fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

segunda-feira, abril 19, 2010

A Vingança de Job (Projecto sherazade )

Continuação do folhetim a vingança de Job. Continuamos à espera de intervenções... Obrigada pela compreensão


3: A Chegada


Quando um de nós tem uma ideia por mais pequena que seja de uma desgraça sorrimos, mas temos a tendência para esconder essa faceta menos nobre porque a sociedade a considera abominável.Os ardis que propomos montar às vítimas que optamos tratam-se de seres desgraçados,uns farrapos aos quais não há o mero interesse de lhe tirar o tapete.Eu integro-me nessa categoria,fui um homem que tive o mundo inteiro aos pés mas acabei por perder tudo.A Bíblia conta a minha história.Podem procurar ou chegar a uma igreja e ouvir uma lenga –lenga e que eu sou aquele que aguenta tudo. Meus caros senhores eu não sirvo de exemplo para ninguém, nem essa “tiazinha –intelectual“ a que Santanás e Deus se propuseram desferir o golpe fatal. Eu tenho pena da vida dela daqui para o futuro. O que lhe poderá acontecer se o Demónio e Deus se lembrarem de jogar ao azar com ela. Tenho-lhes ódio!Por isso vou fazer com que essa felicidade momentânea seja reduzida a cacos, como uma autêntica descoberta arquéológica seja colada aos bocadinhos com uma enorme paciência laboratorial.
Assim acabo por ter uma enorme ternura por esta mulher que passa horas de volta dos livros,lendo documentos,reescrevendo o texto que tem em mãos para entregar ao orientador, reconheço assim a sua enorme vontade em descobrir a sua identidade como se estivesse em volta em pó prestes a ser limpa dando-se afinal de contas pequenos pormenores que até então esses arquéologos se dariam conta de uma descoberta bombástica.

Lembro-me de Sancha em pequena.Sempre atenta,sempre pronta a superar-se numa família onde 25 de Abril era assunto morto e enterrado,apenas lhe fora entregue o gosto da cartilha maternal. Ela acabaria por ser conhecida como“fascizóide “.Apesar dessa cicatriz educacional Sancha sempre foi boa aluna, porque quiz esquecer quem era a sua família apesar de ter registado ao mais ínfimo pormenor tudo aquilo que lhe era dito.Ela era uma sombra na família tal como o rei que se havia de perder por amores Sancha nunca iria singrar na vida.
Sancha testou-se a si mesma para conhecer os buracos negros que haviam dentro de si para encontrar a liberdade de pensamento que nunca tivera desde criança. Martim era a faísca que a acendia,era a página arrancada do diário secreto dos seus pensamentos ,com ele tudo fazia sentido!
O seu ar aparente de dandy retirado de uma revista masculina de moda.Sancha olhava provocatoriamente para aquele homem mirando-o de alto a baixo centrando-se a partir da zona das calças de sarja com bolsos através de olhares libidinosos ao qual a sua família morreria de vergonha.

Sancha a “Povoadora “ desejava ter o seu espaço próprio e esquecer a ideia de monarquia que lhe haviam incutido desde miúda. Tudo isso estava a mudar porque Sancha estava prestes a ter uma mudança de trezentos e cinquenta graus.

Assim que vi pela primeira vez o seu rosto acabei por me apaixonar por ela, porque ela me recordava tudo aquilo que eu fora um dia .Rico,respeitado,casado e com filhos.

Porém tudo isso mudou a partir de uma única aposta de duas “pessoas “ que se detestavam e gostavam de jogar com a vida dos seres humanos, talvez porque nunca tivessem tido necessidade de fazer psicanálise,por isso não tinham capacidade de olhar para dentro de si.
Eu sou a prova disso, sou uma espécie de cobaia dessa desgraça,aquele que nasceu um dia, morreu e pereceu.

Quero preparar a vingança ao reconstruir a vida de Sancha, a partir da morte do homem que a fazia viver. Era sem dúvida um cruel destino,tirar-lhe a ideia paterna dentro dela.Mas vocês perguntar-me-ão: Masvocê não terá vida?

Todos me conhecem como aquele que se resignou perante as situações,sempre temente a Deus e agora estou a ver a mesma história a repetir-se.Tenho que fazer alguma coisa.
Vejo Martim chegar. Está morto.Entontecido,sem saber o que fazer, posto à prova , são lhe dadas várias senhas para que adquira um curso para novas competências, isto resume-se ao universo da morte. Esses cursos têm início a partir do momento em que eles se dão conta de que já partiram do outro mundo para este,onde eles crêem que não há outra vida para além daquela que tiveram.
Esses cursos de formação tem por norma aprender-se a ser morto e o que fazer quando os defundos vêm as suas campas.
As questões que lhes fazem são as seguintes:
“Você não consegue adaptar-se a esta nova fase? Acredita que pode viver mais mil anos? Onde? E em que corpo?

