fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

sábado, dezembro 20, 2014

Fotossíntese cap. 15


Naram-Sim acabara de ver com o seus próprios olhos de que a teoria era verdade, mas tinha uma única missão: destruir a larva. Roubara as teses que se encontravam na biblioteca e vira como a influência da luz poderia ter para além dos baixos relevos neo-assírios. A estrutura da tese concentrava-se inicialmente na imagem do baixo relevo como um livro aberto de banda desenhada, na sua mente a tese teria tudo a ver com uma questão de religião e não com uma questão de arte. As fotos que adquirira por parte de um particular francês baseavam-se aliás nas referências do baixo relevo da Gulbenkian. Havia contactado com este investigador pela internet. O estudante de doutoramento conseguira uma bolsa em Paris para estudar esse mesmo relevo  que procurava à vários anos. Naquele instante estavam frente a frente um ao outro. Que se passariam naquelas cabeças? François lera em pequeno o romance Deuses,Túmulos e Sábios . Desde essa altura sonhara com aqueles palácios e inventara inúmeros jogos com aquelas imagens . Eram ambos os autores das imagens de das alterações das historiadoras tencionavam dar-lhes cabo das investigações. François propusera-se a estudar a fórmula de marketing político e a criação de uma opinião pública junto da população e do império assírio . Mas aquelas não eram as linhas que ele ambicionava. Aquele relevo pertencia à sua família  durante muitos anos. Só não conseguia entender como é que alguém o fizera desaparecer. O seu avô juntara dinheiro durante largos nos para aprender acádico viajar por todos os museus europeus tirar cópias de livros e comprou aquele magnífico exemplar. Agora tinham que pôr em prática os seus planos  contra os actuais donos daquele quadro. Naram- Sim disse-lhe que teria um plano infalível contra eles. A cem menos dali Carlota e Caetna uniam-se contra Agatha Critsie e preparavam uma emboscada que só elas tinham acesso, já que uma delas roubara as chaves de Naram- Sim . Brincar com alta tecnologia é algo que não se imagina, vive-se. Agora teria que entrar no universo mágico de Naram-Sim e fazer uma escolha qual dos papéis é que ela inverteria para si.

Depressa entendeu que as chaves para os segredos estavam nos espelhos da Gulbenkian onde havia um portal que as levaria ao processo que estariam de tocaia  ao assassino e estavam diante de dois: François e Naram-Sim. Será que os dois seriam a mesma e a própria pessoa? Não, segundo as informações colhidas o relevo exposto era dos familiares de  François ,coisa que ele nunca aceitara. Com Naram-Sim o caso mudava de figura, estava ali por outra e mais completa razão. 
A escolha daqueles sinais dava-lhes muito mais razões para pesquisarem na discoteca ao mesmo tempo que estudavam a arte neo-assíria estava qualquer coisa ali mal. Algo que pretendiam investigar. Chegavam  á conclusão de  que ao olharem ao longe  a figura do génio lado teriam que estudá-la ao pormenor . Com que meios se projecta  no meio de então? Como é que podiam compreender este ser mitológico ? Podiam concluir de que aquele relevo era um aviso. Os génios, os grifos demónios e s seres alados povoaram os seus sonhos durante a infância. Ao olharmos para as entradas das igrejas, nunca poderíamos entender as suas origens sem a máxima “fora da igreja não há salvação, dentro da igreja há salvação “. Uma origem que medeia uma época tão longíqua e profunda mas é o sonho  que atravessa a nossa memória conduz-nos a um universo habitado por seres alados capazes de dar as respostas às nossas preces. Olharam para o relevo. A sua grandiosidade contemplava-as, não eram capazes de o olhar de rente. Mas o ser alado também não o permitia. E isto porquê? Esse modelo idealizado pelo homem assírio aterrorizado pelo seu Deus. É isso que se sente quando olhamos para esse SER.
Dentro deste sistema acabara de ler um artigo numa revista de arqueologia espanhola sobre magia negra e maldição algo que o professor Francisco Caramelo já fizera também para os estudos de homenagem do professor José Nunes Carreira Mas não eram só esses mas também artigos ligados arte em revistas da especialidade como haviam já provado esse mesmo factor. A história da mesopotâmia perseguia-o tanto que o fizera recuara atrás e tentar perceber o porquê das coisas . Ao ver aquelas imagens na discoteca fazia-o recordar aos seus tempos de Deus, rei das quatro , regiões do Mundo, haviam  pelo menos os disfarces que o faziam compreender a sociedade em que se inseria, no entanto tudo aquilo fazia parte de um ficheiro contido numa ranhura de um dos arquivos de Ur para restabelecer a ordem. Ali descobria que não havia o Paraíso e que aqueles monstros que guardavam a entrada eram os mesmos que falara num seminário. Diante disto tinha a relações públicas à porta da discoteca que impunha um nível de perstígio. Ninguém sabia quem era o famoso Legal-já-jezi que muitos conheciam só de nome da história. Mas havia por ali alguém e esse alguém era ele que tencionava raptar aquela larva para a destruir.

