fanzine Tertuliando (On-line)

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sexta-feira, abril 18, 2014

O Labirinto de Ré em solidão*

    Hoje sexta feira santa, todo o mundo comenta a morte de Gabriel Garcia Marquez que usam as suas palavras, algumas pessoas na rede social dizem que  alguns agora tornaram-se especialistas de Gabriel Garcia Marquez. Este texto  fez parte de um congresso internacional na qual eu acalentava o sonho de apresentar a minha dissertação de mestrado em Egiptologia. Alguns consideraram louca, a minha teoria, a pseudo orientadora, nunca assumiu, nem quis saber o trabalho e fez-me esperar três anos até que decidi voltar à área de especialização anterior, já que nem com o processo de Bolonha a criatura se levantou da tumba. Creio que as pessoas podem dar palmadinhas nas costas das pessoas, mas nunca conseguem assumir responsabilidades e ter a coragem de dizer que não querem orientar, quando muito fazem afirmações tristes sobre os  outros. Hoje com o meu coração consternado decidi aqui brindar-vos com este texto. Desejo-vos uma boa leitura. Até breve. E já agora Macondo, Macondo sempre!

O. Introdução

Seria Gabriel Garcia Marquez um menino milenar, na realidade o deus egípcio Ré? Deliciar-se-ia com as histórias de piratas e que ao encontrar o labirinto feito para se encontrar com a sua tia Amaranta Úrsula? Dar-lhe-ia forças para escrever o romance da sua vida, “Cem anos de solidão”?
Estas questões podem não ter nada de científico ou de literário ou podiam jogar entre os domínios da fantasia e da realidade nas histórias narradas por crianças.
este romance “Cem anos de solidão” é uma obra à parte, sem termo de tempo, em que as personagens principais não têm características definidas, vão-se construindo como se passasse num mundo irreal.
Aqui temos a presença do Antigo Egipto. Mas vejamos como esta antiga civilização no Nilo se sente ao longo das 318 páginas do romance.
Passemos então às últimas linhas desta composição escrita pelo menino Gabriel: “Só então descobriu que Amaranta Úrsula não era a sua irmã, mas a sua tia, e que Francis Drake tinha assaltado Rinchoa para que eles pudessem procurar-se em labirintos mais intrigados de sangue, até engendrarem o animal mitológico que havia de pôr termo à estirpe (…)”[1]
 Estas são algumas das linhas que nos  levaram a escolher o título “O labirinto de Ré em Solidão”. Solidão, porque evoca e celebra o romance que hoje comemoramos, o seu efeito mágico, labiríntico ao qual nos eleva para um outro universo com o título o qual nos apropriamos: “O labirinto do fauno”. Foi a partir desse mesmo filme e decidimos construir a comunicação, a partir da personagem fundadora dos mitos cosmogónicos egípcios: o deus Ré. Imaginemos que o autor do romance de “Cem Anos de Solidão” é uma criança conhecedora das histórias do Antigo Egipto e como Ofélia opta por enfrentar a realidade desta forma encontrando um paralelo com o fauno sendo Ré o próprio Deus que pretende restaurar o Egipto através de um romance que dará o nome “Cem anos de Solidão”. Este exercício procurará estabelecer paralelos entre a actual literatura contemporânea latino-americana e o Antigo Egipto.
Numa das cenas iniciais do filme “O labirinto do Fauno”, Ofélia lê o conto “O labirinto de fauno” que irá mudar-lhe a vida. A história é a de uma princesa presa num labirinto subterrâneo onde não havia morte nem dor, tudo era  perfeito até ao dia que a princesa decidiu fugir. Nesta obra cinematográfica, Ofélia refugia-se num mundo de fantasia para poder defender-se do seu padrasto e cria através da sua fantasia o seu próprio universo, o seu mundo, e engendra a sua luta armada contra o seu opositor: o franquismo e a guerra civil espanhola. Ao longo do filme reconhecemos que a pequena jovem é na realidade a princesa milenar do conto “O labirinto do fauno”. A partir do momento em que entra no local em que faz fronteira entre a realidade e a fantasia, Ofélia descobre ser a jovem princesa milenar que reencarna no corpo de uma jovem e que deverá fazer várias tarefas para restabelecer a ordem do mundo. Deverá realizar três provas próximo do dia do equinócio para finalizar deverá sacrificar o seu irmão.
Essa informação é dada logo no início do filme de Guilherme del Toro dando-nos indícios de que aquela jovem cheia de sonhos será a prova viva da lenda que se ergue em seu redor.
No filme, Ofélia deve procurar uma chave dentro da boca de um sapo para que possa abrir uma porta mágica, e aqui iremos encontrar dois universos: a realidade e a fantasia. Ora é através da fantasia que, ao longo dos séculos nas ditas civilizações pré-clássicas e nas actuais civilizações contemporâneas, registam narrativas próximas ao imaginário egípcio.
Ofélia terá que apresentar três provas de que pode ser a filha do rei dos subterrâneos. Na primeira prova, a jovem devia retirar uma chave debaixo de uma árvore que é controlada por um sapo gigante. Na segunda prova, a jovem deveria entrar dentro de um salão que tinha uma raiz que deveria representar o seu irmão e evitar qualquer alimento presente no banquete do salão do monstro. Na terceira, e última prova, a jovem devia sacrificar o seu próprio irmão recém-nascido antes da meia-noite para que se tornasse imortal.
A razão de comparar estas duas obras, o filme “O labirinto do Fauno” e “Cem anos de Solidão” e colocar-lhe este título deve-se em parte à magia do filme, ao universo subterrâneo que evoca a viagem da barca solar de Ré contra a serpente Apópis.
