FINALE*
O preço da verdade é elevado
porque só pode ser coincidente com
a própria coisa
poder-se-ia agora construir de novo
uma espécie de escala de valores
poder-se-ia recomeçar
devíamos passar pelo medo da morte
para nos libertarmos definitivamente
das linguagens indefinidas que nos
ensinaram
essas formas de dizer e não dizer certas coisas
essas formas de nos basearmos em palavras
de classe média
não estamos condenados à mentira
temos alguma liberdade de escolha
mas na maior parte do tempo a escolha é entre
a mentira e outra forma de não falarmos verdade
depois do holocausto toda a mentira é uma ingenuidade
é apenas algo que em nós
colabora com a individualidade
devíamos passar pelo amor ou pela morte de um filho
para nos libertarmos finalmente das nossas
queixas
essas formas de incomodarmos os outros
com a lamentação inútil
com a defesa própria
que costume o de morrer sem termos sido
verdadeiramente humanos
sem termos tido na boca as palavras certas
porque isso é o que os outros esperam de nós
esperam que os reconheçamos
e é aí que os outros começam
devíamos passar pela dor mais inumana
para podermos então ser humanos
para nos relacionarmos com os outros sem intermediários
sem símbolos
sem palavras de classe média
para nos relacionarmos com a realidade
para aspirarmos a conhecer verdadeiramente alguma pessoa.
António Jacinto Pascoal
*Poema publicado no livro "Cello Concerto".
porque só pode ser coincidente com
a própria coisa
poder-se-ia agora construir de novo
uma espécie de escala de valores
poder-se-ia recomeçar
devíamos passar pelo medo da morte
para nos libertarmos definitivamente
das linguagens indefinidas que nos
ensinaram
essas formas de dizer e não dizer certas coisas
essas formas de nos basearmos em palavras
de classe média
não estamos condenados à mentira
temos alguma liberdade de escolha
mas na maior parte do tempo a escolha é entre
a mentira e outra forma de não falarmos verdade
depois do holocausto toda a mentira é uma ingenuidade
é apenas algo que em nós
colabora com a individualidade
devíamos passar pelo amor ou pela morte de um filho
para nos libertarmos finalmente das nossas
queixas
essas formas de incomodarmos os outros
com a lamentação inútil
com a defesa própria
que costume o de morrer sem termos sido
verdadeiramente humanos
sem termos tido na boca as palavras certas
porque isso é o que os outros esperam de nós
esperam que os reconheçamos
e é aí que os outros começam
devíamos passar pela dor mais inumana
para podermos então ser humanos
para nos relacionarmos com os outros sem intermediários
sem símbolos
sem palavras de classe média
para nos relacionarmos com a realidade
para aspirarmos a conhecer verdadeiramente alguma pessoa.
António Jacinto Pascoal
*Poema publicado no livro "Cello Concerto".
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