isto:
- Vocês , gajas missionárias, sairam da costela de Adão, são descendentes de Eva que deu a maçã a Adão , não queiram que vos aconteça o mesmo à única mulher que se divorciou dele com o apoio da Igreja . Coitada , foi condenada a errar pela eternidade . Vejam lá se não querem fundar a Congregação das Irmãs Descalças de Lilith? Vocês estão condenadas a ser apenas umas preciosas beatas.Enquanto nós padres teremos direito a ler o Record Missionário , treinar no Ginásio Missionário ir à Portugália Missionária, enfim às coisas que nós gajos missionários fomos preparados para dar missas. Porque vocês, como disse estão condenadas a ser umas preciosas beatas, continuem aí,a rezar,a preparar-nos as coisas a que nós estamos habituados enquanto o mundo durar. Ainda bem que vocês só sabem dizer mal da vida dos outros e não se juntam todas para fazer uma liga contra nós,gajos missionários e fazer-nos frente, porque até mesmo o grande remate do Juízo Final será feito por um homem. Continuem assim preciosas beatas que estão bem.O senhor esteja convosco. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.

* Parte deste texto foi publicado no jornal "SUL " nº2

sexta-feira, abril 23, 2010

A vingança de Job (últimos capítulos )

5. A mudança

Os italianos têm um ditado famoso“A vingança é um prato que se come frio“.E neste caso a grande mudança vai bastar apenas num único número... do 1 para o 2.Não que isto nada tenha a haver com uma diferença de números,mas de personalidade,enquanto Sancho I a que a nossa amiguinha está a estudar,a frequentar bibliotecas, congressos e tudo o mais eu decidi passar uma rasteira aos nossos escritores Deus e o Diabo.Se eu pegar na folha que eles têm e acrescentar mais um I?Não será nada mais nada menos do que II. Mas afinal qual é a diferença entre Sancho I e Sancho II?Para o comum dos mortais acrescentou-se um dois. Isso dava um enorme risco num exame ou talvez uma autêntica gargalhada para o telespectador culto“ Valha-me Deus, não sabe nada de História!“
A questão desta mudança centra-se em dois reis portugueses.Da I dinastia mas que tiveram percursos diferentes,se um deles pode ter sido apagado pela figura do pai,mas era empreendedor, o outro deixou-se manipular pela sua amada.Sancha costumava ter pesadelos com uma aluna que fazia confusão entre dois reis.Descrevia cada um deles na perfeição ,mas acabava po por os pés pelas mãos . Aqui começa uma nova história em que não é Martim no corpo de Sancho I, mas no de D.Sancho II sedento de vingança ao dar àquela menina o rosto da bem amada deste monarca. Se não conhecem a história eu conto-vos. Um rei que subiu ao trono aos 14 anos mas acaba por se apaixonar por uma princesa espanhola acaba por dar-lhe ao reino inteiro, tornando o país num autêntico caos. Se eles não repararem e olharem para o seu umbigo e não derem pela diferença de nomes chamarão a alma do rei e ele surgirá com um enorme desejo de vingança. Talvez não sabem pois não? Nem eu sabia quando dei pela diferença de nomes no Arquivo das Almas e dos Períodos de Tempo. Sancho II acabou por sair do país como um incompetente. Este é o princípio da minha vingança. Transformar um projecto de tragédia numa vingança.O que eles não sabem é que Sancha é na realidade a grande paixão de Sancho II e ele acabará por reconhecer a sua amada e tornar-lhe a vida num autêntico inferno .Quem é que consegue viver na eternidade sem ter vivido sem o sabor da vingança? Optei por me tornar investigador nos tempos livres e fazer da minha vingança o projecto inacabado de outras pessoas,por muito que se goste de uma pessoa e possa ficar um pouco deslumbrado,acredito que elas mereçam pagar por aquilo que fizeram.Dividir para reinar. Eis o lema do meu novo nome. Talvez os teólogos e os investigadores da literatura possam não saber disso. Mas a angústia, o ódio acaba por se tornar uma espécie de embrulho que nos persegue para o resto da vida,nada é pouco para aqueles que um dia nos tiraram a vida que tínhamos. Para quê? Testar a nossa fé ? É esse o lema para entregar uma mensagem às pessoas? Mas as pessoas não são personagens da literatura perfeitas,humanas e talvez essas ainda estejam por aparecer . As pessoas inscrevem-se em cursos de astrologia para resolverem os seus problemas,ou por mera curiosidade quando no fundo não sabem resolver os seus nem ou o dos seus próprios filhos.Gostam muito de mandar na vida dos outros,sem nunca terem passado aquilo a que aquelas pessoas passaram.Genial.Dou um conselho a essas pessoas para que possam viver aquilo a que nós vivemos,é ficarem caladinhas no seu canto porque sabemos que a Igreja Católica e todas as suas seitas não sabem mais dar resposta a alguns acontecimentos ou comportamentos , a determindas descobertas científicas. Acho injusto .Agora se me permitirem,vou dar azo aos meus planos.Vou mudar este lindo nome para outro dando uma dor de cabeça para Deus e Diabo.Eles acreditam conhecer a alma humana, de estarem em dois lados ao mesmo tempo,mas estão muito enganados. Até estou a escrever o nome desse monarca imbecil que tem um ar trágico como a maioria das pessoas que frequenta os cursos de auto – estima que eu implantei aqui neste lugar. Enquanto eles planeiam novas histórias e se divertem com os problemas dos seres humanos. Eu, Job, decido fazer da vingança um modo de vida. Como é que ela se conseguirá defender das tentativas de vingança do rei medieval? Job sorri com o seu plano . Plano esse que irá dar autênticas dores de cabeça a Deus e Diabo. Noutro lado, a saudade duma pessoa morta dá apertos do coração, uma enorme vontade de chorar e ver todos os albúns de fotografias, cartas, presentes e e-mails.
- Martim, onde estás tu? –perguntava Sancha na praia com uma garrafa de vinho na mão , até que de súbito lhe surge no meio daquela tempestade em que a chuva e a água da praia são irmãs siamesas. Ela vê Martim correr na praia de calções de banho. É ele. Não será uma visão ? Não terá ela a ter alucinações com a bebedeira e com os charros que tem consumido ? Parece que nos últimos tem consumido e feito coisas que noutras alturas nem sequer lhe passaria pela cabeça. Em todas as aventuras procura uma oportunidade para se degradar e isso dá-lhe um certo prazer. No meio das pesquisas,costuma usar um nome na internet quando procura emoções fortes. Dir-se-ia que estaria a pecar. Mas que merda ela não é nenhuma boneca de madeira, nem precisa de grilos falantes a ditarem a moral e os bons costumes .Para isso já tinha a família que lhe havia colocado uma diquete dentro do cérebro.

6. Preparação

Quando desfiamos as nossas memórias centramo-nos naquilo que fizemos durante a vida.Sim ,eu fui mais do que uma pessoa,tinha uma série de tormentos dentro da minha alma que questionava as vantagens de ter vivido nos dias de hoje e numa família com posses, endinheirada, esclarecida.Bem sei que a minha família me vê como uma uma ovelha negra e que decidi pintar-me de escuro, para os afrontar , também se fosse necessário pintaria o cabelo de azul, usar uma saia para os desafiar ou furar as orelhas ou o nariz onde quer quefosse. Atraíam-me coisas diferentes,pessoas de origens diferentes . Olho agora como tudo me era predestinado a seguir, a vestir as mesmas roupas,os mesmos cursos dos meus familiares, direito, engenharia ou medicina, mas eu não quiz, quiz estudar uma coisa muito própria, muito minha, História. Não queria fazer o curso de História tradicional que envolve as várias épocas em Letras ou na Nova,ou noutras universidades privadas ou do país que dessem as aulas da mesma maneira. Não,eu quiz tirar história no ISCTE onde a História começa em 1415 e estuda os fenómenos contemporâneos. Interessam-me os grupos sociais,as ideias que se formam em determinados períodos da guerra ou de outras épocas. A Época medieval povoou os meus tempos de menino nas visistas a mosteiros onde anteriormente haviam lagos onde peixes passavam por ali. Meu Deus aquelas cozinhas enormes como deviam ser imponentes. Isso sim eu queria estudar aqueles grupos, aquelas pessoas algum dia juntra-se–iam e reinvidicariam os seus direitos?