Usava um brinco para se poder comunicar com os seus antepassados. Alguém lhe dizia que ele estava prestes a cair na armadilha, num jogo didáctico e que se deveria recordar das palavras mágicas. Naram- Sim aprendera a fumar. Acendia um cigarro enquanto falava com um escriba . Não conseguia compreender porque é que as pessoas olhavam as horas para uma caixa mecânica onde pudessem ver as horas que dispunham. Naram-Sim apenas sabia que a larva enquanto pessoa era uma mulher deslumbrante. Cantarolava a ópera Orfeu e Euridice de Monteverdi . Para tentar recordá-la ia às suas memórias para tentar embalar aquela mulher porquem ele se apaixonara, também antevia ali o mito da descida da deusa Isthar aos infernos. No meio de toda esta confusão alguém accionara  um alarme. Deixou-a de ouvir. A sua música era o perfeito elixir para os seus sentidos e de nenhum outro ser podia dizer que se havia apaixonada alguma vez nem tinha tido qualquer tipo de sentimentos iguais aqueles. Continuava à espera de notícias de nana . A larva era um programa altamente sofisticada. Quando se encontrou com François que trabalhava ali como barman  para poder pagar o seu doutoramento e se poder familiarizar não só Benedita , bem como os restantes elementos do grupo que ali trabalhavam naquele espaço avant-garde. Algumas revistas e programas de televisão haviam feito referência aquele espaço muito bem elaborado, no entanto o tema de conversa entre os dois posicionava-se sobre as mulheres e possivelmente uma que Naram-Sim vira na pista de dança. Qual Cinderela que perde o seu sapato de Cristal. François não podia deixar de sorrir como é que um fulano vindo de Londres se fora encafuar ali dentro daquele espaço e ainda por cima por uma mulher que nunca haviam visto. Sentiu um arrepio na espinha, porque presenciara outras histórias de amor. Naram- Sim não pensava noutra coisa a não ser naquela mulher. Queria-lhe escrever poemas de amor, mas não sabia mais  nada dela.

Nana  não existia. Era um  programa. Um projecto que tinha milhares de anos. Desde que En-Uma escrevera um tratado futurista sobre a capacidade dos seres Humanos serem capazes de produzir fotossíntese que os historiadores, biólogos, filósofos, não paravam de escrever teses sobre aquele tratado. O mais cómico era um deles Angel que vivia na Amazónia à procura da substância  que faria este programa desenvolver-se como um ser humano e conseguir ao mesmo tempo ter a capacidade  de produzir essa substância. Ninguém sabia onde ele estava. Todos? Não, Naram-Sim comunicava-se com ele através de um estranho aparelho  onde iam abordando as fórmulas de apanharem tal substância. Mas para tentarem compreender aquele texto uma equipa de historiadores desenvolveu um colóquio onde chegassem a algumas conclusões. Os filósofos seguiram-lhes o exemplo e até imagine-se os biólogos experimentaram as delícias das comunicações interdisciplinares. Uns diziam tratar-se de um texto filosófico onde se relacionava com a profecia de En-Huma. Um texto que havia desaparecido para sempre e era tido como lenda . Nestas andanças andavam as meninas de mestrado, como Carlota , Caetana que tentavam  tirar o maior dos proveitos para as suas teses, vinha depois o misterioso professor visitante defender que tudo aquilo não passava de uma visão de uma luta das forças da ordem contra as forças do caos e que de uma certa forma detinha uma posição muito idêntica a um mito o Pecado Mortal do Jardineiro. Alguém se lembrou de relacionar a luz. Porquê tanta gente a estudar uma coisa que nem sequer existia em Portugal?

Carlota Joaquina afirmou que uma destas fórmulas foram conducentes para o Museu Nacional de Arqueologia receber uma boa parte do espólio egípcio quando tomaram os baixos relevos que se encontravam nos navios alemães.

-        Encontramos os registos e os relatos nos jornais da época e tudo isso pode ser relevante para o futuro das minhas investigações. Bem eles sabiam que o projecto que tinham em mãos era evidentemente resultado desse tratado. Foi aí que Benedita, relações públicas da discoteca “O Vigário “ lançou a bomba.

Naram-Sim olhou-a nos olhos. Viu-os como da primeira vez, azuis como o mar onde as enormes ondas se desfaziam perto da areia da praia. Conseguia ver ainda o fogo que existia dentro dos seus olhos quando o via. Seguiam-se como pequenas câmaras de vigilância atentas a qualquer pormenor anormal que se passasse.
-        Quem és? - perguntou ela.

-        Não te lembras de mim? Não te lembras daquilo que vivemos?