fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

terça-feira, agosto 21, 2012

As meninas da Síntese

Capítulo  Primeiro 

Carlota  Joaquina devia de ter uns vinte e oito anos  apesar de  ter ainda uma cara de menina. A sua mãe dedicara aquele  nome à mulher de D. João VI , haviam sobretudo  duas coisas  que ela havia herdado daquele  nome que a mãe  homenageara. Era espanhola e fervia em pouca água, embora isso não lhe a deixasse de ter pensamentos lógicos e de debater outros assuntos  para além da sua área de especialização: hititologia. Licenciada em Relações  Internacionais vira nos diplomáticos e na  figura de Hatulis  III a forma de resolver a famosa  questão da  batalha de Kadesh, mas Carlota  Joaquina queria enveredar por outro campo e tinha  provas para provar  que a primeira guerra mundial se dera pura e simplemente  por um único objectivo: uma placa de argila mudara a história  do século  XX . As duas potências  mundiais  dos finais  do século XIX  em busca de armamento: a Inglaterra e a Alemanha. Tudo isso  dera por uma descoberta  nos planaltos da Anatólia  Hitita a actual Turquia  que um arquéologo alemão descobrira . A primeira  guerra mundial não tinha nada a haver com o assassinato do arquiduque Ferdinand. Não! Nada disso!A primeira  guerra mundial dera-se sobretudo  por um texto muito semelhante  à da Lenda de Zalpa .Essa lenda contava a história de uma  rainha que dera à luz cerca de trinta meninos e meninas  num cesto de estrume deitando lá dentro. Esta lenda coincidia com a sua tese de doutoramento em História e Cultura e Pré Clássica e privilegiava não só a arqueologia bem como a hegemonia alemã e inglesa a partir de 1898.Carlota  tinha provas da época que haviam encontrado e lhe tinham sido vendidas numa loja em Amesterdão. Tudo isso lhe dava motivação  para continuar com aquele projecto. O texto que ela tinha em mãos falava de um cesto que fazia crescer pessoas  através de um cesto de verga tal e qual a lenda de Zalpa .Continuava à procura do texto original  e fazia questão de provar aos seus professores e colegas de que aquele texto era credível e queria provar a sua veracidade nas provas públicas de doutoramento.Tinha o texto na fotografia, mas isso  não provava nada? Sabia  bem que aquele projecto demoraria anos, meses ou talvez séculos até o seu trabalho ficar pronto. Será que alguém aguentaria a sua maneira de ser após a sua tese de doutoramento? Carlota quisera ser uma escritora de romances policiais sem grande resultado, apenas fora dar corpo a um grupo  de jovens investigadores de história de antiguidade oriental nomeadamente a hititologia .Carlota acreditava que aquele trabalho seria a fórmula de de reencontrar o desencanto perdido e acabaria por revelá-lo à maioria dos seus colegas. Voltava a olhar o livro que tinha entre mãos.O tempo que aquele pedido lhe trouxera fortes emoções e desvarios na sua grande imaginação. Fizera o pedido e lá vinha ele. O seu bem amado livro! Estava  naquele momento a bisbilhotar as palavras, as fotos quando sentiu uma mão a tocar-lhe  nas costas. Mil e um pensamentos surgiram naquela cabeça. Quem seria que a estaria a tocar? Ela virou-se e ficou deslumbrada com o que viu. Um jovem de cabelos compridos de barbicha, vestia uma roupa desportiva. Os seus olhos azuis contrastavam com os seus longos cabelos pretos. O seu sotaque francês  fez-lhe recordar alguèm que conhecera à relativamente pouco tempo. Poirot?
Poirot como o detective. Dizia-se bisneto do detective belga,um dos mais famosos detectives do mundo se não o mais famoso. Poirot, o jovem dizia que os historiadores eram também autênticos policias na arte investigar, por isso se decidira por escolher aquela área a hititologia .Ele era o seu co-orientador de doutoramento. Da Universidade de Louvaina a Nova.
- Não há dúvida que estimula a minha curiosidade, disse o bisneto de Poirot. Escreva  a sua tese. Vai ver que não se vai arrepender.
Carlota  estava encantada  com ele. Tinha a sensação de o ter encontrado  algures mas não sabia onde. A jovem historiadora tinha uma beleza estonteante  e percebia que que o jovem investigador  francês se metera com ela  com esse propósito nem se quer  se dera conta de  que o senhor do tempo os anestesiara. Ela lembrava-se de que brincara em pequena com alguém com um sotaque francês,inglês e português .Uma mistura explosiva para alguém com um  génio muito próprio para firmar as suas ideias. Olhararam o céu juntos e ele queria mostrar-lhe aquele céu de algodão. Pois era. Era ele .Há muitos anos atrás vivera em Louvaina .O seu pai era embaixador na Bélgica e daí vinham as memórias.O jovem investigador irritara-se da forma como aquela jovem abordava os temas em geral.Carlota abordava-os com uma arrogância e a certeza da forma como os seus professores a olhavam. Carlota era uma alma perdida no meio  do caminho, não encontrara as restantes ovelhas do rebanho  da luta onde cada um lutava para sobreviver.Carlota olhou-o fascinada,sem compreender que aquele é que era o seu orientador de doutoramento. Apesar da irritação que aquela jovem lhe trazia, nos seus quase cinquenta anos que apesar de estar  bem conservado. Poirot fazia desporto, fazia concessões em determinados tipos de comida. O desporto era uma forma de deitar todas as frustações  na área que abraçara em pequeno.Também olhava para Carlota  como uma jovem que o fizera lembrar a sua adolescência .Olhara para a história como uma musa inspiradora e vira naquela expedição em que vira partes de textos escritos em acádico e numa outra  tradução em hieroglífico hitita falava  do futuro da humanidade em  que haveria a capacidade dos seres humanos produzirem fotossínese. No entanto Poirot, o jovem. Tinha uma outra faceta. Também estava em Portugal para dar aulas na “Escola do Humor “ ,uma espécie de escola para artistas de circo. Poirot, intitulava-se como Poirot, Pierrot. Dava aulas na escola do Circo onde afiramava que o humor era uma das artes mais  nobres artes , não só como forma de escape  e que daí canalizava uma outra forma de escape desde que lera alguns anos atrás “O Caminho para marte “ de Eric Idle  (um dos membros  dos Monthy Piton). Nesse livro de humor e ficção  científica que ele dava como bíblia  nas suas aulas indicava alguns aspectos  da obra onde a personagem  principal  que era  um robot  que fazia  stand-up fazia  uma tese de doutoramento  sobre o humor. Para além  da sua pesquisa  sobre a investigação histórica sobre textos  filosóficos sobre a luz e a capacidade de produzir fotossíntese, Poirot  estudava  textos  onde o humor imperava  na antiga  Anatólia Hitita. O historiador belga convidara Carlota a ir à escola onde dava aulas de humor. Aí ele dava uma formação sobre o humor na história e dava outras formas de chamar a atenção aos seus alunos. O papel importante das faces teatrais, de que alguns actores não precisavam de falar ,os casos mais paradigmáticos que ele dava como exemplo  era não só  o de Charles Chaplin, bem  como alguns filmes como Jerry Lewis. Outros actores eram abordados, bem como as formas de fazer humor e as suas características em diversas culturas antigas.Foi através de um beijo que Poirot deu a Carlota que selou como um pacto.Iria mudar as suas vidas, e pelo menos Carlota esquecer-se-ia de ser escritora de romances policiais por umas horas.