fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

quarta-feira, julho 18, 2012

JARDINS – COMO REFLEXO DE PAZ E REENCONTRO DO HOMEM COM DEUS

Ao escolher  o tema do jardim  como parte integrante da paisagem natural, decidi ligá-lo como resposta à proposta e exemplo apresentado pelo arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles. Antes de entrarmos na essência do tema e da sua fórmula. Optamos por seguir os livros de Paulo Pereira, Ana Janeiro sobre os Jardins do Saber  e do Prazer e na remodelação do novo modelo do Jardim do Bonfim  nos  princípios do século passado (O Setubalense).

   Neste sentido a poesia e a utopia determinada por um autor refere as normas pelas quais se enquadram o espaço envolvente e a recuperação do lugar perdido durante muitos tempos. É neste sentido que escolhemos o jardim como factor primordial de um regresso  ao Paraíso Perdido Bíblico  que se centra num plano divino entre Deus e o Homem. É aqui  que o arquitecto paisagista  se metamorfose de Deus e aqueles   que irão usufruir desse mesmo espaço serão novos seres de um  novo cosmos. Daí que achamos essencial extrair  das palavras de Paulo Pereira  sobre a  noção de jardim.  O jardim especializa o espaço, que procura reproduzir tanto quanto possível o Paraíso, como se tratasse de “claustros “seculares privados. O jardim “português “ resulta, assim de um quadro artístico e mental de longa duração que resulta, assim de um quadro artístico e mental de longa duração que remonta à  Idade Média e as duas fontes principais, muitas vezes complementares: o jardim islâmico, em que a dimensão da “horta de recreio “ e de produção, num espaço fechado e geralmente percorrido pela água, se associa à dimensão plástica e de lazer; e claustro monástico, orientado, simbolizando o Paraíso com os “quatro rios “, como braços de água  que passam pela quadra ou partem do lavabo, com os  quadrantes que disso resultam preenchimento com canteiros de flores perfumadas e árvores de fruto(citrino) .É  sobre este pano de fundo que vão assentar as outras variações  dos jardins portugueses, sabendo-se  que a partir do século XVII e, sobretudo, durante o século o século XVIII, os jardins e quintas de recreio se  vão afeiçoar, cada vez mais, a soluções aculturadas, geralmente “à italiana”e “à francesa “. Mas uma constante do jardim português é a sua tripartição  em horto, pomar  e mata, estes últimos com funções  de produção e recreio. O jardim adquire no século XVII uma dimensão de maior alcance, particularmente se tivermos em conta exemplos como o Palácio Fronteira. Neste jardim, para além da faceta compendial , estrai-se a relação com a Antiguidade  Clássica enquanto história, para dela se reter  a mitologia que entra imediatamente ao serviço de um discurso,nítido, patente, poderoso ,em torno da história pessoal do comitente, da família e do próprio reino português .Vários são os exemplares  de quintas  que se apresentam exemplos típicos de Bacalhoa, Fronteira ,Quinta  Real de Caxias, Jardim das Sereia ,Jardim do paço Epicopal de Castelo Branco .Após este breve passeio sobre o Jardim édenico idealizado desde a mais alta antiguidade,se preparou, criou lugares de prazer, saber na procura do conhecimento onde na mais alta tradição árabe os jardins seriam lugares de recanto, descanso, prazer e criação literária .As grandes realizações, as grandes “fábricas “, passam a ser definidas  em função do seu destino: como elementos de arquitectura sagrada ( o palácio e poder; a igreja ,lugar de manifestação social ,o jardim ,onde se manifesta o cosmos)e nalguns casos, de arquitectura mística (nas igrejas, nos conventos  e nos sacromontes ,lugares de retiro e de busca espiritual vivida individualmente ou colectivamente,através de peregrinações e de procissões) .Foram ainda nos  jardins foram criadas festas  de casamento ao longo da história, festas de homenagem, de  consagração  de poder, noutros sentidos eram nos jardins que as pessoas conversavam, viam espectáculos  de música, teatro e também foram nos jardins que se deram os primeiros ensaios revolucionários, também convém não esquecer  que ainda hoje os jardins são lugares de  romance e sedução ,onde os animais envolvem um lugar como se presenciassemos o retorno de Noé após o dilúvio .É pois o jardim o repasto celestial das almas perdidas  que se reencontram perante o pastor paisagista e daquilo de onde se extrai o elemento essencial para reencontrar a sua própria vida.