Tomei-me de assalto um ano e decidi ajudar um amigo que havia conhecido na casa da praia.Os meus pais ficaram de cabelos em pé “Titas , o menino dá-se com qualquer um. Se fosse noutra altura abria os portões da nossa casa, para esses emergentes? Sabe o que nós que tivemos que passar, tivemos que fazer turnos para protegermos a nossa casa.Contrataram-nos gorilas para protegerem as nossas fazendas ...”
olhei-os e pela primeira vez disse-lhes: Eu
- Talvez,sentissem na pele aquilo que eles sentiram toda a vida! Eu sou comunista ! Ajudo na Feira do Avante ! Sou a favor da Despenalização das Drogas Leves!
A minha mãe olhou-me completamente transtornada:
- Que traição para a nossa família! Você não sabe de nada, Martim! Só quer é andar pelo mar, namorar todas as semanas as suas lindas meninas,fazer-se de bom samaritano para esses mortos de fome, porque no fundo tem nojo deles,das suas condições hijiénicas,ver os locais onde eles vivem ,porque nunca suportaria viver com metade daquilo que elestêm !Você não se pode queixar , está tirar o curso que quer! O seu pai já fez os contactos porque um Botelho Moita não é uma pessoa qualquer neste país, sabe? Você continua a ser um menino mimado que sempre teve tudo e são as empresas que o menino afirma que poluem o meio ambiente,os seus amiguinhos que ocupam casas abandonadas, sabe-se lá que coisas eles fazem.
Naquele instante só me apetecia morrer e desaparecer dali.Sabia que metade das coisas que a minha mãe dizia eram verdades . Sabia que em breve iria morrer,mas queria morrer em grande.Desde sempre que o meu destino fora ser única e exclusivamente menino de família,era talvez por isso que eu pressentia que o Além e algumas forças me dariam capacidades mediúnicas para me encontrar com um ser de uma outra natureza e outra nacionalidade.Desde a mais tenra idade eu odiava aqueles colégios bem afamados, no meu íntimo eu sonhava ser filho de pobres pescadores,que me haviam trocado na maternidade. Talvez tenha sido essa minha procura na História, a identidade,o grupo social,porque seria que nós dentro de um determinado grupo nos comportavamos de uma maneira diferente ? Também o era.Desde os meus quinze anos fiz questão de desaparecer da alçada dosmeus pais para pagar os meus estudos e andar em agências de trabalho temporário,trabalhar em fábricas,estar em linhas de montagem,vestir máscaras,rir a bandeiras despragadascom os outros colegas de trabalho e avisarem-me de que se comportasse daquela forma era caminho andado para ser despedido.Outras vezes eram as máquinas terem um problema qualquer quando mais de duzentas pessoas haviam trabalhado um capon , haviam tratado de determinada peça e eu chamava aquele traste ele que estava no café a beber,a fumar,afugar as mágoas de que em casa não era se não um cachorrinho debaixo das saias da mulher e ali gostava de se fazer homem chamar-nos “filhos da puta”ou mandar-nos directamente para o“caralho “.Eu procurava várias formas de entender a vida e de conhecer melhor as pessoas e o espírito humano porque para além de me conhcer como pessoa eu queria ser mesmo era escritor.Era isso que fazia aos quinze anos com um cão enorme que a minha família me havia oferecido para que eu não fosse para o estrangeiro. Winnie. Nunca percebi na altura aquele nome para um desgraçado de um animal que haveria de me acompanhar ao funeral e ficar de guarda no túmulo de família e a única pessoa que o cão permitia aproximar-se era a minha bela e doce Sancha . Sabia que ia morrer e o cão também.Espereria fiel e acabaria por ladrar e uivar no dia do meu funeral.Winnie. A minha mãe dizia que o cão era dela,mas tudo aquilo era uma estratégia para me seduzir muito subtilmente . Foi num desses passeios que dei com Winnie que eu me apaixonei por Sancha e talvez o cão simpatizasse com ela ,não fizesse algumas partidas de marcar território nemde mostrar que lhe estava a fazer frente.Oh, Winnie,meu bom amigo , quantas aventuras não tivemos com aquele brasileiro que eu conheci e lhe disse que queria aprender as tácticas de marinheiro e pescador,queria que ele me ensinasse a cozinhar peixe para impressionar Sancha. Conhecera-a muito antes daquele coloóquio na faculdade que tinha haver com a Identidade e Memória da Idade Média promovido na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.Queria convidá-la na minha ida propositada à casa de banho das senhoras . Oh,como melembro da primeira vez que a conheci na banca de Bernardo.Uma menina de cabeloslongos e entrançados fez-me parecer uma pintura,uma natureza fora do normal,um quadro falado que se mexia toda e me dava um desejo . No dia seguinte contei a Bernardo que me havia masturbado a pensar nela . Não como uma mulher,mas uma deusa sensual.Bernardo olhou-me e disse que falar de Imanjá ra perigoso . Porquê? Falar de outras coisas, ele dizia que eu estava falando da esposa do Diabo ,a Pomba Gira. Lilith para os teólogos e historiadores de religiões. Nesse dia senti uma tempestade sobrenatural e naquele instante sobressaiu o rosto de Sancha,algo que passava fora do normal.Eu ali estava agora no meio da praia usando apenas uma sunga, um calção minúsculo seduzindo a minha deusa, a minha sacerdotisa do amor . Na dita discoteca no centro de um outro universo Naram – Sim e outras figuras dramáticas davam-me dicas de forma a que eu pudesse dar a volta antes que um rei sem trono como chamavam os cronistas o “Velho “me dessem essa garantia.O que era afinal a vida e a morte se não uma conquista por um espaço miserável? Mas ali estava uma transformação de que eu não sabia mais onde estava,não sentia o meu corpo via-me apenas no visor da discoteca onde os mortos se viam como meros instrumentos de um reality show .Eu ia em direcção da minha bem amada Sancha.Mas algo de estranho se passava eu não era mais eu,mas sim uma outra pessoa,sentia-me recuar para trás diante dos meus colegas de formação,como o desajeitado Drácula que desmaiava cada vez que via sangue,facas e todo o género de cortes. Dizia-me que sentia saudades de comida vegetariana.Quando eu lhe perguntava porque razão ele adorava pescoços,ele dizia que não passava de uma mentira de Bram Stocker.Eu sentia que alguém tomava o meu lugar,eu não me reconhecia,não sabia quem eu era.Via-me numa praia vestido de sunga observando Sancha tentando atirar-se à água para se matar. Tudo isto era visto do écran da discoteca onde ali estava eu a olhar pasmado sem conseguir entender o que se estava a passar. Sancha chorava copiosamente .

7: Quem sou Eu ?

A minha vingança vai sendo preparada como se fosse uma receita com todos os condimentos,deixando-a marinar,com um certo cebolinho e condimentos picantes para que as pessoas ou outros seres se enterrem até aos confins da terra.Aqui estou a preprarar a confusão.Sancho I passara a ser Sancho II.Sancha está perdida num turbilhão de emoções, perde os seus amigos com todas as manifestações de tristeza e ódio que lhe passa pela frente.Cada vez sente necessidade de passar o tempo em chancelarias e arquivos onde leia coisas sobre o seu amado rei.Por outro lado consegui com que Deus e o Demónio desconfiem um do outro e saber quem está a trabalhar para quem .Não era possível enviar Sancho II,a jovem sentia calafrios cada vez que se falava deste monarca não que gostasse dele,mas havia qualquer coisa mais forte.Enquanto as duas entidades já mais sabiam quem fazia todo aquele trabalho era sem mais nem menos Job sorria quando toda a documentação se desmoronava.Nesse sentido a tempestade que eu fazia surgir na terra dava-me cada vez mais forças do que Deus ou Satã juntos.Sorria satisfeito com a alteração climatérica,a que muitas pessoas diziam ser a fúria divina pelos acontecimentos.Job via a revolta da jovem no meio daquele temporal virar-se contra a família ,os amigos que tinham aquilo que mais amavam. Diante desta situação eu cheguei a colocar uma questão a mim mesmo : Quem sou eu afinal porque estou a fazer isto ao grande amor da minha vida ? Sancha é a minha mulher , mas sinto que afinal eu sou um ser humano que tem sentimentos e não sou um objecto , não me resigno e vou à luta contra as condições que me impuseram . Não admito histórias feitas e quero mudar-lhe o rumo . Nas minhas horas vagas se é que as tive alguma vez dedicava-me à investigação e via nesses documentos numa língua que a princípio me custava a entender que via uma belíssima mulher que teria dado conta da cabeça de Sancho II .Mas os médicos diziam que ele sofrera de uma doença que o deixara coitado “louquinho “sem muito que fazer. Agora que a mudança fora feita Sancho II estava no corpo e no rosto de Martim sedento de vingança. Ele Job só pensava nas coisas que estava a fazer e naquilo que se estava a tornar. Sancha a mulher que se estava a suicidar era a sua dama , a sua grande paixão, ainda não se recordava do nome mas havia de lá chegar. A apaixonada de Job lutava entre duas épocas a medieval e a contemporânea. Ele era afinal o rei Inutilis. Job via-a embrulhada dias antes entre arquivos onde estudava a documentação e a chancelaria daqueles homens que trabalhavam com o rei. Agora recordava-me dessas alturas e parecia-me uma pintura lindíssima onde o seu pensamento jamais se esgotava entre novas palavras. Agora fazia-a entrar num mar de desespero onde as ondas do mar a beijassem e esbofetassem com toda a violência que ele desejava.Amava-a de uma forma doentia.via quase como a esposa do Demónio,a Lilith,a Senhora dos Desejos.