Para lhes dar essas respostas existem formadores tão famosos que vocês não iriam acreditar!Agatha Christie, Sherolk Holmes,Freud, Young a quem Deus e o Diabo repetiram programas ao mesmo tempo sem que estes tivessem tempo para os fazer,tudo era feito encima do joelho.Mas isso não vou descrever aqui.Resta imaginar. Até breve.

4: Decisões

A alteração do comportamento de uma pessoa leva a situações verdadeiramente inesperadas, e é isso que Deus e o Demónio esperam da nossa menina.Tida como muma das mais acérrimas investigadoras sobre a personalidade de D. Sancho I,a jovem historiadora percorre a capela onde este monarca está sepultado em Santa Cruz de Coimbra junto com o seu pai.

Talvez Deus concebesse essa a primeira forma de vida daquela princesa que depois de perder tudo, pensaria nos atalhos que teria que usar para recuperar a anterior vida.
Sancha era uma mulher a que a imaginação não tinha regras e que desde muito cedo se deu conta que o passado tão longíquo lhe dera essa funcionalidade.Deus era também um escritor maldito que inventava personagens aconselhando-se com o Demónio sobre o destino das suas vidas.Personagens inocentes, já não tinham muito a dizer às pessoas, elas apenas queriam alguém que lhes dissesse alguma coisa, e talvez por isso o sofrimento tão importante para os gregos conseguisse ter alguma importância aos mortais.

Deus inventara histórias desde o ínicio dos tempos e aquele acto que todos achavam que Deus protegera Adão e Eva não fora um erro já que deixara ficar lá de propósito uma serpente para levar Eva a pecar.

O inesperado dizia o Demónio é aquilo que o leitor conta ao descobrir a fórmula da angústia que o leve para junto de si. Desde muito cedo que Deus e o Diabo se juntaram para criar uma mulher que era uma sombra daquilo que todos esperavam.

Sancha seria a nova obra literária que havia de ser estudada pelos téologos, historiadores de literatura, como também pelos especialistas que aquela personagem que haveria de ser o modelo perfeito de mulher contemporânea,muito embora discordasse do Demónio, Deus achava que a acção e a química que existia entre Sancha e Martim eram fundamentais para arrebatar os leitores e lhe dar um paladar diferente. Uma história de amor tem que ter uma certa contradição, e porquê não as ideias políticas tão actuais de forma a que a aparência traga um condimento especial à história de um homem e de uma mulher que se amavam mas não se podiam ver um sem o outro .Deus e o Demónio estavam fartos da tragédia de Job ser declamada em poemas, em teses e discursos de teólogos para as igrejas de diferentes confissões religiosas e para isso haveriam de trazer a lume uma nova personagem.
A morte de alguém é o tiro certeiro para a reflexão da nossa vida,testar a nossa curiosidade sobre aqueles que nos rodeiam e sobre as acções que tomamos no dia a dia .Deus e o Demónio estavam certos que aquela personagem tida como a típica “cara metade “ iria morrer dar-lhes-ia esperança de que Sancha iria cruzar os braços e desistir.Viam-na à beira mar pensativa.
- Matar-se-á? –perguntavam um ao outro na espectativa.
A nossa obra ainda não terminou. Será a nossa obra prima. Mal sabiam eles que Job transformarmá-la-ia num modelo diferente que eles sonhavam.

Sancha já não era o modelo perfeito que tudo aceitava da sua família.Aquela menina que bebera as palavras dos seus progenitores.Agora as coisas mudavam ela estava a por tudo em causa.
- A educação, dizia o Demónio. Nada melhor que aquilo nos é transmitido em pequenos para dar continuidade à obra dos nossos pais para transmitirmos aos outros e assim sucessivamente.O vampirismo energético de cada pessoa flui à nossa volta sem darmos conta disso. Não quero parecer pretencioso, mas a nossa “menina “ vai ter que ser arrancada das suas origens como uma flor que não quer ser arrancada do primeiro habitat.
Palavras tão poéticas de um ser que se dizia maldoso.O anjo Satã,perfeito para a discórdia trouxera para a literatura a inveja como elo de ligação como uma das mais belas obras da literatura “O Paraíso Perdido“ de Milton.
Agora havia que transformar o útil no agradável ao transformar Martim num rei medieval despojá-lo do seu pensamento contemporâneo dando-lhe uma nova cor dos acontecimentos e fazer com que ele se encontrasse com a historiadora e desse uma nova transformação na história que estavam a imaginar.O encontro do rei feito Martim e a sua historiadora . O encontro dos dois na praia. O mais engraçado é que a alma de Martim estava a aprender neste universo a ser morto e aceitar a sua nova condição, enfrentar este novo período era tudo o que lhe era dad.As histórias não estão nas palavras, mas sim nas acções.

