fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

sábado, dezembro 31, 2011

TEP-ZIPI

Deseja a todos os leitores um feliz ano 2012. Todas as personagens estão de regresso na próxima semana, porra as personagens de ficção também têm vida... Até breve. Pois elas foram de férias... elas não vão ser afetadas pela crise 2012... ou não? ESte é o primeiro mistério desta história...

quarta-feira, dezembro 21, 2011

UM PEDAÇO DE NATAL DIFERENTE

Tal como Sir Leornard Wouley achava que a colina de Nimrud escondia uma civilização perdida, também achei desde o princípio que o génio alado da Fundação Calouste Gulbenkia detinham as chaves do avô do Anjo da guarda.

Hoje olhando bem, passados dez anos depois com todos os avanços e artigos, o mesmo génio provoca embaraço e medo a todos os visitantes.Ao olharmos para o rosto da " fera"mitológica, compreendi que aquela era uma técnica inovadora de olhar a arte. Essa era a primeira parte da ideologia patente no rosto.
Para resolver essa questão tivemos que fazer um levantamento bíblico, dos seres híbridos e sobrenaturais e de todos aqueles seres sobrenaturais que estão ao nosso lado. Os seus olhos, a sua barba repreentam não só uma fonte depoder, mas tmbém de saber e e raciocínio, de aviso. Há que ter o conhecimento do perigo que se instala a quem deve obedecer ao seu Senhor...

Por isso, deixei-me aprisionar por aquele ser de asas enormes e que me levsse para lá as montanhas e das palavras.É porque as palavras não são nada quando ditas , ms sim quando escritas. Daí minha comparção ao génio, ao seu olhar e à escrita cuneiforme que me perdoem assiriólogos e os historiadores de arte, mas é aqui que começa toda uma história de um rei, de um ser que comunica com o seu DEus. Lá porque as palavras possam significar um momento de escárneo, glória ou pânico.Hoje olho para aquele ser e pedra e sinto-me pequeno, como nunca o havia sentido , tal como a mensagem do Natal e a fórmula dos grandes profetas que eles criaram. Os deuses tornaram-se homens e vieram até nós para se mostrarem que seriam capazes de suportar tudo, todas as feridas e enganos. Também quiz ter um epitáfio assim, quando ouvia Jm Morrson, ou Kurt Kobain na idade do armário. Mas do que é nos vale apenas ter um epitáfio e uma página de um livro?
AS palavras foram feitas pela maturidade e das decisões de quem as escrevem, daquilo que sentiram, porque olhando para o passado e vendo o presente as palavras e as imagens que o Natal também foi anunciado por um anjo a Maria, dano-lhe o privilégio dela ser a mãe do Salvador dos Homens. E nós quem seremos nesta multidão? Seremos a prova de um epitáfio repetivo, de que nos esquecemos quem somos e da mensagem de união e soliedariedde? Ou será que o Natal será só para alguns? Serão as boas festas um breve formula de droga leve misturdo com laxante fazendo-nos crer que estamos melhor, que a crise vai acabar. Esquecemo-nos que vários homens se revoltaram contra injustiças e fizeram alguma coisa pelos outros, foram presos.
Quem sabe se não foi esse o caso do génio alado ou do Pazuzu, Assur ou Shamash que foram esquecidos e louvados por uma árvore?
Já imaginaram que tudo isto tem um sentido Celta, e assírio já pensaram que na árvore havia lá o rei que comunicava com esses seres? Eu gostaria de ser pelo menos um dia, um pequeno grão de areia onde todos os seres desses as mãos, ou onde as fadas nos dessem um pouco do pó da alegria e nos dessem a vontade de transmitir o que é afinal ser cristão... porque não voarmos e partirmos do princípio que podemos fazer mais? podermos dar aqueles que mais necessitam, mas sem usar instituições que usam os benefícios, as roupas, as comidas para os amigos. Então aí sim, soltem os deuses pagãos ou mesmo aqueles que foram cristinizados para sabermos afinal de onde somos... e deone viemos, do pó, da areia? OU será que somos feitos do consumo? Volta Pazuzu estás perdoado!

sábado, dezembro 17, 2011

A TEORIA ANTICOLONIALISTA EM AMILCAR CABRAL

Há cerca de dez anos atrás julgava eu seguir as pisadas da história antiga quando num seminário internacional Mário Liverani (prestigiado assirólogo da universidade La Sapienza) apresentou uma curiosa comunicação, “The tribunal of history”, mais tarde publicado na revista Cadmo. Volvidos mais de 11 anos será possível apresentarmos um julgamento em defesa do anticolonialismo de Amilcar Cabral se bem vistas as coisas, aos nossos olhos elas parecem-nos cruéis, e de que violência só gera mais violência, mas para isso deveremos nós entrar dentro do espírito da época deste autor, ou melhor deste teórico lusófono.
Fazendo justiça às ideias de uma colega de mestrado no Seminário de Ideias Políticas que afirmou numa aula: “Portugal nunca teve o seu grande teórico político”.
Para podermos compreender melhor Amílcar Cabral achamos por bem seguir a sua própria vida, conforme iremos fazer uma síntese das suas próprias ideias, para tal decidimos propor a seguinte hipótese: Será Amilcar Cabral o grande teórico português? Ou colocaremos a questão nesta tónica: “Foi necessário ele ter frequentado a Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, para despertar de uma longa noite colonizadora? E se esse ambiente não era mais se não um episódio de um conto tradicional africano?
É neste sentido que António Tomás afirma “como compreender o apelo de Amílcar Cabral à violência, quando eu, sendo de Angola vivi na pele, ao longo de vários anos de guerra civil, o desfecho desta violência anti-colonial de que Amílcar Cabral foi um dos iniciadores? Como compreender a legitimidade da guerra desencadeada por Amílcar Cabral e pelos seus companheiros quando nós, angolanos, guineenses e moçambicanos, sabemos hoje o que ele não viveu o suficiente para presenciar: os golpes de Estado, os fuzilamentos arbitrários e as guerras civis como continuação da guerra colonial? ”.
Diante de uma área de estudos diferentes, poderemos nós invocar um tribunal para ir em defesa de Amílcar Cabral? Seriam as suas ideias benéficas ou prejudiciais? Poder-se-á perdoar o uso da violência como uso de estratégia ou não poderemos nós tentar entender um povo em que durante séculos foi subjugado à posição de colonizador e colonizado? As suas próprias ideias políticas podem ou não transformar Amílcar Cabral num herói ou num vilão? Não me convém aqui fazer a apologia do herói trágico ou fazer um levantamento de todos os autores africanos para poder comparar Amílcar Cabral a um herói “pepeteliano”. Quem é afinal Amílcar Cabral diante destes meros resumos? Onde estão as suas principais ideias políticas que nós ouvimos ou decidimos investigar? Em que moldes surge a teoria de Cabral? Permite-nos seguir as linhas essenciais?
Por seu lado, Norrie Maqueen descreve Amílcar Cabral, deste modo: “Mestiço cabo-verdiano, embora nascido na Guiné, Cabral cursara Agronomia em Portugal. A sua profissão permitiu-lhe obter importantes conhecimentos tanto quanto às condições das massas rurais, como do clima político em todo o império; esteve, por exemplo, em Angola nos meados da década de 50, precisamente no período que antecedeu à formação do MPLA. Cabral foi o teórico mais profundo dos dirigentes nacionalistas na África Portuguesa (…)” .

Volvidos mais de 11 anos será possível apresentarmos um julgamento em defesa do anticolonialismo de Amilcar Cabral se bem vistas as coisas, aos nossos olhos elas parecem-nos cruéis, e de que violência só gera mais violência, mas para isso deveremos nós entrar dentro do espírito da época deste autor, ou melhor deste teórico lusófono . Fazendo justiças às ideias de uma colega de mestrado “Portugal nunca teve o seu grande teórico político “Foi necessário ele ter gvfrequentado a casa dos Estudantes do Império para despertar de uma longa noite colonizadora ? E que todo esse ambiente não era mais se não um episódio d eum conto tradicional africano?

Diante de uma área de estudos diferentes, poderemos nós invocar um tribunal para ir em defesa de Amílcar Cabral? Seriam as suas ideias benéficas ou prejudiciais? Poder-se-á perdoar o uso da violência como uso de estratégia ou não poderemos nós tentar entender um povo em que durante séculos foram subjugados à posição de colonizador e colonizado? As suas próprias ideias políticas podem ou não transformar Amílcar Cabral
num herói ou num vilão? Não me convém aqui fazer a apologia do herói trágico ou fazer um levantamento de todos os autores africanos para poder comparar Amílcar Cabral a um herói “pepeteliano”. Quem é afinal Amílcar Cabral diante destes meros resumos ? Onde estão as suas principais ideias políticas que nós ouvimos ou decidimos investigar ? Em que moldes surge a teoria de Cabral ? Permite-nos seguir as linhas essenciais?

Mas para chegarmos a um consenso devemos recuar até à década de 50 do século passado, quando o mundo era dividido num sistema bipolar e onde a maioria das colónias eram apenas “províncias ultramarinas” e que Portugal era sem dúvida uma grande nação. Não havia colónias, o que havia eram províncias que estavam fora de Portugal continental europeu. Depois a miséria abençoada pelo estadista português era um dogma que não se falava. Na santa Pátria lusitana não haviam diferenças, mas é aqui que irão surgir algumas diferenças entre colonizadores e colonizados. Além disso, Amílcar Cabral acabará por perceber tudo isso muito bem ao longo do seu trabalho em Cuba e mais tarde já como engenheiro chegará à conclusão de que a pobreza não está só em Portugal, mas noutros locais onde a diferença social e distributiva se pauta pela forma como a terra é trabalhada.
Deste modo “Amílcar Cabral tornara-se nacionalista muito mais pelo espectáculo da fome e miséria que presenciara na sua juventude do que pelas leituras marxistas que fizera em companhia de outros colegas africanos”.
Como diz António Tomás “Amílcar Cabral é uma das mais personalidades africanas mais interessantes do século XX. Homem de muitos paradoxos: como nacionalista, foi um homem de cultura; como teórico tirou mais lições de vida do que dos livros; e como militante armado e chefe de guerrilha preferiu a pacificação” .
Ora para compreendermos Amílcar Cabral não nos convém fazer a apologia do herói trágico ou de uma caracterização de toda a literatura africana para explorar como Cabral poderia ter sido traçado pelos diferentes autores. Não, muito pelo contrário olhamos para alguém que sabia muito bem onde pisava os pés e aquilo que era necessário (educação, cuidados médicos, habitação para todos, igualdade de direitos). Ao mesmo tempo fomos construindo uma biografia política, mas também decidimos construir a sua própria história através de Paulo Campbell , Sónia Borges , António Tomás , Carlos Lopes Pereira, entre outros.

O ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

O fim da Segunda Guerra Mundial marca a etapa decisiva da descolonização. A França e a Inglaterra, possuidoras dos maiores impérios coloniais, não têm capacidade para nuum pós-guerra enfrentar revoltas espalhadas pela África e Oriente. Por outro lado a Carta das Nações Unidas consagra o princípio da autonomia, o que dá um novo dinamismo aos movimentos nacionalistas reforçado pela subida ao poder de Mao Tse-Tung na China, a derrota da França na Indochina e a nacionalização do canal do Suez, no Egipto.
A Inglaterra, em 1947, inicia a descolonização pacífica e integra as suas antigas colónias na Commonwelth, à excepção do Quénia. A França reconhece a independência da Tunísia e de Marrocos mas mantém uma guerra colonial na Argélia até 1962. A Sul do Saara a descolonização foi pacífica, excepto nos Camarões.
A Bélgica, ao retirar precipitadamente do Congo e apoiando uma das facções, deu origem a uma violenta guerra civil que só terminou em 1965 com a subida ao poder do general Mobutu.

Cientes da realidade africana, considerando que a partilha de África NA Conferência de Berlim (1884/1885) tinha criado fronteiras arbitrárias, sem levar em conta os factores culturais e étnicos dos povos indígenas, N’Kruman defende o pan-africanismo, Senghor um conjunto de valores culturais e étnicos a que se chama negritude, o que levaria a formação de uniões e federações de Estados. Estas, contudo foram efémeras. Devido ao tribalismo, às diferenças ideológicas, a luta pela liderança e as pressões das grandes potências,como a guerra fria a África mergulhou em conflitos sangrentos. Os movimentos nacionalistas da década de 1960 foram acelerados pela Conferência de Bandung (1955), onde os países do Terceiro Mundo afirmam o seu apoio ao anticolunialismo, ao não alinhamento e à Resolução n.º 1514 das Nações Unidas (1960) que reafirma o princípio da autodeterminação dos povos, independência da possível falta de preparação política, socioeconómica e cultural. Estas directivas abrem caminho a diversas conferências que culminam com a criação da Organização da Unidade Africana (OUA) na Conferência de Adis Abeba (1963). Esta organização pretende promover a a Unidade dos Estados Africanos e eliminar todas as forças de colonização na África.
A política de não-alinhamento que recusava a adesão ao bloco capitalista ou socialista nascida em Bandung e reafirmada em várias conferências internacionais, sobretudo na Conferência de Belgrado, estende-se ao mundo afro-asiático e à América Latina. No entanto, o peso das superpotências e a debilidade económica e militar da maior parte dos países terceiro-mundistas ocasionou a ingerência dos EUA, da URSS e até da China na política interna destes países. O peso dos não alinhados tem tido reflexos importantes no resultado das votações da ONU quando as grandes potências não utilizam o seu direito de veto. A África Austral manteve-se até à década de 70 sob a influência da maioria branca (Rodésia do Sul e África do Sul) e territórios não independentes (colónias portuguesas). Foi proclamada a independência unilateral em 1965 pela minoria branca chefiada por Ian Smith que adoptou uma política segregacionista para a maioria na população negra. A Grã-Bretanha e a ONU não reconhecem esta independência e são decretadas sanções económicas a que não aderem Portugal e a África do Sul.
A insurreição armada inicia-se em Angola, em 1961, com a formação de três movimentos de libertação - FNLA, MPLA e UNITA-, estende-se à Guiné-Bissau com o PAIGC e a Moçambique com a FRELIMO.
A estas insureições armadas, Salazar respondeu com a deslocação de milhares de soldados para as colónias, o que ocasionou o isolamento português a nível internacional e uma crescente oposição interna contra a guerra colonial, que vem culminar com a queda da ditadura em 25 de Abril de 1974.

BIOGRAFIA

Amílcar Cabral nasceu no Leste da Guiné, em Bafatá, a 12 de Setembro de 1924. Viveu os primeiros oito anos da sua vida entre várias localidades da Guiné , devido a varas deslocações a que os seu pai , primeiro como funcionário da Fazenda e mais tarde como professor era obrigado a fazer.

Em 1932, chegou a Cabo Verde, mas só dois anos depois, já com a idade 10 anos deu início aos seus estudos primários. No ano lectivo de 1937/1938 já se encontrava inscrito no Liceu Gil Eanes, em São Vicente, onde além de finalizar o curso com distinção, participou em actividades académicas e conheceu algumas pessoas que mais tarde, como líder do PAIGC, seriam seus “compagnons de route”. Findo o liceu, Amílcar usufruiu de uma bolsa para continuar os seus estudos universitários no Instituto Superior de Agronomia. É em Lisboa que Amílcar Cabral se haveria de formar como nacionalista. Para os jovens estudantes que chegavam de África, por volta de 1945, Lisboa constituía uma experiência que ajudava a deitar por terra muitos preconceitos. Pela primeira vez encontravam brancos na miséria, o que não acontecia em África, e logo à partida os ajudava a considerar alguns mitos sobre a superioridade dos colonos. Em Lisboa, Amílcar Cabral vai travar importantes relações de amizade com outros estudantes africanos, vindos de diferentes colónias, nomeadamente Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Noémia de Sousa ou Alda do Espírito Santo. Com este grupo, através de uma partilha de interesses comuns como a poesia, o estudo, o futebol e mais tarde, a política e a clandestinidade, tem início um processo que só acabaria décadas mais tarde com a independência das colónias portuguesas. Para a obtenção do diploma de engenheiro agrónomo Amílcar Cabral teve de realizar um estágio e elaborar um relatório final. O local escolhido foi a Estação Agronómica Nacional, em Cuba, no Alentejo.
Durante seis meses Cabral e Maria Helena Rodrigues, a sua primeira mulher, e alguns colaboradores calcorrearam todo o país e entrevistaram 2.248 agricultores, para enviar um relatório que descrevesse os processos agrícolas da província.
No princípio de 1954 o casal decidiu abandonar a Guiné. Ao longo dos últimos meses, o estado de saúde de ambos tinha-se deteriorado. Os médicos aconselharam-nos a procurar um clima menos húmido, onde a picada dos mosquitos fizesse menos estragos. Contudo, para algumas testemunhas, Amílcar Cabral foi obrigado a deixar o país a convite do governador, por se ver implicado em actividades subversivas. Foi ao autorizado a voltar periodicamente para visitar a família.
Na primeira visita, em 1956, fundou o PAI (Partido para a Independência) e mais tarde PAIGC), e na segunda, em 1959, lançou as bases para a luta armada.
Em Londres, em 1960, tomou a primeira iniciativa oficial como líder de um movimento nacionalista, ao publicar a brochura Facts about Colonialism, na qual descrevia a natureza do colonialismo português. Para tal tinha sido auxiliado pelo seu amigo Basil Davidson, escritor jornalista inglês, que acompanhou desde muito cedo o despertar africano para a independência. Para a publicação contou com o apoio de João Carciolo Cabral, da Goan League, que mais tarde passaria também a representar os interesses da FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas), na capital britânica .
Em Janeiro de 1963 teve início na Guiné-Bissau a luta de libertação. As autoridades militares portuguesas esperavam a todo o momento que o grupo de guerrilheiros atacasse a fronteira com o Senegal ou com a Guiné Conacri.
Mas a revolta estalou onde há dois anos se fazia um trabalho de consciencialização popular. Nesse mesmo ano, Amílcar Cabral convocou o I Congresso, em Cassacá, a escassos quilómetros do Como, palco dos mais violentos confrontos armados entre o exército colonial e as guerrilhas africanas. Em Cassacá o PAIGC não só aperfeiçoou os mecanismos burocráticos como também discutiu abertamente algumas práticas que se tinham tornado comuns desde o início da guerra, pois alguns, vendo-se de um dia para o outro donos de um poder imenso tinham-se tornado senhores de guerra. Com a palavra de ordem “Somos militantes armados e não militaristas”, Amílcar Cabral expulsou os elementos cuja acção enfermava o “avanço da luta”.
Em 1968 com a chegada de António de Spínola à Guiné-Bissau, o partido de Amílcar Cabral começou a sofrer vários reveses. Spínola além de conseguir, graças à intensificação do esforço de guerra, um certo equilíbrio na situação militar, obteve a adesão de grandes sectores da população, nomeadamente a muçulmana (maioria religiosa no país), a qual nunca tinha tido Amílcar Cabral em boa graça, e despertou os cabo-verdianos.
Spínola conhecia os métodos de guerrilha. A sua política de contra-subversão inspirava-se nos mesmos livros que liam os revolucionários, nomeadamente o Livro Vermelho, de Mao-Tse Tung.
Spínola, militar em busca de glória, não se limitou a tentar acabar com a acção de guerrilha na área da sua jurisdição, mas através de uma ambiciosa operação militar, destruir o quartel-general do PAIGC em Conacri, prender ou matar o seu líder. O golpe foi um redondo fracasso e colocou Portugal em maus lençóis, mesmo perante os seus aliados. Três anos depois, a 20 de Janeiro de 1973, António de Spínola já não estava na Guiné e Amílcar Cabral morria em circunstâncias ainda hoje pouco esclarecidas.

Modelo teórico: modo de produção, cultura e campo?

Amílcar Cabral é talvez na África lusófona o teórico com maior capacidade de fazer política externa, ele conhece os “telhados de vidro”. Alguns dos exemplos do programa político de Amílcar Cabral tais como Educação, Cuidados Médicos, Igualdade de Direitos, podem representar o princípio da luta anti-colonial . Como podemos ver ao longo deste trabalho Amílcar Cabral deteve a sua luta através dos conhecimentos da sua cultura africana e também pela via profissional. Aliás é através desta experiência que o teórico guineense irá produzir grande parte da sua filosofia política. O historiador brasileiro Paulo Campbell afirma que é no conhecimento do universo rural que Amílcar Cabral irá vencer as grandes batalhas ideológicas. Toda a batalha deste teórico começa na terra. A sua luta irá orientar-se por três grandes elementos:
- A personalidade e cultura do povo.
- A cultura como elemento de resistência ao colonialismo .
- A descoberta dos elementos positivos na cultura africana .

