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quarta-feira, agosto 03, 2011

A visão do Oriente na literatura Portuguesa por Eça e Pessanha

Terminamos hoje aqui a nossa viagem sobre o Oriente de Eça e Pessanha . Pedimos desculpa pelos erros ortográficos , ainda não nos habituamos às mudanças orto-geográficas . As nossas desculpas .


O nosso interesse pela literatura e a sua temática pelo império levou-nos a traçar o percurso da literatura da viagens feitas pelos escritores que tivessem viajado ou que pelo menos estivessem num determinado posto diplomático. A nossa atenção centrou-se logo por dois autores portugueses, Eça de Queirós e Camilo Pessanha. Como é que se poscionam ou olham para esses luagres exóticos? Ou na melhor das hipóteses poderiam ter estado mesmo nesses locais que referem nas suas obras de ficção, escritas na época para os jornais como forma de fazer vender e lançá-los para a fama? Mas não era o caso dos nossos biografados, pelo menos de Eça. Imbuídos com a égide do pós colonialismo de estudos do orientalismo de Edward Said, ou mesmo até uma Geografia Poética da Viagem que nos alertam para a procura de um género nascido pelos antigos pastores bíblicos expulsos do paraíso. Mas viajar é muito mais do que isso, viajar é penetrar dentro de outro universo que faz com que os seus leitores penetrem num universo mágico. Será então Eça de Queirós o percursor de Realismo Mágico? Onde seres sobrenaturais entram na vida de uma pessoa e convivem com ela, e que as suas próprias viagens sejam elas estados de alma ou penetrem dentro da nossa essência passando noutros séculos ou fazendo viagens de um lugar para o outro, ou ainda neste caso seria possível uma simples sineta matar um mandarim? Seria esse o propósito de Eça ou quereria ele parodiar um determinado tema usando o género de literatura de viagens? Já outros autores comparam o ínicio da Relíquia como a introdução da obra de Garrett? Será então esse o tema de viagem que Eça quer dar aos seus leitores?
Para confirmarmos esta teoria socorremos da opinião da queirosiana Elena Losada Soler: “A antiga imagem do homem viator que maior viagem que a própria vida! Sobrepõem-no no Romantismo outras características . Entre elas, a e que a viagem deve ser solitária para ser mais amplamente iniciática. De facto, quando viajamos, mesmo acompanhados estamos sós , porque as emoções e a simpressões suscitadas pela viagem são individuais e apenas minimamente transmítiveis#. Viajar é aprender e o viajante volta diferente a si próprio,como afirma Eduardo Subirts: ‘La experiencia del viagem coincide de la pérdida de la identidad’O viajante moderno – não o turista que é outra espécie -,é o errático navegador (porque a viagen romântica é por mar ) em busca de uma Ítaca inexistente. No fim do século XIX essa viagem romântica ressurge nos simbolistas e decadentistas quase com a mesma filosofia, mas com o itenerário levemente alterado.
Enquadramento histórico
O olhar europeu sobre os povos extra-europeus alimentou-se em larga medida, em “campos de observação” e com recurso a uma ferramenta criada pelas práticas coloniais. É certo que diversos autores portugueses da segunda metade de oitocentos e princípios do século passado, se sentiram atraídos pelas culturas orientais em ópticas que nem sempre se ajustaram ao ponto de vista desses poderes coloniais. A posição crítica de Eça de Queirós relativamente ao colonialismo inglês no Egipto – o orientalismo de Eça é aliás idealizado a partir de uma viagem ao Próximo Oriente no tempo da sua juventude e traduz-se frequentemente em juízos etnocêntricos, desfavoráveis em relação às civilizações islâmicas, ou ainda nos mundos diversos com as vivências no Extremo Oriente (China e Japão) que se apresentam nas obras de Camilo Pessanha# .
No final do século XIX, face ao declínio dos sistema antigo e a entrada de uma nova estética literária. A nova fase artística estava interiorrizada naquela a que a precedeu. O naturalismo tendia então a corrigir “as estravagâncias imaginativas e sentimentais do romantismo”.
