Capítulo Segundo
Lourença parou de escrever a tese que tinha “pelas mãos “. Há seis meses que não lhe saía nada . O psicólogo dizia-lhe que tudo fazia parte do clima. Numa das sessões Lourença afirmou transformar-se numa mulher ao tentar investigar as histórias de dentes de ratos, seria uma dentista talvez , mas nunca mais se esqueceu de que foi numa dessas quadras festivas que a sua filha teve um acidente e ela quis voltar atrás. Lourença queria pedir à sua mãe de criatividade que preferia ser ela a vítima desse fatal
Acidente. Para Lourença não havia deus, mas uma deusa, ou melhor uma escritora. Ali estavam os dentinhos de leite da sua menina e um presente que ela lhe comprara naquele fatídico dia, guardava-o religiosamente .Esses objectos estavam guardados religiosamente perto do computador, da história da literatura, do seu ideal de criança, do nunca crescer, nunca ter responsabilidades, nem tinha que ser mulher, por isso entrara no universo do passado onde se escondia sob uma criança perdida numa quinta dourada da sua infância ,muito próximo aquela que lera nos seus tempos de menina. Agora, as suas histórias misturavam-se com as da menina Agustina. A criança era o pai do homem e da mulher ,nelas haviam sido projectados os seus interesses. Lourença tinha outros filhos, mas a mágoa, o vazio de que ali nada podia fazer nem havia espaço para repor naquele pedaço de si mesma
- A ficção é uma aula de psicologia e nela podemos concentrar as telhas da nossa casa. Com elas podemos preservar o caminho dos nossos animais. O luar da trombeta desaparecia de forma muito ténue, como se os anjos cantassem um hino às suas amarguras e lhe dessem carapitas de sal para uma margarita. Nessa noite Lourença chorava como a dona dos seus desejos, desejou ser novamente criança, escrevendo para os filhos dos outros e ainda por cima era investigadora de um autor que em Portugal ninguém conhecia Monteiro Lobato .
Lourença escolhera-o porque compreendia os dramas daquele homem. Menina dos negócios, como o seu autor predilecto queria dar um mundo melhor aos filhos dos outros quando não pôde dar afinal aquilo que queria aos seus. Na pior das hipóteses Lourença viu a sua filha ser engolida pelo mar numa terça-feira de Carnaval. Lourença nunca mais fora a mesma, queria recriar o universo da sua menina através de uma tese, da infância onde se via descrita como dente de rato, mas não sabia nada. Às vezes bebia demais, bebia para reencontrar a sua filha no além. Num acento póstumo de uma asa de um anjinho ela queria voar à procura da sua menina, nessas alturas fazia desenhos tentando reanimar a sua coisa mais fofinha, o seu tesouro mais precioso. Dentro desse desenho a sua filha chamava-a dentro da folha de papel pedindo ajuda:
- Mamã, porque estou aqui? Mamã , porque não sou feita de carne e osso como tu?
- Minha querida, para isso basta acreditar. Tu és a minha tese, és a minha obra de ficção. Dei-te pitadas de tinta para que tu tivesses palavra e escrevesses. Não quero desenhar mais a sereia , não quero fatos de sereia.
Nessa noite Lourença viu a morte com ar de criança , mascarada de sereia com a cara da sua própria filha. Era aquele ser que me dizia coisas terríveis de como eu me esquecera dela e que só olhava para os livros. Ela era a morte e não era permeável às lágrimas, ela já matara milhares de pessoa. Não tinha pena de ninguém. A morte apenas lhe dizia que Lourença estava sempre com pressa. A morte queria alimentar-se das lágrimas daquela própria mãe. Nessa noite Lourença chorou até formar uma poça de água e esta estar sujeita a um estudo prévio de um arquitecto paisagista. O lago que descia dos seus olhos dava direito a foguetes, banda e todas as coisas pomposas a que a deusa lhe proporcionava. Lourença chamava-lhe deusa, porque todos os actos de criação só podem ser concebidos por mulheres e não por homens como está atribuído a Deus na Bíblia Sagrada. Os escritores também criam seres humanos e chamam-lhes filhos, por isso ela chamava deusa à grande Agustina. Dopada de medicamentos, Lourença teria uma fase intempestiva. Os seus olhos pareciam um deserto ressequido pelas tempestades do deserto sem as quais não passava a maior parte das vezes. As recordações com que se entretinha nas imediações da sua vida, tinham-lhe provocado emoções fortes era o tempero bem tramado das conversas com o seu médico dava-lhe a certeza do acontecimento. A fantasia e a realidade juntas num prato prontas a serem discutidas numa sessão de psicoterapia.