Ali naquele gabinete Job preprarava-lhe uma viagem sem regressos ou de extrema loucura,traindo-a pela Idade Média e pela escrita que nao a deixava concentrar levando-a a ver uma imensidão de imagens qe nunca tivera tempo de pensar na moral , na ética , nas leis e naquilo que um rei e outro seriam perante o povo e a história . Job sabia que aquela tempestade não era mais do que uma parte psicológica e que era ele uma espécie de monge que escrevia a história do tempo sem que Deus e o Diabo lhe pedissem para escrever como fora a história de Adão e Eva , de que Lilith não era muito bem vinda com a confusão se mudara para a eternidade e estava a enamorar-se de uma jovem bela decepcionada com a família .Job sabia que Sancha não se conseguia concentrar mais entre as palavras de cada autor , via-se na noite dos tempos, sentia que o desejo do desconhecido me levava a fazer coisas que antes não era capaz de fazer mas todos esses momentos eram passados a pente fino.Distraio-me e vejo imagens que nunca vi , uma velha que se aproxima depois de uma dia de trabalho onde o sexo é proibido e é só permitido para procriação.Densas florestas , carroças , locais que são fechados e que para lá daquela muralha existe o caos . Ainda tenho muito do oriente antigo até nisso senti no Cristianismo quase que o abracei mas decidi fazer uma nova religião. Uma seita . Aquela que levará os pobres , os oprimidos e os famintos a discursarem sobre os seus próprios probelmas.Levando cada uma dessas personagens mostrar aos mortos que morrer na idade da flor é que está a dar ? Tornarmo-nos perfeitos,eternas flores,monumentos humanos para os olhos dos nossos entes queridos e formas de mármore,gesso muito apreciado. Ali diante dos olhos dos que ficam tornamo-nos deuses . Encorajo-os a alegrarem-se e a viverem a vida como nunca viveram na terra , álcool, drogas e todo o tipo de sexo jamais seja punido pela leio da minha religião dou-lhes o livro árbitreo se até os padres são homossexuais,cupulam com as mulheres dos outros nos confessionários ou se amantizam com criancinhas do coro.Porque não posso eu projectar as minhas leis e pô-las à porta da discoteca Eternidade?Foi aí que vi pela primeira vez Martim que me sorriu e me disse:
-Com que então quer ser o novo Martinho Lutero?
Confesso que não entendi a piada daquele jovem mas quando me contou a história das 95teses escritas e fixadas à entrada de um palácio da igreja na Alemanha.Esbocei um sorriso.Aquele jovem dizia-me que eu era um sujeito amargurado e que me devia revoltar e não fazer as coisas pela calada, porque se ele queria vingança por milhares de anos de humilhações de ser um autêntico criado de um ser inventado por um povo amargo e sem esperança,já a história do Demónio havia sido ditada por um poeta quisera transformar um anjo num ser humano cuja a sua queda fora a inveja um dos maiores pecados.Ojovem dizia-me que eu me estava a tornar num pequeno demónio e a transformar toda a minha desilusão e mágoa no mais sincero erro estratégico.Porque não lhes fazer o contrário ?Dar oportunidades às pessoas para que elas pudessem ver os seus próprios erros?

Eu apenas via Sancha a analisar aquelas letras tão perfeitas como se fossem carreiros de formigas seguindo uma única ordem,e esquecia-me de tudo o resto.Sabia quando ela tinha vontade de fumar era o seu vício contemplativo,noutras ocasiões bebirricava algum vodka misturado com sumo de laranja e via ali uma história parecida com a sua.O passado era a sua muralha e a Idade Média era o castelo de onde ela observava toda uma população, longe dela não havia mais nada só medo e angústia era tudo aquilo que eu a fazia sofrer,não eram Deus nem Satã. Essa era apenas uma parte da minha vingança, fazê-los crer que cada um deles fazia parte de um plano.Sabia que ela tinha saudades de Martim .
- Quantas saudades,Martim!-dizia ela. Lembrava-se da notícia,dos vários dias de desespero, da sua família já não chorava nem amaldiçoava os serviços,apenas ali estava ela com saudades das discussões de ambos.Os textos que se debruçava eram uma espécie de básalmo sobre todo o seu drama e horror e das recordações em que ambos discutiam a ponta de uma lança de um lado em que a esquerda e a direita se uniam como ponteiros de um relógio para indicarem a mudança do dia ou da hora . Ele falava-lhe de um filme chamado “Cidade Vermelha “que se preparara na Biblioteca Museu e Resistência.A memória oral das pessoas que viveram nesses tempos,dizia-lhe ele eram mais do que um documento eram a prova maior de um testemunho.Martim escrevia uma história diferente e alternativa à sua . Naquele banco do Arquivo Nacional da Torre do Tombo ou no próprio refeitório ela recoradava-se das vezes em que os dois se encontravam para depois começarem a discutir. Ele trabalhava numa Fundação com meros recibos verdes e tinha que fazer outros trabalhos para sobreviver para poder pagar as suas contas da sua casa .Ambos amavam-se apenas entre os lençóis mas sabiam que jamais poderiam lançar as suas ideias nesses instantes antes que escrevessem um tratado um receita de uma bomba. Mas era precisamente isso que Job fazia ao analisar cada um deles ,até porque ele estava apaixonado pela historiadora . Via-a ainda no meio da praia onde chovia copiosamente. Os seus adversários, Deus, Diabo e Martim olhavam cada um deles as permissas que deviam tomar. Só tinham naquele instante uma única coisa:o vazio.

