FOTOSSÌNTESE Cap.19
Com as peças que a larva
lhe havia deixado sobre a discoteca, ela observou as fotocópias e nelas se
encontrava a personalidade de Naram-Sim. A sua estátua havia desaparecido misteriosamente. Quando abriu o computador
Caetana não queria acreditar nas
notícias que via pela internet. A sua
colega Benedita havia sido presa pelo fogo posto à discoteca. Foi vê-la na hora das visitas.
Ela dizia-lhe que vira na noite anterior o Demónio Pazuzu e que lhe falara no sacrifício. Depressa foi ao video-clube ver o filme O Exorcista – II – O Herético para
tirar algumas conclusões. Só lhe
restava uma alternativa o professor do
Seminário de Hierarquia dos Demónios este explicou-lhe que este era um dos Demónios mais poderosos da mitologia sumero-acádica . Havia alguma
coisa que não coincidia ali. Recebera mais uma vez notícias da famosa Agatha
Cristie que dizia saber porque a sua
amiga havia sido presa. Dizia que a sua amiga era a metade da besta, de que
era a grande prostituta. Não podia ser. A outra pessoa dizia que estava
prestes a dar-se uma grande catástrofe. Benedita era a mensageira da desgraça. Recordara-se daquilo que se havia passado com o DJ quando este fora à
entrevista. O carro fora de encontro a um camião mas salvara-se por milagre. Esse milagre não era casual era já
influência do Demónio. Caetana não
acreditava no que estava a ler. Da sua
janela via uma pomba chorar sangue e nele estava preso num bilhete Samuel Noah Kramer e Jean Claude Perpére.
Eram justamente a História começa na Suméria e As cidades do Dilúvio. Encontrou
numa das páginas O Pecado Mortal do Jardineiro e no outro referências ao
Direito Penal Hitita. De uma acentada só
foi ter com o professor de mestrados e perguntou se podia observar os trabalhos da colega recentemente
falecida era uma das outras marcas que a pomba lhe deixara Madalena. O professor olhou-a. Ela disse que estava prestes a mudar de tema de
mestrado e se possível para a serpente hitita ou para o Demónio Pazuzu. O homem
benzeu-se. Bem que mudança! Na prisão estava também François sob a acusação
de ter violado a jovem Benedita. Perguntou-lhe como estava e se ele precisava
de alguma coisa. Ele disse-lhe que a embaixada estava a tratar de tudo. Até
que ele começou a chorara dizer que não
aguentava os outros presos que o comiam
com os olhos e que o queriam ter como parceiro sexual.
-Eu amo a Bé. Só vim para a merda deste país estudar os baixos
relevos e eles pregaram-me uma partida.
Ele jurava de pés juntos estar inocente. Caetena disse-lhe ia fazer os possíveis para o tirar
dali. Havia uma armadilha muito bem montada. Nos últimos tempos Carlota
Joaquina não saía de pé dele. Parecia estar melhor e até lhe dera algumas
coisas para ler. Coisas que nada tinham a ver com a sua tese. Ela andava a
enganar-nos. Não era nenhuma tolinha. Dizia-lhe que os baixos relevos eram
provas de uma chave de Xamãs que
guardavam a árvore da vida e protegiam o rei dos Assírios de todas as tempestades e do caos. Tudo isso
era verdade. Ela falava por enigmas. Estava a dar as aulas na Escola do Riso e
cada vez que eu saía acontecia alguma coisa, sabia que as pessoas que
liam os meus textos de humor não
entendiam nada, mas eles tinham apenas uma questão puramente académica .Ah,
outra coisa ela falava que o Pecado Mortal do jardineiro e o Pinhal de Leiria
tinham semelhanças. Quando chegaram ao pinhal de leiria D.Dinis obtivera instruções de um judeu que
lhe assegurou que havia de proteger as suas culturas. Quando estava a estudar os baixos relevos dei-me conta de um terror
psicológico e que estes mesmos protegiam
os palácios e que havia uma figura que era um inimigo pessoal de Pazuzu. Os
textos falavam em destruir o inimigo com
a força do Deus e que os fazia cair para
o lado, quando chegara aos relevos dos palácios dei-me conta - Nos Demónios que estavam nos baixos
relevos que guardavam as portas as
entradas estavam os ternos dragões, Demónios e Grifos alados. Aí estudei uma
coisa fora do contexto da tese de que a nossa amiga ficou muito interessada,
eram sacrifícios aos Demónios que se
procuravam protecções contra eles, apaziguavam-nos por meio de oferendas, ou ainda ritos aos
dons oferecido aos espíritos dos mortos. Ela passou a ser algo mórbida e
pediu-me informações de que gostava de saber os sacrifícios de fundação, pelos
quais eram esconjurados às influências maléficas que poderiam exercer as divindades que possuíam o solo em que se ia construir.
