Capítulo sétimo Fotossíntese
Caetana acordou. Olhou em redor .
Nada daquilo que vivera era real. Apenas
um sonho. Um sonho que a transformava numa escritora . Sentia apenas uma
vontade infinita de escrever . Já não era ela
que ali estava mas somente a
escritora que precisava de investigar a
história de Naram- Sim e de blocos de arte neo-assíria com o título de Relevo-Luz . Ela nunca
acreditara na história feita . Nas
longas listas de reis Caetana sempre achara
que havia muito mais do que uma simples descrição de batalhas . Desde que se conhecia que
duvidara sempre de tudo .
- Deixe-me ver
o livro que está escrito como o relevo
da luz . Alguém provou que o relevo neo-assírio é uma espécie de fotografia ,
procura não só espelhar a imagem bem
como a magia simpática . Parecem
histórias saídas de romances de ficção científica . O autor em questão
lera muito Carlos Costaneda .
- Como sabe
tudo isso ? –perguntou um rapaz de cabelos compridos .
- Eu sou
fanática por arte neo-assíria . Um dia
irei decorar as paredes dos quartos dos meus filhos com estes desenhos .
Caetana estudava a imagem do baixo relevo como um livro aberto de banda desenhada onde as imagens
projectavam uma história nacional e ao
mesmo tempo fazer aquilo que mais tarde Maquiavel faria no século XVI, no entanto a natureza das
imagens levava a uma semelhança com os textos bíblicos . Tomara contacto então com François o jovem estudante
francês de que conhecera em Paris e que
lhe contara o seu projecto de ir para Portugal
estudar o relevo-neo-assírio da
Gulbenkian . François dissera-lhe que a cor dos relevos era propositada e sem
tirar nem pôr tinha uma certa semelhança com a tese da sua colega Carlota Joaquina .
A princípio achara que era uma
fantasia mas chegara a uma conclusão
houve de facto interesse pela
cultura entre a Alemanha e
Inglaterra no desenrolar da primeira
guerra mundial .Ao seu redor a luz do
Sol desaparecia timidamente . O movimento das pessoas é quase mudo ,uma
tristeza acompanha as suas vidas como se de uma sombra se tratasse . Nesses
pontos os eléctricos param , passam a linha
do tempo e da memória , são como
pistas de carrinhos que avançam perante
o sinal . Olho para as fotocópias no momento em que me preparo para me
encontrar com François e carlota . Acho o francês extremamente simpático com quem vou irei abordar a temática dos
baixos relevos . As notícias surgem como um mar maior transportando uma outra
realidade , distante daquela a que estamos habituados aos nossos medos .
Vejo-os com única vontade sobreviver e é
no café que conversamos sobre estas
matérias da cidade que temos e que
olhamos para os outros e que achamos que todas as vidas são completamente
indiferentes . Insignificantes diz Carlota
. Eles olham-na . Ao verem o
mundo compreendiam a mais
pequena massa anónima , chegando
à conclusão que para se amar é preciso viver mas procurar as verdades . Nisso Carlota
apesar de ser uma excelente investigadora tinha falta de experiência de vida ,
sempre tão amargurada. François tinha imensa paciência com ela . Tantas pessoas
dariam para ter a sua vida , mas de resto carlota resumia –se a sobreviver.
Primeiro a crítica deitara-a a abaixo e
ela tornara-se amarga . Encontrava-se
então numa busca . Numa verdade . De um momento para o outro só a história o
permitia a essência do encontro do ser humano o permitia . Agora olhava para a
cidade num só ângulo , no local onde me dirigia viam-se os restos mortais da
história nacional , aqui e ali via turistas
que procuravam locais ou pura e simplesmente restaurantes . Agora perto
do local de encontro via os miolos das habitações , como se fossem cadáveres ,
ali não se invocam as almas dos mortos , as desses só encontrando num outro
ponto da cidade na torre do Tombo . Recordou-se do cristo redentor ,num ponto
mal abraçado que já nem se vê a ponte , entro dentro do bar e lá estão eles os
dois acenando-me .
Depressa as duas raprigas
se degladiavam . Carlota Joaquina a
monárquica e a outra Caetana de esquerda definitivamente .