José Neves caracterizou muito bem este episódio através do trinómio do modo de produção, cultura e campo . Este historiador apoiando-se na antropóloga política Benedith Anderson afirmou que o tempo de pesquisa era feito a três tempos (manhã, tarde e noite), para outro trinómio de (produção de terreno, cultivo e colheita) .
A novidade no argumento de Cabral é a relação que estabelece entre a destruição dos solos e o capitalismo, e isto derivava de algumas leituras marxistas. Os danos causados à terra, descrevia, tinha como principal culpado o regime de propriedade ou no jargão marxista, o modo de produção. Para ilustrar este ponto de vista, Amílcar Cabral criticou a transformação do Alentejo em celeiro do país, na famosa “campanha de trigo”, quando era evidente que esta região de Portugal não oferecia as melhores condições para a produção do referido cereal. Por causa do clima seco, das chuvas irregulares e da própria constituição dos solos, o rendimento do trigo no Alentejo defendia a utilização de todos os espaços disponíveis, com as planuras, as encostas e mesmo os declives. E, de facto, a campanha tinha resultado no aumento da produção. Porém, Amílcar Cabral, ao contrário do que defendia a propaganda do regime, afirmava que o seu sucesso era temporário, uma vez que estava a esgotar o terreno e longo prazo a destruição da charneca. Em última instância, Amílcar Cabral defendia que este modelo económico-agrário, relevava da desigual distribuição das terras.
Esta situação desigualdade determina assim a minha relevância para comparar este episódio da história de Édipo e da Esfinge. A adivinha resulta também na comunidade, no grupo, no tempo e na terra. É aqui que está o cerne da questão e do pensamento de Amílcar Cabral.
É aquilo a que poderíamos comparar à história da adivinha de Édipo e da esfinge: A Esfinge poder-lhe-ia perguntar qual é o animal que ao longo do dia que tem quatro patas, ao meio-dia tem duas e ao fim do dia tem três. Na história de Sófocles, Édipo responderia o homem, adivinhando. A manhã, a infância, a tarde, a adolescência e a idade adulta, e o fim da tarde, a velhice. Aqui a questão tratar-se –ia de quem seria o explorador e o explorado, quem trabalharia a terra de que forma é que a produziria. Cabral notou neste trinómio de uma comunidade vista de baixo para cima, como afirma o historiador José Neves, mas que ao mesmo tempo todo o universo rural é idêntico seja ele em Cuba ou noutro lugar, porque todo o sistema é idêntico.

José Neves ressalva aqui a originalidade do pensamento cabraliano, ao contrário de outros movimentos independentistas em que se poderiam descolonizar todas as colónias, neste caso só se poderia ver cada caso e a sua própria identidade.
É o universo filosófico que se irá definir todo o seu pensamento anti-colonialista. A sua experiência pessoal é ligada à cultura africana, depois o teórico guineense conhece muito bem a realidade agrícola dos países e será nesse campo que Amílcar Cabral irá jogar. Como vimos na sua biografia Amílcar Cabral viajou de Norte a Sul do país fazendo inquéritos a toda a população, o que fez com que ele conhecesse toda a região e anos mais tarde e lhe desse alternativas de se proteger em tempos de guerra.
Amílcar Cabral soube também, ser um excelente diplomata fazendo com que ninguém nunca soubesse de que lado ele estivesse, se da Direita ou da Esquerda, o facto de Amílcar Cabral se ligar quer a comunistas, como a outros indivíduos, mostra bem a sua enorme capacidade de se relacionar e de fazer política.
Não é só a terra que é mal distribuída, ou porque alguns detém todos os privilégios, mas porque a terra é o motivo da sua teoria e daí partirá as bases do princípio da luta de Amílcar Cabral.
Para Cabral o conceito de situação colonial é um processo histórico que abrange a distância entre a metrópole e a colónia, Paulo Campbell salienta a predominância dos actores coloniais e colonizados. Este projecto agrícola irá demarcar todo o seu pensamento político, quer através da ideia de um projecto de emancipação cultural.

De que forma é que Amílcar Cabral irá apresentar o seu projecto de independência?

Cabral entendia que a guerra servia para se forjar um “homem novo”. Portanto, todo o esforço deveria ser levado a cabo no sentido de se criarem as condições para a edificação de um Estado independente dentro do Estado colonial. Assim aparecem as zonas libertadas, em que se organizavam os Armazéns do Povo que vendiam produtos de primeira necessidade a preços mais baixos do que os estipulados pelo Governo de Bissau, foram criadas escolas, onde se leccionava com livros redigidos por elementos do PAIGC, e impressos em países que apoiavam o PAIGC, como a Suécia. Estas zonas acabaram por funcionar como laboratórios para a construção da futura nacionalidade guineense. Nelas procurava-se harmonizar as diferenças étnicas, religiosas e raciais, e sobretudo, difundia-se o crioulo que começava a ser a língua veícular, garante de entendimento no emaranhado babélico. Para isso a rádio, considerada por Amílcar Cabral como “canhão de boca do PAIGC”. Em seguido iremos fazer uma retrospectiva daquilo que falamos e de que forma Amílcar Cabral se evidenciou ao longo da sua vida.
Para Amilcar Cabral é necessário conhecer o mundo rural, reconhecendo ao mesmo tempo os territórios da sua trajectória política. O fenómeno agrícola transforma o homem, criando desta forma novas relações entre o fenómeno entre o homem e a natureza .
É esta comunhão entre a experiência agrónoma de Amílcar Cabral e científica dos inquéritos a norte a Sul do país que lhe permitiu conhecer todo o território guineense.
Amílcar Cabral irá cartografar todo o seu projecto político para a independência para Cabo Verde

Conclusões: De que forma é que Amílcar se diferenciou dos outros líderes africanos?

Para descrever um herói é necessário reconhecê-lo, desmontá-lo. É nesse sentido que é importante recordar o percurso ideológico de Amílcar Cabral. Para Cabral o conceito de situação colonial é um processo histórico que abrange a distância entre a metrópole e a colónia
Para compreendermos esse mesmo percurso há que salientar de que durante a década de 1950 o mundo bi-polar (Estados Unidos da América e URSS) determinou as mudanças políticas fundamentais no mundo afro-asiático. Esta transferência de poderes irá caracterizar a luta pela independência colonial.
Como vimos Amílcar Cabral nasceu em Bafatá (na Guiné Portuguesa) a 24 / 9/1924. O futuro teórico anti-colonialista mudou-se com a sua família para a ilha de Santiago aos 8 anos. No ano lectivo de 37/38 foi matriculado no Liceu Gil Eanes em S. Vicente onde seria distinguido como o melhor aluno do seu ano. Em 1944 concluiu o liceu com uma média de 17 valores, sendo-lhe atribuídas duas bolsas. Uma de mérito através do Liceu de Cabo Verde e a outra pela Missão dos Estudantes do Ultramar.

A Casa dos Estudantes do Império, criada em 1944 era organismo associado à Mocidade Portuguesa que gizava albergar e unir os estudantes universitários vindos das Colónias.
Amílcar Cabral acabou por ter um papel importante ao servir de plataforma associativa e cultural muito próxima do movimento estudantil anti-salazarista.
Ao longo deste trabalho vimos como a cultura e a rádio eram instrumentos de poder muito fortes. Amílcar Cabral pretendia finalizar com o colonialismo imperialista, mas também com a diferença entre pretos e brancos, ricos e pobres e exploradores e explorados. Desde cedo se deu conta dessas diferenças no seu próprio país, mais tarde em período de férias deteve-se em projectos que não seguiriam em frente, mas que no fundo seriam a semente da sua luta. A partir do programa a “Nossa Cultura” que defendia a revalorização da África, do movimento negritude, que vinha proclamando a sua cultura e identidade. Após a conclusão da sua tese de licenciatura, Cabral descobriu que Portugal e as colónias não eram assim tão diferentes no modo de trabalhar a terra, de exploração contra quem fosse, se fosse assimilado ou não. O colonizador negava o processo histórico aos povos africanos. Além de os estimular a reivindicarem as suas próprias memórias culturais, Cabral elevou esse mesmo modelo a uma estratégia de independência nacional. Num continente habituado a lidar com as manifestações da mãe natureza, Amílcar Cabral tornou-se num verdadeiro feiticeiro o qual pretendia guiar todos os grupos a se unirem num projecto descolonização, educando-os, levando-os a pensar por si mesmos coisa que até então nunca haviam feito na sua vida e era esse o projecto de consciencialização em relação ao povo, à sua cultura, o modo de produção de terra e final da produção. Que proveito terão tido esses agricultores?
Cada experiência nunca deve ser tida como perdida. Amílcar Cabral pode-se dizer que foi o único teórico português nas palavras da nossa colega de mestrado que foi o único teorizador político. A sua luta, sua marca e inteligência são fruto deste mesmo trabalho, da qual ele trouxe toda a sua experiência humana para a aplicar naquilo que ele mais ansiava: no sonho de construir um país. Soube olhar as realidades e traçar objectivos.
“Não vamos utilizar esta tribuna para dizer mal do imperialismo. Diz um ditado corrente nas nossas terras, onde o fogo é ainda um instrumento importante e um amigo traiçoeiro (…), que quando a tua palhota arde, de nada deve tocar o tam-tam”. À dimensão tri-continental, isso quer dizer que não é atirando palavras feias faladas ou escritas contra o imperialismo, qualquer que seja a sua forma é pegar vem armas e lutar”.

terça-feira, dezembro 13, 2011

Mário Pinto de Andrade ( Conclusões)

1 – De que falamos quando falamos de negritude?

Os fundamentos da negritude incluem a redescoberta da história e das culturas do continente africano e da diáspora negra no mundo.Contemporânea do Surrealismo (em Portugal do Neo-Realismo), usou no seu discurso a componente ideológica do pan-africanismo, já de si influenciado pelo marxismo. Todavia, em 1939, Senghor escreveu que “a emoção é tão negra, como razão branca”e que “o ritmo é a força ordenadora que define o estilo negro”. “Começava aqui o pendor místico da Negritude em relação ao negro, considerado de uma perspectiva essencial e generalizante, que passava ao lado das especificidades sociais, económicas, políticas e nacionalistas. Aimé Césaire, em 1950, denunciava a “inaudita traição da etnografia ocid3ental “e da desumanização progressiva em virtude da qual de futuro não haverá, não pode haver agora, senão a violência, a corrupção, a barbárie na ordem do dia da burguesia “. Césire publicou Les armes miraculeuses (1946) e o texto completo d’un retour au pays natal (1947) com prefácio de André Breton, que o conhecera na sua passagem pela Martinica. Os dois emblemáticos escritores da Negritude legaram-nos uma obra literária da máxima importância, mas foi SEnghor que, com a presidência do seu país ( Senegal ), os inumeráveis escritos teóricos e uma larga aceitação ocidental (política, literária e académica), contribuiu decisivamente para a divulgação da tendência ecuménica , dialogante da Negritude.

Social e ideologicamente a Négritude constituiu-se como processo de busca e identidade, de conduta desalienatória e da defesa do património e do humanismo dos povos negros. Recusou a assimilação a modelos externos à história negro -africana, embora consciente dos contributos aculturativos, sobretudo nas cidades. A Négritude pretendia a criação um estilo próprio, no desejo de se demarcar dos modelos e motivos liuterários das literaturas ocidentais. A poesia da Negritude distingue-se da restante literatura africana de língua portuguesa pelo obsessivo tratamento da raça e da cor negras, qualificando-as com valores reais e simbólicos, reagindo desse modo, ao racismo branco << o sangue negro, o sangue bárbaro >> (Noémia de Sousa).
A África, o negro e a mãe –Negra (Mãe –Äfrica ou Mãe –Terra) ocupam nos textos um lugar de destaque, como referências, alusões ou temas, numa declaração humanística de povos até aí apresentados e representados (na literatura colonial) como destituídos de história cultura e mesmo de sentimentos. Segundo a análise de Satre, no referido Anthologie, de Senghor, dá-se a revalorização das culturas e modos devida ancestrais (tribais, clânicos) com o culto dos antepassados, o animismo e a retrospectiva animização retórica da natureza, o pan-sexualismo vitalista, a visão eufórica e ufanista das relações sociais e familiares nas tribos e no mundo rural e natural. Ou seja, opõe-se ao mundo tecnológico e racionalista dos europeus o mundo natural e sensitivo dos africanos, num posicionamento que receberia críticas devastadoras dos homens empenhados na abertura de África ao mundo moderno, através das revoluções socialistas.

