Páginas

quarta-feira, agosto 03, 2011

O oriente português aos olhos de Eça e Pessanha

Edward Said afirmou que o Oriente era uma invenção do Ocidente. Foi desta forma que optámos também estudar, como é que os escritores olharam para o Império nos seus romances de ficção. Esse foi um dos aspectos que nos levou a seguir a viagem para Oriente empreendida por dois escritores portugueses: Camilo Pessanha e Eça de Queirós.
Ao mesmo tempo fomos ao reencontro de personagens ou caminhos deixados nos seus escritose que são a essência do espírito da época. Por ser um tema pouco explorado como tema de investigação partimos desde logo para os romances de cariz oriental como é o caso do Eça e para a poesia do Camilo Pessanha.
Quais são as fontes para o estudo? Romances, jornais, crónicas ou pura e simplesmente desvaneios de vaidade dos dois autores? Ou uma simples moda de época e de espírito?
A entrada “Mandarim” no Dicionário Eça de Queirós reponde muito bem à nossa questão, “O Mandarim, novela de carácter fantástico que Eça escreveu durante umas férias em Angers para o Diário de Portugal por ter falhado a entrega d’ Os Maias que se comprometera a publicar nesse mesmo periódico. Veio assim O Mandarim compensar a falta ao prometido”.
Ao que parece esta obra surge não só pela via das circunstâncias de um contrato, mas também uma especie de moda.
Decidimos explorar o Dicionário de Literatura, e o Dicionário do Eça, para o caso da “Relíquia” seguimos as análises de Luís Manuel Araújo, autor incontornável para quem decida estudar a viagem de Eça pelo Egipto.
O que não faltam são estudos sobre esta viagem e sobre o orientalismo de Eça no Egipto, quer em Portugal, quer no Brasil, onde já se encontram estudos dentro desta temática orientalizante. Ao mesmo tempo que não existem estudos sobre o “Mandarim”.
O nosso interesse por estas duas obras demarcam não só pelo tom satírico, mas ao mesmo tempo uma crítica acentuada à Igreja e um abandono a tudo aquilo que Eça fizera durante muito tempo: descrever a realidade portuguesa. Seguindo Maria Filomena Mónica é, desde já, nossa convicção seguir esta demanda pelo mafarrico queiroziano.
“À menor oportunidade o artista desertava da realidade: Eis a razão pela qual, mesmo após o naturalismo, nós ainda escrevemos contos fantásticos, dos verdadeiros, daqueles pelos quais aparecem fantasmas e em que podemos encontrar ao canto da página o Diabo, esse terror delicioso da nossa infância católica. Eça vinga-se das horas passadas com o conselheiro Acácio”.
Embora Eça o demonstre na história de Teodorico Raposo (“Relíquia”), n’O Mandarim já demonstra uma clara mudança de estilo ou mesmo, é o percursor de um outro género literário ou antecipa o estilo em que os escritores latino-americanos narram uma realidade para lá do tempo inexistente ou quem sabe até surreal, independente desse movimento claro que rompe com todas as convenções. Eça inscreve-se como o "Thomas Mann português criando um Fausto lusitano".
Aos amantes do Oriente e oriundos de outros ambientes, decidimos seguir talvez um demónio queiroziano. Sendo ele um viajante invulgar, impulsionador de desejos, ordens e cobrador de almas. O Diabo é desta forma nosso mais ilustre guia que nos fez seguir pelos quatro cantos do mundo para procurar a famosa campainha e o famoso Mandarim. Alguns autores afirmam que Eça não terá visitado Macau, mas apenas leu algumas dessas obras que lhe dão a cor e o desenho às imagens que vimos nos seus romances orientais. Será então “O Mandarim” um romance de viagens ou uma comédia de costumes? Siga-nos então nesta viagem nos próximos dias . Aguardamos por vós. Façam já as vossas reservas através da Agência de Viagens: Cobrador de Mandarins...

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentários anónimos, sobretudo falando de tudo menos do texto ou imagem a comentar não serão publicados.