fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

quinta-feira, março 31, 2005

Poesia...

Tentativas poéticas portalegrenses

I

Perco-me
no teu olhar
afogo-me (aconchego-me)
na volúpia
do teu olhar.
Acolheste-me
nos teus braços.


II

O meu mundo
Eram as trevas
Até ao dia
Em que te
Revelaste
Suavemente
Recostada
Numa nuvem.

Os olhos esfreguei
Lavei-os
Com as lágrimas
Que escorriam
Destes olhos
Incrédulos
E quase feridos
Pela intensa luz
Que imanavas.
E era tão forte!
Que o Sol, qual satélite
Parecia andar
À tua volta!
E andaria...
Não fosse ele estrela!
E das trevas saí
Para não mais voltar.


III

Eu sou aquele
Que de tanto
Não amado ser
Em pranto
Constante
Arrisquei
Permanecer
Ameaçado
Sendo
O coração
De parar
Por falta
De alimento
De amor
Ter.


IV
(Portalegre, 7/3/2001 – escrito durante um concerto)

Antes de conhecer-te
Estava num labirinto
Dos afectos
Do qual saí
Encavalitado (conduzido pela)
(Na) música
Que ouvi
Quando te vi.

Os olhos fechei
E do labirinto saí
Encontrando em ti
A porta para a saída
Do labirinto dos afectos
Para onde um outro amor,
Talvez falso,
Me havia lançado
Assassinando o ardor
Do meu amor
Que por outra senti.

Tentei,
Em vão
Agarrar uma nota
De uma música
De letra assassina.
Suicídio certo!
Mas como
Se agarra uma nota?

As teclas
Que acariciavas
No teclado do piano
Naquele fim-de-tarde
Início dum amor
Cuja chama ateaste
Melodiosamente
Inconscientemente,
Ou não,
Quão
Provocadoramente
Tocavas piano
Saltitando
De tecla em tecla
Graciosamente
E aquelas pausas?
Verdadeiramente
Contraceptivas!
Musa... voltaste!

As notas
Por ti tocadas
Cortaram
Suavemente
O silêncio
Gélido
Da noite
Em que vivia.

Luís


AMOR PLATÓNICO.
(28/3/2000 – Castelo Branco)

Tenho um sonho...
Que tu um dia,
Possas dar o salto
Para a outra margem
Dos afectos,
Margem, em que
A amizade
Se torna amor
Margem dos afectos
Sentidos, que por ti
Sinto.

Ainda que não sintas
Sentidos sentimentos
Que sinto por ti
Tenho uma serena esperança
Que um dia
Navegues no amor
Que sinto por ti.

Eu, portador da serenidade tranquila
Aguardarei eternamente
– Promessas!!! –
Que um dia
Sintas o calor
Do sangue
Que em mim
Arde por ti.

Que um dia
Pouses os teus lábios
No meu amor por ti,
Cheio de carinho
Ávido de paixão.


Luís

quarta-feira, março 30, 2005

POEMA D’ AMOR

Quantas vezes, de súbito, emudeces?
Quantas vezes, os teus olhos
Se afogam nas lágrimas
Que a custo reténs?
E eu que queria bebê-las
E devolvê-las recicladas
Em sorrisos carinhos
Ternuras silêncios.

Ciente da mágoa causada
Mas nunca procurada
Consciente das feridas feitas
De que queria curar-te
Queria lambê-las
Beijá-las
Amá-las
Para que as feridas
Feridas não fossem mais.

Como dizer-te
Como explicar-te
Esse calor
Esse ardor
Essa dor gostosa
Esse fogo doce
Como traduzir/expressar
Estes sentimentos
(o significado das batidas do meu coração)
Em belas palavras
Como falar-te
Da invasão libertadora
Que afogou mágoas passadas,
E agora, ocupante
Do meu coração.

Como dizer-te
Que te amo
Sem ficar nu.
Porque falar de mim
É desnudar-me sem fim,
Por muito que aspire a nadar
Nas tuas lágrimas, mar cândido.
São tuas as labaredas
Que me derretem
E eu mergulho no mar
Procurando em vão
Arrefecer o meu amor,
E assim,
Evitar amar-te
Não por não querer-te
Mas por temer perder-te
Na condição presente
Por não querer
Aspirar a um amor
Muitas vezes efémero
Quando poderei ter
Uma longa amizade.
Valerá o amor
O risco de uma amizade?

