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quarta-feira, agosto 03, 2011

Viagem ao Oriente através de Eça e Pessanha ( segunda Parte )*

Se recuarmos aos anos 80 do século XIX deparam-se-nos duas obras: O Mandarim e a Relíquia em que o mítico e o fantástico, o simbólico e o alegórico, se combinam com essa permanente tendência para o exercício da crítica de costumes.
N’O Mandarim prepassa alguma coisa da vida social lisboeta: a pensão da D. Augusta , a vida monótona de Teodoro. O facto porém, é que a novela aposta mais na moralização do que na crítica social propriamente dita, assim traduzindo, no plano da ficção, o que num prólogo dialogado se anunciava o culto sóbrio da fantasia, de mistura com “uma moralidade discreta”. Na obra em apreço é o próprio herói que relata os seus dissabores: tendo sido misteriosamente contemplado com uma herança fabulosa, Teodoro troca a sua existência modesta por uma vida de nababo; mas ao mesmo tempo, vê a sua tranquilidade burguesa ser sacrificada pela erupção de um remorso atroz, que o obriga a viajar para China para tentar devolvera fortuna legada.
Assim, Eça procura estabelecer nos pretextos das informações da estrutura narrativa que adoptara, bem como a orientaçãoa leitura da ficção, talvez com a acertada impressão de que os seus leitores poderiam estranhar a “fantasia”, que se encontara publicada no texto que vinha a lume, logo depois das histórias realistas. Desta forma a análise apontada por Michel Onfray numa leitura em que se procura viajar através da literatura onde se estabelece uma opinião etnocêntrica de um europeu.
Na nossa opinião não podemos considerar que possa existir realismo mágico n’O Mandarim de Eça de Queirós. Como afirma A. M. Campos , o Mandarim traduz tão só nesta obra uma forma satírica. Coimbra Martins dedicou ao Mandarim um exaustivo estudo nos Estudos Queirozianos, procurando diluir as múltiplas formas que Eça se baseia. A farsa Queirosiana baseia-se nos reflexos do autor e verdade, enquanto caricatura.
Ao escolhermos Camilo Pessanha como autor onde expõe a sua visão sobre o oriente e a imagem de decadência nacional sobre os acontecimentos a partir de 1890. Assim sendo Camilo Pessanha, figura da poesia singular portuguesa do início do século XX, é considerado o maior poeta simbolista. Inserindo este poeta no seu tempo, Camilo Pessanha destacou-se no meio literário português, pontuou-se entre a sua actividade de professor e jurista. Dessa mesma forma o Oriente em Camilo Pessanha existe a partir da ideia básica do exílio, funcionando como um vago meio de expressão para atingir um objectivo bem preciso: o da criação poética que lhe vai servir para exprimir o que já em Portugal o obcecava, uma decadência histórica de Portugal, consciência filtrada por uma sensibilidade e uma inteligência que souberam captar o elemento mais puro da poesia simbolista europeia.

* A primeira parte deste trabalho foi publicada ontem neste mesmo blogue

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