2 – A importância de se chamar Literatura negra (Combate intelectual entre Mário Pinto de Andrade e Tomé das Neves)
Note-se que a Separata de poesia de Moçambique não reflecte problemas desse tipo. É uma recolha cujo propósito não aparece ser outro se não a recolha do mesmo. O objecto em si, que é a Separata de Moçambique, parece ter outras interpretações, e tem várias certamente. Aliás o primeiro texto do boletim é uma espécie de ensaio sobre a “Literatura Negra e os seus problemas “ (pp1-3) de Mário Pinto de Andrade. O autor explica que sentiu necessidade de escrever este texto por causa de uma conferência que o Sr. Tomé das Neves pronunciou em Luanda sobre “Literatura Negra “e que o Brado Africano publicou o seu número de 23 de Dezembro de 1950. Este texto é já de si muito curioso, porque antecede aquilo dois anos depois Mário Pinto de Andrade irá escrever na Primeira Antologia de Poesia Negra de Expressão Portuguesa (1953), e em sete a segunda antologia (1958) excede em formulação de pensamento de textos posteriores. Mais do que um texto embrionário, é um esclarecimento do Sr. Dr. Tomé das Neves quanto ao que seja “literatura negra “. Para resumir, ao referido conferencista chama ignorante, e explica que << só o desconhecimento (ou talvez o conhecimento) da existência d eLangston Hugdes, Nicolázas Guillen, Sédar Senghor ou Aimé Cesaire , pode levar o Dr. Tomé das Neves afirma que o poeta negro… não descreve o que lhe vai no íntimo negro, não revela a sua “sensibilidade artística, descrevendo a sua alma negra, o sentimento negro >>. A afirmação irrita o autor. Põe mesmo a questão: “que se entende por literatura negra, e quais os seus problemas?“ Deixa a designação “negra”, propositadamente, e esclarece sobre a distinção necessária de literatura oral e literatura escrita.

Para Mário Pinto de Andrade , << Literatura verdadeiramente negra >>é a literatura oral , de “tradição gnómica e popular“: essa é <> transmitida nas línguas nativas por “arquivos humanos “salvaguardando-se que entre os da África, como os” banto “sul-africanos, porque a suas línguas são ensinadas nas escolas, existe sem dúvida um a literatura escrita não sendo já só de sabor folclórico mas especificamente nativa “- o que equivale a, penso interpretar bem o seu pensamento, afirmar a existência de uma forma escrita de literatura oral. E de imediato esclarece que a outra literatura não é só de África, mas também das Américas, o que obrigará a distinguir a literatura negro-africana e a restante.

A linha de pensamento de Mário Pinto de Andrade é clara aqui.. Literatura africana é a da cultura de tradição essencialmente oral, africana: a poesia (épica, literatura, dramática, satírica) a prosa contista (conto maravilhoso, cosmogónico, moral), a expressão proverbial, o enigma. E esta não levanta problemas. É a “outra “das Africas e das Américas, a que já é uma coisa, ainda que pouco definida, que lhe levanta várias questões, as quais centra na literatura negro-africana. Um dos problemas será “o da assimilação total ou parcial da cultura do Europeu “, de que outros derivam: “por conseguinte o conteúdo da obra e o problema da língua“. Conclui, dizendo serem questões de base de um trabalho de interpretação da expressão literária negra.
Nesta continuação, Mário Pinto de Andrade, não abandonando o tom irritado com que estava a responder ao conferencista, não mais lhe cita o nome, numa mostra subtil de altivez intelectual. Ataca a ignorância do conferencista perguntando-lhe: Será que “descrever“ a alma negra, o sentimento negro “significa o mesmo que exprimir a interioridade subjectiva do homem negro, estados de alma, naquele género poético chamado lirismo?” [2]

3 - O Problema do slogan “Vamos descobrir Angola!”

Quando Mário Pinto de Andrade deu a entrevista a Michel Laban afirmou: << Portanto, havia um lado ideológico que está presente na maneira como me referi ao movimento “Vamos descobrir Angola “>> Como teria sido feita a entrevista? Que respostas Mário Pinto de Andrade deu aLaban?

Esta confissão de Mário Pinto de Andrade foi feita dez anos depois após as refelxões expendidas por Mário António Fernandes de Oliveira. Num texto datado de 1977, Mário António que esteve ligado ao grupo de poetas que publicaram na revista Mensagem, refer que só tomou conhecimento do slogan “transformado em crisma, através da Antologia da Poesia Negra de Expressão Negra, de Mário Pinto de andrade, editada por Pierre–Jean Oswald em Paris, em 1958.
Sentindo-se cultural e socialmente europeu, o mulato sentia-se cada vez mais longe do mundo africano que via nele, por assim dizer, o estigma do pecado e tantas vezes da prostituição do negro. Negro, que entrava em choque com ele, ao constatar que, no fundo, ele era também um africano, ainda que de pele mais clara, mas que fazia o jogo do colonizador europeu. Europeu, que se sentia, de certo modo, estribando nesse mulatismo, auxiliar precioso da sua política colonial, embora socialmente, não aceitasse de bom grado a igualdade a que o mulatop fazia jus. Urgia, pois, que o mulato fizesse a opção. Isto é, que s ecolocasse definitivamente ao ladfo do opressor ou do oprimido.

O <>traduziu, quanto a nós, a opção necessária: enterrar o mulatismo, agente indirecto do colonialismo, para se enveredar pelo africanismo.

A transformação do mulatismo ou afro-europeísmo, não foi pois o seu regresso de mulato à sua personalidade básica, ao seu biotónus africano, quebrando, finalmente, a tensão que nele se havia quebrando, finalmente, a tensão que nele se havia estabelecido com apersonalidade secundária ou adulta, europeizada. Ao assumir-se como africano, ou melhor como angolano, o mulato conhecedor da psicologia europeia, colocou-se em posição de denunciar e criticar publicamente a política colonial. Incentivaria, por sua vez negros e brancos angolanos, iludidos por melíficas vozes coloniais, a despertarem de sua letárgica passividade e reclamarem seus direitos e interessses como cidadãos de Angola.

O grito do “Vamos descobrir Angola!”congregaria assim os filhos de Angola, em torno do projecto da construção de um nacionalismo autêntico que, no campo da literatura, foi assumido pelos “Novos Intelectuais“. O Movimento poético, que eles vão iniciar, partiria curiosa e sugestivamente da Associação dos Naturais de Angola (ANAN-GOLA) e da sua revista” Mensagem”. Esperemos que através deste movimento tenha surgido umaq nova forma de olhar a literatura africana de expressão portuguesa e que um estudo sistemático possa de uma certa forma contribuir para a figura de Mário Pinto de Andrade.

Conclusões

Ao escolhermos Mário Pinto de Andrade como tema de estudo, detuvemo-nos em três aspectos: a sua ligação à língua portuguesa, ao contacto social, e se bem ficou demarcado a língua é a nossa pátria.

Pode dizer-se que Mário Pinto de Andrade foi um humanista convicto que conduziu à sementeira cultural nos Cinco Países, que umdia concretizou a soleidariedade libertária na CONCP (Conferência das Organizações nacionalistas das Colónias Portuguesas), cujos frutos amadureceram: de Angola, seu país naal, a Cabo Verde e a Guiné Bissau, seus países de adopção, e a Moçambique e São Tomé e Príncipe, a sua voz de nacionalista intelectual fez-se ouvir mais do que uma vez, tenso sido o único da sua geração a realizar, por condicionalismos menos felizes, o ideal de panafricanismo de que fora promotor de uma intelleigentzia africana d elíngia portuguesa exilada em Portugal nos anos 40 e 50, ao aceitar o cargo da então recém criada República da Guiné Bissau.

Como afirma o historiador António Faria “Mário Pinto de Andrade (…), pela clareza das suas posições como político e como escritor é uma figura indispensável para o estudo e conhecimento da descolonização dos países de África que, até ao último quartel do século XX, estiveram soba administração portuguesa (…)[3]

Consciencializador e ao mesmo tempo um teórico Mário Pinto de Andrade determina-se como o fundado não só de uma literatuar especificamente africana, a oral, deitando por terra toda a literatura guardada com “bolas de naftalina “.Por iniciativa do poeta Viriato da Cruz, um grupo de assimilados de Angola fundou a revista Mensagem em 1948. Esta era dedicada à poesia em português, mas não é difícil compreender o alarme que levantou entre as autoridades. A poesia não expressava pontos de vista directamente políticos; mesmo a PIDE não iria supor que os seus autores pudessem formar uma espécie de partido político. Mas o que escreviam, atingiam tudo e todos com a sua força poética, já que era indirectamente subversiva para o conjunto da ordem estabelecida. A este respeito, a epígrafe do jornal, “Vamos descobrir Angola“, era em si um programa radical, que desafia os“assimilados“a “desassimilarem-se“, a procurar o caminho de regresso às suas origens africanas , à sua pesonalidade indígena. Opunha a ideia de uma civilização africana à ideia de uma civilização portuguesa [4].

Os poetas descreviam o drama da repressão e exploração colonial , defendendo a emanecipação imediata para o povo angolano , se necessário pela força. Mário Pinto de Andrade, poeta e um dos fundadores do movimento, atribui o redespertar das consciência destes intelectuais sobretudo pelos esforços das publicações locais.

Estes movimentos não só resumiam reinvidicações, como lhes acrescentavam uma dimensão política. “O verdadeiro poeta tornou-se um panfletário político“, escreveu Mário Pinto de Andrade. Estimulado pelos movimentos de protesto, o “assimilado”
<>e ultilizar-se-á da sua posição privleigiada para trabalhar no ressurgir de uma autêntica cultura indígena que é preservada e continuada pelas massas populares a despeito de todos os esforços dos colonizadores para a destruir.

Enquanto esta consciência se continuava a desenvolver nas colónias, um grupo de “assimilados“que estudavam em Lisboa e se debruçavam sobre a sua própria cultura. Fundaram o Centro de Estudos Africanos, que publicava poesia em português, dedicada ao novo movimneto de protesto e à nova consciência de uma cultura indígena –um estímulo mais, para o nacionalismo que ainda germinava. Mário Pinto de Andrade desenvolveu um estudo sobre alíngua Kimbundu. A criação do centro, nos anos cinquenta marcava o primeiro passo para a reafricanização das consciências e a rejeição da assimilação.