E depois,
Não são loucos os que amam?
Não são esses os que sofrem?
Estou farto de sofrer
De me perder de amor.
No fundo,
Em nome de nada.
Duma mão cheia de nada.

O amor
É como a areia
Que me foge
Pelos dedos
Fecho a mão
E ele teima em fugir
Ainda assim
Quando terá fim?

Ontem pensei que sim.
Hoje já não sei.
Amanhã, o futuro dirá.


Luís Norberto Lourenço

FIGUEIRA DA FOZ, AGOSTO/2000

POETAS LIVRES

Poetas
Pelos tiranos
Perseguidos
Censurados
Torturados
Fuzilados
Presos
Deportados
Mortos
Silenciados.

Os tiranos
Ditadores
Torcionários
Têm medo dos poetas
Livres, não controlados,
Subversivos, livres
Como verdadeiros poetas.

Os poetas riem-se
Dos tiranos
Ditadores
Torcionários
Reaccionários,
Que pensam
Que podem
Cortar a raiz ao pensamento.

Palavras de poeta
Magma de LIBERDADE.
Óh, palavra subversiva,
Horror dos ditadores
Tiranos
Torcionários
Déspotas.

Assassinos do corpo dos poetas
Matam o corpo,
Não matam a mensagem,
Dita, escrita, cantada, falada.
Não matam a alma
Que não existe
Porque não existe
Alma não... Ponto final.




Mas... não matam a alma,
Porque a alma só morre
Quando o corpo quer.
Quantos corpos vivem sem alma?
Quantos corpos mortos com alma viva?

Ser poeta
É ser contra-poder,
Por isso o poder
Não gosta do poeta.

O poeta
Foge do poder
Para livre ser.
Longe do poder?
Mas livre.

O menor dos homens
É o poeta d’ alma vendida
Porque trai a sua condição
De crítico do poder
De ser a voz dos oprimidos.

Poesia do poeta
Liberdade livre,
Não corrompida
Não prostituída.

A corte do poder
Não gosta dos poetas,
Inveja-os,
Porque para ser poder
Abdicou de ser livre.
Falta-lhe a coragem
Que jorra da pena do poeta
Livre.
A coragem
Está no braço que empunha
A bandeira da Liberdade
Livre do poeta.

Poeta de cravos
Vermelhos
Pena caneta
Lápis esferográfica
Pincel giz
Numa mão
Na outra mão
Erguidos.

Poeta livre
Portugal livre
Da P.I.D.E.
Caçadora d’ almas livres
E dos corpos com alma.

Poetas
Portadores
Da esperança
Que invade
Os corações
Do Povo
Oprimido.

Poetas
Portadores
Das utopias
Imaginadas
Realizadas
E por realizar.

O poeta sonha
O Homem faz.

Poetas
Portadores
Da Utopia
Que os Capitães de Abril
Realizaram.

Poetas
Portadores
De utopias
Que as ditaduras
Não podem tolerar.
Por isso, os poetas
Mandam matar.

Mandam calar o poeta,
Impedem o poeta de gritar
Forçam-no a sussurrar,
Impedem o poeta de sussurrar.

Mas não podem,
Querem
Mas não podem,
Impedi-lo de pensar,
De gritar falar sussurrar...
Pensando.

Mesmo o pior despotismo,
No reino da ignorância
No império do obscurantismo
Não consegue,
Ditador ou tirano,
Violar o último reduto da Liberdade,
A imaginação.

Um dia
O despotismo
Será as ruínas de uma cidade
Submersa pelo magma da Liberdade,
Expelido pelo vulcão da poesia
E a cidade do despotismo
Será cidade da Utopia,
Pela pena dos poetas livres,
Em Democracia.

Vivam os POETAS LIVRES.