François olhava-as deliciado. Agora as duas tinham uma discussão descomunal
sobre as instituições . Carlota Joaquina olhava a outra verde de raiva . Ele
conhecia as fúrias castelhanas , dos rios de sangue que eram habituais aquela
artista . Outros assuntos voltavam à baila
como a despenalização do aborto e das drogas leves . A jovem espanhola dizia-lhes
que tinha encontrado um texto que
era equivalente ao que havia sido
encontrado na Turquia e que um
arqueólogo lhe envia mandado pela internet. Carlota Joaquina nunca abandonara o projecto desde que lera o livro Textos Literários
hititas do Professor Alberto Bernabé
Pajares . A sua tese intitulava-se Há
histórias felizes ? Esperava despertar
lendas , contos e mitos que despertassem uma realidade .Agora citava o
professor José Nunes Carreira “História antes de Heródoto “« Se a
historiografia hitita do império merece verdadeiramente o nome de historiografia autêntica é uma questão académica . Os hititólogos
podem terçar armas a favor ou contra. (...)»
Apesar das suas opiniões diferentes
sobre as instituições e do resto Carlota admirava a postura fria de
Caetana enquanto investigadora . Carlota
ouvia agora as vozes e medos do seu coração. Os três encontraram-se ali por amor
à investigação , apesar de François trabalhar ali numa arte nobre a do humor.
Mas o humor de François nascera da necessidade de destruir a organização e o
primor das suas células , deixou-as por momentos para se preparar . Voltaria
dali a duas horas sabia-se lá o que
aquelas cabeças iriam fazer naquele bar
durante a sua ausência . François lembrava-se dos delírios de Carlota na
biblioteca nacional quando necessitaram
de fazer uma pesquisa para os seminários de doutoramento. Lembrou-se de
como Carlota começara a gritar pela espera demorada de uns livros . François tinha outra
personalidade . Aturava-a tanto que tinha alcunha de “Santo Palhaço “ diziam os
restantes frequentadores da biblioteca .
Mas Carlota era outro género , apesar de ser de uma outra estirpe , outros
diziam que ela era apenas uma menina mimada
e frustrada porque o seu romance não dera certo e tinha sido arrasada
pela crítica . A conversa entre as duas
versava sobre a placa de argila encontrada na Turquia , mas na calha Caetana
tinha outra matéria que dava pano para mangas . Quando estivera em
Amesterdão encontrara no mercado negro
uma pequena parte de um texto em acádico
que mostrou o percurso. Ambos sabiam
como se processavam as questões de cultura na antiguidade e como o professor José Nunes Carreira o
atestava no livro a Historiografia Hitita
as semelhanças com a figura de Naram-Sim . Caetana
especializara-se sobre a figura de Naram- Sim e tencionava estudar a lenda em torno de Naram-Sim .
Apaixonava-a a figura dramática daquele
monarca que tinha tido o universo aos
seus pés e o perdera , por isso estudar
com a “Histérica “era um privilégio, já
que ela era um assombro na matéria da investigação pré –clássica .
Porque é que ela não se dera ao trabalho de falar sobre ela mesma ? Mas naquele
momento estavam todos desolados com a
sorte de Madalena . Por fim Caetana disse a Carlota :
- Sabes o que acho? A lenda de maldição de Ur não
retrata de forma alguma a questão
religiosa , mas está decisivamente relcionado com este tratado futurista.
- Como é que
podes ter tanta certeza ? –perguntou-lhe a hititóloga .
Caetana para além de ser jornalista era pós graduada em Etnologia
das Religiões , lera as obras do professor Moisés Espírito Santo acerca da
virgem , as origens do Cristianismo
desde que começara a relacionar-se com alguém
que se dizia ser a escritora inglesa de policiais Agatha Cristie .O
saber era traído pelos interesses económicos , políticos e religiosos, nisso
Carlota Joaquina acabara por concordar a
muito custo com a jovem marxista
Caetana. De um momento para o
outro gerou-se o pânico naquele bar uma
jovem começou a dizer para se retirarem
todos do bar pois alguém telefonara a dizer
que havia uma bomba lá dentro . O
universo era uma farpa constante onde
pretendia atingir o golpe certeiro quando lhe vendavam os olhos .
Que lobo interrogou alguma vez uma adivinha ? As grandes questões seguirão em seguida em forma de imagens e quadros , ou mesmo até de manga japonesa e ela poderá reverter os seus meios para as personagens onde uma das personagens poderá transformar-se de leão e o único antídoto será a planta da eterna juventude . Acreditam para ver .É escolher para ver . Escrevam-nos . Até amanhã .
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