Chegados aqui, supomos já ser possível tirar qualquer conclusão no sentido de se saber se a Negritude teve ou não influência marcante no Movimento dos Novos Intelectuais. Pelo longo caminho que fizemos procuramos somente mostrar que as motivações desse Movimento literário procurava dar respostas nacionais às questões coloniais, foram muito diferentes daquelas que gizaram a Negritude

Ao caracterizar a contribuição de Mário Pinto de Andrade à historiofrafia da literatura africana, o professor Manuel Ferreira considera queMário Pinto de Andrade foi cidadão de África. Em vida, tal como escreve António Conceição Tomás, serviu-se de vários passaportes: da Guiné –Bissau, Guiné–Conacry, de Marrocos, de Cabo Verde.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Projecto Sherazade - Aceitam-se Propostas para nova história

Após a escolha da recuperação deste género através de uma sátira através de SAnta Muerte onde se derão ênfase às culturas brasileiras, portuguesas, mexicnas e um toque místico e de mistério. SAnta Muerte voltará em breve de uma outra forma... mas séra uma surpresa... Quanto ao projecto de Sherazade decidimos continuar este trabalho, ou neste caso projecto. Aguardamos sugestões, palpites e tudo aquilo que vos passar pela cabeça para almeida.antonio00@gmail.com, que eu responderei e antenderei às vossas sugestões. Desta vez as personagens irão inter-agir. Dentro dos próximos dias deixaremos aqui algumas histórias iniciadas em épocas anteriores a que não demos continuidade e que agora daremos outro enquadramento sempre com um toque de humor, suspense qualidades a aque a outra história permitiu, apenas colocamos três nomes Fotossíntese, Tep-zipi ou neste caso Projecto Vieira...
Aguardamos as vossas propostas. Voltamos em breve com mais indicações...

sábado, dezembro 10, 2011

"Cimeira de afectos"*

Na mesa, da esquerda para a direita:
Lopes Marcelo, Cristina Granada, Aida Rechena e Domingos Santos.

Vista parcial dos assistentes à iniciativa...

Vista parcial dos assistentes à iniciativa...

Luís Norberto Lourenço, com amigo e tertuliano Lopes Marcelo a autografar o seu livro.

Na apresentação do livro "Bailado de Sonho: As voltas do linho" texto de M. Lopes Marcelo, desenhos de Manuel António Pereira de Jesus, com prefácio de Aida Rechena, edição do Rancho Folclórico das Aranhas, col. "A nossa Terra e a nossa Gente", apresentado ontem, 9 de Dezembro de 2011 [claro... e não 2012, como tinha referido!! Gracias, Bety!], pelas 21h, no Auditório da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Castelo Branco. O auditório da ESE esteve cheio, para uma "Cimeira dos Afectos" (nas palavras de Lopes Marcelo), na mesa o autor. Lopes Marcelo, a apresentadora da obra e autora do prefácio, Aida Rechena, a representar a Câmara Municipal de Castelo Branco, a Vereadora Cristina Granada e a ESE, Domingos Santos. ISBN do livro 978-989-97555-0-5.
Houve lugar a actuação do Rancho Folclórico das Aranhas. O evento terminou com um Porto de Honra.
Foi bonita a festa, pá!

Todas as fotografias são da autoria de Luís Norberto Lourenço, excepto aquela onde é fotografado com Lopes Marcelo.

*Na feliz expressão dada pelo autor do livro à jornada cultural de ontem.

Etiquetas: , , , , , ,

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Ziggurat, de Joe Tilson

"Ziggurat" (1967), quadro de Joe Tilson, (Reino Unido, 1928).
Fotografia de Luís Norberto Lourenço, 08/12/2011.

Desafio para os meus alunos:
O que representou o pintor neste quadro?
Zigurate, o que é?

A obra encontra-se no "Museu Colecção Berardo: Arte Moderna e Contemporânea", situado no Centro Cultural de Belém e faz parte da colecção permanente do mesmo.
No Museu Colecção Berardo podem ver-se não só:
1) colecção permanente, Colecção Berardo (1960-2010), no piso -1 e 2;
2) exposição temporária "Wik", de 21/09/2011 a 31/12/2011, no piso 0;
3) exposição temporária "A Arte da Guerra. Propaganda da II Guerra Mundial", de 19/10/2011 a 08/02/2012, no piso -1.

Férias de Natal no Museu, ver aqui.

Entrada gratuita.
Visitas orientadas gratuitas.
Aberto todos os dias.

Etiquetas: , , , , , ,

Novo livro de Lopes Marcelo, Bailado de Sonho - As Voltas do Linho




Apresentação do livro "Bailado de Sonho - As Voltas do Linho", do nosso amigo e tertuliano Manuel Martins Lopes Marcelo, com prefácio da Dra. Aida Rechena, Directora do MFTPJ, a qual apresentará o livro.
Decorre o evento no dia 9 de Dezembro de 2011, pelas 21h, no auditório da Escola Superior de Educação de Castelo Branco.
O livro está inserido na colecção "A nossa Terra e a nossa Gente".

Etiquetas:

quarta-feira, dezembro 07, 2011

Mário Pinto de Andrade e o seu tempo

Mário Coelho Pinto de Andrade nasceu em Golumbgo Alto (Angola) no dia 21 de Agosto de 1928 e faleceria em Londres a 26 de Agosto de 1990. Cresceu e fez os estudos primários e secundários em Luanda. em 1948 chegou a Lisboa onde estudou Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Onde teve uma actividade cívica, intelectual e política ao lado de nomes cimeiros da intectualidade e do nacionalismo africanos e foi um dos fundadores do Centro de estudos Africanos. Já em Paris, estudou Sociologia na Sorbonne, colaborou na revista “Presence Africaine“, nos anos 50 e participu activamente na divulgação da luta do povo angolano contra a opressão colonial. É desta forma que Mário Pinto de Andrade se torna numa figura de charneira ao definir o que é literatura africana propriamente dita. Onde é que nasce o filólogo, o intelectual e o político? E de que forma a literatura pode ser um meio para atingir a sua própria nacionalidade? São questões como estas que nós tentaremos responder ao longo desre trabalho. Ao escolhermos Mário Pinto de Andrade e a sua visão da literatura africana enquanto
expressão oral tornou-se necessário para á area da história. A história e acção política deste intelectual ainda é pouco conhecida e talvez tenha sido essa a razão pela qual optei por estudar a sua história e pensamento tão ricos para a história de África. A sua própria história encontra-se dispersa em entradas, artigos, ou até pequenos excertos de obras. Optamos por isso fazer um enquandramento geral da época, disponibilizando também as razões porque Mário Pinto de Andrade apela para uma literatura africana de expressão portuguesa. Ao escolhermos, as suas ideias, decidimos reescrever muito daquilo que Michel Laban recolheu[1].

O livro deMário Pinto de Andrade, uma entrevista dada a Michel Laban acabou por ser um documento biográfico pleno de autenticidade, mas não só. Tem a virtude de ser uma memória viva e desapaixonada sobre a realidade que o circundou, sob o prisma de um sociólogo de eleição, pelo que este livro é um autêntico guião num itenerário: o percurso, o imaginário de uma geração, num texto que é mais do que o somatório de perguntas e respostas[2].

Em Paris ,através da revista Présence Africane, onde trabalhou e tomou um banho de tipografia, pois fazia um pouco detudo, Mário Pinto de Andrade teve a oportunidade de conhecer de perto e conviver com todos aqueles que escreveram, que marcaram o mundo dos anos 50. Aluno de Genvith e de Roger Bastide, contactou directamente com personalidades da estatura de Senghor que admirava, Aimé Césaire, Cheik Anta Diop, Basil Davinson, Satre e Marguerite Duras, conheceram e relançarem nas lutas contra o colonialismo português em Angola. O encontro com Franz Fanon, foi decisivo no seu retorno a África, ma stambém constituiu um estímulo intelectual que o levaria a novos desafios e ambições: inscrever o cultural no político, “(…) dar um sentimento operacional à cultura, aprofundar o pensamento que a própria praxis política era uma obra cultural por excelência. (…)[3]

A obra de Mário Pinto de Andrade inscreve-se na vertente cultural da luta pela libertação dos países africanos, uma vez que se caracteiza por uma proposa anti-colonial, tanto do ponto de vista político e social, como linguístico e literário.
Por isso estudar a vida e obra de Mário Pinto de Andrade torna-se um desafio entre a literatura e a política. Até que ponto a literatura pode consciêncilizar as massas e os grupos? Como é a literatura sendo tão metafórico nos permite dar espaço para a polémica como aquela que ainda está por fazer? Investigar a vida de um homem é também procurar os seus escritos, o que ele leu, com quem ele se deu. Por isso ao procurarmos a pessoa que foi Mário Pinto de Andrade devemos ter consciência do homem que ele foi. Para sinalizarmos o percurso biográfico seguiremos as linhas traçadas por Víctor Kalibanja apresentando sete fases da sua vida[4].
Este autor apresenta então as seguintes etapas na vida de Mário Pinto de Andrade:
1- Fase de sociabilidades primárias (1928-1948)
2- Fase da consciencialização (1948-1955)
3- Fase da grande aventura intelectual ( 1955-1959)
4- Fase da acção política activa (1959-1963)
5- Fase da entourage (1963-1974)
6- Fase do internacionalismo (1974-1980)
7- Fase do exílio para a eternidade (1980-1990)

Quando Kajibanba estabelece estes sete períodos como critérios mais significativos do percurso biográfico de Mário Pinto de Andrade, na qual passaremos a seguir devemos ter em conta de que este é apenas um modelo para o qual este autor se baseou na vida do filólogo. No ponto seguinte acreditamos ter sintetizado as sete etapas elaboradas por Kajibanba[5].
De facto na alínea seguinte não atrevemos a fazer esse mesmo caminho pois apenas julgamos citar o que demais relevante o filólogo e político fez durante a sua vida [6]. Um dos papéis mais relevantes a assinalar trata-se da sua presença na casa dos estudantes do império onde conheceu não só os seus futuros camaradas e companheiros de tantas lutas, como também foi o balão de ensaio de uma verdadeira luta contra o imperialismo. Reconhecer a política de consciencia na cultura africana é dar a Mário de Pinto de Andrade o papel maioritário na política e cultura de expressão portuguesa.