Luís Norberto Lourenço

Castelo Branco, 15 a 22 de Março de 2000

terça-feira, março 29, 2005

A Cultura do Medo: as cartas anónimas


Em tempos escrevi um “Manifesto contra o medo”, volto à temática hoje.
Escrevo a pensar nos atentados terroristas.
Escrevo na sequência das notícias sobre cartas anónimas, ditas irrelevantes e ainda assim divulgadas e profusamente ampliadas, promovendo a calúnia, a difamação e o boato.
Nomeadamente, em jornais (e em sítios na Internet, também, de meios de comunicação que aparentemente são sérios) que dizem (não cumprindo) que só publicam cartas de leitores que se identifiquem (nome, morada, telefone, n.º de B.I., foto…), ao mesmo tempo que aceitam como fontes fidedignas cartas sem identificação!
É a lógica do medo.
O triunfo do boato.
A vitória da mentira.
O elogio da cobardia.
Os escritores anónimos vencerão!
As ditaduras e os terroristas servem-se do medo e promovem-no para triunfar, as primeiras para se manterem no Poder e os segundos para semear o caos e através da estratégia do Terror atingir os seus objectivos.
O boato é uma arma ao serviço do medo.
Como desmascarar uma mentira?
Como derrotar um boato?
Ignorando-o, deixando-o seguir impunemente o seu caminho de difamação?
Combatendo-o, alimentando a besta ao dar-lhe publicidade?
O boato é uma arma perigosa, num cenário de guerra suja (como se alguma fosse limpa!).
Ainda por cima, quando os boatos são base de notícias, não apenas de pasquins, mas doutros órgãos de informação que lhe deviam estar imunes, deixando-se levar pelos argumentos “um boato tem sempre alguma coisa de verdade” e “não há fumo sem fogo”.
Todos os regimes repressivos, ditatoriais, se serviram (e servem) do boato para derrotar os adversários, desacreditando-os.
A Inquisição (Tribunal do Santo Ofício) promovia a denúncia, pagando a quem o fazia e oferecendo aos denunciantes/acusadores o direito a poderem permanecer no anonimato, sem revelar aos réus de que eram acusados.
Quantos morreram às mãos da Inquisição sem saber quem os acusou?
Os dirigentes nazis, encorajavam os jovens nazis – membros da Juventude Hitleriana – a denunciar os pais se estes não fossem apoiantes de Hitler e das suas ideias.
A PIDE (PVDE/DGS) promovia a delação, a denúncia gratuita, a coberto do anonimato, com milhares de colaboradores por todo o país, prontos a denunciar familiares, amigos, colegas e vizinhos, por inveja ou pelo que recebiam por elas, não necessariamente por motivos políticos.
E tal como aquela todas as polícias políticas assim actuam.
Numa Democracia, os cidadãos devem dizer abertamente o que pensam, sem medo, assinando o que escrevem, lutando pelo que acreditam, intervindo, “de peito aberto”, com frontalidade, com verdade, não escondendo-se cobardemente atrás do anonimato.
Porque o medo gera medo.

Luís Norberto Lourenço

Vila Nova de Paiva, 7 de Janeiro de 2004

· Publicado no “Diário XXI” de 12/1/2003
· Publicado na “Reconquista” de 16/1/2003

quinta-feira, março 17, 2005

Ciclo de Tertúlias "Eleições Autárquicas 2005: Penamacor tem futuro?"


A Casa Comum das Tertúlias irá organizar, a partir dos finais de Agosto até às eleições autárquicas de Outubro de 2005, o Ciclo de Tertúlias "Eleições Autárquicas 2005: Penamacor tem futuro?", o qual terá lugar na Casa Comum das Tertúlias, ao ritmo de uma tertúlia por semana, com vários convidados para cada tema, onde se abordarão os problemas e as potencialidades do Concelho de Penamacor, numa discussão cordial, livre e sã, antes demais democrática, como é nosso timbre.
No final desse ciclo (programa completo a divulgar brevemente por este mesmo meio e num dos nossos blogs), pretende-se que se elabore um documento da autoria dos participantes nesse conjunto de tertúlias e que será assinado por aqueles que nelas participarem, apresentando o documento como um “Manifesto eleitoral” que será apresentado a todas as listas de candidatos à autarquia de Penamacor, para com elas ser discutido e eventualmente subscritob pelas mesmas.

