Faz este mês   cerca de trinta e poucos anos da dita revolução em Portugal.Os meus pais como é obvio ficaram  sem nada, eu que na altura  aderira  à causa  comunista entreguei-lhes tudo! Segundo o partido a família  não existia. Eu mais  do que nunca  queria fazer parte desse período histórico. Estudara  fora  e emocionara-me  com  a revolução  dos Cravos. Tudo aquilo  parecia  um conto  de fadas tornado realidade. Afinal, tudo era uma ilusão. Pura ilusão! Passado pouco tempo descobrira  a dura realidade  desta  nova era. As coisas que eu lera, acreditara  e chegara a Portugal  para fazer uma revolução digna  que entregasse  a terra aos trabalhadores. Falso, espero  que a pessoa que leia este documento  passe a todas as outras pessoas  para que possam revelar  ao mundo o que é na realidade  o comunismo português.  Álvaro Cunhal está  num pedestal, digno herói das nossas memórias. Embelezada  a história  da sua chegada a Portugal, um grupo de pessoas entregam todos os anos um ramo de cravos à estátua  no dia dos anos do líder português. 1 de Maio,  dia que eu recordo  a dita  manifestação como um acontecimento nunca visto em Portugal. Mas essa revolução  tornou-se numa espécie de monstro, uma prostituta, de que a Bíblia fala... A Prostuição! Perdoe-me  aqueles  que lerem  este documento a que eu  irei entregar para espólio a uma jovem investigadora estrangeira , americana  que vem a interessar-se pela pintura e política desse mesmo período.
Posso dizer-vos  que aqui  está posto em causa aquele  mundo justo porque todos nós lutamos, tornou-se decadente e degradante... como desde sempre prostitui-se. Éste documento é um dialógo imaginário  e éisso mesmo... uma espécie de tudo isso. Das  minhas reflexões como político  e das minhas memórias. Só espero  que este pequeno documento chegue a boas mãos.
Capítulo Primeiro
Abril  2008
Havia uma dita rua de Lisboa com o nome de um jovem pintor  que decidira contar a história recente do seu país em aguarelas. Raul queria contar a história recente  do seu país  em aguarelas. O jovem pintor mostrava uma outra faceta da revolução dos cravos, como a verdadeira revolução bolchevique  em Portugal. A história que era contada  nesses  quadros eram  vistos na altura com olhos inocentes  de quem acredita  num duende. Mas todas as  novas obras  do jovem pintor fariam reacender os aspectos demoníacos  escondidos desses duendes  que eram capazes de serem sanguínários .Raul criou  uma história inovadora criando uma nova versão dessa mesma revolução. Ao abordar a história da revolução em que o cravo era alimentado  por monstros cegos  que como toupeiras  se recusavam a ver a verdaeira luz. Talvez isso  fosse uma nova reinterpretação da alegoria da Caverna  de Platão. O pintor mostrou  toda a sua obra aquilo que iria desenvolver. Mas esses quadros jamais iriam ver a luz do dia nem ele iria despertar  no dia seguinte. O jovem Raul desapreceu após a famosa exposição dizia-se depois que ele nadou na praia  de Carcavelos  em busca de inspiração sob a égide do partido. Até mesmo os seus  quadros. Volvidos tantos   anos  uma jovem historiadora de arte  vinha estudar a coleção  particular do museu. O título da  tese era bem sugestivo – Raul Dinis – O cravo mosntruoso definição de uma revolução. Essa jovem vinha de muito longe  para poder  estudar a vida, obter informações em  jornais  da época através da recolha de textos em textos digitalizados nesse mesmo museu. Quando Ariana  optara  por estudar  esse pintor pois vinha-lhe a ideia  da revolução dos  cravos de uma  história quase mágica que lhe era abordada pelos  seus pais que  fugiram de portugal nesse período. Ariana nascera  em Portugal mas tornara-se americana por vias das circunstâncias. Desde  o princípio  que a jovem historiadora sentira várias dificuldades, desde o contacto com a família do jovem pintor , no próprio museu onde haviam  alguns quadros  de  Raul do período da clandestinidade. Ariana  não conseguia encontrar ninguém diponível, ou pelo menos  era aquilo que lhe parecia apenas havia uma pequena biografia no museu  da rua que tinha o nome de Raul Dinis o pintor   que desaparecera  pouco tempo depois da sua  vernisage. O jovem Jeremias  era o nome do pintor durante a sua clandestinidade  até  25 deAbril. Para  finalizar o folheto  dizia  que Raul Dinis morrera  após um  momento de inspiração  e ali estavam os momentos da sua carreira . O cravo era o símbolo da sua obra prima. As crianças e os cravos. Peter Pan  vestido com  farda  militar. Já anunciava  algo de estranho naquele país. A jovem Ariana perguntara na  reunião  com o conservador  daquele museu  se poderia  consultar os ficheiros ou obras  que estivessem  em reserva.