A solidão está presente no principio da criação do mundo com Atum Ré que cria o universo através da masturbação. Ré não tem qualquer companheiro ou companheira que o faça sentir feliz e é nesse instante, num momento de prazer que o deus Ré cria um grupo de nove deuses ligando-os para sempre à natureza e ao mesmo tempo a uma das narrativas mais próximas do universo latino-americano[2].
A serpente Apopis é sem dúvida um dos monstros mais interessantes das narrativas mitológicas da civilização antiga egípcia porque é ela o motor de toda a crença da passagem dos dias e das noites, dos acontecimentos ligados aos astros como os eclipses solares e lunares. Dias de chuva ou de céu encoberto eram ligados a este ser terrível, considerado o mal eterno.
Na actual egiptologia são poucos os egiptólogos que se têm debruçado sobre este ser mitológico[3] mas a tendência é para  que tal se venha a alterar.
Para nos centrarmos neste fenómeno, idêntico a situações e cenários narrativos das novelas latino-americanas, optámos por alguns desses seres, tendo recaído a escolha na serpente Apopis, por se ligar ao caos ou aquilo que se poderia definir como insurreição, tal como “isefet” (o mal que se opões à ordem da “maat”)[4].
Este conjunto de leituras levou-nos a seguir a hipótese da professora Maria Helena Trindade Lopes que afirmou nos Estudos de Egiptologia que se podia estudar o Antigo Egipto nas páginas de Gabriel García Márquez[5].
Um desses exemplos está centrado na história de Ísis e Osíris contada por Plutarco relatada e escrita no século I da nossa era. Nesta história de luta encontramos dois irmãos Seth e Osíris. Osíris é correcto, honesto, trabalhador e consciente dos problemas do seu povo procura ser o mais justo possível. Seth tinha inveja dele e preparou-lhe uma armadilha. Tomou as suas medidas e fez um caixão, tal como gizara nos seus planos e organiza uma festa onde tudo acontece. Seth, assim se chamava  o malfeitor desta história, preparou uma festa em honra do irmão Osíris, propôs logo  um jogo, oferecendo um caixão a quem nele coubesse, venceria esse jogo. Assim que Osíris entrou nesse caixão, o irmão matou-o e cortou-o aos pedaços e distribuiu-os por todo o reino, o Alto e o Baixo Egipto. Assim me contaram os habitantes.
A sua irmã e esposa ficou preocupada e decidiu procurá-lo, encontrando pedaço por pedaço em 14 locais diferentes. Mas o mais fabuloso é que mesmo depois de morto, Osíris procriou, tendo conseguido dar-lhe um filho, a quem chamou Hórus. Este não é só um exemplo que relata a história do assassinato na mitologia egípcia, mas também no romance “Cem anos de solidão”.
Mas é também entre Rebeca e a sua irmã adoptiva que se irá tratar da questão da posse e da rivalidade. No lugar de dois homens encontramos uma luta entre duas mulheres não só pela posse de um homem, substituindo a posse de poder entre o Alto e o Baixo Egipto. Mas não só é esse aspecto que nos leva a ver semelhanças entre as duas épocas e com os sinais dos mitos e deste mesmo romance.
Rebeca trazia consigo uma maleita muito especial, traz o vírus da insónia e não é tudo, é também um sinal de que mais tarde ou mais cedo esta criança franzina e melancólica sendo prima dos Buendia leve toda uma população ao esquecimento.
 Rebecca, fez uma viagem misteriosa fugindo de um destino para causar perigo a uma população através da peste da insónia com a qual a população se esquece do nome, da sua vida, de todos os aspectos mais corriqueiros como os nomes dos objectos, faz com que aqui seja necessário apelar aos nomes e às coisas. Para tal basta analisar a mentalidade egípcia, segundo a qual o esquecimento era pior do que a própria morte. Para um egípcio morrer era uma coisa absolutamente normal, era preparado ao longo da sua vida para essa altura, a pensar na outra vida como uma réplica desta, mas havia que se preparar para ser recebido pelo seu ka. Dava-se assim início a um longo processo de alteração corporal, mas tudo era extremamente importante. O homem egípcio podia aspirar ao divino encontrando-se com Ré e viajaria com ele na barca solar numa viagem subterrânea. Ao juntar-se ao deus Ré o defunto passava por um tribunal onde tinha que provar que era inocente e justo de voz. Mas se neste episódio as pessoas acabam por se esquecer de quem são?
Será graças à estratégia do coronel ……que irão colocar etiquetas por todas as casas dos habitantes de Macondo. Estamos perante uma revistação do mito de Mênfis em que Ptah cria o mundo através da palavra.
Para fundamentar a nossa tese, seleccionamos  ainda os mitos da destruição da humanidade, do poderoso nome de Ré. Conforme verificamos ao longo deste exercício, as personagens de “Cem anos de solidão” estão em perfeita sintonia com a instituição monárquica. O facto das mulheres embelezarem a casa, a abrirem aos forasteiros e gente de fora, demonstra muito bem aquele que será o princípio basilar da monarquia egípcia. A história de Setna I revela características idênticas ao livro Alquímico de Melquiades no romance “Cem Anos de Solidão”. A história do ciclo de Setna centra-se na revelação entre sonhador e intérprete de sonhos, onde podemos ver que a transmissão desse sonho tem a ver com a vontade daquele que a revela e com a interpretação do sacerdote [6].
É desta forma que Ré tenta libertar-se da teia maldita em que foi colocado durante cem anos; aqui presenciamos uma narrativa com elementos mágicos e muito próximos aos dos contos de fadas, mas também a um exercício característico dos países com fracos recursos democráticos.