A cada momento que se decidia aquilo que iriam inventar sobre as suas novas personagens Job estava certo que queria mudar tudo e encarregar-se da verdadeira confusão, mas como ele estivera milhares de anos sujeito à mais completa desolação e falta de amor.
Job não se lembrava nada sobre a sua vida anterior,nem como poderia estar certo dessa mudança.Pudera! Job era formador trágico. Antes Naram-Sim aparecera e ele dera-lhe a volta transformara-o num DJ de uma discoteca no além .
Nessa discoteca os mortos esperavam a sua vez de entrar para esse universo, ali experimentavam néctares de pura ilusão.
A ilusão é o mais puro acto de certeza e de vontade de trazer a perfeição que irradiamos aos outros , mas tudo é falso porque
essa forma nos constrói uma barreira ao universo dando-nos a capacidade negativa de transformar personagens trágicas em pessoas dinâmicas .
Antes teria sido Naram-Sim aquele porquem a vítima dos dois escritores lhe teriam dado um novo acontecimento, mas não havia qualquer ligação daquele homem com Sancha.

Naram-Sim era o exemplo típico de uma personagem trágica! Até saíra das páginas de uma tese de mestrado em História e Cultura Pré –Clássica de Maria Lina Ferreira da Paz “A sombra dos heróis “. Job deu-lhe uma forma de encontrar aquele que teria a sua cara e o seu corpo,havia de ser um homem do século xx cruzar-se com um rei transformado em deus.
Martim e Naram – Sim cruzaram-se na discoteca “Vigário “. Ali estava no meio daquela confusão de almas.
Cristo fora o primeiro comunista da história da humanidade e isso estava nas escrituras, pouco a pouco Naram-sim aproximou-se daquele jovem que chegara ali e estava tonto. Tudo era idêntico à vida que tivera !
O charro que o deus feito DJ lhe ofercera dera-lhe o acordo em que os dois faziam sobre a lenda dos homens feitos personagens históricos criados a partir da imagem que lhe era dada.