Luís Norberto Lourenço
(Organizador e fundador da Casa Comum das Tertúlias)

Organização
Casa Comum das Tertúlias / Luís Norberto Lourenço
Lg. D.ª Bárbara Tavares da Silva, n.º 11,
6090-509 Penamacor
Tlm. 966417233
E-mail: casa_comum_tertulias@portugalmail.pt
luis.lourenco@portugalmail.pt
http://republicalaica.blogspot.com
http://cctertulias.blogs.sapo.pt
http://casacomumdastertulias.blogspot.com
http://fanzinetertuliando.blogspot.com
http://casacomumdastertulias5out2001.planetaclix.pt
http://centro-de-estudos-socialistas.blogspot.com
Notícia sobre isto em:
  • "Diário XXI", 20/3/2005

sábado, março 12, 2005

Agenda da Casa Comum das Tertúlias:

Comemorações do 31.º Aniversário do 25 de Abril de 1974
A Casa Comum das Tertúlias irá organizar, durante o próximo mês de Abril, três iniciativas, no âmbito das Comemorações do 31.º Aniversário do 25 de Abril de1974.
Tertúlia
"A qualidade e a diversidade da informação"
Centro Cultural de Alcains/Museu do Canteiro (bar)
17 de Abril
15h
Tertúlia
"O 25 de Abril: uma visão brasileira"
Clube de Castelo Branco
24 de Abril
16h
Tertúlia
"As tertúlias (a nível local) e os blogs (a nível planetário) como os últimos(e únicos) espaços de Liberdade?"
Casa Comum das Tertúlias
Penamacor
25 de Abril
15h
Informação detalhada... num blog perto de si.
Luís Norberto Lourenço
(Organizador e fundador da Casa Comum das Tertúlias)
Organização
Casa Comum das Tertúlias / Luís Norberto Lourenço
Lg. D.ª Bárbara Tavares da Silva, n.º 11,
6090-509 Penamacor
Tlm. 966417233