Todos julgam que faleci e que a minha vontade de me suplantar a Deus nunca foi um
objectivo, enganem-se. Eles criaram uma obra nova, talvez um novo capítulo da Bíblia em que se pudessem pavonear. Cada um deles, Deus, o Diabo e Martim , partilham uma coisa em comum a sua querida e amada Sancha. Ela está prestes a encontrar-se com um antigo monarca e possívelmente criar raízes com essa nova pessoa , porque até lhe dá calafrios e nós sabemos disso perfeitamente. As imagens do passado que ela sempre viu desde pequena dão –lhe uma mediúnidade nunca vista. Decidi transformar-me num monstro, premeditar novas peripécias que eleve a minha alma para lá da perfeição e da luz perfeita de Deus. Inventar uma história é dar-lhe um sentido para a vida , transformar as personagens em pessoas com sentimentos e manias. A vida é uma obra aberta onde permanece um sussuro da nossa consciência. O objectivo da minha história é travar a ameaça divina e põ descobrir-lhes os pontos fracos de cada um deles. Deus, Diabo, Sancha e Martim e outras tantas personagens que eu queira agora inventar são partes da minha vontade fora de qualquer instituição. Esse é o ponto estratégico do meu trabalho. Tornei-me formador aqui no Além e dei aulas a personagens trágicas que durante a sua vida incapazes de se dar a conhecer como pessoas. Aluguei-lhes um corpo para que pudessem renascer e ali está Sancho II. Este rei foi meu formando desde o momento em que eu descobri a história de Deus e o Diabo .Os planos mudaram e eu agora irei tecer uma nova camisola para cada um deles, decidi reescrever esta história e investigar por minha própria conta. As melhores histórias nascem das apostas entre duas personagens , procurei então vários meios para lhes estragar os planos . Gosto de provocar surpresas e levar o ser humano ao seu completo domínio, coisa que para Deus e o Demónio seria impensável. Eles procuram a dor na sua vala interior e levá-las ao desespero e à reflexão. A obra da mudança interior leva-nos a procurar limpar as arestas da nossa alma, tentar respirar e procurar outros interesses. Decidi então dar um golpe de misericórdia e levar a fazer tudo aquilo que os meus arqui-inimigos não conseguiram fazer. Superara-me. Bem sei que a sociedade bem gosta de coisas feitas, arrumadas, onde cada um deles se prestam aos mesmos papéis e à resiganção. Eu optei por fazer coisas diferentes. Destruir-lhes os planos , as vontades. Criei alternativas no outro mundo onde os mortos esperam a hora de uma nova vida, não basta que sejam recoradados ou que lhes limpem as campas todos os fins de semanas e que lhe ponham umas flores. Falam das pessoas sem estarem presentes e pregarem as suas próprias histórias é isto que eu quero fazer. Dar a este rei aquilo que ele não teve em vida, dar-lhe uma esperança, de se mudar. Tornei-me escritor , por acidente, por ódio. Escrever uma nova história a partir de uma ideia começada por outros era algo que dava um enorme prazer. Toda a história já estava na minha mente quando Sancha se irritava com as palavras da sua aluna ao falar de Sancho II. Olhava mais uma vez para o écran do computador e esprava pela chegada de Martim, isto é do rei exilado. Foi então que nop meio da tempestade em que Sancha se atirava à água. Job sentiu pela primeira vez o gosto da sua vitória. A dor que eles queriam ia ser sacrificada pela luz. A obra de arte nunca está terminada, assim tal como o crime pode dar esse exemplo, uma espécie de prazer que pode conduzir a dois rumos. O fascínio que Deus e o Diabo têm pela tortura e a culpa levaram a planear a degradação da jovem historiadora e analisarem mais uma vez os benefícios do mal como exemplo da arte. Bem sei que já não vejo o mundo da mesma forma, porque acabei eu mesmo por apreciar o mal.

Para lá do tempo e de tudo aquilo que fora previsto inicialmente Sancho II surgia na pele de um jovem de cabelos compridos e mosca. Fazia dele o antigo Tio Vermelho com a roupa de borracha de um bom homem do mar. As várias centenas de anos que estivera a passear pelo além não o deixava de lhe dizer uma coisa. Ele tinha que se vingar dela. Queria vingar-se da sua bela amada. Sentia aquela oportunidade como um momento único. Via a oportunidade para a violar, sentir-lhe o cheiro do corpo, apertar-lhe as roupas. Quereria ela ir para freira ? Bem sabia como as coisas estavam diferentes. Ele vira a mudança do universo, casas e mais casas que para ele não significavam nada. Ele olhou-se com aquelas roupas, estranhou-se e mais uma vez pensou naquilo que havia de fazer . Até que de um outro lado, Job lhe ia dando as coordenadas para que não houvesse um desiquílibrio temporal, ia-lhe dizendo quem era e que haveria de escrever uma espécie de história num caderno para Sancha e para toda a sua família. Dizer-lhes que quis sair dali, deixar de ser o menino e tornar-se num homem, aprender na pele tudo aquilo que sempre proclamara.

Sancho II ainda continuava louco por aquela mulher por mais anos que passassem lá continuava ela linda de morrer , mas a minha vontade de se vingar dela não tinha limites queria fazê-la sofrer. A vontade de a beijar foi mais do que o ódio que ele sentia por ela e não se conteve então em beijá-la com sofreguidão.

Se Deus e Satanás estavam atónitos com as imagens que viam pois reconheciam a hesitação do monarca perceberam que havia algo que não batia certo, Sancho I que fora preparado para deixar a jovem de boca aberta com as suas afirmaçãoes anticléricais e preprarava-se para raptar a jovem e levá-la a casar-se . Coisa que ela adoraria certamente . Exímio admnistrador, pensara Job sorrindo num canto prevendo a confusão. O rei iria promover uma rebelião e fazer com que escolhecem um senhor , um único e grande senhor, ou ele, Deus ou o Diabo. Martim observava a cena deliciado . As lutas iriam começar . Isso era um facto. E agora não haviam cronistas para relarem a sua história . Tudo o que estava previsto ia dar-se mas de uma m aneira diferente . Sancho I raptara Lilith . Esse fora o primeiro sinal . “Um de vós há de arcar com as consequências . Foram vocês que me lançaram nesta «canganlhada»” . Agora hão de me por no meu lugar. Eu quero ter o meu sossego de volta. Voltar à min ha época. Portanto irão ficar sem a taberneira. A vossa messalina. Ouvirão? Agora cada um de vós deverá obedecer a um só senhor a Sancho I.

No meio desta confusão Deus e Satanás não sabiam o que fazer . Apenas procuravam alguém que descobrisse o autor desta confusão que lhe estragara os planos iniciais e só faltava agora uma rebelião nos céus e infernos. Um monarca português que se sobrepunha contra as potências sobrenaturais. Não! Isso não podia acontecer. Tinham que ter um historiador com eles, alguém que estudasse o comportamento deles. Até que procuraram nos dados do computador alguém que se pudesse mover entre a biblioteca do além com todos os documentos e ficheiros necessários para poder haver um cessor fogo. Preparava-se uma guerra . Encima da mesa um bilhete:
“Finalmente alguém que me trata como mulher e igual. Adorei ser raptada“
Martim era a pessoa ideal. Mas Martim era de extremos. Olhou-os e sem rodeios disse :- Posso ajudar-vos. Mas quero o meu rosto e corpo de volta! Quero tudo a que tenho direito! É o meu corpo foda-se !Estão-se a comportar como duas comadres de novelas da televisão! É pegar ou largar! Quero o meu rosto, o meu corpo e a minha vida de volta! Só assim é que vos irei ajudar!


8.Entre a espada e a parede

A mudança está a ser feita agora, mas tudo é feito naturalmente. O objectivo da vingança de Job não previa várias alterações a nível do além e do mundo do aquém. O plano inicial de uma obra como diz todo o téorico é prever que as personagens têm vida própria e não se deixam vergar perante as observações dos seus próprios pais, pois bem aquilo que vos digo é que esta história é objecto de estudo por parte de várias pessoas que fazerm apostas para que esta ou aquela personagem ganhe maior ou menor destaque. Descobrindo o ponto fraco de cada um deles, opta-se por tornar esta história numa obra aberta que podem ser alteradas consuante as suas acções. E eilo ali Martim agora dando provas de que ainda é um ser vivo que quer participar activamente mas que lhe seja restituído o seu mundo anterior . Também decidi escrever a minha história a partir dos outros, sendo ou não estratégico tornei-me formador no além , dei aulas a personagens trágicas que durante a vida foram incapazes de se dar a conhecer como pessoas, Naram- Sim de Akad que em breve irá tomar o partido de Sancho I acabando por tornar este cantinho à beira mar plantado num caos . Alugaram-lhes um corpo de uns meninos perfeitinhos capazes de seduzirem as mulheres , mas este seres com várias centenas de anos iam tornar estes momentos em verdadeiras pérolas da história literatura portuguesa . Os plano de cada um de nós ia mudando até Martim que não se crê morto, decidiu tornar-se ele próprio escritor e adulterar metade dos acontecimentos e transformar estas personagens nos seus verdadeiros capachos. Optei por investigar estas pessoas por minha conta , são narradas histórias paralelas e o que eu fiz foi dar-lhe uma nova frescura . O que partiu de uma aposta foi desenacadear um mar de surpresas como tenho dito ao longo deste monólogo para que cada participante deste jogo possa observar cada jogada que está a fazer . Gosto de provocar surepresas e de levar estes seres a tomarem decisões que em vida jamais teriam sido caoazes de as fazer. Deus e o Demónio ou satã ou lá o nome que ele tiver imaginaram D. Sancho I como personagem principal , mas esqueceram-se das suas memórias , das suas lutas e das vidas em campo. Nada melhor para um ser analisado como sombra de um outro rei quiça seu pai o leve a transformar-se num guerreiro rebelde e isso vê-se pelas suas decisões tomadas. Agora olhempara mim o que faço eu aqui nesta história? Se sou meramente secundário? Não, meus caros , eu sou a mola desta nova história. Quero apagar a imagem de resignação a que toda a vida tenho sido posto em exageses e análises literárias. Eles quiseram demonstrar o mundo a beleza e do corpo ,dar a conhecer o status de duas personagens humanas e que cada uma delas irá perder esse meio através da morte e da desagradação física e psicológica. Tudo caminhava para que a história da menina arrogante que julga saber tudo dos livros e da vida precisaria de cair e perder coisas , pessoas , para dar valor ao ser humano, ao seu bem estar e tudo aquilo que abominava será o seu novo alento. A vida tem por vezes vozes e meios irónicos de nos transportar para as decisões mais anatgónicas. O Senhor como ele se quer fazer crer, deu a a graça aos humildes e deu-lhes a capacidade de os transportar aos céus , enlouqueceriam a menina historiadora com uma morte muito apropriada de um amor. Um acidente calha sempre bem , mas na vida como dizia o cantor tudo passa. Ela é um desses casos postos à prova , deveria ter nascido homem, mas Deus quis que ela fosse mulher para acatar com as decisões dos homens e ainda por cima padecer de amores. Eles agora tem que lidar com a chantagem e a manipulação como sempre fizeram aos seres humanos e melhor ainda um rei que vai querer comandar o Além, não há mais bem, nem mal. Eles precisam de um analista,alguém que conheça os truques e que saiba ler os documentos. Alguém que diagonostique o mal que fizeram. Mas o pior disto tudo é que Deus e Satã transformaram Martim num detective para descobrir quem provocou toda esta situação. E na terra? Será que eles terão cabeça pra verem o que Sancho II irá fazer? Quais os planos deste senhor e rei perante a sua grande paixão?

