fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Os sonhos no Antigo Egipto

Sonhar pode ser tão interessante como identificar a verdadeiro carácter de um ser humano. A História não é uma área que nasce sozinha, mas que necessita de diversos métodos de investigação próximos aos de um psicanalista. Tal como aquele paciente que conta os seus sonhos , anseios através dos medos durante a noite , a historiografia permite-nos dar essas mesmas pistas . Aqueles pormenores desinteressantes do dia –a –dia pode ser identificado com o tipo de sonho e para se chegar ao verdadeiro ser temos que entrar em sonhos, estelas, profecias e até mesmo visitas de entes queridos. Dessa forma tencionamos estudar aqui um caso típico da investigação científica recente :o sonho.

Nesse caso até podem ser deuses que nos podem dar essas mesmas cartas que nos permitam jogar com os caminhos que devemos traçar e os jogos da mente são sempre os mais interessantes. Nessas pistas são exemplos típicos de uma premonição e anuncie um determinado sonho sobre qualquer acontecimento ou até a resolução de um caso meramente policial. É aqui que entra o historiador. Tal como um detective ele deve analisar os textos e as imagens que tem para dar a conhecer sobre a intimidade de um ser humano. E é por isso mesmo que quando olhamos para os textos de ensinamentos, de oráculos, profecias, estelas sejam elas de época forem ou mesmo até livros consagrados a épocas gregas e romanas há uma espécie de adaptação aos novos tempos. Temos que olhar para os textos mitológicos sobre diversas perspectivas, a filológica e a outra a mitológica que nos permite ver a sua própria mensagem.

Hoje vamos analisar diversos tipos de sonhos. Os terâpeuticos, os cativos e outros tantos que fazem parte do quotidiano. O Sonho como afirma Rogério Ferreira de Sousa “ um momento de contacto entre os vivos e os mortos. Os parentes saudosos passam a noite no túmulo do seu ente querido, na esperança de o rever em sonhos. O sonho constitui com o oráculo, um modo de relacionamento entre a divindade e o homem. Através do sonho, as divindades manifestam-se aos mortais para divulgar os seus desejos, ou predizer um determinado acontecimento: a ascensão ao trono, o nascimento de um filho, a duração da vida ou, mais genericamente, para esclarecer de alguma forma, o sonhador. No que diz respeito ao rei, é bem reconhecida a relação entre o sonho e a ideologia régia (…) “

Sonhar é acima de tudo um contexto cultural e foi acima de tudo que se tentou contextualizar na terceira lição sobre este fenómeno com um exemplo da literatura designada por livro de Thot. O Fantástico está aqui mais uma vez presente. Mas falta-nos o lado terapêutico do sonho e da resolução dos problemas usados nos santuários. O conteúdo desses mesmos sonhos é revelado por palavras claras. Hoje resta-nos usar o pouco tempo que temos para darmos alguns exemplos de sonhos para vos descrever as principais formas desde os sonhos alimentares, profissionais e outros ligados à própria natureza.
Ao irmos ao encontro do sonho, daquele que pede ajuda ao sacerdote centramo-nos nos escribas aqueles que eram considerados os mais afortunados dos profissionais que nos descreve uma das pérolas da literatura egípcia “A Sátira dos Ofícios “. Estes profissionais começavam as suas lides profissionais copiando obras literárias através de pedaços de vidro ou de argila as tais óstracas das quais mais tarde usavam para os seus exercícios nos templos quando ouviam os seus clientes. Estes profissionais cumularam bibliotecas dos mais variados temas. Uma delas era propriedade do Estado e daí advirem uma sucessão de escribas do povo de artesãos em Tebas (Deir – el – Medina ) incluía um livro de interpretar os sonhos. Antes de interpretar os sonhs de um cliente, era necessário situar esta pessoa num determinado grupo, comparável aos horóscopos actuais. Um fragmento de um papiro desse mesmo livro dos sonhos designavam como as qualidades da personalidade de determinado deus, a qualidade de beber uma cerveja e o que daí advinha se era bom ou mau. Depois de interpretar os bons ou maus sonhos porque deles haviam uma classificação entre cerca de 69 sonhos maus e 83 sonhos bons. A verdadeira justiça que se fazem aos sonhos são aqueles que podem ser classificados de verdadeiros ou maus . nas últimas semanas observamos sonhos ligados ao período egípcio, analisamos um tipicamente ptolomaico onde se conservam apenas as partes finais de cada um deles ( Setna I e Setna II , um deles está conservado no Museu Britânico e o outro no Museu do Cairo). Continuamos a classificar este género de sonhos .A consciência, a brevidade da vida humana ao destino do deus Amon .Nestas viagens o sonho e sua própria experiência das combinações fantásticas como os romances de Zafón e o livro de Thot. Para quem um dia se deparou com estes textos e problemas iniciou-se perante os problemas filológicos: Sonho – reset (revelação ) ou rswt na transcrição do verbo vigia. Neste caso há a crença da visita de uma divindade que dava acesso . Por aqui fomos centrando vários núcleos literários como instruções , lendas como as de Ìsis e Osíris .

