fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

segunda-feira, maio 13, 2013

Santa Muerte caps III e IV



Enquanto a Santa Muerte se afasta, a Toupeira grita com dores. Algum tempo depois surge o crocodilo," falando pelos cotovelos ". A Toupeira não o ouve, apenas grita a um volume muito alto.
- Bem, pareces gostar de cantar a altos brados, amigo! Tenho aqui as fotografias da Dona Joaninha! Ao que parece ela tinha motivos mais do que suficientes para querer matar o nosso João Ratão morto!
A Toupeira não aguenta mais e revela tudo, chama o Crocodilo à atenção da desgraça que se abateu sobre ele:
- Quero lá saber disso , crocodilo! Doem-me os olhos! Ajuda-me! Aquela filha da mãe da Santa Muerte !Veio aqui dar-me um aviso... Quem sabe se não foste tu que me tiras-te estes olhos que a Terra já nem há de comer...
A Toupeira vira-se. Sobeck fica em estado de pânico quando vê a Toupeira a deitar sangue dos olhos.
- Ai Meu Deus! Por favor! É minha culpa! Eu deixei-te aqui sózinho! Nunca me perdoarei!
- Pois quem sabe, se não és tu a Santa Muerte?
- Não digas disparates, sobe para cima da minha carapaça. Anda levo-te ao hospital....
Naquele instante os dois seguem em direcção ao Hospital Central dos Esgotos Nossa Senhora Da Morta.Uma Raposa que está numa sala vai chamando os pacientes :
- Já sabem que temos muito poucas senhas... portanto meus amigos! Vou ter que vos escolher à sorte! Vou-lhes fazer uma perguntinha de azar e de sorte, estão preparados? Então vai lá... Quem é que vocês acham que é autora dos crimes da nossa aldeia? Sabem quem ela é? Quem ganhar, recebe uma consulta gratuita aqui neste hospital e vai logo de seguida com um livre trânsito a caminho de visita para o famoso chá das Cinco com o nosso criador! É uma exclusividade única do Hospital da Nossa Senhora da Morte!Está a contar, está a contar, meus amigos aproveitem enquanto o governo não vos tira a possibilidade de poderem pagar esta risaria! Aquele senhor ali....
O crocodilo apresenta-se....
- Você, amigo? Isto aqui não é o Centro de Emprego! Temos pena, mas é já ali ao lado, dou-lhe um papelinho para entregar ao meu amigo, Caracol que há meses que não bebemos um café...
- Não sou eu, Salta Pocinhas. É o meu amigo! Fizeram-lhe isto!
Sobeck volta-se para trás e mostra a toupeira inconsciente esvaída em sangue.
- Nem precisa de dizer, amigo, vá por aquela porta vou levá-los a uma médica estrangeira, Neide. Acho que é assim o nome...
Salta Pocinhas pelo intercomunicador chama a médica para se preparar para receber um doente em risco de vida.
-Tudo isto me cheira a morte! Até o nome cheira a clorofórmio! Please, tirem-me deste filme!
Entram no gabinete da médica. Ali estava uma mulher alta, bem feita de corpo, de olhos expressivos, com sotaque estrangeiro:
- Meu Deus, nem por todos os deuses egípcios!
O crocodilo olha-a estufacto.
- Não podia ser! Era ela! Ninguém lhe podia chamar mais de mentiroso! Aquela mulher era a sua mamã! Ela era a mamã Neith!




Capítulo Quarto

Consultório do Doutor Bruno Betteleim

- Então, Lilith ? Não tem nada para me contar?
- Bem, doutor - diz a recepcionista a contra gosto. Eu tirei as fichas à parte para entregar ao doutor, mas apareceu-me aqui aquele crocodilo e o amigo dele uma toupeira. Os dois têm amania que são detectives. Disseram -me que estavam aqui à sua espera.
- Porquê? -perguntou o psicólogo à espera da resposta de Lilith.
- Os dois disseam-me que eram delegados de propaganda médico e que lhe taziam novos medicamentos.
- Como assim? -perguntou o piscólogo cada vez mais interessado.
-São uns medicamentos chamados Ratax, Voalinex , nomes desses, tudo aquilo que é terminado em ex, pran. Como se fosse um acordo pró nupcional, uma espécie de certidão de divórcio. Só a Nossa Senhora da Morte nos pode ajudar!

O médico olha-a, estarrecido. Imaginando-a a rasgar fotos dele e a colocar as suas fotos numa encruzilhada, fazendo um trabalhinho rápido para que uma agência funerária o leve a fazer consultas de psiquiatria ao médico legista. O médico benze-se.
- Pois isso mesmo ! É a Peste Negra e essa coisa que você tem tanta estima. Deus nos acuda ! Isso é que era mesmo o final dos tempos!
- Como assim? -pergunta Lilith.
Sabe, doutor é que eu adoro a morte!
- Oh, mulher tenha dó! Você devia ter nascido à duzentos anos na época do romantismo! Agora pode ser intimada a responder... pode ser comparada à Ane Rice da nossa aldeia! Se você se põe com essas conversas... ficamos às moscas e nem essas a querem ouvir! Mande-me chamar aquela paciente das cebolas !Dê-me cá as fichas. Ai , meu Deus! Porque quiz ser eu psicólogo?
Se ao menos isto fosse uma colecção de cromos.
- Quer trocá-las, doutor? Eu vendo-as ou troco-as no mercado negro, doutor.
- Até imagino a quem, Lilth! À santa Muerte! Porra que é demais !Chame-me a Dona Joaninha e vá para a caserna!
Consultório do Doutor Bruno Betteleim

- Como está , Dona Joaninha?
- Uma angústia, Doutor. A Santa Muerte, voltou a actuar.
- Só me falta cá mais esta... -pensou o psicólogo.
- Eu sei quem é ela...-diz o insecto a contragosto.
- Explique-se melhor, não estou a entender a sua conversa. - diz-lhe o psicólogo.
- Santeria canta músicas populares, aquilo a que a maioria das pessoas, chama pimba. Ela gosta de mudar o estilo de morte. É ela que mata as pessoas
- Como é que sabe? -pergunta o psicólogo.
- Ela aparece-me em sonhos, diz-me quem será a próxima vítima...
- Era capaz de me explicar em pormenores o que ela lhe diz para fazer, quem vai matar, como o faz, como é que ela gosta de se tratada. Sabe que esta gente tem a mania das grandezas?
- Sim, diz a mulher insecto já irritada.
Os pais fazem tudo pelos filhos. Eu estou a pagar tudo pelo que fiz no passado, já o velho Sófocles e os meus queridos hititas diziam "Os pais pagam pelos castigos dos filhos. "
- Não será o contrário minha querida? -pergunta -lhe o psicólogo em tom de desafio.
- Santeria detesta o pai, porque ele me obrigou a abandonar a criança, mas ela nasceu...
- E nunca mais a viu?
- Não, eu vi-a. Ela nasceu morta. Ela foi concebida, foi desejada com tanto amor ,  mas os médicos diziam que ela não se desenvolvia, formva-se  morta. Ela disse-me que eu tinha dado à luz á morte. DE um momento para o outro, D.Joaninha começou a gritar:

- Ela renasceu! Ela está aqui! Ela matou o meu marido! Ela cegou a toupeira! A Toupeira está a morrer! Salve a Toupeira, doutor! Por caridade