fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

quarta-feira, novembro 19, 2014


Uma viagem à volta do  Oriente  no  percurso fantástico queirosiano entre o Mefistófeles lusitano nas  viagens entre o Egipto e a  China 


Edward Said afirmou que o Oriente era uma  invenção do Ocidente . Foi desta forma  que optamos também estudar como é que os  escritores olharam para o Império nos seus romances de ficção . Esse foi um dos aspectos que nos levou a seguir a  viagem para Oriente lavada a cabo por dois  escritores portugueses : Camilo Pessanha e  Eça de Queirós . Ao mesmo tempo fomos reencontro personagens ou caminhos deixados nos seus escritose na essência do espírito  da época . Por ser um tempo pouco explorado como tema de investigação partimos desde logo  para os romances de cariz orinetal como é o caso do Eça e seguinte outros parâmetros para o segundo caso . Quais são as  fontes para o estudo “? Romances , jornais , crónicas ou pura e simplesmente desvaneios de vaidade dos dois autores ? Ou uma simples moda de época e de espírito ?

Segundo a entrada  Mandarim no Dicionário Eça de Queirós  reponde muito bem à noss questão “ O Mandarim , novela  de carácter fantástico que eça escreveu durante umas férias em Angers para o Diário de Portugal como compromisso que não pôde cumprir , o da entrega dos Maias  que se comprometera a publicar nesse mesmo periódico . Veio assim o Mndarimcompensar a faltado prometido (…)[1]” Ao que parece esta obra surege não só pela via da scircunstâncias deum contracto , mas também uma espeçie de 

A esse caso decidimos explorar Dicionários de Literatura , Dicionários do Eça[2] , para o caso da Relíquia seguimos as análises de Luís Manuel Araújo[3] . Autor incontornável para quem decida   estudar  a viagem de Eça pelo Egipto.O que não faltam são estudos sobre esta viagem e sobre o orientalismo de Eça no Egipto , quer em Portugal , quer no Brasil já encontrem estudos dentro desta temática orientalizante . Ao mesmo tempo que não existem estudos sobre o Mandarim do Eça .O nosso  interesse por estas duas obras demarcam não só pelo tom satírico,  mas ao mesmo tempo uma crítica acentuada contra a Igreja e ao memso tempo um abandono a tudo aquilo  que Eça  fizera durante muito tempo descrever a realidadeportuguesa Tal como Maria Filomena Mónica anuncia explica desde já a nossa convicção em seguir esta demanda pelo mafarrico queiroziano “À menor oportunidade o artista desartava da realidade : <  aparecem fantasmas e em que podemos encontrarao canto da página o Diabo, esse terror delicioso da nossa infância católica .>>Eça vinga-se das horas passadas  com o conselheiro Acácio(…)[4]

  Embora Eça o demonstre na história de Teodorico Raposo ( Relíquia ) , na seguinte,  já demonstra uma  clara mudança de estilo,  ou mesmo,  o percursor de um outro género literário ou mesmo até antecipar o estilo  a que os escritores latino – americanos,  narram uma realidade para lá do tempo inexistente ou quem sabe até surreal , independente desse movimento claro que rompe  com todas as convenções Eça inscreve-se como o Tomas Mann português criando um Fausto lusitano [5]. Aos amantes do Oriente e oriundos de outros ambientes decidimos seguir talvez um Demónio Queiroziano. Sendo ele  um viajante invulgar, impulsionador de desejos , ordens e cobrador de almas . O Diabo é desta forma nosso mais ilustre guia que nos fez seguir pelos  quatro cantos do mundo para procurar a famosa campainha e o famoso Mandarim . Alguns autores afirmam que Eça não terá visitado Macau , apenas leu algumas obras  e que a partir delas descreveu lugares e situações . Será então “O Mandarim “um romance de viagens ou uma comédia ?

Antes de iniciarmos esta viagem  queríamos agradecer a um grupo de pessoas  que durante o período  da nossa investigação nos apoiou , não só em leituras e conversas   que tiveram um efeito produtivo para a sua viagem : à Helena Correia , leitura ávida , crítica e amiga , ao Nuno Lopes  sempre diponível e que pode de uma certa forma ouvir com enorme paciência as minhas angústias e conseguir este manuscrito,a querida  Adriana Lisboa que durante estes três últimos  anos temos conversado sobre atemática do oriente e da literatura de viagens , cuja amizade nasceu a partir  do seu livro Rakushisha  e que mais uma vez se mostrou pretável  nos indicou o livro Poética da Geografia, , deu-nos pistas para os alicerces da história da vaigem como um escritor sabe tão bem definir, à  nossa amiga Neusa que estando de longe nos dava força para continuar continuarmos e como os últimos são sempre os primeiros não nos poderíamos  esquecer do nosso  professor Paulo Jorge Fernandes que logo no início do primeiro semestre nos fez seguir uma viagem ao Oriente .