Para se voltar atrás é necessário retomar o tema ao qual o deixamos anteriormente .Martim nunca conseguira assegurar as suas relações amorosas,quanto mais os seus problemas interiores que o deixavam na maioria das vezes num vazio , havia apenas o carisma de um menino cheio de charme onde podia captar a simpatia de cada uma das suas conquistas ao passear o seu cão e ver as suas futuras conquistas aparecerem-lhe pela frente como abelhas a provar o pólen das flores. Agora sentia-se estranho diante dois seres estranhos que acabavam de lhe pedir ajuda. A vida traz um travo irónico de uma capacidade única de nos por à prova de uma única acentada e dar aquilo que um dia nós nunca pensamos ter o poder universal nas mãos , além do mais Martim nunca fora um crente divertia-se com as façanhas do Demónio nos Autos de Gil Vicente,ou parodiara Satanás de Milton no Paraíso Perdido , talvez pudesse alinhar na rebelião de Sancho I.Martim deliciava-se com aquela situação confusa saída de um romance non-sense onde o senhor que tudo vê e o aquele que tenta todos que oferece os maiores tesouros acabavam de perder todas as suas forças , o jovem vermelho chegava à conclusão de que Deus não existia . Os filósosfos afinal tinham todos razão . Para chegar à conclusão de que não teria a sua vida de volta teria que negociar como os maiores filhos da puta , porque os outros já a teriam tido feito o mesmo , nessa óptica estudaram-se vários reis . Primeiro fora o DJ Naram- Sim para atrair uma sumeróloga, e depois Sancho I e agora Sancho II atraindo desta vez uma paléografa mediavalista . E ele quem seria agora ? Se em épocas anteriores os historiadores ou os cronistas tiravam partido dos acontecimentos para exaltarem a figura do rei ou darem uma lição de vida para as gerações vindouras então ele Martim Meira de Botelho e Castro era um balão de ensaio entre Deus e o Demónio . Ele especializara-se em história contemporânea , analisara documentos digitalizados , estudara fontes de família tivera que preencher requerimentos para chegar até aos malditos pontos de vista em que os protagonistas da história viveram , entrevistara os vivos e os familiares , mas era tudo muito bem estudado , como um menino que estava à frente dos colegas da turma . Participara em conferências,organizara simpósios internacionais e por fim dera-se conta de que estava num local bafiento na biblioteca do além onde estava perante documentos cheios de bolor . Preparava-se para fazer aquilo que Sancha fazia transcrever os documentos ou melhor recordar as suas vidas , toranava-se não só num diplomata como num detective do além . Quem fora o autor de toda a situação . Agora estava no ponto de partida . Até que lhe surgiu um elefante seria o Dumbo , estaria ele a ler João Barreiros ? Não , nada disso era um ser mitológico. Alguém que lhe vinha dar o resto da lição. Mas para isso Martim definia uma última cartada . Não chamaria autores modernos ou contemporâneos,mas antes o seu grande amigo Naram- Sim de Akad , o rei dos quatro quartos, das quatro regiões.Fazia-o saír de uma tese de mestrado da faculdade de letras onde ele o herói acabaria por sair dali,daquelas páginas e faria também uma autêntica confusão.


9. Reencontros?

No momento em que Sancha olha para Sancho II agarra-se a ele vendo o rosto de Martim . Chora copiosamente, onde as suas lágrimas deslizavam tal como orvalho numa manhã fresca . No meio das trovoadas ela olha-o e disse –lhe:
- Nunca acreditei na tua morte! Procurei os teus pais! Quis saber tudo sobre ti, porque é que tu eras assim, só agora compreendi o quanto somos iguais, e nunca quis ouvir as tuas palavras, os teus conselhos! Meu Deus quantas saudades do teu sorriso gaiato , dos teus lábios carnudos e olhar para as tuas pernas musculadas, meu herói! Sempre adorei tempestades , trovoadas e sempre te associei a elas, como me recordo daquela vez em Famalicão quando foi falar sobre Sancho I que tu estavas diferente, mais calmo, olhavas-me de uma forma distante, talvez porque da última vez te deixei a falar sózinho. Sabes estou num impasse, já não sei o que fazer à minha tese, se a deixarei como se abandona um esposo, ou partir ao mundo para as organizações não governamentais. Sinto uma enorme vontade de te abraçar e de te dizer que te amo, meu amo e Senhor.

Sancho II olhou-a. Recordou aquela dama esbelta, castelhana que em tempos o deixara completamente louco ao ponto de deixar o país na miséria, fora deportado. Queria vingança . Ao fundo o mar era a banda sonora perfeita. Era a mesma personagem que o perseguia do mundo dos mortos e sabia que não podia estar em dois locais ao mesmo tempo. Ele amava o amor e no entanto ali estava ele… diante de uma outra rapariga feita num oito. A sua própria irmã. Cheque mate! Gritavam Deus e o Demónio. Cereja era a jovem ruiva que dera toda a força e que o acompanhava desde criança nos campeonatos de surf. Antes de se converter ao marxismo Martim era um dos maiores surfistas e isso fazia-o ser o mais popular e ntre os surfistas , e ali diante da sua irmã estupefacta. Martim estava vivo! Tinha que correr a contar à família. Bastava ligar o telemóvel. Merda nas mensagens de voz! Reuniões e mais reuniões! Com que então! Ele estava mais do que vivo!
- Titas! Preciso de lhe falar! Acho que estáa ser indecente!
- Titas! Eu não sei quem sou!
- Só o acabei de ver agora! –disse Sancha.
- Sancha, saiu melhor que a encomenda!
A historiadora nem respondeu:
- A realeza que se entenda! Saiu furiosa.
- Sabes , que começo a gostar muito de ti?
Matilde /Cereja olhou-o estupefacta:
- Quem é você afinal?
- Nem eu sei… respondeu o monarca, mas lá por dentro estava a divertir-se.
Diante disto no Céu havia um colóquio entre as diversas personagens que estavam a ser desenvolvidas e aqui surgiu o demónio muito pronto , sorridente com os resultados ,mas as coisas começavam-lhes a fugir das mãos , porque ao mesmo tempo decorria um curso de escrita criativa feita sabia-se lá porque razões não havia sido convidado e decidiu mesmo criar ele próprio um colóquio com convidados com palestras da faculdade .Ali no Céu e no Inferno giravam personagens históricas que davam a volta às questões de miséria, luto, engano e todas as palavras figurativas. No meio de tantos intelectuais que abriram o curso de escrita criativa como uma forma para aprender a escrever –O título da comunicação chamava-se “O pão que o diabo amassou “”Apresento-me agora perante vós,meus caros senhores. Eu sou quase um emissário.. Vêm com fórmulas já feitas por outros historiadores e na maior parte dos casos na litertura menos. Coloco-me como uma personagem despeitada. Os contos que alguns teimam em ser uma parte inacabada da literatura,na minha opinião desenvolvem pensamentos e característicos das personagens,por vezes o autor ou o contador das histórias tem a massa para fazer a ementa a dar aos consumidores deste próprio estilo. Queremos matar esta ou aquela personagem. Sirvo-me de uma lição dehistória que neste país tem sido apontada como verdadeira revolução das sagradas escrituras . Digamos que a história vai mais para trás num tempo em que temos que olhar para a genealogia de cada personagem. É Sancha que devemos analisar. Tudo aquilo que há de ser escrito, há de ser transformado numa nova realidade. Observemos então Sancha agrande avalanche da nova literatura portuguesa – disse o Demónio.

