Algo de podre no reino da Bibliolândia
Há algum tempo atrás tive uma
vontade enorme de ler um livro indicado por um amigo meu. Para meu espanto as
livrarias da cidade não tinham essa obra.
O que se passaria? O que levaria as livrarias
a não terem o livro? Seria culpa sua? Procurei num hipermercado e o processo
foi o mesmo. Não sabiam. Desconheciam-no por completo! Como seria possível? A
culpa seria da nossa cidade? Não. Atravessei a ponte fui a Lisboa e o
processo repetiu-se.O que se passava? Culpa de quem?
Nossa de todos nós, se nem em Setúbal nem na capital sabiam? Perderam-se os
hábitos de leitura?
Certo é que todos os dias são
editados vários livros. Muitos títulos até. Novos autores são apresentados.Mas,
verdade também, é que nem todos chegam ao fim da corrida.As livrarias sadinas e afinal do
país tornaram-se numa espécie de pronto-a-vestir. Há uma moda, um modelo, que
se impõem e todos têm que vestir as mesmas coisas.Ou seja, passando para o
plano dos escaparates livreiros, todos têm que ler os mesmos livros e os mesmos
autores. Pouca escolha ou uma escolha condicionada? Regras do mercado dirão...
Longe vão os tempos em que as
livrarias eram idênticas a uma costureira .Não havia pressas, as coisas eram
feitas à nossa medida. Hoje há mais gente a ler, logo haverá mais escolhas,
outros e diversos interesses. Nem todos lêem o mesmo!
Se queremos algo diferente do que a ditadura da moda livreira impõe há uma
salva-vidas: aceder à Internet e encomendar o tal título raro.Como é que os historiadores da
leitura e os sociólogos vão analisar este fenómeno?
Servirá este fenómeno de pretexto
para uma história de ficção científica passada na Península de Setúbal onde uma
"cúpula orientadora" a partir da Serra da Arrábida tomaria os
comandos da leitura, isto é decidiria o que se devia ler e apenas ler, não
editar, vigando-se assim das labaeratas que a consumiram anos atrás. Agora seria
alguém por ela que comandando a nossa leitura, ditando uma moda, e assim
condicionando o nosso pensamento, se vingaria desse infame evento?
Serão os restos mortais das folhas
das árvores que comandarão uma vingança contra a população ávida de livros raros,
quando se impõe a moda de romances históricos e passados secretos, quiçá nas
entranhas das grutas da serra, onde se encontrarão as respostas para estas
questões?
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