1. Quem é afinal Apopis?

Segundo a egiptóloga Malgorzoto Acúrcio , Apopis era referida como tendo “mau aspecto” e “mau carácter”, eterna e hostil para com o deus Ré. Ameaça contínua para com a maat – a ordem estabelecida, cósmica e humana no mundo – Apopis simbolizava as forças primordiais do caos e sendo opositora de Ré (Sol), personificava também as forças das trevas e a tempestade (os textos indicam-na como possuidora de um silvo muito forte que ecoava no Além). Não conhecemos o significado do seu nome. Apopis é a forma mais notória e, além desta, tem muitos outros epítetos e cognomes que rondam os 30. Muitos textos descrevem-na com os mais diversificados nomes, mas é sem dúvida “O livro de Apopis” o mais completo de todos os textos encontrados até hoje. Trata-se do “Papiro Brenner-Rhind”, escrito pelo sacerdote Nesmin. Descreve um ritual para festejar a vitória de Ré e da Maat sobre as forças do caos e das trevas. Apopis fica severamente punida na tentativa de impedir a eterna viagem de Ré para a renovação da existência do mundo, imobilizada pela magia, privada dos sentidos, é amarrada, perfurada com uma lança, esquartejada para deitar fora a água que bebeu para obrigar a barca solar a parar, e finalmente, queimada, o que, segundo as concepções egípcias, constituía o cúmulo da punição e aniquilação total[7].
Apesar de todos os esforços, a serpente saiu renovada e voltou a ser um perigo constante.
Decidimos escolher este ser, como a metáfora da desordem política ou do poder centralizador e ao mesmo tempo como a pioneira das narrativas de realismo mágico.
Apresentamos a serpente Apopis como objecto de uma noção política entre a estética e as catástrofes naturais que irão desencadear todas as narrativas mitológicas egípcias ao longo de mais de 5000 anos. Ao longo de todos os períodos, este ser foi o pioneiro da noção do mal e da desordem. Para esse factor optámos por escolher a literatura comparada do Antigo Egipto e a época contemporânea. Não foi por acaso que, ao longo destes anos, ao lermos Gabriel García Márquez considerámos que o romance “Cem anos de solidão” apresenta algumas semelhanças com o maravilhoso pagão egípcio. Por isso podemos questionar se o realismo mágico tem origens ou não na época contemporânea, ou se não será uma recriação dos mitos egípcios? Não terão as duas épocas uma preocupação central em abordar ou questionar a manutenção do poder político? Como é que essas narrativas podem estabelecer um equilíbrio entre o homem e a natureza? Ou não serão antes de mais estas narrativas criadas por vários sacerdotes para dar uma consciência política aos cidadãos da Antiguidade?