Procurava-se então submeter a realidade objectiva, não só retirar todo o idealismo da existncia sensível. Estes exageros começavam a enfraquecer, onde se procurava traduzir na conquista da verdade pela arte, na descoberta de factos humanos, dado que havia necessidade de disciplinar a inteligência. O naturalismo fazia-se antes através da descrição das realidades humanas, dando primazia a uns temas, deixando de lado outros. A estética naturalista traçou então uma evolução na literatura nacional, experimentando neles pura e simplesmente o declínio do naturalismo. Em primeiro lugar, o despontar da literatura simbólica, cheia de espiritualidade e idealism, pôs em circulação uma concepção do homem, onde a suas energias inferiores superavam as superiores, dado que o instinto primava sobre a razão. A vida moral é incompreendida, onde a mentalidade naturalista é demasiado obcecada pelas pretensões do cientismo, acreditando no apocalipse da arte, levando ao protesto vários pensadores e críticos #.
E é neste ponto que iremos ser recebidos por Eça de Queirós e a lírica apocaplítica e decadentista de Camilo Pessanha .
Denúncia ao imperialismo Britânico
As Cartas de Inglaterra ancoram-se na exploração de um único caso de apreensão e julgamento de uma mesma realidade. Se de um lado, os textos das cartas dão conta desses processos de apreensão e julgamento de uma mesma realidade, sem dúvida que estas suscitam limitadas bases de reflexão, pelas diferentes possibilidades, formas e níveis de observação do jornalista. Nas Cartas de Inglaterra podemos inicialmente distinguir aquelas que focalizam os aspectos políticos da vida inglesa e as de cunho nitidamente político. Nestas, a crítica severa ao imperialismo ocupa uma posição de primeira plano, quer qualitativo, quer quantitativo: a invasão do Afeganistão, a campanha do Egipto, a questão Irlandesa, pautas da actualidade são integradas dentro do contexto amplo da orientação de política externa seguida então pela Inglaterra. A denúncia do imperalismo está claramente evidente na primeira das cartas, quando considera sarcasticamente as medidas que se pronunciavam para abafar a possível insurreição irlandesa, como as fatais necessidades de um grande império#.
Que “bagagem literária” para um Oriente Queirosiano ?
Que bagagem literária levava Eça para a sua grande viagem? Fontes, são claro francesas. Entre outras possíveis a Constantinople de Théphile Gautier (1855) e talvez também o romance Le roman de la momie, o Voyage en Orient de Gérard de Nerval (1851), a viagem foi feita em 1843, e Le Nil, Égypte et Nubie de Maxime du Camp (1854) crónica de viagem que fez com Gustav Flaubert entre 1849-1851.
Como afirma Michel Orfay em Teoria da Viagem toda a viagem inicia-se geralmente numa biblioteca#, numa agência de viagens ou pura e simplesmente em revistas de viagens. Mas em pleno século XIX que meios teriam se não os autores que quisessem escrever ou visitar um país distante, exótico e conhecido , não fora por acaso que este seu livro O Mandarim apresentado ainda em vida sem o seu conhecimento, Oliveira Martins envia uma cópia do Mandarim para uma revista francesa onde costumava celebrar, a Revue Universelle Internacionalle, de Paris. Na nota apresentada no livro de Maria Filomena Mónica esta tradução francesa não foi famosa, pois foi redigida uma tradução tão má, que na maior parte dos casos os franceses e estrangeiros preferiam pagar do seu próprio bolso as traduções a preços astronómicos#.
Na obra mágica em análise O Mandarim rejeita todos os seus elementos clássicos paar se apropriar de um Fausto mais “trapalhão” onde se põe toda a liberdade literária do escritor. Não queira dizer que ele se tenha aproopriado de Goethe ou mesmo até de Thomas Maan , mas antes de tudo que a maior parte das fontes usadas para escrever este mesmo romance fantástico foram obras como Peter Schlemeil de Adelbert von Chamiso#.
Neste sentido Michel Onfrray chama a atenção para o desejo da viagem. Aqui colocamos Eça como um turista/escritor que se predispõe a eleger um destino não só para cumprir uma crítica do seu próprio país, sobre o Portugal Constitucionalista, as próprias alterações políticas face ao rotativismo vigente na época#.
A viagem começa numa biblioteca ou numa livraria. A riqueza de uma viagem necessita, antes de mais, a densidade de uma preparação da mesma forma que nos expomos a experiências espirituais convida a alma à abertura, ao acolhimento#. Nesse sentido Eça durante as férias pesquisou numa biblioteca sobre os temas orientais para escrever o seu romanceno nos temoos livres.