Neste país a crença da manifestação do sobrenatural era parte integrante de uma visão do mundo, segundo sobretudo do sonho que estava dependente dos mortos. Desses encontros que já falamos em aulas anteriores podemos centramo-nos nos vários poderes em que a magia era favorável aos vivos para se restabelecer. Foram encontrados amuletos no Museu de Torino. Há ainda terapias contra os terrores nocturnos o famoso livro dos sonhos ensinava a agir de forma magica aplicando através de um sonho talismã. Nesse livro indicava-se como se devia por a mão na testa para afastar um dos demónios animando a sua própria alma, a sua forma, cadáver se uniam e faziam afastar esse modelo de terror.

O documento Chaves dos Sonhos não suscita qualquer comentário analítico da problemática omnírica como factor de expressão da ideologia faraónica, uma vez que as suas fórmulas não consagram qualquer referência, directa ou indirecta, à instituição faraónica. Mas é um excelente testemunho da importância que as manifestações oníricas, as suas mensagens e interpretações , tinham para os antigos egípcios.

Como traço revelador das categorias do pensamento lógico egípcio é importante para entendermos o significado que os sonhos e os símbolos oníricos tinham no seio da sociedade egípcia. Preocupados com as manifestações das divindades, os egípcios conferiam naturalmente uma comunicação entre a esfera do divino e a do humano. O sono era, neste aspecto, uma fase simultaneamente delicada e privilegiada em que o homem podia entrar em contacto com os deuses pelos sonhos, fossem eles espontâneos ou solicitados, podendo eles receber visões premonitórias.

Os sonhos em egípcio resut, rswt, eram assim considerados como mensagens dos deuses, quer no plano dos importantes “sonhos históricos “, quer no dos “sonhos quotidianos “, fornecendo indicações e pistas, mais ou menos concretas ou veladas , supostamente de maneira correcta e utilitária.

Frequentemente o sonho revela-se sob uma forma mais ou menos misteriosa ou simbólica, anunciando o futuro segundo processos menos claros . Escapando à vontade e à responsabilidade do sujeito (o que lhe causa o chamado drama omnírico), as manifestações omníricas são símbolos de uma aventura individual, talvez a mais secreta, profunda e impúdica. Daí que as chaves dos sonhos, elaboradas com o objectivo de recensearem alguns tipos de sonhos e de esclarecerem a sua interpretação e consequente integração na escala de valores que clarificam o conteúdo das mensagens divinas e que apaziguasse o drama que assalta o indivíduo. As chaves dos sonhos eram utilizadas quando era preciso determinar o sentido concreto, exacto, de determinada visão, e a sua “ciência “ ou interpretação –descodificação estava reservada aos especialistas.

Os mágicos e sábios tinham como tarefa explicar os sonhos e deles deduzir predilecções seguras do futuro. Estes escribas da Casa da Vida ou sacerdotes leitores , eram aqueles que carregavam o rolo –subentendendo-se:”contendo as fórmulas do ritual “), escribas sagrados, eram experts em magia e tinham grande reputação como interpretes de sonhos.

A par dos oráculos, os sonhos constituíam um processo excepcional de as deidades se manifestarem ao faraó e de lhe indicarem o correcto procedimento a empreender no futuro, de forma a garantir o seu permanente auxílio. A mensagem política ou histórica transmitida num sonho impelia geralmente um soberano a agir, podendo todavia variar de conteúdo: Amon prometeu a vitória numa batalha a AmenohotepIII e Phath a Merenptah, Harmakhis fez saber ao futuro Tutmes IV que caso livrasse a esfinge de Giza, uma das hipostases da areia que a cobria, seria escolhido para ocupar o trono do Egipto, e a scobras Uraeus revalram a Tanutamon há, porém, uma diferença significativa: no caso do faráo da XVIII dinastia a mensagem do sonho é claramente enunciada, ao passo que o rei etíope necessitou de uma decifração –descodificação para entender o seu verdadeiro alcance.

Dessa calendarização de um verdadeiro alcance podemos então identificar os dias que são dispostos em quatro estações ou consagrados a diversos deuses , o 1º dia do ano era sempre considerado favorável e que era identificado ao rio Nilo , o segundo era muito favorável , depois haviam aqueles dias em que nada era definitivo e por aí adiante até surgir alguma figura nefasta como deuses como Seth , no 14 º dia havia uma interpretação dúbia onde cada um devia “puxar a brasa à sua sardinha “, o 23 ª dia era um dia de sofrimento de Ré ,era aconselhado a não sair de casa , o último dia (26 desta 1 ª estação ) era odia de combate entre Seth e Osíris aconselhavam-se as pessoas a não fazerem nada.