Acidente. Para Lourença não havia deus, mas uma deusa, ou melhor uma escritora. Ali estavam os dentinhos de leite da sua menina e um presente que ela lhe comprara naquele fatídico dia, guardava-o religiosamente .Esses objectos estavam guardados religiosamente perto do computador, da história da literatura, do seu ideal de criança, do nunca crescer, nunca ter responsabilidades, nem tinha que ser mulher, por isso entrara no universo do passado onde se escondia sob uma criança perdida numa quinta dourada da sua infância ,muito próximo aquela que lera nos seus tempos de menina. Agora, as suas histórias misturavam-se com as da menina Agustina. A criança era o pai do homem e da mulher ,nelas haviam sido projectados os seus interesses. Lourença tinha outros filhos, mas a mágoa, o vazio de que ali nada podia fazer nem havia espaço para repor naquele pedaço de si mesma
- A ficção é uma aula de psicologia e nela podemos concentrar as telhas da nossa casa. Com elas podemos preservar o caminho dos nossos animais. O luar da trombeta desaparecia de forma muito ténue, como se os anjos cantassem um hino às suas amarguras e lhe dessem carapitas de sal para uma margarita. Nessa noite Lourença chorava como a dona dos seus desejos, desejou ser novamente criança, escrevendo para os filhos dos outros e ainda por cima era investigadora de um autor que em Portugal ninguém conhecia Monteiro Lobato .
Lourença escolhera-o porque compreendia os dramas daquele homem. Menina dos negócios, como o seu autor predilecto queria dar um mundo melhor aos filhos dos outros quando não pôde dar afinal aquilo que queria aos seus. Na pior das hipóteses Lourença viu a sua filha ser engolida pelo mar numa terça-feira de Carnaval. Lourença nunca mais fora a mesma, queria recriar o universo da sua menina através de uma tese, da infância onde se via descrita como dente de rato, mas não sabia nada. Às vezes bebia demais, bebia para reencontrar a sua filha no além. Num acento póstumo de uma asa de um anjinho ela queria voar à procura da sua menina, nessas alturas fazia desenhos tentando reanimar a sua coisa mais fofinha, o seu tesouro mais precioso. Dentro desse desenho a sua filha chamava-a dentro da folha de papel pedindo ajuda:
- Mamã, porque estou aqui? Mamã , porque não sou feita de carne e osso como tu?
- Minha querida, para isso basta acreditar. Tu és a minha tese, és a minha obra de ficção. Dei-te pitadas de tinta para que tu tivesses palavra e escrevesses. Não quero desenhar mais a sereia , não quero fatos de sereia.
Nessa noite Lourença viu a morte com ar de criança , mascarada de sereia com a cara da sua própria filha. Era aquele ser que me dizia coisas terríveis de como eu me esquecera dela e que só olhava para os livros. Ela era a morte e não era permeável às lágrimas, ela já matara milhares de pessoa. Não tinha pena de ninguém. A morte apenas lhe dizia que Lourença estava sempre com pressa. A morte queria alimentar-se das lágrimas daquela própria mãe. Nessa noite Lourença chorou até formar uma poça de água e esta estar sujeita a um estudo prévio de um arquitecto paisagista. O lago que descia dos seus olhos dava direito a foguetes, banda e todas as coisas pomposas a que a deusa lhe proporcionava. Lourença chamava-lhe deusa, porque todos os actos de criação só podem ser concebidos por mulheres e não por homens como está atribuído a Deus na Bíblia Sagrada. Os escritores também criam seres humanos e chamam-lhes filhos, por isso ela chamava deusa à grande Agustina. Dopada de medicamentos, Lourença teria uma fase intempestiva. Os seus olhos pareciam um deserto ressequido pelas tempestades do deserto sem as quais não passava a maior parte das vezes. As recordações com que se entretinha nas imediações da sua vida, tinham-lhe provocado emoções fortes era o tempero bem tramado das conversas com o seu médico dava-lhe a certeza do acontecimento. A fantasia e a realidade juntas num prato prontas a serem discutidas numa sessão de psicoterapia.
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