A leitura age como um rito iniciático, revela uma mística pagã. O aumenmto do desejo culmina num prazer requisitado. Em que momento começou realmente a viagem? Na vontade, no desejo, é claro, na leitura, tudo isto define o projecto dessa viagem literária#.
Animação turística satânica ?
Primeira Paragem : O Mandarim
Como temos visto não foi fácil de qualquer forma seguir a famosa campainha e a sua posição estratégica. Como impulsionar a sua vontade a um homem que apenas desejaria ficar com o dinheiro daquele que morrera? Não, Teodoro não queria apenas isso ele queria ir a outros locais, ter um estilo de vida que nunca tivera. Portanto qual será então a melhor forma de começar ? Senão desejar a morte de alguém por um folheto? E é aqui que começa a nossa viagem. A partir da Feira da Ladra, a partir do desejo de uma outra transformação pessoal. O Mandarim é um conto no qual Eça de Queirós abandona “a preocupação naturalista” que segundo ele mesmo serviu para distrair o espírito .
Se nas palavras do filósofo francês o princípio de uma viagem inicia-se com o seu desejo, é aqui na obra de Eça que ela prepara todo o seu cenário quer através de escolher um destino. E esse destino remete-nos para um espaço fictício através da narração de Teodoro.
Estando o lisboeta Teodoro a ler uma obra que comprara na Feira da Ladra, toma conhecimento de que, no fundo da China, existia um mandarim “mais rico que todos os reis de que a fábula ou a História contam”, cuja fortuna poderia ser sua, caso ele tocasse uma camapinha aparecia, enquanto uma “voz insinuante e metálica”, a do Diabo, o convidava a usá-la. Teodoro gostava de se rico, mas também apreciava a rotina da vida pequeno-burguesa, a escolha não era simples, “A vida humilde tem doçuras: é grato, numa manhã de sol alegre, com o guardanapo ao pescoço, diante do bife da grelha, desdobrar o Diário de Notícias; pelas tardes de Verão, nos bancos gratuitos do passeio, gozam-se a suavidades do ídilio; é saboroso, à noite no Martinho, sorvendo aos golos um café, ouvir os verbosos injuriar a pátria”. Mas a expectativa do pecúlio acabou por o vencer. Todos os hóspedes ouviram o tinido da campainha, nas estepes chinesas, Ti-Chin-Fu morria.
E vos quereis também ouvir o tinir da campinha para nos seguirdes? Poderia nos questionar o próprio Diabo Queiroziano impulsionador de desejos, cobrador de almas, este Diabo é quase tão mordaz e irónico como Eça. Satanás é desta forma o nosso guia que nos levará à ascenção e queda de Teodoro, quase numa posição de remissão e culpa vista na literatura cristã. Será este o propósito? Ou será para criticar os costumes daquele mandarim que sucumbiu ao dar um suspiro a milhares de quilómetros de Lisboa?
A capainha é objecto mediador que atesta uma verdade inequívoca, por ser campainha, tirar a vida de um desconhecido. O objectivo mediador, também, na literatura fantástica, está intimamente ligado à passagem de uma dimensão a outra. O facto de ser uma conquista é também uma mediação de um mundo para o outro, da cultura europeia para a asiática (que iremos abordar seguidamente).
O escritor persegue com o mesmo tom discursivo, enfantizando as indicações que fizera um primeiro paratexto, ou seja, advertir, orientar e precaver o público leitor acerca dos sentidos que o texto poderia representar, levando em consideração a estética naturalista que vigorava e da qual era muito próximo.
Continuando a ideia de Michel Onfray sobre a viagem, como devemos nós lidar a embreaguez induzida pela viagem? Escrever? Tomar notas? Desenhar? Enviar cartas? E, se for o caso, breves ou longas? Pelos postais? Fotografar? Transportar consigo cadernos de couro?.
O Mandarim possui a particularidade que não se pode deixar de mencionar quandonão se pode deixar de mencionar quando se empreende qualquer tipo de análise sobre a história: o livro tem dois pretextos um prólogo e uma carta-prefácio que são importantes complementos para a sua compreensão. O prólogo fora publicado com o texto quando veio a lume a carta prefácio que Eça escreveu ao editor da Revue Universelle Interntionale, periódico francês que costumava colaborar em 1884, por volta da publicação de O Mandarim na França e somente seria um complemento.
A conciliação entre a maneira realista de narrar a realidade entremeada com o aparecimento de elementos ligados ao campo da fantasia, será seguida por Eça de Queirós na Carta Prefácio “A propos du mandarim, lettre que aurait du être un preface".