Foi não sóo Primeiro Presidente do Movimento Popular para a Libertação de de Angola (MPLA). Desde cedo se interessou pelas questões culturais do seu continente. Mário Pinto de Andrade Parte para estudar Filologia Clássica na Faculdade de Letras de Lisboa em 1948, após ter estudado cinco anos no seminário de Luanda. Ao lado de Amilcar Cabral, Eduardo Mondlane e o francês José Ternain, como figuras de charneira na redescoberta cultural africana como iremos verificar nas próximas páginas. Mas não só será este projecto que o nosso pensador irá incrementar. Em 1951 funda o Centro de Estudantes Africanos. Três anos depois o seu maior envolvimento político parte para Paris. No ano seguinte torna-se redactor da Présence Africaine e um dos organizadores do Primeiro Congresso de Escritores e Artistas Negros. Em 1958, juntamente com Viriato da Cruz representa Angola,na Primeira Conferência de Escritores Afro-Asiáticos em Tachkent (URSS). Mário Pinto de Andrade funda o MPLA. Em 1960 assume a presidência do MPLA, lugar que ocupa até 1962. Em 1963, Mário Pinto de Andrade contestou a política de alianças de Agostinho Neto, nomedamente a FDLA, que incluía elementos ligados à PIDE. Decidiu então abandonar as Relações Exteriores do MPLA. [7]

Entre 1965 a 1969 coordena a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP). Integra o Comité de Coordenação Política Militar do MPLA na Frente Leste no íncio dos anos 70[8].
Mas em 1970, solicitado pelo próprio Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade volta àactividade no MPLA, sendo colocado na Frente Leste, na Zâmbia, onde realizou um conjunto de investigações sociológicas entre os refugiados angolanos.
Durante a sua estada na Frente Leste, teve a possibilidade de verificar os graves problemas que enfermavam o MPLA, pelo qual seria desde logo uma pessoa aberta a participar na Revolta Activa. Neste contexto, em Março de 1974, a Revolta Activa contactou-o com sucesso em Paris, onde se deslocara. Mário Pinto de Andrade viajou então para o Congo, onde participou também na redacção do Apelo [9].
Mário Pinto de Andrade foi então uma das figuras mais destacadas da “revolta activa“. Na sequência do agravamento dos conflitos do interior do MPLA, Mário Pinto de Andrade parte para Guiné – Bissau. Aqui desempenhou funções de Coordenador-Geral do Conselho Nacional da Cultura (1974-1978) e Ministro da Informação Cultura.

Enquadramento histórico

A população negra das colónias portuguesas quase não lia jornais e muito menos literatura.
Os textos literários efectivamente eram lidos quase só por aqueles a que os “assimilados “tinham acesso na escolarização, sem que continuidade de leitura literária pudesse significar sequer um leitor de textos europeus. Menos se poderia pensar, nesse contexto de tamanha escassez cultural e de clara preponderância europeia, na existência de um hipotético público formado num gosto africano, que efectivamente pudesse ter acesso a textos africanos (e de todas as estéticas, línguas e povos), os pudesse ler, deles recebesse qualquer estímulo cultural e vivencial ou sobre eles pudese ter uma opinião informada e formativa, que, portanto, produzisse efeitos noutros potênciais leitores ou modificasse hábitos em leitores eventuais. Por isso, a crítica literária era inexistente enquanto actividade regular e, de algum modo, reguladora de indicações de aquisição / opção, da recepção de textos literários, de hermenêutica literária, enquanto episódica e avulsa.

A criação e circulação dos textos literários nas titubeantes instituições literárias angolana, moçambicana, cabo-verdiana, são-tomense e guienense (com a extensão europeia ou “metropolitana “relacionada com a África), a partir dos meados dos anos 40, segundo os padrões europeus era diminuta, lacunar, descontínua e improcedente. Qunato a uma perspectiva de autenticidade africana, segundo os padrões já vigentes nalgumas sociedades africanas, como a nigeriana m queniana, ganesa ou egípcia, a actividade literária podia ser vista como um mero epifenómeno de validação colonial. Quer isto dizer que vigorava a literatura colonial, nas quatro primeiras décadas do século passado, incentivava a sua produção com prémios e o reconhecimento das entidades oficiais.

Em geral, os textos literários desigandos por “cor local “versavam sobre os tema das colonização, em que as figuras dos brancos ou de negros estereotipados (estes eram vistos como seres inferiores) eram predominantes, raro surgindo uamfigura d euma africano humanizadoi, ummtema ou uma perspectiva que demonstrassem uma consideração profunda por uma realidade alheia a esquemas europeus. Nessa “literatura portuguesa de África “incluíam
–se, por vezes, certos textos que prelidiavam uma fuga ao exotismo e à superficilaidade de análise literária da realidade, como Nga mtúri de Troni, e em Angola, os poemas do complexo da cor ou do são tomense Costa-Alegre.

Essa literatura era incentivada oficialmente para funcionar como instrumento ideológico do etado colonial, sobretudpo para um público europeu (em Portugal) e colonial (os colonos e gente de permanência temporária) que demonstrasse um imaginário de aventura e mistério e acentuasse a legiitimidade da visão dominadora do império sobre o negro.

Para o colono (melhor: para os seus filhio, que de facto, podiam prosseguir os seus estudos) ou funcionário e assalariado de passagem, a literatura africana ou negra não podia interessar porque se apresentava como um corpo estranho à sua sensibilidade e compreensão. Isto porque se instituía como modo de descoberta e valorização de uma realidade desconhecida ou que impugnava o statuos quo, se esparsos, censurados e absorvidos pela caterva dos seus textos débeis, os textos mais africanizante, perdiam-se assim do seu significado de revolta e acusação. No puro sentido da vida prática, interessava aliteraturra portuguesa que representava um sentimento dealma e paixão da portugalidade espalhada pelo mundo (Camões e Camilo), a literatura qure não defraudava o espírito prgamático do trabalho e sucesso em terras a desbravar lia-se Tomás Ribeiro, Castilho). A literatura colonial serrvia para devolver ao leitor da imagem do seu papel de desbravador de terras e civilizador de gentes, reinterando-lhe a consciência de um ser de condição e estatuto superiores.

A Negritude lançou as suas raízes até aos movimentos culturais protagonizados por negros, brancos e mestiços que, desde as décqadas de 10, 20 e 30, vinham pugnado por um renascimento negro (busca e revalorização das raízes culturais africanas, crioulas e populares) principalmente em três países das Américas, Haiti, Cuba, Estados Unidos da América, mas também um pouco por todo mundo. O termo Negritude aparece no longo poema <>de Aimé Césaire, poeta da Martinica, que foi publicado na revista Voluntés, 10 (1939). A palavra passou a nomear o movimento que se desenrolava por toda a década de 30, nomedamente em Paris, cadinho de estudantes, intelectuais epolíticos que marcaram profundamente a vida política e cultural do mundo negro.

Aimé Cesaire, Leopold Sédar Senghor e Léon Damas protagonizaram , no plano da agressividade, do ecumenismo e do sarcasmo, respectivamente, todas as nuances do movimento. Foi Damas que publicou, em primeiro lugar o livro Pigments (1937). Seguir-se-ia o poema já citado de Césaire. Depois, de Senghor o artigo “Ce que l’homme noir aporte“ (1939), Chants d’ombre (1945) Hosties noires (1948), Anthologie de la nouvelle poesie nègre et malgache (1948) e, finalmente, Étiopiques (1956). A Anthologie tinha um prefácio de Jean–Peaul Sartre, intitulado « Orphée Noir‘’ que ajudou a construir a celebridade da recolha de Senghor, até por se trata de um trabalho teórico, em que o problema negro era analisado numa perspectiva marxista que despoletaria rios de tinta.

Com efeito, quando foi organizada uma antologia do género, Mário pinto de Andrade: Antologia de poesia negra de expressão portuguesa em 1958.

Mário Pinto de Andrade depressa percebeu que a antologia não poderia ser publicada em Portugal. Além disso, as influências criativas de outras culturas que noutros impérios eram acessíveis através da metrópole, também eram muito limitados no caso português. Embora houvesse muitas traduções portuguesas de literatura de outras línguas, o clima político de Portugal limitou a esfera daquilo que era aprovado. Afortunadamente para aqueles que em África apenas podiam ler português, muita literatura e textos políticos que vinham do Brasil. No entanto a limitada perspectiva do Estado Novo, acerca do que considerava cultura aceitável, impôs limites sérios na vida cultural das colónias. É verdade que mesmo em Portugal, e ainda mais nas colónias, a censura era incapaz de “limpar”completamente a literatura a que o público tinha acesso. Houve igualmente em Portugal, movimentos literários, em especial o movimento neo-realista, que lidaram frontalmente com as questões da época e que tiveram importância e repercussão nas colónias.
a atmosfera cultural da colónia era assim restrita e restritiva, apenas estremecida pela oposição portuguesa “progressista”, e não conformista, que aí vivia na época. Mas mesmo esta faixa de gente teve a maior dificuldade em remar contra o atoleiro cultural oficial, fazendo-o veladamente correndo riscos pessoais. O Estado Novo fomentou ainda a ideia que a Äfrica Portuguesa era um porto de abrigo de harmonia multi-racial, criando assim o mito da harmonia cultural no império português[10].

1 – De que falamos quando falamos de negritude?

Os fundamentos da negritude incluem a redescoberta da história e das culturas do continente africano e da diáspora negra no mundo.Contemporânea do Surrealismo (em Portugal do Neo-Realismo), usou no seu discurso a componente ideológica do pan-africanismo, já de si influenciado pelo marxismo.

Todavia, em 1939, Senghor escreveu que “a emoção é tão negra, como razão branca”e que “o ritmo é a força ordenadora que define o estilo negro”. “Começava aqui o pendor místico da Negritude em relação ao negro, considerado de uma perspectiva essencial e generalizante, que passava ao lado das especificidades sociais, económicas, políticas e nacionalistas.

Aimé Césaire, em 1950, denunciava a “inaudita traição da etnografia ocid3ental “e da desumanização progressiva em virtude da qual de futuro não haverá, não pode haver agora, senão a violência, a corrupção, a barbárie na ordem do dia da burguesia“.
Césire publicou Les armes miraculeuses (1946) e o texto completo d’un retour au pays natal (1947) com prefácio de André Breton, que o conhecera na sua passagem pela Martinica.
Os dois emblemáticos escritores da Negritude legaram-nos uma obra literária da máxima importância, mas foi Senghor que, com a presidência do seu país (Senegal), os inumeráveis escritos teóricos e uma larga aceitação ocidental (política, literária e académica), contribuiu decisivamente para a divulgação da tendência ecuménica, dialogante da Negritude.

Social e ideologicamente a Négritude constituiu-se como processo de busca e identidade, de conduta desalienatória e da defesa do património e do humanismo dos povos negros. Recusou a assimilação a modelos externos à história negro -africana, embora consciente dos contributos aculturativos, sobretudo nas cidades. A Négritude pretendia a criação um estilo próprio, no desejo de se demarcar dos modelos e motivos liuterários das literaturas ocidentais.

A poesia da Negritude distingue-se da restante literatura africana de língua portuguesa pelo obsessivo tratamento da raça e da cor negras, qualificando-as com valores reais e simbólicos, reagindo desse modo, ao racismo branco << o sangue negro, o sangue bárbaro >> (Noémia de Sousa).