Partida


O nosso interesse pela literatua e a sua temática pelo império levou-nos a traçar  o percurso da literatura da viagens feitas pelos escritores por escritores portugueses que fossem em viagens ou que pelo menos ali estivessem num determinado posto diplomático . A nossa atenção centrou-se logo por dois autores portugueses . Eça de Queirós e Camilo Pessanha . Como é que se poscionam ou olham para esses luagres exóticos ? Ou na melhor das hipóteses poderiam ter estado mesmo nesses locais que referem nas suas obras de ficção , escritas na época para os jornais como forma de fazer vender e atirá-los para a fama . Mas não era o caso dos nossos biografados , pelo menos de Eça . O mais curioso é que um autor detentor d eum ponto de vista muito próprio arguto , se não sarcástico acabou por sair da linha realista  como nos habitou em romances como os Maias , o Primo Basílio e até mesmo o Crime do Padre Amaro.Os  investigadores também se centraram nesse aspecto e apontaram pelo menos Eça leitor hávido de autores clássicos, católicos e ao mesmo tempo moralistas . Mas o que é que faz um autor como Eça mudar o seu estilo de escrita ? Porque entra ele dentro do estilo do fantástico ? Será uma mudança de pensamento ? Ou seria fruto das circunstâncias ? Ou já haveriam géneros  que iriam cair no gosto dos seus leitores ? Vejamos que as duas obras  que iremos analisar em breve , traçam estilos moralizantes , sátiras ,mas ao mesmo tempo que saiem fora do género  a que Eça nos habitou .Como é que pode ser visto o diabo que pactua com Teodoro de Eça no Mandarim ?  Qual será a virtude de Teodorico Raposo ? Serão Teodoro e Teodorico Raposo uma transposição da personagem como uma forma de dar continuidade ao ciclo sátira ?

Imbuídos com a égide do pós colonialismo de estudos  do Orientalismo de Edward Said [6], ou mesmo até uma  GeografiaPoética da Viagem que nos alertam para  a procura de um género nascido pelos antigos pastores bíblicos expulsos do paraíso[7] . Mas viajar é muito mais do  que isso , viajar é penetrar dentro de outro universo  que faz com que os seus leitores penetrem num universo mágico . Será então Eça de Queirós o percursor de  Realismo Mágico ? Onde seres sobrenaturais entram na vida de uma pessoa  e convivem  com ela ,   e que as suas próprias viagens sejam elas estados de alma ou penetrem dentro da nossa essência, noutros séculos . Seria esse o propósito de Eça ou quereria ele parodiar um determinado tema usando o género de literatuar deviagens ? Já outros autores comparam o ínicio da Relíquia como a introdução da obra de Garret ?

Para iniciarmos esta nossa viagem ou história deveremos estar preprarados para viajar . Afinal o que é viajar ? Será então esse o tema de viagem que Eça quer dar aos seus leitores ?

Para  confirmarmos esta teoria socorremos na opinião queirosiana   Elena Losada  Soler : “A antiga imagem do “homem viator “ que maior viagem que a própria vida ! Sobrepõem-no no Romantismo outras características . Entre elas , a e que a viagem deve ser solitária para ser mais amplamente iniciática . De facto , quando viajam,os , mesmo acompanhados estamos sós , porque as emoções e a simpressões suscitadas pela viagem são individuais e apenas minimamente transmítiveis [8]. Viajar é aprender e o viajante volta diferente a si próprio,como afirma Eduardo Subirts :“La experiencia  del viagecoincide de la pérdida de la identidad . (…) [9]


O viajante moderno – não o turista , que é outra espécie , é o errático navegador (porque a viagen romântica é por mar ) em busca de uma Ítaca inexistente . No fim do século XIX  essa viagem romântica ressurge nos  simbolistas e decadentistas quase com a mesma filosofia , mas com o itenerário levemente alterado .

 Que “bagagem literária” para um Oriente Queirosiano ?


Que bagagem literária levava  Eça para a sua  grande viagem ? Fontes , é claro francesas . Entre outras possíveis a Constantinople de Théphile Gautier (1855) e talvez  também o roman Le roman de la momie ; o Voyage en Orient de Gérard de Nerval (1851, a viagem foi feita em 1843 )  e  Le Nil , Égypte et Nubie de Maxime du camp (1854) crónica de viagem que fez com Gustav Flaubert entre 1849-1851 .