A memória é a maior recompensa que temos que transmitir às gerações futuras . Martim olhava-o com curiosidade , enquanto comia com apetite um bolo que lhe fora oferecido por Lilit.
O nome do bolo era “ A curiosidade histórica mata os seus personagens “. Esse bolo tinha um sabor estranho uma vontade de enorme de percorrer distâncias de quilómetros de uma praia à procura da sua bem amada, enquanto via a cidade do homem que estava à sua frente desaparecer .
Essa era a resposta de Job à sua tragédia . A morte é uma das maiores formas de sermos recordados . Não ouvira aquilo enquanto fora vivo ?Até se rira dessa frase numa aula de português no nono ano .
-Como é que nos vamos recordar das coisas sejá falecemos? –perguntara ele num tom desafiador . Se esse era o momento de prova então porque estavam ali frente a frente ?As revoluções excitavam-no de tal forma que um dia obrigou Sancha vestir-se de Che-Guevara . Sabia que ela por dentro estava a irritar-se e a pronunciar ameaças como uma bruxa medieval . Talvez fosse por isso que as palavras de Naram-Sim e as recordações que o bolo lhe traziam à mente eram sem dúvida aquelas que ele tinha o maior fascínio a revolução .
A época revolucionária era um período que lhe trouxera desde miúdo uma enorme curiosidade , porque em casa nunca se falava disso . Martim tinha um enorme carinho pelas classes operárias e pelos oprimidos . Gostava de ir ao encontro das diferenças , eram essascontradições que o faziam aproximar-se de Sancha . Achava-lhe piada às opiniões que aquela rapariga dizia da boca para fora pois não era mais do que uma falta de identidade , pois ela ouvira aquelas ideias da sua família . Martim conhecera aquela “menina “ num debate da faculdade . Ele bloquista era conhecido como o tio “vermelho”. Um dia perguntaram-lhe como era possível ele preocupar-se ao mesmo tempo com a sua imagem e com as outras pessoas . Ele simplesmente respondeu : Oiçam a voz da nossa medievalista . Ela dar-lhes-á a mesma conclusão . As nossas crónicas estão cheias de promenores , Fernão Lopes é um exemplo disso . Mais tarde num intervalo da conferência fingiu enganar-se na casa de banho , porque queria falar-lhe . Queria dizer-lhe que ela era a fascizóide mais apetecível . “Quero meter o meu martelo dentro da tua faixa . “contou Martim.
Naram-Sim riu-se , parecia estar a ouvir uma daquelas cantigas de amor eróticas que os orientalistas analisam .
A desgraça é que nos uniu , disse o jovem historiador . A vontade de fazer uma revolução , ou melhor a partir de uma antiga vítima como Job é que me deu a hipótese de nos juntarmos aqui na discoteca e incitarmos as almas a uma revolução contra a opressão às decisões de Deus e do Demónio eles fazem aquilo que muito bem lhe apetece .Tal como ouvira muitas vezes dizer “A cantiga é uma arma “ Ouvia tantas vezes as músicas de Zeca Afonso e sentia um admirável fascínio por aquele homem. Porque é que o DJ e o historiador não se podiam juntar nessa tarefa árdua da libertação das almas oprimidas ?
Aquela seria a vingança de Job contra a dupla dinâmica Deus versus Diabo , enquanto se centravam nestas andanças Naram- Sim começava a ter uma enorme simpatia por aquele jovem revolucionário . Queria saber tudo sobre ele . Como morres-te ? Mataste-te ?
Se queres que te diga não sei , isso fica para a minha família . Eles irão erguer um epitáfio glorioso sobre a minha pessoa esquecendo todas as nossas desavenças levando à memória de todos um escrito extremamente poético mas ao mesmo tempo derradeiro sobre a reconstrução da pátria .
Era engraçado escapar-lhes para ir ajudar nas barracas da festa do Avante .
Naram-Sim olhou-o e disse-lhe :
- Tornas-te igual a eles mas no sentido inverso . A imagem histórica é sempre a do vencedor .
- Falas como um analista , aquilo que eu quis fazer era estar ao serviço do povo .
O velho monarca riu-se :
- Não , tu trabalhas-te foi para ti e para a tua amada por isso é que lutavas contra a tua família .
- Não percebo –disse Martim .
-Vocês jovens têm pouca experiência de análise , mas eu como já estou aqui à muito tempo analiso as pessoas quando elas chegam , quando vêm parar à discoteca e tu não és diferente . Tens escrito na tua testa de que necessitas de liberdade , mas não é essa liberdade que julgas ter pronunciado ou que tecionas fazer aqui . Não, é outra espécie de liberdade é desatares o nó de tudo aquilo que onde tinhas conforto e foi isso que eles , Deus e o Demónio pensaram nisso em ti . Como uma personagem grandiosa que irá libertar a sua amada das amarras da sombra para que foi projectada , por isso usaram-te para transformarem o teu corpo e o teu rosto noutra pessoa , num rei . Naquele a quem a tua amada procurava as suas origens . Sancho I . Pensaram usar-me primeiro dar-me a volta levar-me a ter um corpo e umas roupas de adolescentes e eis que tudo se transformou porque os trocadilhos de nomes são extremamente importantes para os escritores . É essa liberdade que deves aceitar . Mudar o conforto das ideias por uma verdadeira análise daquilo que os outros que estão à nossa volta . Eles é que são os verdadeiros libertadores da humanidade . O estilo da escrita é uma forma de libertar os medos que temos dentro de nós e expormos aquilo que julgamos ter . Pensa nisto , jovem . Pois é aqui que está a tua forma de te transformares. É esta a tua verdadeira liberdade .