Depois desta previsão literária e um desejo de fazer uma viagem pelo Oriente e pela China vistos sob o ponto de vista de Eça, podemos agora ver se houve um Oriente ou vários através do nosso ponto de vista.
Oriente ou vários orientes de Eça de Queirós ?
Iniciando agora a análise deste “mito do oriente” na obra de Eça de Queirós, começaremos agora pelos comentários das crónicas jornalistísticas e livros de viagens. Veremos depois como a experiência real se litearaturizou nos textos de ficção. Os quatro folhetins “De Port Said a Suez” são a consequência mais imediata da viagem e a sua justificação, como correspondente do Diário de Notícias. Foram publicados em Janeiro de 1870, no regresso da viagem e reproduzidos postumamente no volume Notas Contemporâneas. Essas mesmas crónicas foram sem dúvida uma aprendizagem de Eça de Queirós no realismo. A sua tarefa de jornalista. que deve ser testemunha realista e imparcial, levou-o a um novo mundo estético, cheio de exotismo, é certo, mas libertado dos “abutres” do romantismo tardio das Prosas Bárbaras. Eça de Queirós serve-se do orientalismo oitocentista num plano de escrita bem diferente, assim lemos O Mandarim ( 1.ª edição em livro, em 1881), sendo a sua primeira versão publicada no Diário de Portugal (1880), como exemplo flagrante desse culto orientalista “à la mode de fantasie”.
Eça utilizou a fantasia do exotismo oriental num modo para melhor caricaturar o espírito português. E, ao longo do texto, esta intenção confirma-se abundantemente, sendo por outro lado, utilizado o discurso exótico para exprimir por contraste o doloroso sentimento de exílio do português no estrangeiro e a obcessão que o narrador tem por esse mesmo exotismo. Mas se essa mesma curiosidade orientalista de Eça já se manifestara durante a sua viagem ao Egipto, da qual resultou a colectânea notas de viagem ao Egipto .
O Cairo que Eça visitou, com as suas mais de 300.000 aldeias (fora as outras 30.000 populações flutuantes “que vem, compra, fuma, reza e volta para o seu dromedário e nas suas caravanas”#.
Pela introdução de “O Egipto - Notas de Viagem “verifica-se que os dois jovens que partiram de Lisboa a 23 de Outubro de 1869, após o que “chegou a Alexandria a 5 de Novembro, depois de terem parado em Cádis, Gibraltar e Malta. Em Alexandria pouco se demoraram, seguindo logo para o Cairo, onde estabeleceram o seu quartel general, no sumptuoso Sheperd’s Hotel. Daí irradiam: visitam Heliopólis, as pirâmides de Guiza, os templos de Sakara e as ruínas de Mênfis”.
Os jornais do Cairo anunciam a presença do Conde de Rezende e Eça numa linguagem sonante e espalhafatosa “Le conte de Rezende, grand amirat du Portuugal et chevalier de Queiros.
O Egipto de Eça de Queirós é em grande parte, a descrição do país visitado naquele ano de 1869, o Egipto muçulmano “romântico”, terra dos califas das mesquitas, dos pachás, cadis, ulemas, derviches, felás. As passagens da obra onde Eça aborda a temática farónica, quer evocando personagens históricas, quer a vida das populações do Antigo Egipto, os deuses e os vestígios monumentais, distribuem-se de Alexandria ao Cairo:
1 – Alexandria – Visita à Coluna de Pompeu e às chamadas “Agulhas de Cleópatra”
2- O Delta de onde nos recordamos logo da célebre frase de Heródoto “O Nilo é um dom do Egipto”
Eça tece considerações sobre o Egipto contemporâneo qur observando semelhanças entre as populações rurais (fellahs)e as figuras representadas nos baixos relevos faraónicos. No Cairo,Eça contempla ainda o Museu de Bulak e o seu encontro com o egiptólogo Mariette na Ópera.
Assim, e da recolha das grandes linhas em que assenta a visão queirosiana do Egipto faraónico, resultam quatro zonas historicamente milenares, qualquer delas remontam aos primórdios da monarquia das duas terras: Heliopólis (a Inu do templo de Ré, do obelisco de Sensértico), Guiza (das Pirâmides e da Esfínge), Sakara (o complexo de Hórus Netjerisket Djoser, o Serapeum e Mênfis, a cidade do Livro Branco, a cidade de Ptah).