O del mio amato ben- Eranga Goonetilleke

quarta-feira, abril 21, 2010

Conferência com o Dr. Luís Raposo no MFTPJ em Castelo Branco


Na fotografia, o Dr. Luís Raposo (á direita), nosso convidado para a 27.ª iniciativa, a tertúlia "O ESTADO DA ARQUEOLOGIA EM PORTUGAL", a qual contou ainda com a presença da então Directora do MFTPJ, a Dra. Ana Margarida Ferreira (em frente), o Dr. Lopes Marcelo (à esquerda) e a Dr. Belarmina Rolo (que não está nesta foto), datada de 24 de Maio de 2002, pelas 21h 30m, no Bar Platinium, em Castelo Branco.

(Fotografia de Luís Norberto Lourenço, Arquivo Tertuliano)


Realiza-se uma conferência pelo Dr. Luís Raposo, no próximo sábado dia 24 de Abril às 15.00 horas no Museu de Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco.

A conferência tem por tema: “A transposição do solo de habitat de Vilas Ruivas para o Museu de Francisco Tavares Proença Júnior: uma experiência-piloto e um despertar geracional”.

É uma iniciativa realizada no âmbito das comemorações do Centenário do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior.

Programa do Centenário aqui.


Mais:

Museu de Francisco Tavares Proença Júnior

Largo Dr. José Lopes Dias

6000-462 Castelo Branco

Telefone: 272 344 277

Fax: 272 347 880

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8.ª Edição da Feira do Livro na Benedita (Alcobaça)

De 21 a 25 de Abril de 2010, decorre a VIII Edição da Feira do Livro da Benedita, numa organização do Externato Cooperativo da Benedita.

Programa aqui.

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segunda-feira, abril 19, 2010

A Vingança de Job (Projecto sherazade )

Continuação do folhetim a vingança de Job. Continuamos à espera de intervenções... Obrigada pela compreensão


3: A Chegada


Quando um de nós tem uma ideia por mais pequena que seja de uma desgraça sorrimos, mas temos a tendência para esconder essa faceta menos nobre porque a sociedade a considera abominável.Os ardis que propomos montar às vítimas que optamos tratam-se de seres desgraçados,uns farrapos aos quais não há o mero interesse de lhe tirar o tapete.Eu integro-me nessa categoria,fui um homem que tive o mundo inteiro aos pés mas acabei por perder tudo.A Bíblia conta a minha história.Podem procurar ou chegar a uma igreja e ouvir uma lenga –lenga e que eu sou aquele que aguenta tudo. Meus caros senhores eu não sirvo de exemplo para ninguém, nem essa “tiazinha –intelectual“ a que Santanás e Deus se propuseram desferir o golpe fatal. Eu tenho pena da vida dela daqui para o futuro. O que lhe poderá acontecer se o Demónio e Deus se lembrarem de jogar ao azar com ela. Tenho-lhes ódio!Por isso vou fazer com que essa felicidade momentânea seja reduzida a cacos, como uma autêntica descoberta arquéológica seja colada aos bocadinhos com uma enorme paciência laboratorial.
Assim acabo por ter uma enorme ternura por esta mulher que passa horas de volta dos livros,lendo documentos,reescrevendo o texto que tem em mãos para entregar ao orientador, reconheço assim a sua enorme vontade em descobrir a sua identidade como se estivesse em volta em pó prestes a ser limpa dando-se afinal de contas pequenos pormenores que até então esses arquéologos se dariam conta de uma descoberta bombástica.

Lembro-me de Sancha em pequena.Sempre atenta,sempre pronta a superar-se numa família onde 25 de Abril era assunto morto e enterrado,apenas lhe fora entregue o gosto da cartilha maternal. Ela acabaria por ser conhecida como“fascizóide “.Apesar dessa cicatriz educacional Sancha sempre foi boa aluna, porque quiz esquecer quem era a sua família apesar de ter registado ao mais ínfimo pormenor tudo aquilo que lhe era dito.Ela era uma sombra na família tal como o rei que se havia de perder por amores Sancha nunca iria singrar na vida.
Sancha testou-se a si mesma para conhecer os buracos negros que haviam dentro de si para encontrar a liberdade de pensamento que nunca tivera desde criança. Martim era a faísca que a acendia,era a página arrancada do diário secreto dos seus pensamentos ,com ele tudo fazia sentido!
O seu ar aparente de dandy retirado de uma revista masculina de moda.Sancha olhava provocatoriamente para aquele homem mirando-o de alto a baixo centrando-se a partir da zona das calças de sarja com bolsos através de olhares libidinosos ao qual a sua família morreria de vergonha.

Sancha a “Povoadora “ desejava ter o seu espaço próprio e esquecer a ideia de monarquia que lhe haviam incutido desde miúda. Tudo isso estava a mudar porque Sancha estava prestes a ter uma mudança de trezentos e cinquenta graus.

Assim que vi pela primeira vez o seu rosto acabei por me apaixonar por ela, porque ela me recordava tudo aquilo que eu fora um dia .Rico,respeitado,casado e com filhos.

Porém tudo isso mudou a partir de uma única aposta de duas “pessoas “ que se detestavam e gostavam de jogar com a vida dos seres humanos, talvez porque nunca tivessem tido necessidade de fazer psicanálise,por isso não tinham capacidade de olhar para dentro de si.
Eu sou a prova disso, sou uma espécie de cobaia dessa desgraça,aquele que nasceu um dia, morreu e pereceu.

Quero preparar a vingança ao reconstruir a vida de Sancha, a partir da morte do homem que a fazia viver. Era sem dúvida um cruel destino,tirar-lhe a ideia paterna dentro dela.Mas vocês perguntar-me-ão: Masvocê não terá vida?

Todos me conhecem como aquele que se resignou perante as situações,sempre temente a Deus e agora estou a ver a mesma história a repetir-se.Tenho que fazer alguma coisa.
Vejo Martim chegar. Está morto.Entontecido,sem saber o que fazer, posto à prova , são lhe dadas várias senhas para que adquira um curso para novas competências, isto resume-se ao universo da morte. Esses cursos têm início a partir do momento em que eles se dão conta de que já partiram do outro mundo para este,onde eles crêem que não há outra vida para além daquela que tiveram.
Esses cursos de formação tem por norma aprender-se a ser morto e o que fazer quando os defundos vêm as suas campas.
As questões que lhes fazem são as seguintes:
“Você não consegue adaptar-se a esta nova fase? Acredita que pode viver mais mil anos? Onde? E em que corpo?

Para lhes dar essas respostas existem formadores tão famosos que vocês não iriam acreditar!Agatha Christie, Sherolk Holmes,Freud, Young a quem Deus e o Diabo repetiram programas ao mesmo tempo sem que estes tivessem tempo para os fazer,tudo era feito encima do joelho.Mas isso não vou descrever aqui.Resta imaginar. Até breve.

4: Decisões

A alteração do comportamento de uma pessoa leva a situações verdadeiramente inesperadas, e é isso que Deus e o Demónio esperam da nossa menina.Tida como muma das mais acérrimas investigadoras sobre a personalidade de D. Sancho I,a jovem historiadora percorre a capela onde este monarca está sepultado em Santa Cruz de Coimbra junto com o seu pai.