A África, o negro e a mãe –Negra (Mãe –Äfrica ou Mãe –Terra) ocupam nos textos um lugar de destaque, como referências, alusões ou temas, numa declaração humanística de povos até aí apresentados e representados (na literatura colonial) como destituídos de história cultura e mesmo de sentimentos. Segundo a análise de Satre, no referido Anthologie, de Senghor, dá-se a revalorização das culturas e modos devida ancestrais (tribais, clânicos) com o culto dos antepassados, o animismo e a retrospectiva animização retórica da natureza, o pan-sexualismo vitalista, a visão eufórica e ufanista das relações sociais e familiares nas tribos e no mundo rural e natural. Ou seja, opõe-se ao mundo tecnológico e racionalista dos europeus o mundo natural e sensitivo dos africanos, num posicionamento que receberia críticas devastadoras dos homens empenhados na abertura de África ao mundo moderno, através das revoluções socialistas.

[1] Cf Michel Laban, Mário Pinto de Andrade, ed. Sä da Costa, 1997,
[2] Cf Michel Laban, op.cit, idem
[3] Cf Mário Pinto de Andrade, op.cit
[4] Cf Victor Kajibanga, “Mário Pinto de Andrade. Subsídios para o seu estudo biográfico do seu retrato social e intelectual “in Mário Pinto de Andrade, Inocência Mata (coord de) ed. Colibri, 2000, p.197
[5] Cf Kajibanba, op.cit, p197
[6] Cf Idem, ibidem
[7] Cf Fernando Tavares Pimenta, Conversas com Adolfo Maria, ed. Afrontamento, 2006, Porto, p. 116
[8] S/A “Andrade, Mário Pinto de “in Dicionário de História de Portugal, liv. Figueirinhas, 2003,
p.214
[9] Cf Fernando Tavres Pimenta, op.cit, p.116
[10] Cf Patrick Chabal, Vozes Moçambicanas, Ed,. Vega, palavra africana, 1994, p. 31

terça-feira, dezembro 06, 2011

Mário Pinto de Andrade ( O Estado da Questão)

O Estado da Questão


O estudo exaustivo da vida e obra de Mário Pinto de andrade é uma tarefa que se afigura difícil, em consequência do ostracismo a quee steve votada a sua personalidade e do desconhecimento da sua vasta produção intectual e dos seus diversos trabalhos publicados, pelo mundo fora, sobre a sua vida e a sua obra[1].

Mário Pinto de Andrade foi um daqueles frequentadores, se não fundadores do MPLA e intelectual do anticolonialismo em Angola, depois prque se posicionou na procura das origens da cultura africana e alémm do mais o número ou da sua colaboração da revista Presence Africaine.

Nesse sentido seria uma expressão idiomática que seria usada também por Fanon, psicólogo argelino e que seguindo de perto os seus pacientes, usaria esta expressão na sua luta contra o opressor francês. Ora, é aqui que a fábula e litertura ou mesmo até a intelectualidade serve para ilustrar cada parte desta parte do elefante. Se nesta nossa fábula historiográfica cada cego tenta apalpar e acaba por chegar junto da tromba do elefante fazendo gritar o animal na parte mais sensível. Ora esta mesma comparação pode ser ligada à questão colonial ligada a Portugal aos colonizados e desta forma aquilo que se poderia mostrar através da figura importante de Mário Pinto de Andrade. Com esta breve introdução decidimos durante este período analisar algumas obras de fundo e departamentos de universidades portuguesas ou não a que se dedicassem à cultura africana, não só a Universidade Nova de Lisboa e ao departamento de História, mas também a Faculdade de Letras de Lisboa no departamento de Românicas através da Professora Doutora Inocência Mata em colaboração da Professora Doutora Laura Padilha [2] com quem contactamos no período desta investigação. Deste modo basta referir que todos os outros seminários onde foramm necessários este período analisar foram agrupados no âmbito de seanalisar a problemática da descolonização de um a perspectiva comparada, pois será também a esse nível que decidimos estudar a figura e o meio intelectual do nosso biografado [3].

Pensar os nacionalismos africanos de hoje, na perspectiva da sua historicidade , captar a essência e a natureza do fenómeno, determinar os seus elementos constitutivos a avaliar e cultivar o seu papel no movimento geral das ideias, forma os objectivos a que Mário Pinto de Andrade se entregou de alma e coração. O discurso da raça e dos valores da civilização negro-africana por elites letradas que emergiram das camadas sociais africanas privilegiadas e que discorreram sobre a conflitualidade social que enfrentam, e as formas de identidade cultural que buscam, como o próprio autor constata, é o cerne da questão e o verdadeiro enunciado do protonacionalismo fenómeno sobre o qual tão exemplarmente se debruçou. Definido o tempo, como o espaço no seu contexto histórico-cultural, o autor reabilita a memória, estabelece a coerência e alerta para as rupturas e continuidades que constituíram a construção do pensamento nacionalista angolano. Nas palavras de Adriano Parraeira “É ao Mário que ficamos a dever diversas antologias poéticas e a projecção no mundo não só da poesia cabo-verdiana, guineense , são tomense e moçambicana. (…)[4]


Diante deste factor tomamos as rédeas necessárias para desbravarmos aquilo que Manuel Ferreira afirma “A Mário de Andrade se deve essencialmente uma obra de historiador e ensaísta. A ele se debita ainda o facto de ter sido o mais lúcido divulgador da literatura de expressão portuguesa, através de antologias que vão desde o caderno de poesia negra de expressão portuguesa em m1953, de colaboração com Francisco José Tenreiro, passando pela Antologia de poesia negra de expressão portuguesa (Paris, 1958) .(…)”[5]

Mário Pinto de Andrade e o seu tempo –

Mário Coelho Pinto de Andrade nasceu em Golumbgo Alto (Angola) no dia 21 de Agosto de 1928 e faleceria em Londres a 26 de Agosto de 1990. Cresceu e fez os estudos primários e secundários em Luanda. em 1948 chegou a Lisboa onde estudou Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Onde teve uma actividade cívica, intelectual e política ao lado de nomes cimeiros da intectualidade e do nacionalismo africanos e foi um dos fundadores do Centro de estudos Africanos. Já em Paris, estudou Sociologia na Sorbonne, colaborou na revista “Presence Africaine “, nos anos 50 e participu activamente na divulgação da luta do povo angolano contra a opressão colonial. É desta forma que Mário Pinto de Andrade se torna numa figura de charneira ao definir o que é literatura africana propriamente dita. Onde é que nasce o filólogo, o intelectual e o político? E de que forma a literatura pode ser um meio para atingir a sua própria nacionalidade? São questões como estas que nós tentaremos responder ao longo desre trabalho. Ao escolhermos Mário Pinto de Andrade e a sua visão da literatura africana enquanto expressão oral tornou-se necessário para á area da história. A história e acção política deste intelectual ainda é pouco conhecida e talvez tenha sido essa a razão pela qual optei por estudar a sua história e pensamento tão ricos para a história de África. A sua própria história encontra-se dispersa em entradas, artigos,ou até pequenos excertos de obras. Optamos por isso fazer um enquandramento geral da época, disponibilizando também as razões porque Mário Pinto de Andrade apela para uma literatura africana de expressão portuguesa. Ao escolhermos, as suas ideias, decidimos reescrever muito daquilo que Michel Laban recolheu[6].

O livro Mário Pinto de Andrade, uma entrevista dada a Michel Laban acabou por ser um documento biográfico pleno de autenticidade, mas não só. Tem a virtude de ser uma memória viva e desapaixonada sobre a realidade que o circundou, sob o prisma de um sociólogo de eleição, pelo que este livro é um autêntico guião num itenerário: o percurso, o imaginário de uma geração, num texto que é mais do que o somatório de perguntas e respostas[7].

Em Paris, através da revista Présence Africane, onde trabalhou e tomou um banho de tipografia, pois fazia um pouco de tudo, Mário Pinto de Andrade teve a oportunidade de conhecer de perto e conviver com todos aqueles que escreveram, que marcaram o mundo dos anos 50. Aluno de Gen vith e de Roger Bastide, contactou directamente com personalidades da estatura de Senghor que admirava, Aimé Césaire, Cheik Anta Diop, Basil Davinson, Satre e marguerite Duras, conheceram que a relançarem nas luta contra o colonialismo português em Angola. O encontro com Franz Fanon, foi decisivo no seu retorno a África, mas também constituiu um estímulo intelectual que o levaria a novos desafios e ambições: inscrever o cultural no político, “(…)dar um sentimento operacional à cultura, aprofundar o pensamento que a própria praxis política era uma obra cultural por excelência. (…)[8]

A obra de Mário Pinto de Andrade inscreve-se na vertente cultural da luta pela libertação dos países africanos, uma vez que s ecaracteiza por uma proposa anti-colonial, tanto do ponto de vista político e social, como linguístico e literário. Por isso estudar a vida e obra de Mário Pinto de Andrade torna-se um desafio entre a literatura e a política. Até que ponto a literatura pode consciêncilizar as massas e os grupos? Como é aliteratura sendo tão metafórico nos permite dar espaço para a polémica como aquela que ainda está por fazer? Investigar a vida de um homem é também procurar os seus escritos, o que ele leu, com quem ele se deu. Por isso ao procurarmos a pessoa que foi Mário Pinto de Andrade devemos ter consciência do homem que ele foi. Para sinalizarmos o percurso biográfico seguiremos as linhas traçadas por Víctor Kalibanja apresentando sete fases da sua vida[9].

Este autor apresenta então as seguintes etapas na vida de Mário Pinto de Andrade:
1- Fase de sociabilidades primárias (1928-1948)
2- Fase da consciencialização (1948-1955)
3- Fase da grande aventura intelectual ( 1955-1959)
4- Fase da acção política activa (1959-1963)
5- Fase da entourage (1963-1974)
6- Fase do internacionalismo (1974-1980)
7- Fase do exílio para a eternidade (1980-1990)

Quando Kajibanba estabelece estes sete períodos como critérios mais significativos do percurso biográfico de Mário Pinto de Andrade, na qual passaremos a seguir devemos ter em conta de que este é apenas um modelo para o qual este autor se baseou na vida do filólogo. No ponto seguinte acreditamos ter sintetizado as sete etapas elaboradas por Kajibanba [10]. De facto na alínea seguinte não atrevemos a fazer esse mesmo caminho pois apenas julgamos citar o que demais relevante o filólogo e político fez durante a sua vida [11]. Um dos papéis mais relevantes a assinalar trata-se da sua presença na casa dos estudantes do império onde conheceu não só os seus futuros camaradas e companheiros de tantas lutas , como também foi o balão de ensaio de uma verdadeira luta contra o imperialismo. Reconhecer a política de consciencia na cultura africana é dar a Mário de Pinto de Andrade o papel maioritário na política e cultura de expressão portuguesa.