5. A mudança

Os italianos têm um ditado famoso “ A vingança é um prato que se come frio “. E neste caso a grande mudança vai bastar apenas num único número ... do1 para o 2. Não que isto nada tenha a haver com uma diferença de números , mas de personalidade , enquanto Sancho I a que a nossa amiguinha está a estudar , a frequentar bibliotecas , congressos e tudo o mais eu decidi passar uma rasteira aos nossos escritores Deus e o Diabo . Se eu pegar na folha que eles têm e acrescentar mais um I . Não será nada mais nada menos do que II . Mas afinal qual é a diferença entre Sancho I e Sancho II ? Para o comum dos mortais acrescentou-se um dois . Isso dava um enorme risco num exame ou talvez uma autêntica gargalhada para o telespectador culto “ Valha-me Deus , não sabe nada de História !“
A questão desta mudança centra-se em dois reis portugueses . Da I dinastia mas que tiveram percursos diferentes , se um deles pode ter sido apagado pela figura do pai, mas era empreendedor , conhecido pelo cognome de “ O povoador “ . E o outro será que alguém o conhece ? Sancha costumava ter pesadelos com uma aluna que fazia confusão entre dois reis . Descrevia cada um deles na perfeição ,mas acabava po por os pés pelas mãos . Aqui começa uma nova história em que não é Martim no corpo de Sancho I , mas no de D. Sancho II sedento de vingança ao dar àquela menina o rosto da bem amada deste monarca. Se não conhecem a história eu conto-vos. Um rei que subiu ao trono aos 14 anos mas acaba por se apaixonar por uma princesa espanhola acaba por dar-lhe ao reino inteiro, tornando o país num autêntico caos. Se eles não repararem e olharem para o seu umbigo e não derem pela diferença de nomes chamarão a alma do rei e ele surgirá com um enorme desejo de vingança. Talvez não sabem pois não? Nem eu sabia quando dei pela diferença de nomes no Arquivo das Almas e dos Períodos de Tempo. Sancho II acabou por sair do país como um incompetente. Este é o princípio da minha vingança. Transformar um projecto de tragédia numa vingança. O que eles não sabem é que Sancha é na realidade a grande paixão de Sancho II e ele acabará por reconhecer a sua amada e tornar-lhe a vida num autêntico inferno .Quem é que consegue viver na eternidade sem ter vivido sem o sabor da vingança? Optei por me tornar investigador nos tempos livres e fazer da minha vingança o projecto inacabado de outras pessoas, por muito que se goste de uma pessoa e possa ficar um pouco deslumbrado , acredito que elas mereçam pagar por aquilo que fizeram. Dividir para reinar. Eis o lema do meu novo nome. Talvez os teólogos e os investigadores da literatura possam não saber disso . Mas a angústia, o ódio acaba por se tornar uma espécie de embrulho que nos persegue para o resto da vida, nada é pouco para aqueles que um dia nos tiraram a vida que tínhamos. Para quê? Testar a nossa fé? É esse o lema para entregar uma mensagem às pessoas? Mas as pessoas não são personagens da literatura perfeitas, humanas e talvez essas ainda estejam por aparecer. As pessoas inscrevem-se em cursos de astrologia para resolverem os seus problemas, ou por mera curiosidade quando no fundo não sabem resolver os seus nem ou o dos seus próprios filhos. Gostam muito de mandar na vida dos outros, sem nunca terem passado aquilo a que aquelas pessoas passaram. Genial. Dou um conselho a essas pessoas para que possam viver aquilo a que nós vivemos ,é ficarem caladinhas no seu canto porque sabemos que a Igreja Católica e todas as suas seitas não sabem mais dar resposta a alguns acontecimentos ou comportamentos, a determindas descobertas científicas. Acho injusto .Agora se me permitirem, vou dar azo aos meus planos. Vou mudar este lindo nome para outro dando uma dor de cabeça para Deus e Diabo. Eles acreditam conhecer a alma humana, de estarem em dois lados ao mesmo tempo, mas estão muito enganados. Até estou a escrever o nome desse monarca imbecil que tem um ar trágico como a maioria das pessoas que frequenta os cursos de auto–estima que eu implantei aqui neste lugar. Enquanto eles planeiam novas histórias e se divertem com os problemas dos seres humanos. Eu, Job, decido fazer da vingança um modo de vida. Como é que ela se conseguirá defender das tentativas de vingança do rei medieval? Job sorri com o seu plano. Plano esse que irá dar autênticas dores de cabeça a Deus e Diabo. Noutro lado, a saudade duma pessoa morta dá apertos do coração, uma enorme vontade de chorar e ver todos os albúns de fotografias, cartas, presentes e e-mails.
- Martim, onde estás tu? –perguntava Sancha na praia com uma garrafa de vinho na mão, até que de súbito lhe surge no meio daquela tempestade em que a chuva e a água da praia são irmãs siamesas. Ela vê Martim correr na praia de calções de banho. É ele. Não será uma visão? Não terá ela a ter alucinações com a bebedeira e com os charros que tem consumido? Parece que nos últimos tem consumido e feito coisas que noutras alturas nem sequer lhe passaria pela cabeça. Em todas as aventuras procura uma oportunidade para se degradar e isso dá-lhe um certo prazer. No meio das pesquisas, costuma usar um nome na internet quando procura emoções fortes. Dir-se-ia que estaria a pecar. Mas que merda ela não é nenhuma boneca de madeira, nem precisa de grilos falantes a ditarem a moral e os bons costumes .Para isso já tinha a família que lhe havia colocado uma diquete dentro do cérebro.