Talvez Deus concebesse essa a primeira forma de vida daquela princesa que depois de perder tudo, pensaria nos atalhos que teria que usar para recuperar a anterior vida.
Sancha era uma mulher a que a imaginação não tinha regras e que desde muito cedo se deu conta que o passado tão longíquo lhe dera essa funcionalidade.Deus era também um escritor maldito que inventava personagens aconselhando-se com o Demónio sobre o destino das suas vidas.Personagens inocentes, já não tinham muito a dizer às pessoas, elas apenas queriam alguém que lhes dissesse alguma coisa, e talvez por isso o sofrimento tão importante para os gregos conseguisse ter alguma importância aos mortais.

Deus inventara histórias desde o ínicio dos tempos e aquele acto que todos achavam que Deus protegera Adão e Eva não fora um erro já que deixara ficar lá de propósito uma serpente para levar Eva a pecar.

O inesperado dizia o Demónio é aquilo que o leitor conta ao descobrir a fórmula da angústia que o leve para junto de si. Desde muito cedo que Deus e o Diabo se juntaram para criar uma mulher que era uma sombra daquilo que todos esperavam.

Sancha seria a nova obra literária que havia de ser estudada pelos téologos, historiadores de literatura, como também pelos especialistas que aquela personagem que haveria de ser o modelo perfeito de mulher contemporânea,muito embora discordasse do Demónio, Deus achava que a acção e a química que existia entre Sancha e Martim eram fundamentais para arrebatar os leitores e lhe dar um paladar diferente. Uma história de amor tem que ter uma certa contradição, e porquê não as ideias políticas tão actuais de forma a que a aparência traga um condimento especial à história de um homem e de uma mulher que se amavam mas não se podiam ver um sem o outro .Deus e o Demónio estavam fartos da tragédia de Job ser declamada em poemas, em teses e discursos de teólogos para as igrejas de diferentes confissões religiosas e para isso haveriam de trazer a lume uma nova personagem.
A morte de alguém é o tiro certeiro para a reflexão da nossa vida,testar a nossa curiosidade sobre aqueles que nos rodeiam e sobre as acções que tomamos no dia a dia .Deus e o Demónio estavam certos que aquela personagem tida como a típica “cara metade “ iria morrer dar-lhes-ia esperança de que Sancha iria cruzar os braços e desistir.Viam-na à beira mar pensativa.
- Matar-se-á? –perguntavam um ao outro na espectativa.
A nossa obra ainda não terminou. Será a nossa obra prima. Mal sabiam eles que Job transformarmá-la-ia num modelo diferente que eles sonhavam.

Sancha já não era o modelo perfeito que tudo aceitava da sua família.Aquela menina que bebera as palavras dos seus progenitores.Agora as coisas mudavam ela estava a por tudo em causa.
- A educação, dizia o Demónio. Nada melhor que aquilo nos é transmitido em pequenos para dar continuidade à obra dos nossos pais para transmitirmos aos outros e assim sucessivamente.O vampirismo energético de cada pessoa flui à nossa volta sem darmos conta disso. Não quero parecer pretencioso, mas a nossa “menina “ vai ter que ser arrancada das suas origens como uma flor que não quer ser arrancada do primeiro habitat.
Palavras tão poéticas de um ser que se dizia maldoso.O anjo Satã,perfeito para a discórdia trouxera para a literatura a inveja como elo de ligação como uma das mais belas obras da literatura “O Paraíso Perdido“ de Milton.
Agora havia que transformar o útil no agradável ao transformar Martim num rei medieval despojá-lo do seu pensamento contemporâneo dando-lhe uma nova cor dos acontecimentos e fazer com que ele se encontrasse com a historiadora e desse uma nova transformação na história que estavam a imaginar.O encontro do rei feito Martim e a sua historiadora . O encontro dos dois na praia. O mais engraçado é que a alma de Martim estava a aprender neste universo a ser morto e aceitar a sua nova condição, enfrentar este novo período era tudo o que lhe era dad.As histórias não estão nas palavras, mas sim nas acções.

A cada momento que se decidia aquilo que iriam inventar sobre as suas novas personagens Job estava certo que queria mudar tudo e encarregar-se da verdadeira confusão, mas como ele estivera milhares de anos sujeito à mais completa desolação e falta de amor.
Job não se lembrava nada sobre a sua vida anterior,nem como poderia estar certo dessa mudança.Pudera! Job era formador trágico. Antes Naram-Sim aparecera e ele dera-lhe a volta transformara-o num DJ de uma discoteca no além .
Nessa discoteca os mortos esperavam a sua vez de entrar para esse universo, ali experimentavam néctares de pura ilusão.
A ilusão é o mais puro acto de certeza e de vontade de trazer a perfeição que irradiamos aos outros , mas tudo é falso porque
essa forma nos constrói uma barreira ao universo dando-nos a capacidade negativa de transformar personagens trágicas em pessoas dinâmicas .
Antes teria sido Naram-Sim aquele porquem a vítima dos dois escritores lhe teriam dado um novo acontecimento, mas não havia qualquer ligação daquele homem com Sancha.

Naram-Sim era o exemplo típico de uma personagem trágica! Até saíra das páginas de uma tese de mestrado em História e Cultura Pré –Clássica de Maria Lina Ferreira da Paz “A sombra dos heróis “. Job deu-lhe uma forma de encontrar aquele que teria a sua cara e o seu corpo,havia de ser um homem do século xx cruzar-se com um rei transformado em deus.
Martim e Naram – Sim cruzaram-se na discoteca “Vigário “. Ali estava no meio daquela confusão de almas.
Cristo fora o primeiro comunista da história da humanidade e isso estava nas escrituras, pouco a pouco Naram-sim aproximou-se daquele jovem que chegara ali e estava tonto. Tudo era idêntico à vida que tivera !
O charro que o deus feito DJ lhe ofercera dera-lhe o acordo em que os dois faziam sobre a lenda dos homens feitos personagens históricos criados a partir da imagem que lhe era dada.