quarta-feira, março 09, 2005

Falemos de Igualdade…

Os números não mentem…
Em 16 ministros do futuro Governo socialista, apenas dois são mulheres.
Em 308 presidentes de câmara, 15 são mulheres.
Em 230 deputados da Assembleia da República, só 30% são mulheres.
Em mais de 850 anos de História, apenas uma mulher foi Primeiro-ministro, por poucos meses, Maria de Lurdes Pintassilgo, num dos primeiros governos a seguir ao 25 de Abril de 1974.
Entre os Presidentes dos Governos Regionais: dos Açores e da Madeira, Ministros da República: na Madeira e nos Açores, Governadores de Macau, os Presidentes da Assembleia da República, Presidentes da República, Presidentes do Tribunal Constitucional… nem uma só mulher.
No entanto, a maior parte dos estudantes universitários são mulheres.
No entanto, a maior partes dos docentes das escolas são também mulheres.
São dados concretos e objectivos de 2005, em Portugal.
Trabalho igual, salário igual
Na minha opinião, a Igualdade (entre sexos) deve ser promovida com medidas concretas, práticas e não ficar por ideias abstractas, de pura retórica, sem consequências.
Defendo que mulheres e homens, por um mesmo trabalho, por um mesmo desempenho, num mesmo local de trabalho, devem receber o mesmo salário. O que para mim e para muitos parece óbvio, ainda não é uma realidade, se hoje os trabalhadores e as trabalhadoras do Estado (funcionários públicos ou equiparados, da Administração Pública, Central e Local) recebem o mesmo, no sector privado (essa oitava maravilha!) isso não acontece e em média uma mulher recebe – fazendo o mesmo trabalho que um homem – dois terços (66,6%) do salário dum homem.
As mulheres na Política
A fraca participação das mulheres na vida política deve-se à ausência de três emancipações femininas: social, económica e familiar.Se estas três emancipações fossem realidades e não utopias… em muitas sociedades, em muitos países, ontem como hoje, também em Portugal, a participação das mulheres na vida política seria facilitada e promovida, visto serem criadas condições que o permitem e que hoje o impedem.
Na sociedade, sendo a mulher maioritária, não se percebe uma atitude submissa e que a leva aceitar, em troca de um tratamento igual, pequenas, ditas, gentilezas, como que compensando a falta de igualdade real.
Na esfera familiar: a partilha de tarefas domésticas, na lida da casa, entre o casal (que deve ser incutida desde a infância pelos educadores, tendo a mãe, enquanto mulher responsabilidade de ser um agente activo na promoção da igualdade), libertará a mulher (porque é ela a mais sacrificada) para essa participação política… cívica e associativa.
O alargamento da rede pública (a todos os concelhos e a cada freguesia) de creches e de infantários é, assim, não uma quimera, não uma reivindicação impossível de atender, mas uma prioridade absoluta. Um maior apoio à mulher, enquanto mãe (e ao homem, enquanto pai), isto é, à família, permitindo um acesso generalizado à escolaridade desde o pré-escolar, é muito mais importante do que um ensino superior público e gratuito (que defendo), porque é no inicio que a vida é mais difícil para os pais e mais necessário o apoio aos mesmos enquanto tal. Na área económica: se uma mulher receber o mesmo salário que um homem, por um mesmo trabalho, então ficará mais independente, menos condicionada economicamente, para poder participar activamente na vida política.
A questão das quotas
A ideia de introduzir quotas nas listas partidárias, nas listas de candidatos a vários cargos políticos, no acesso ao emprego… pode ser uma medida positiva, dita de discriminação positiva, mas a meu ver, promove uma igualdade passiva e não activa, isto é, não promovendo e compensando o mérito. Porque uma pessoa não entra para uma lista por ser um bom profissional, um bom político, mas por ser mulher independentemente de haver alguém do outro género mais capaz. Na verdade se não fosse um sistema de quotas ainda teríamos menos mulheres na política do que o que temos hoje, o que digo é que temos de avançar e atacar o problema a montante, evitando ao mesmo tempo que se crie a ideia de injustiça entre os homens que ficam sem um lugar, apenas por serem homens, por excederem a sua quota e não por serem piores: profissionalmente ou politicamente. A população portuguesa é, aproximadamente, 52% composta por mulheres, sendo 48% homens (Censos de 2005). Por isso, a respeitar-se integralmente esta quota demográfica, então 52% dos docentes deviam ser mulheres? Assim como, os trabalhadores nas fábricas de têxteis?
Durante muito tempo, a palavra duma mulher, em tribunal, nada valia.
Durante muito tempo, uma mulher solteira ou casada não podia viajar sozinha para o estrangeiro, não acontecendo o mesmo com homens solteiros ou com os maridos. Isto aconteceu em Portugal, até à Revolução dos Cravos!
Acredito que para algumas mulheres, a liberdade e a igualdade seja poder ir a uma discoteca, fumar, poder usar calças, usar um corte de cabelo curto… aspectos porventura importantes! Na verdade, a razão porque tantos (as) morreram no campo de batalha e nas prisões políticas, onde foram torturados e espancados, foi certamente para o exercício do direito de todos ao voto (independentemente do sexo), foi certamente pelo direito à alfabetização de todos: ricos e pobres, homens e mulheres, independentemente da cor, foi certamente para que o cidadão e cidadã fossem iguais perante a lei e sobretudo, para o livre acesso ao emprego, sem discriminação de sexo ou outra qualquer. A liberalização dos costumes, a questão do divertimento terá a sua importância, mas será o fundamental?
Lutemos todos por uma sociedade mais justa e igualitária, não nos aspectos formais, que pouco interessam, sim em aspectos concretos da vida quotidiana. Já!
Luís Norberto Lourenço
Castelo Branco, 8 de Março de 2005, Dia Internacional da Mulher
P.S.
1. Na passada segunda-feira, perante uma Assembleia de mais de cem pessoas, em Castelo Branco, onde se encontravam muitas mulheres, apresentei “pela rama” estas mesmas propostas, ninguém comentou nada, nem as mulheres acharam por bem reforçar a minha intervenção, neste aspecto concreto. Concluí, pois, que as presentes se sentem bem com a vida que levam, ou eram todas funcionárias públicas e estas questões, nomeadamente o aspecto salarial, não as afecta.
2. No referendo sobre aborto (1998), apenas votaram 32% dos eleitores. Mas o número de eleitores mulheres ultrapassa os 52%!!! Não são as mulheres as mais penalizadas pelo aborto: física e psiquicamente? Talvez não! Abstiveram-se…
3. É possível que haja silêncios de ouro, estes foram… de chumbo!
Ver também em:
  • Publicado no "Diário Regional de Viseu", 10/3/2005.
  • Publicado no "Diário XXI", 14/3/2005, ver on-line em:

http://www.diarioxxi.com/?lop=artigo&op=a5771bce93e200c36f7cd9dfd0e5deaa&id=636b1370d6dfae91f2042eef96c994b1

  • Publicado no "Povo da Beira", 15/3/2005.
  • Publicado no "Notícias da Covilhã", de 25/3/2005.