Ela dizia que os baixos relevos continham uma luz só comparável à luz do Sol e que as buscas de alabastro tinham a haver com tudo
isso. Tudo isso reflectia a fertilidade e falava das coisas que se podiam
observar nos grãos de trigo ou de génios que estavam a rodear a árvore da vida. Ela queria estar
ao pé do disco-jockey mas ele via nela qualquer coisa de doentio. Diz que ela
era a representação dom mal. Ela dizia ser a Deusa e que fora gravemente
violada pelo jardineiro do jardim e que
queria procurar noviças para um novo templo.
-
Meu Deus Como
é que eu não pensei nisso antes? Quem é
irá acreditar numa coisa destas? Vou ter que falar com o avô dela. Para
publicar os seus escritos havia que se preparar muito bem. Quando falou com o
seu orientador disse que gostava de
organizar os textos escritos pela colega Carlota Joaquina, de os reunir e fazer um livro para ser
publicado.
-
Vou falar com
o avô dela –disse cautelosa com um misto de carinho nos olhos. Era tão nova!
-
Cabra !És
capaz de estar viva e fazer de
todos nós palhaços!- pensou Caetana,
enquanto via que o professor se mostrava interessado. Ela falou numa coisa em
grande para chegar à comunicação social.
Carlota Joaquina era Madalena e
todos os títulos que continham na tese eram a chave para o segredo daquela
cabeça. Em casa pegou no livro de Jean Claude Pérpere, Gourney na tradução portuguesa de Pierre
Levêque. Embrenhou-se então no primeiro livro “Só os três delitos com pena capital: o incesto, a zoofilia e a violação.De facto, um único crime de carácter sistemático punível com pena
capital sem qualquer clemência (...) a
rebelião contra o rei (...)”[1]
Um dos episódios de histórias que revela este meio de cidadania trata-se
sem dúvida o episódio de Shupiluliuma.
O caso em questão tinha a ver com uma
renovação de um tratado anterior com Hukkarra do Azzi-Hayasa (no
leste do AltoEufrates, fora do mundo hitita ) deu-lhe como esposa a sua
irmã. Nesta altura, lembrou ao seu novo cunhado que talvez tivesse a advertência, que os casamentos entre irmãos eram punidos com a
morte entre os hititas [2].
Começou por pensar porque razão seria aquela o tema de doutoramento de
Madalena. Interessar-lhe-ia não só o sistema judiciário hitita ser de tal modo avançado ao nível dos direitos humanos, como a sua
própria posição acima do Código de
Hamurabi. Só daquela forma se poderia posicionar para além da história e das opiniões que fazer crer tal como Gurney.[3] O outro aspecto para o interesse naquele estudo
seria o fetishe sexual, incomodativo, invulgar e bizarro, a zoofilia. Seria
aqui uma representação dos direitos dos animais naquela sociedade e até que
ponto os direitos humanos e dos animais
poderiam usufruir na sociedade hitita.
Qual era então papel do animal na sociedade? Seriam pelos bens jurídicos
ou simplesmente religiosos? Em que meios se integravam? Quais seriam
então as normas de direito que selavam
estes mecanismos de direito ? Que provas fizeram mover esta legislação? Seriam
apenas histórias mitológicas ou apenas
um reflexo dessa ideologia? Porque é que aquela pena foi considerada logo um
crime ao ponto de prática sexual e ser
ao mesmo tempo considerada desviante? Considerariam o animal um ser
superior? Ou estaríamos diante de uma civilização avançada demais para a época? Mas para Madalena que trocadilhos nos
queria dizer com tudo aquilo? Ou seria apenas uma vontade enorme de vencer?
Lembrou-se de um livro do Professor Bernabé sobre Leis Hititas. Saiu de
casa e foi até à livraria ver se o encontrava.
[1] Cf Perpere, op.cit, p.173
[2] Cf Pierre Leveque, As 1ªs
civilizações , Vol.II, A Mesopotâmia e os Hititas (Trad. António José Ribeiro,
ed. 70, p.121
[3] CF Gurney, The hitites , Pinguin Books
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