A memória é a maior recompensa que temos que transmitir às gerações futuras . Martim olhava-o com curiosidade , enquanto comia com apetite um bolo que lhe fora oferecido por Lilit.
O nome do bolo era “ A curiosidade histórica mata os seus personagens “. Esse bolo tinha um sabor estranho uma vontade de enorme de percorrer distâncias de quilómetros de uma praia à procura da sua bem amada, enquanto via a cidade do homem que estava à sua frente desaparecer .
Essa era a resposta de Job à sua tragédia . A morte é uma das maiores formas de sermos recordados . Não ouvira aquilo enquanto fora vivo ?Até se rira dessa frase numa aula de português no nono ano .
-Como é que nos vamos recordar das coisas sejá falecemos? –perguntara ele num tom desafiador . Se esse era o momento de prova então porque estavam ali frente a frente ?As revoluções excitavam-no de tal forma que um dia obrigou Sancha vestir-se de Che-Guevara . Sabia que ela por dentro estava a irritar-se e a pronunciar ameaças como uma bruxa medieval . Talvez fosse por isso que as palavras de Naram-Sim e as recordações que o bolo lhe traziam à mente eram sem dúvida aquelas que ele tinha o maior fascínio a revolução .
A época revolucionária era um período que lhe trouxera desde miúdo uma enorme curiosidade , porque em casa nunca se falava disso . Martim tinha um enorme carinho pelas classes operárias e pelos oprimidos . Gostava de ir ao encontro das diferenças , eram essascontradições que o faziam aproximar-se de Sancha . Achava-lhe piada às opiniões que aquela rapariga dizia da boca para fora pois não era mais do que uma falta de identidade , pois ela ouvira aquelas ideias da sua família . Martim conhecera aquela “menina “ num debate da faculdade . Ele bloquista era conhecido como o tio “vermelho”. Um dia perguntaram-lhe como era possível ele preocupar-se ao mesmo tempo com a sua imagem e com as outras pessoas . Ele simplesmente respondeu : Oiçam a voz da nossa medievalista . Ela dar-lhes-á a mesma conclusão . As nossas crónicas estão cheias de promenores , Fernão Lopes é um exemplo disso . Mais tarde num intervalo da conferência fingiu enganar-se na casa de banho , porque queria falar-lhe . Queria dizer-lhe que ela era a fascizóide mais apetecível . “Quero meter o meu martelo dentro da tua faixa . “contou Martim.
Naram-Sim riu-se , parecia estar a ouvir uma daquelas cantigas de amor eróticas que os orientalistas analisam .
A desgraça é que nos uniu , disse o jovem historiador . A vontade de fazer uma revolução , ou melhor a partir de uma antiga vítima como Job é que me deu a hipótese de nos juntarmos aqui na discoteca e incitarmos as almas a uma revolução contra a opressão às decisões de Deus e do Demónio eles fazem aquilo que muito bem lhe apetece .Tal como ouvira muitas vezes dizer “A cantiga é uma arma “ Ouvia tantas vezes as músicas de Zeca Afonso e sentia um admirável fascínio por aquele homem. Porque é que o DJ e o historiador não se podiam juntar nessa tarefa árdua da libertação das almas oprimidas ?
Aquela seria a vingança de Job contra a dupla dinâmica Deus versus Diabo , enquanto se centravam nestas andanças Naram- Sim começava a ter uma enorme simpatia por aquele jovem revolucionário . Queria saber tudo sobre ele . Como morres-te ? Mataste-te ?
Se queres que te diga não sei , isso fica para a minha família . Eles irão erguer um epitáfio glorioso sobre a minha pessoa esquecendo todas as nossas desavenças levando à memória de todos um escrito extremamente poético mas ao mesmo tempo derradeiro sobre a reconstrução da pátria .
Era engraçado escapar-lhes para ir ajudar nas barracas da festa do Avante .
Naram-Sim olhou-o e disse-lhe :
- Tornas-te igual a eles mas no sentido inverso . A imagem histórica é sempre a do vencedor .
- Falas como um analista , aquilo que eu quis fazer era estar ao serviço do povo .
O velho monarca riu-se :
- Não , tu trabalhas-te foi para ti e para a tua amada por isso é que lutavas contra a tua família .
- Não percebo –disse Martim .
-Vocês jovens têm pouca experiência de análise , mas eu como já estou aqui à muito tempo analiso as pessoas quando elas chegam , quando vêm parar à discoteca e tu não és diferente . Tens escrito na tua testa de que necessitas de liberdade , mas não é essa liberdade que julgas ter pronunciado ou que tecionas fazer aqui . Não, é outra espécie de liberdade é desatares o nó de tudo aquilo que onde tinhas conforto e foi isso que eles , Deus e o Demónio pensaram nisso em ti . Como uma personagem grandiosa que irá libertar a sua amada das amarras da sombra para que foi projectada , por isso usaram-te para transformarem o teu corpo e o teu rosto noutra pessoa , num rei . Naquele a quem a tua amada procurava as suas origens . Sancho I . Pensaram usar-me primeiro dar-me a volta levar-me a ter um corpo e umas roupas de adolescentes e eis que tudo se transformou porque os trocadilhos de nomes são extremamente importantes para os escritores . É essa liberdade que deves aceitar . Mudar o conforto das ideias por uma verdadeira análise daquilo que os outros que estão à nossa volta . Eles é que são os verdadeiros libertadores da humanidade . O estilo da escrita é uma forma de libertar os medos que temos dentro de nós e expormos aquilo que julgamos ter . Pensa nisto , jovem . Pois é aqui que está a tua forma de te transformares. É esta a tua verdadeira liberdade .

5. A mudança

Os italianos têm um ditado famoso “ A vingança é um prato que se come frio “. E neste caso a grande mudança vai bastar apenas num único número ... do1 para o 2. Não que isto nada tenha a haver com uma diferença de números , mas de personalidade , enquanto Sancho I a que a nossa amiguinha está a estudar , a frequentar bibliotecas , congressos e tudo o mais eu decidi passar uma rasteira aos nossos escritores Deus e o Diabo . Se eu pegar na folha que eles têm e acrescentar mais um I . Não será nada mais nada menos do que II . Mas afinal qual é a diferença entre Sancho I e Sancho II ? Para o comum dos mortais acrescentou-se um dois . Isso dava um enorme risco num exame ou talvez uma autêntica gargalhada para o telespectador culto “ Valha-me Deus , não sabe nada de História !“
A questão desta mudança centra-se em dois reis portugueses . Da I dinastia mas que tiveram percursos diferentes , se um deles pode ter sido apagado pela figura do pai, mas era empreendedor , conhecido pelo cognome de “ O povoador “ . E o outro será que alguém o conhece ? Sancha costumava ter pesadelos com uma aluna que fazia confusão entre dois reis . Descrevia cada um deles na perfeição ,mas acabava po por os pés pelas mãos . Aqui começa uma nova história em que não é Martim no corpo de Sancho I , mas no de D. Sancho II sedento de vingança ao dar àquela menina o rosto da bem amada deste monarca. Se não conhecem a história eu conto-vos. Um rei que subiu ao trono aos 14 anos mas acaba por se apaixonar por uma princesa espanhola acaba por dar-lhe ao reino inteiro, tornando o país num autêntico caos. Se eles não repararem e olharem para o seu umbigo e não derem pela diferença de nomes chamarão a alma do rei e ele surgirá com um enorme desejo de vingança. Talvez não sabem pois não? Nem eu sabia quando dei pela diferença de nomes no Arquivo das Almas e dos Períodos de Tempo. Sancho II acabou por sair do país como um incompetente. Este é o princípio da minha vingança. Transformar um projecto de tragédia numa vingança. O que eles não sabem é que Sancha é na realidade a grande paixão de Sancho II e ele acabará por reconhecer a sua amada e tornar-lhe a vida num autêntico inferno .Quem é que consegue viver na eternidade sem ter vivido sem o sabor da vingança? Optei por me tornar investigador nos tempos livres e fazer da minha vingança o projecto inacabado de outras pessoas, por muito que se goste de uma pessoa e possa ficar um pouco deslumbrado , acredito que elas mereçam pagar por aquilo que fizeram. Dividir para reinar. Eis o lema do meu novo nome. Talvez os teólogos e os investigadores da literatura possam não saber disso . Mas a angústia, o ódio acaba por se tornar uma espécie de embrulho que nos persegue para o resto da vida, nada é pouco para aqueles que um dia nos tiraram a vida que tínhamos. Para quê? Testar a nossa fé? É esse o lema para entregar uma mensagem às pessoas? Mas as pessoas não são personagens da literatura perfeitas, humanas e talvez essas ainda estejam por aparecer. As pessoas inscrevem-se em cursos de astrologia para resolverem os seus problemas, ou por mera curiosidade quando no fundo não sabem resolver os seus nem ou o dos seus próprios filhos. Gostam muito de mandar na vida dos outros, sem nunca terem passado aquilo a que aquelas pessoas passaram. Genial. Dou um conselho a essas pessoas para que possam viver aquilo a que nós vivemos ,é ficarem caladinhas no seu canto porque sabemos que a Igreja Católica e todas as suas seitas não sabem mais dar resposta a alguns acontecimentos ou comportamentos, a determindas descobertas científicas. Acho injusto .Agora se me permitirem, vou dar azo aos meus planos. Vou mudar este lindo nome para outro dando uma dor de cabeça para Deus e Diabo. Eles acreditam conhecer a alma humana, de estarem em dois lados ao mesmo tempo, mas estão muito enganados. Até estou a escrever o nome desse monarca imbecil que tem um ar trágico como a maioria das pessoas que frequenta os cursos de auto–estima que eu implantei aqui neste lugar. Enquanto eles planeiam novas histórias e se divertem com os problemas dos seres humanos. Eu, Job, decido fazer da vingança um modo de vida. Como é que ela se conseguirá defender das tentativas de vingança do rei medieval? Job sorri com o seu plano. Plano esse que irá dar autênticas dores de cabeça a Deus e Diabo. Noutro lado, a saudade duma pessoa morta dá apertos do coração, uma enorme vontade de chorar e ver todos os albúns de fotografias, cartas, presentes e e-mails.
- Martim, onde estás tu? –perguntava Sancha na praia com uma garrafa de vinho na mão, até que de súbito lhe surge no meio daquela tempestade em que a chuva e a água da praia são irmãs siamesas. Ela vê Martim correr na praia de calções de banho. É ele. Não será uma visão? Não terá ela a ter alucinações com a bebedeira e com os charros que tem consumido? Parece que nos últimos tem consumido e feito coisas que noutras alturas nem sequer lhe passaria pela cabeça. Em todas as aventuras procura uma oportunidade para se degradar e isso dá-lhe um certo prazer. No meio das pesquisas, costuma usar um nome na internet quando procura emoções fortes. Dir-se-ia que estaria a pecar. Mas que merda ela não é nenhuma boneca de madeira, nem precisa de grilos falantes a ditarem a moral e os bons costumes .Para isso já tinha a família que lhe havia colocado uma diquete dentro do cérebro.