- Não se meta nisso, menina – disse-lhe o conservador do museu. Se quiser falar comigo à vontade. Encontre-se comigo no Planalto à meia noite. Aí ninguém saberá o que estamos afalar. Aconselho-a a mascarar-se de  forma provocante.
Ansiosa pela meia noite a jovem historiadora procurou informações sobre aquele estabelecimento onde as informações de que necessitava não seriam certamente as melhores, ali a música e amarginalidade andavam de mãos dadas. Para uma historiadora de arte a  vida e aobra de Raul Dinis não era só apenas  o cantar  de um  galo  numa manhã revolucionária, era descortinar toda a acção que se dera até ao dia em que o jovem fora assassinado  pelas leis do alto comando do partido. Ariana  mascarava-se de uma menina mal comportada trazia uma cabeleira azul, vestia uma saia muito justa  e pintava olhos como a rainha egípcia  que se suicidara. Cleópatra.
- Como se chama? –perguntou-lhe  porteiro.
-Cleópatra. Sou cantora de jazz-respondeu-lhe Ariana. O porteiro sorriu.
- Cléopatra. Pode ter todos os nomes menos esse. Havia na altura da revolução uma cantora de jazz com esse nome. Ela namorou com Raul e pouco tempo depois ela faleceu . Ariana  descobriria  quem era afinal a jovem que havia sido transformada pela  revolução, Ariana viria  a conhecer Cléopatra pouco tempo antes da tragédia que se abateu sobre aquele bar, conheceria a antiga cantora agora com um outro nome mas com referências bíblicas a que Jezebel. Tal como a princesa fenícia  que institituiu o culto de baal , esta antiga cantora queria  trazer de volta o alento e a alegria que fora dado nos  primeiros dias da dita  revolução de Abril. Tudo aquilo  que vivera não lhe parecia  a maior das vitórias. Jezzebel era uma menina de família  na época do Estado Novo, tinha o nome clandestino de Madalena. Fora estudar para fora e aí sentira as alegrias  de uma enorme mudança, mas essa mudança trazia uma nebulina enorme .As suas ideias demasiado avançadas para a época não coincidiam com as  de um país  que traziam duas  ditaduras (direita e de esquerda ) .Jezebel, Madalena ou simplesmente Cléopatra davam uma remessa de  cartas  à jovem historiadora para  ela trabalhar para a elaboração da sua tese. Essas cartas estiveram desde sempre na sua posse e a maior parte escondidas em casa do seu maior amigo que infância Rodrigo Santana.
- Aqui tem o seu objecto de estudo, preserve-as. Decida o que fazer com elas, mas por  favor, fuja daqui. Não queira saber o que lhe poderá acontecer se permanecerá aqui.
Ariana  descobria  que o seu trabalho se tornava verdadeiramente pavoroso, porque nesse instante uma bomba surgida sabe-se lá de onde rebentava dentro do bar “Planalto “. O estudo e a obra de Raul Dinis acabava ali naquele momento e as principais pessoas  ligadas a este pintor continuavam desaparecidas. Viva a Revolução! Contribui pela  Internacional! Junta-te a nós! Vem caçar o verdadeiro inimigo do espírito internacional!
Conclusões
Juro-vos  que isto não acontece muitas vezes, porque eu nem gosto  de me repetir. Gosto de fazer e partir para temas novos,  diferentes daqueles  que costumo habitualmente  escrever, mas esta é uma semana  diferente. Hoje proponho-vos uma viagem diferente, decidi  escrever um pequeno cointo comemorativo denominado “Imaginem que“, há cerca de dois meses enamorado  pela digitalização de dois jornais desse período mágico “A revolução“ da qual a directora era Isabel de Castro, actualmente nutricionista, na altura envolvida com este processo revolucionário. Um jornal onde a revolução do 25 de Abril  estava  bem presente  e isso verifica-se no jornal que seguidamente  digitalizei “Página 1“ ou ainda as minhas leituras sobre as diversas teses  que se debruçam sobre este período  da Reforma agrária, os vários colóquios  que foram  feitos através do Instituto de História Contemporânea e de Estudos de Etnologia Portuguesa da Universidade Nova de Lisboa, ou ainda outros temas tais como o livro de Zita Seabra “Foi assim“. E será assim manifestado o meu interesse pela obra recente.
Setúbal , 2 de Abril  de 2009