Como afirma Michel Orfay em Teoria da Viagem toda a viagem inicia-se geralmente numa biblioteca[10] ,  numa agência de viagens ou pura e simplesmente em revistas de viagens . Mas em pleno século XIX  que meios teriam se não os autores que quisessem escrever ou visitar um país distante, exótico e  conhecido , não fora por acaso que este seu livro”O Mandarim “ apresentado ainda em vida sem o seu conhecimento , Oliveira

Martins envia uma cópia do Mandarim para uma revista francesa  onde costumava celebrar , a Revue Universelle Internacionalle , de Paris . Na nota apresentada  no livro de Maria Filomena Mónica esta  tradução francesa não foi famosa , pois foi redigida uma tradução tão má , que na maior parte dos casos os franceses e estrangeiros preferiam pagar do seu próprio bolso as traduções a preços astronómicos.  [11]


Animação turística  satânica ?

Como temos  visto não foi fácil de qualquer forma seguir a famosa campainha e a sua posição estratégica . Como impulsionar a sua vontade a um homem que apenas desejaria ficar com o dinheiro daquele  que morrera ? Não , Teodoro não queria apenas isso ele queria ir aoutros locais , estar diante de um  estilo de vida que nunca tivera . Portanto qual será então a melhor forma de começar por desejar a morte de alguém s enão por um folheto ? E é aqui que começa a nossa viagem …. A partir da Feira da Ladra , apartir do desejo de uma outra  transformação pessoal.

Estando o lisboeta  Teodoro a ler uma obra  que comprara na feira da Ladra , toma conhecimento de que , no fundo da China , existia um mandarim «mais rico que todos os reis de que a fábula ou a História contam », cuja fortuna poderia ser sua , caso ele tocasse uma camapinha aparecia , enquanto uma «voz insinuante e metálica », a do Diabo, convidando a usá-la .Teodoro gostava de se rico, ma s, também apreciava a rotina da vida pequeno-burguesa , a escolha não era simples : «a vida humilde tem doçuras : é grato , numa manhã de sol alegre, com o guradnapo ao pescoço , diante do bife da grelha , desdobrar o Diário de Notícias; pelas tardes de Verão , nos bancos gratuitos do passeio, gozam-se a ssuavidades do ídilio ; é saboroso , à noite no Martinho , sorvendo aos golos um café, ouvir os verbosos injuriar a pátria (…)»Mas a expectativa do pecúlio acabou por o vencer. Todos os hóspedes ouviram o tinido da campainha . Nas estepes chinesas , Ti-Chin-Fu morria .

E vos quereis também ouvir o tinir da campainha para nos seguirdes ? Poderia nos questionar o próprio Diabo Queiroziano . Impulsionador de desejos , cobrador de almas , este Diabo é quase tão mordaz e irónico .Satanás é desta forma o nosso guia que nos levará à ascenção e queda de Teodoro , quase numa posição de remissão e culpa  vista na literatura cristã . Será este o propósito ? Ou será para criticar os costumes daquele mandarim que sucumbiu ao dar um suspiro a milhares de quilómetros de Lisboa ?


[1] Cf A. Campos matos “O Mandarim “in Dicionário  Eça de Queirós  . A . Campos Matos , ed. Caminho , 1998 ,

2 Cf Dicionário de Eça de Queirós , ed . Caminho ,1998 , Lisboa , A . Campos Matos (coord de)  sobretudo as entradas Mandarim , a Relíquia e polémicas sobre a questão do império.

3 Cf Luís Manuel Araújo , Eça de Queirós e o Egipto faraónico , ed. Comunicação , 1987

4Cf Maria Filomena Mónica , Eça de Queirós , Quetzal editores , 1 A ed., 2001, p.175

5 Cf Eduard said , Orientalismo , ed. Cotovia 

6Cf Michel Ofray , Teoria da  viagem , ed . Quetzal , 2009 ,, p.26

7Cf Elena Losada Soler “Touristes e viajantes : Teodorico Raposo e Fradique Mendes no Oriente “in VII Cursos Internacionais de Cascais – Serões Queirosianos , p.107

8Cf Rduardo Subirats : Figuras  d ela consciencia desdichada , Madrid , 1979 , p.77

9Cf  Michel Ofray , op.cit , p.26

10 Cf Maria Filomena Mónica , op.cit , p174



 
[6] Cf Eduard said , Orientalismo , ed. Cotovia 
[7] Cf Michel Ofray , Teoria da  viagem , ed . Quetzal , 2009 ,, p.26