2. Em busca da Apopis renovada…

Para conhecermos Ré, temos que recuar ao contexto mitológico dos quatro grandes centros religiosos egípcios. Todos eles contam histórias de Ré como criador do universo, como primeiro ser nascido de uma flor de lótus, como ser interventivo e espelho de uma grande narrativa. Neles, as histórias e as maneiras de ver estes mundos paralelos são interpretados segundo uma mesma vontade tal como cinco mil anos antes os sacerdotes, políticos ou pessoas com conhecimento de causa queriam abordar as questões políticas em tom de romance.
Após termos verificado as raízes históricas do realismo mágico através das suas próprias fundações, podemos conhecer agora um pouco mais deste paralelismo entre o antigo Egipto e “Cem anos de solidão”. Podemos reivindicar o realismo mágico como uma faceta do maravilhoso pagão.

3. Em busca do livro esquecido

Nas duas provas anteriores procuramos a relação entre o realismo mágico e algumas passagens entre os “Cem Anos de Solidão” e alguns dos mitos mais emblemáticos da mitologia egípcia. Como afirma João de Melo no ensaio escrito sobre o boom da literatura latino-americana, “Cem anos de Solidão” é um romance de fadas para adultos”. Senão vejam-se todas as personagens que percorrem uma espécie de maldição, encantamento durante 100 anos sem saberem o que está escrito no livro escrito por Melquíades[8].
Na história em apreço, Setna I revela características idênticas com o livro Alquímico de Melquiades no romance de “Cem Anos de Solidão”. A história do ciclo de Setna centra-se na revelação do sonhador e do intérprete de sonhos, onde podemos ver que a transmissão desse sonho tem a ver com a vontade daquele que a revela e com a interpretação do sacerdote[9]. É desta forma que Ré tenta libertar-se da teia maldita em que foi colocado durante cem anos. Aqui presenciamos uma narrativa com elementos mágicos e muito próximos dos contos de fada, mas também a um exercício característico dos países com fracos recursos democráticos.
Ora, esse livro é uma espécie de livro profético ou antes uma espécie de livro da vida ou dos sonhos. Neles estão contidos todos os segredos que determinam o fim do encantamento. [10]
Em Setna I, o príncipe Khamsas era um escriba erudito, cuja actividade predilecta era estudar inscrições de manuscritos e livros. Um dia falaram-lhe de um livro de magia escrito pelo próprio Thot, que estava depositado num túmulo de um príncipe de tempos muito recuados, chamado Naneferkpthah.  Tal túmulo estaria algures na vasta necrópole de Mênfis. O escriba encontrou o livro depois de muito procurar e deparou-se com os espíritos de Naneferkpthah e da sua esposa Ahwne que se ergueram em defesa do seu tesouro.
A magia negra pode encontrar-se em qualquer obra do fantástico mas no conto de Setne I faz-se referência diversas vezes à suposição e capacidade das fórmulas mágicas e à sobrevivência da personagem. Assim, elementos como a pedra, a cera e o barro eram o material comum a estas figuras, paralelamente aos rituais que acompanhavam os recipientes e tábuas de argila.
Esta é uma história de encantar onde a maldição e o encantamento está certamente no livro alquímico de Melquíades presente em “Cem anos de solidão”. Este cigano imortal que conseguiu enganar a morte. Melquíades vem do mundo exterior trazendo conhecimento e tem nas páginas do livro que oferece a José Arcadio Buendia semelhanças à adivinhação, mas também tem uma forma muito próxima da profecia.
Há deuses no Antigo Egipto que têm funções de estado. Um desses deuses é Hórus que curiosamente é apresentado como um rapaz de trança chamando Ihy, ou mesmo até Hórus criança. Neste labirinto que Ré pretende libertar-se e partir para outra dimensão bastará uma criança que seja chamada pelo deus Ré, tal como Ofélia o foi em sonhos pelo fauno. As fadas estão presentes e os piratas também e seres híbridos e sobrenaturais são referidos nas duas culturas. O que se pede aos macondianos é não se casem com primos para que estes não venham ao mundo com rabos de porco nas intenções de Úrsula, mas bastará cada personagem ver no olhar do cigano Melquíades a sua sabedoria. Poderia talvez esse menino perguntar-lhe:
- Senhor, porque é que sabes todas as coisas sobre essa gente? Vivestem Macondo?
- Não, responderia o cigano. Eu já nem me lembro de  quando morri, mas estou a entregar-te um livro que só tu pedes escrever e decifrar.
- Como é que ele se chama senhor? – pergunta a criança largando o caderno que tem nas mãos, mas antes que Gabriel ouvisse alguma resposta o cigano já desaparecera deixando três provas feitas: saber se o realismo mágico era ou não uma continuação do maravilhoso pagão, se as personagens do seu futuro romance eram tipicamente egípcias e por fim se o livro alquímico de Mlequíades era idêntico à história de Setna I e Setna II.
 Para terminar não sabemos qual foi a reacção da criança ao ver que o livro não tinha nada escrito, apenas folhas em branco dando origem ao romance que hoje aqui celebramos e que em breve esperamos que possamos comunicar com estes dois mundos. Por enquanto conseguimos decifrar parte deste romance. Esperemos que a longo prazo esta pesquisa dê frutos e possa contribuir para uma maior compreensão da ligação entre os dois universos. Aí Ré conseguirá fugir do labirinto mágico em que sacerdotes e escribas o prenderam durante milhares de anos, mas esse mistério só Melquiades e a criança que falou com que ele, nos poderão responder em breve.