A China de O Mandarim é apresentada como um espaço fictício através da narração da personagem. Como verificamos anteriormente a trama é iniciada pelo Diabo que faz com que Teodorico herde uma fortuna de um mandarim chinês, baste que ele toque numa campainha. Ora, é aqui que chamo a atenção, Eça abandona a sua pretensão naturalista de mostrar uma realidade .
Poderemos aqui questionar se a China que é representada n’O Mandarim corresponderia à realidade? Poderemos considerar que este Mandarim corresponde a uma fantasia, um desejo de olhar para um mundo exótico. Daí, podermos comentar sobre a utopia de um posicionamento sem lugar real.
Camilo Pessanha :
Convém situar Camilo Pessanha no meio literário português. Por volta de 1880, Cesário Verde escreve o seu poema mais conhecido: “O Sentido dum Ocidental”, e em 1889, publicaram-se em Coimbra as revistas que divulgam os princípios do Decadentismo e do Simbolismo, a Boémia Nova e os Insubmissos. Em 1890, Eugénio de Castro e Camilo Pessanha têm contactos com nefelibatas , fortmados no Porto por António Nobre, Alberto de Oliveira, Júlio e Raul Brandão. Há quem defenda que o simbolismo decorre directamente das correntes literárias que precederam Pessanha através do Romantismo e do Parnasianismo, pois assenta numa mesma tradição poética que tem como finalidade a arte enquanto conceito cada vez mais amplo de realização.
O Ultimatum de 1890 será a machada final naquilo em que Pessanha ainda possa acreditar no império português, e é com essa finalidade que surge o poema “Clepsidra”. De onde surge um passado nostálgico de um tempo onde o império português não fora abalado pelas circunstâncias políticas e diplomáticas que levará Portugal a desagregar-se.
Camilo de Almeida Pessanha nasceu em Coimbra em 1867 e faleceu em Macau em 1926. Descendendia da linhagem dos Pessanhas, almirantes do Reino, mas nasce como primeiro dos cinco filhos ilegítimos do pai magistrado. Camilo ficará para sempre marcado pelo sacríficio da mãe e pelo aviltamento da vida familiqar (poço de miséria e dor). Em 1891 forma-se em Direito em Coimbra, e três anos depois parte para Macau, como professor de liceu, onde conhece Wenceslau de Moraes. Em 1900 Pessanha assume o cargo de conservador do Registo Predial de Macau. Regressa à metrópole onde permanecerá um ano. Quanto à sua vida privada é marcada pelo vício de abulia, pelo vício do ópio e pelo amor à arte.
A admiração por Pessanha pela civilização chinesa remonta à sua juventude, muito antes de embracar para Macau, na linha, aliás, de outros conceItuados escritores como Camões, Fernão Mendes Pinto e Eça de Queirós.
Nos ensaios em que contempla a estética e a literatura chinesa, Camilo Pessanha utiliza uma metodologia socrática, equacionado os problemas em causa e exprimindo em seguida, dialecticamente, a sua opinião. O estudo em que Camilo Pessanha elaborou para prefaciar o livro do médico Morais Palha sobre a China, ao contrário do que pensam alguns teóricos, não colide com a franca adesão e a empatia que sentia pela civilização chinesa #.
Coincidiu com a chegada de Camilo Pessanha ao Oriente o começar a acumular, meticuloso e sistemático, da sua colecção de arte chinesa. Remonta a essa época a sua colaboração com Lourenço Pereira Marques na recolha de uma colecção etnográfica que constitui muito provavelmente, a pimeira do género enviada para Portugal para enriqucer o património da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Nalguns poemas de Clepsidra, o sentimento da decadência da nação portuguesa também surge relacionado à degradação íntima do “Eu”. Em Camilo Pessanha o destino do sujeito poético não pode ser totalmente identificado de forma tão marcada com o da nação. Os dois poemas são singulares no conjunto da obra de Pessanha, por um lado, por fazerem sobressair a voz colectiva e um “nós“ em oposição às inumeras referências ao “Eu” individual. A maior parte das composições de Clepsidra evidência ainda que subtil vontade, como tentativa de sair da situação de crise, expressa na invocação de S. Gabriel. Não é por acaso que os poemas que tratam de barcos, sem dúvida como pequenas e frágeis embarcações, sem controlo sobre a sua vida e destino, sujeitos às inconstâncias de vida e de tempo.

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