No segundo mês da estação de Aket iniciava-se favirável até este se apresentar conflituoso e daí haver a profecia de que se podia morrer no dia da disputa de Osíris e de Onufri .
Para além de se dar conselhos de que não se deviam fazer nada o que esses dias nefastos decorriam com frequência, haviam ainda considerações das quais haviam dias específicos que ditavam as refeições : não comer peixe por exemplo, não copular ou ainda não roubar papiros em dias determinados.

Cabe ainda salientarmos a famosa tábua que continha não só a famosa chave dos sonhos de Tebas (Deir – el – Medina ) datada do final da XVIII dinastia conservado como uma um objecto idêntico ao calendário no Museu do Cairo . Conforme dissemos anteriormente ele contém o dia, o mês , a data , indicando ainda o presságio indicando não só o mês consagrado a um deus ou deusa (Thot- deus da escrita , é bom. As instruções são em todo idênticas quanto ao dia referindo-se então às deusas consagradas ao lar que era hora de homem enlutado , quanto ao mês consagrado a Sobeck , o crocodilo sagrado filho da deusa Neith era determinado que esse mês seria um mês de inundação e de boas colheitas.

Por tudo isto este género de auxilio e de estudos são verdadeiras pérolas para quem se queira aventurar nestas lides da psicanálise egípcia onde a massa documental está ligada aos papiros e ostrakas . Esta comunidade de sacerdotes –leitores são na realidade um grupo dos quais estão sedentos de verdade. Este grupo compreende não só o escriba, o artista, como ainda o desenhador pictórico e um escultor. Mas todo este material deve-se em parte mais uma vez a uma escavação de 1928 em que Bernard Bruyére descobriu os túmulos TT II65.

Para nos centramos nestas duas realidades entre a literatura e a sua semelhança com os heróis da época e dos sonhos consideramos importante ir ao famoso Cemitério dos Livros Esquecidos . Poderíamos recordar então o escriba Quenkerpesh . Este funcionário distinguia-se dos restantes pelo seu status, não só era um homem instruído como até se interessava pela literatura. O verso do Papiro de Chester Beauty IIIé da sua autoria e é consagrado a Ramsés II. O poema chama-se O Poema de Pentam contém um episódio de interesse histórico compilando a poesia amorosa, o conto da disputa de Horus e Seth. A biblioteca ainda contém outras pérolas da literatura egípcia contendo uma lista dos reis da XVIII e XIX dinastias. Mas toda esta lista não só revela uma capacidade organizadora que desenvolve ainda papiros mágicos que seriam indispensáveis para esta pesquisa. Não deixa de ser curiosa a sua teoria sobre o terrível demónio Seqqed que é na realidade uma parte do sonho. Este bibliotecário interessava-se sobretudo pelo significado do sonho havendo na sua biblioteca retirados ainda escritos não só pela sua mão desde a época da Casa da Vida provavelmente um rolo do pairo do Livro dos Sonhos.

Este é um livro muito antigo que descreve como se deve proteger do próprio sonho , do seu próprio pensamento e escrito como um augúrio “Tem uma boa noite “ contendo ainda a imagem do protector Bes armado com uma lança e uma serpente.

Como podemos verificar este género de documentos pode aplicar-se ao estudo dos sonhos. Com cerca de 1500 anos o famoso livro dos sonhos contém duas colunas onde nos informa os sonhos de natureza cativa e os bons designado ainda as suas profecias. A coluna que acompanha este género de textos indicam as suas características.

O esquema é representado por uma rubrica uma indicação se o sonho é cativo e do sonho, depois descrevem-se aspectos ligados ao título e à secção parcialmente conservada na segunda parte do papiro. As hipóteses apresentadas concentram-se no inicio do sonho seguido de Horus. Esta representação determina a genealogia sagrada da hierarquia dos deuses egípcios. Hórus é uma divindade positiva é o falcão celeste que vê Osíris representante real e da natureza celeste.

Este homem que estudou os sonhos procedeu na sua essência Freud. Na essência desse livro dos sonhos podia-se prever em parte alguns acontecimentos e dar-nos um retrato psicológico daqueles que procuravam saber as características deste e de outros acervos bibliográficos.
A categoria dos sonhos dá-nos então quais os frutos, produtos e alimentos a serem comidos, que tipo de profissões devem ser sonhadas ou ainda por norma que tempo irá fazer no dia seguinte, porque sem dúvida este povo tal como hoje dependia das condições climatéricas para proporcionar as maravilhas e as garantias dos sonhos que ainda hoje provocam em cada um de nós. Por isso mesmo sonhar traça não só uma identidade de um povo, olhá-lo como heróis diante das histórias estudadas aqui ou não de que sonhos se devia ter e das pessoas que seguiram os sonhos como seus objectos de sonhos para que nunca mais fossem esquecidos e não se perdessem no Cemitério dos Livros Esquecidos.

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