 Lisboa, 13 de Julho de 2012

*Texto apresentado no Congresso Internacional  La Bendita Mania de Contar onde apresentei  este texto.



[1] Gabriel Garcia Marquez ,Cem Anos de Solidão , P.D.Q, 1994 , p.318
[2] José das Candeias Sales , AS Divindades Egípcias , 1999, Ed. Estampa , lisboa
[3] Apenas encontramos alguns verbetes de Malgorzata Kot Arcúrsio sobre Apopis , in Dicionário do Antigo Egipto , ed . Caminho (1a.ed.), 2001, Lisboa , pp84 -85 ou ainda  em José das Candeias  Sales, As Divindades Egípcias , Ed. Estampa, 2000, pp, 399 -402 , Até hoje encontra-se uma dissertação de mestrado de Malgorzata Kot Arcúrsio ( 1989) apresentada na Universidade de Varsóvia , na especialidade de Egiptologia, esta tese  foi apresentada em 1994 na faculdade de letras de Lisboa onde teve autora  obteve  aequivalência ao grau de mestre . Mais recentemente, Kousalis Pagniatis da Universidade de Rhodes (Grécia) prepara uma monografia sobre este ser mitológico. Aguardamos pois a publicação das duas obras, já que a última irá ser escrita em inglês, esperamos a tradução do polaco para português da tese de Malgorzata Kot Arcúrsio, “As definições de fogo da serpente Apopis “(Cadmo, n.ºs 4 /5).
[4] Para este assunto veja-se o artigo de Rita Lucarelli “Demonology  during the late pharonic and graeco –roman period in Egypt “in JNES , n.11(2011 ), pp 109-125.
[5] Cf Maria Helena Trindade Lopes, in Estudos de Egiptologia , ed .A P.E, 2003, 1ed., p.12 
[6] Cf Edda Bresciani , op.cit
[7] Malgorzata Kot Arcúrsio “Apopis”, op.cit
[8] Cf João de Melo,
[9] Cf Edda Bresciani , op.cit
[10] Cf João de Melo , idem