Foi não só o Primeiro Presidente do Movimento Popular para a Libertação de de Angola (MPLA). Desde cedo se interessou pelas questões culturais do seu continente. Mário Pinto de Andrade Parte para estudar Filologia Clássica na Faculdade de Letras de Lisboa em 1948, após ter estudado cinco anos no seminário de Luanda. Ao lado de Amilcar Cabral, Eduardo Mondlane e o francês José Ternain, como figuras de charneira na redescoberta cultural africana como iremos verificar nas próximas páginas. Mas não só será este projecto que o nosso pensador irá incrementar. Em 1951 funda o Centro de Estudantes Africanos. Três anos depois o seu maior envolvimento político parte para Paris. No ano seguinte torna-se redactor da Présence Africaine e um dos organizadores do Primeiro Congresso de Escritores e Artistas Negros. Em 1958, juntamente com Viriato da Cruz representa Angola,na Primeira Conferência de Escritores Afro-Asiáticos em Tachkent (URSS). Mário Pinto de Andrade funda o MPLA. Em 1960 assume a presidência do MPLA, lugar que ocupa até 1962. Em 1963, Mário Pinto de Andrade contestou a política de alianças de Agostinho Neto, nomeadamente a FDLA, que incluía elementos ligados à PIDE. Decidiu então abandonar as Relações Exteriores do MPLA. [12]

Entre 1965 a 1969 coordena a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP). Integra o Comité de Coordenação Política Militar do MPLA na Frente Leste no íncio dos anos 70[13].

Mas em 1970, solicitado pelo próprio Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade volta à actividade no MPLA, sendo colocado na Frente Leste, na Zâmbia, onde realizou um conjunto de investigações sociológicas entre os refugiados angolanos. Durante a sua estada na Frente Leste, teve a possibilidade de verificar os graves problemas que enfermavam o MPLA, pelo qual seria desde logo uma pessoa aberta a participar na Revolta Activa. Neste contexto, em Março de 1974, a Revolta Activa contactou-o com sucesso em Paris, onde se deslocara. Mário Pinto de Andrade viajou então para o Congo, onde participou também na redacção do Apelo [14]
Mário Pinto de Andrade foi então uma das figuras mais destacadas da “revolta activa“. Na sequência do agravamento dos conflitos do interior do MPLA, Mário Pinto de Andrade parte para Guiné–Bissau. Aqui desempenhou funções de Coordenador-Geral do Conselho Nacional da Cultura (1974-1978) e Ministro da Informação Cultura


Enquadramento histórico

A população negra das colónias portuguesas quase não lia jornais e muito menos literatura. Os textos literários efectivamente eram lidos quase só por aqueles a que os “assimilados “tinham acesso na escolarização, sem que continuidade d eleitura literária pudesse significar sequer um leitor de textos europeus. Menos se poderia pensar, nesse contexto de tamanha escassez cultural e de clara preponderância europeia, na existência de um hipotético público formado num gosto africano, que efectivamente pudesse ter acesso a textos africanos (e de todas as estéticas, línguas e povos), os pudesse ler, deles recebesse qualquer estímulo cultural e vivencial ou sobre eles pudese ter uma opinião informada e formativa, que, portanto, produzisse efeitos noutros potênciais leitores ou modificasse hábitos em leitores eventuais. Por isso, a crítica literária era inexistente enquanto actividade regular e, de algum modo, reguladora de indicações de aquisição / opção, da recepção de textos literários, de hermenêutica literária, enquanto episódica e avulsa.

A criação e circulação dos textos literários nas titubeantes instituições literárias angolana, moçambicana, cabo-verdiana, são-tomense e guienense(com a extensão europeia ou “metropolitana “relacionada com a África), a partir dos meados dos anos 40, segundo os padrões europeus era diminuta, lacunar, descontínua e improcedente. Qunato a uma perspectiva de autenticidade africana, segundo os padrões já vigentes nalgumas sociedades africanas, como a nigeriana m queniana, ganesa ou egípcia, a actividade literária podia ser vista como um mero epifenómeno de validação colonial. Quer isto dizer que vigorava a literatura colonial, nas quatro primeiras décadas do século passado, incentivava a sua produção com prémios e o reconhecimento das entidades oficiais.

Em geral, os textos literários desigandos por “cor local “versavam sobre os tema das colonização, em que as figuras dos brancos ou de negros estereotipados (estes eram vistos como seres inferiores ) eram predominantes, raro surgindo uamfigura d euma africano humanizadoi, um tema ou uma perspectiva que demonstrassem uma consideração profunda por uma realidade alheia a esquemas europeus. Nessa “literatura portuguesa de África “incluíam–se, por vezes , certos textos que prelidiavam uma fuga ao exotismo e à superficilaidade de análise literária da realidade, como Nga mtúri de Troni, e em Angola, os poemas do complexo da cor ou do são tomense Costa-Alegre.

Essa literatura era incentivada oficialmente para funcionar como instrumento ideológico do estado colonial, sobretudo para um público europeu (em Portugal) e colonial (os colonos e gente de permanência temporária) que demonstrasse um imaginário de aventura e mistério e acentuasse a legitimidade da visão dominadora do império sobre o negro.

Para o colono (melhor: para os seus filhio, que de facto, podiam prosseguir os seus estudos) ou funcionário e assalariado de passagem, a literatura africana ou negra não podia interessar porque se apresentava como um corpo estranho à sua sensibilidade e compreensão. Isto porque se instituía como modo de descoberta e valorização de uma realidade desconhecida ou que impugnava o statuos quo, se esparsos, censurados e absorvidos pela caterva dos seus textos débeis , os textos mais africanizante, perdiam-se assim do seu significado de revolta e acusação. No puro sentido da vida prática, interessava aliteratura portuguesa que representava um sentimento dealma e paixão da portugalidade espalhada pelo mundo (Camões e Camilo), a literatura qure não defraudava o espírito prgamático do trabalho e sucesso em terras a desbravar lia-se Tomás Ribeiro, Castilho). A literatura colonial serrvia para devolver ao leitor da imagem do seu papel de desbravador de terras e civilizador de gentes, reinterando-lhe a consciência de um ser de condição e estatuto superiores.

A Negritude lançou as suas raízes até aos movimentos culturais protagonizados por negros, brancos e mestiços que ,desde as décadas de 10, 20 e 30,vinham pugnado por um renascimento negro (busca e revalorização das raízes culturais africanas, crioulas e populares) principalmente em três países das Américas, Haiti, Cuba, Estados Unidos da América , mas também um pouco por todo mundo. O termo Negritude aparece no longo poema <>de Aimé Césaire, poeta da Martinica, que foi publicado na revista Voluntés, 10 (1939). A palavra passou a nomear o movimento que se desenrolava por toda adécada de 30, nomeadamente em Paris, cadinho de estudantes, intelectuais epolíticos que marcaram profundamente a vida política e cultural do mundo negro.

Aimé Cesaire, Leopold Sédar Senghor e Léon Damas protagonizaram, no plano da agressividade, do ecumenismo e do sarcasmo, respectivamente, todas as nuances do movimento. Foi Damas que publicou, em primeiro lugar o livro Pigments (1937). Seguir-se-ia o poema já citado de Césaire. Depois, de Senghor o artigo “Ce que l’homme noir aporte “ (1939), Chants d’ombre (1945) Hosties noires ( 1948), Anthologie de la nouvelle poesie nègre et malgache (1948) e, finalmente, Étiopiques (1956). A Anthologie tinha um prefácio de Jean –Peaul Sartre, intitulado « Orphée Noir ‘’ que ajudou a construir a celebridade da recolha de Senghor, até por se trata de um trabalho teórico, em que o problema negro era analisado numa perspectiva marxista que despoletaria rios de tinta.
Com efeito, quando foi organizada uma antologia do género ,Mário pinto de Andrade: Antologia de poesia negra de expressão portuguesa em 1958.
Mário Pinto de Andrade depressa percebeu que a antologia não poderia ser publicada em Portugal. Além disso ,as influências criativas de outras culturas que noutros impérios eram acessíveis através da metrópole, também eram muito limitados no caso português. Embora houvesse muitas traduções portuguesas de literatura de outras línguas, o clima político de Portugal limitou a esfera daquilo que era aprovado. Afortunadamente para aqueles que em África apenas podiam ler português, muita literatura e textos políticos que vinham do Brasil. No entanto a limitada perspectiva do Estado Novo, acerca do que considerava cultura aceitável, impôs limites sérios na vida cultural das colónias. É verdade que mesmo em Portugal, e ainda mais nas colónias, a censura era incapaz de “limpar”completamente a literatura a que o público tinha acesso. Houve igualmente em Portugal, movimentos literários, em especial o movimento neo-realista, que lidaram frontalmente com as questões da época e que tiveram importância e repercussão nas colónias. a atmosfera cultural da colónia era assim restrita e restritiva, apenas estremecida pela oposição portuguesa “progressista”, e não conformista, que aí vivia na época. Mas mesmo esta faixa de gente teve a maior dificuldade em remar contra o atoleiro cultural oficial, fazendo-o veladamente correndo riscos pessoais. O Estado Novo fomentou ainda a ideia que a Äfrica Portuguesa era um porto de abrigo de harmonia multi-racial, criando assim o mito da harmonia cultural no império português[15].

[1] Cf Vítor Kajibanga, op.cit, p.197
[2] Para este assunto veja-se o congresso: Mário Pinto de Andrade –um intelectual na política, Inocência Mata e Laura Padilha (cord. de) Edições colibri, 1998
[3] Salientamos aqui os nossos trabalhos para o mestrado em História Contemporânea ,para os seminários de História das Ideias Políticas e Portugal entre as Guerras.
[4] Cf Adriano Parreira, “Mário Pinto de Andrade: dois livros e uma homenagem “Mário Pinto de Andrade –um intelectual na Política, Inocência Mata (coord), ed. Colbri, 1998, p 173
[5] Cf Manuel Ferreira, Literaturas africanas de expressão portuguesa, Biblioteca Breve, n.2, 1986, pp23-24
[6] Cf Michel Laban, Mário Pinto de Andrade, ed. Sä da Costa, 1997,
[7] Cf Michel Laban, op.cit ,idem
[8] Cf Mário Pinto de Andrade, op.cit
[9] Cf Victor Kajibanga, “Mário Pinto de Andrade. Subsídios para o seu estudo biográfico do seu retrato social e intelectual “in Mário Pinto de Andrade, Inocência Mata (coord de) ed. Colibri, 2000, p.197
[10] Cf Kajibanba, op.cit, p197
[11] Cf Idem, ibidem
[12] Cf Fernando Tavares Pimenta, Conversas com Adolfo Maria, ed. Afrontamento, 2006, Porto, p.116
[13] S/A “Andrade, Mário Pinto de “in Dicionário de História de Portugal, liv. Figueirinhas, 2003, p.214
[14] Cf Fernando Tavres Pimenta, op.cit, p.116
[15] Cf Patrick Chabal, Vozes Moçambicanas, Ed,. Vega, palavra africana, 1994, p.31