A Vingança de Job (Cap. II) Projecto Sherzade
Caríssimos leitores,
Estavam tão ansiosos por este momento que eu não vos podia deixar sem mais um capútulo desta história. São cada vez mais os leitores que dão dicas e conselhos para continuar com determinada personagem é a mesma coisa que fazer uma petição pela queda da Ministra Gabriela Canavilhas a favor de um director do Museu Nacional de Arqueologia. Será esta a famosa Vingança de Job? Uma verdaeira reviravolta? Não haverá aqui uma pura estratégia de marketing de guerrilha?
POis agora vem a história afinal Deus e o DEmónio nunca se derão tão bem...
Cordialmente,
SHERAZADE
AQui vai então mais uma capítulo para todos aqueles que queriam a minha história...
2:Memórias
Procurei na Idade Média as histórias de príncipes e princesas, mas depressa descobri que a Idade Média era muito mais do que isso, era muito mais do que aquela noite dos mil anos que me tentaram um dia vender. A Idade Média está acima de tudo nos atalhos que os investigadores fazem para para encontrar as pessoas que lá estão nos buracos, nos infernos , purgatórios e paraísos da manhã de ontem.
Olhei então para o mar e tirei um cigarro da mala. Ando a fumar imenso. Quando vejo Titas, enervo-me bastante. Penso na forma como irei falar com ele quando o encontrar, porque me irrita aquela forma que ele tem de olhar, de que o mundo é todo dele. Sim, ele é o meu princípe. Ele tem tudo o que me irrita. È de esquerda, é a favor da despenalização do aborto e eu não sou, não quero aceitar a morte de um inocente. Pronto! Não aceito a morte de um pessoa que está numa cama , não me venham com as histórias da legalização das drogas leves. Mas Titas beija bem. Consegue hipnotizar-me! Ainda me lembro de ir ver ao cinema filmes que nem se quer gostava só para o ver, sentir a sua presença. Estar sentada ao pé dele. Sabia que ele gostava de outras pessoas, que preferia a companhia dessas pessoas à minha, mas eu esquecia tudo e queria acreditar que um dia ele viria ter comigo trazer-me um ramo de flores, ou de uma outra forma mais guerreira me levaria nos seus braços e me raptaria. Estaríamos os dois a fazer amor e depois comentaríamos qualquer coisa. Olharíamos o nascer do sol e beberíamos um café pela baixa. És tão falso, Titas. Só de me lembrar que me deixei enrolar pela tua conversa da treta, de fumar um charrinho para ter um minuto de atenção. Os homens não prestam. Mas hoje sei que me amavas e que essa era a sua forma de agir com todas as pessoas. Aquele sorriso desconcentrava-me completamente! Bastava-me vê-lo e ficar de rastos!
Não sei o que se está a passar comigo mas desde àlgum tempo para cá cada vez que olho para as representações de D. Sancho I vejo unicamente uma pessoa. Martim ou Titas no melhor dos casos. Lembro-me sempre dele cada vez que pego na tese à qualquer coisa que não está a jogar bem. Bem sei que a sua morte não me deixou nada bem, acredito que por vezes nós temos a tendência para exigir, para reclamar. Fui usada por ele, ou eu usava-o para deitar fora a minha tensão que sentia na altura da faculdade. Encontravamo-nos no mesmo café onde agora estou e aí ele falava-me de que eu era uma menina mimada, nunca olhara para a história medieval do ponto de vista dos vencidos e falava-me da história escrita por Alváro Cunhal, descrevia-me os relatos de Fernão Lopes das lutas de 1383-1385. Dizia-me então a base do povo, das lutas, dos pormenores onde se via o princípio da descrição de um grande escritor. Apesar das nossas diferenças Titas completava-me, tinha me dito um bruxo que um dia que o meu grande amor, decidira mudar a minha vida ,fazer uma introspecção. Ele dissera-me que nós os dois completavamo-nos, mas nunca teríamos a mesma opinião. Hoje acredito nisso! A vida encarregou-me de trazer as recordações como se estivessem expostas numa bancada de um hipermecado à mão de semear. Gostava de sentir a sua pele de bébé, o seu rosto de manequim e a sua aparência de danddy. Fascinava-me o seu aspecto de revolucionário, talvez tenha esse aspecto que veja agora em Sancho I. Ele era agora o seu menino. Via-me ali com ele a falar, enquanto observava agora os namorados a falarem apaixonadamente. Arrependera-se de não ter tido um filho dele pois acreditava que ia ver renascer a cara do pai no seu filho, pois tal como diz a tradição os filhos são a continuidade dos pais ,diziam-lhe. E agora estava ali a saborear recordações. Estava na Idade Média. Fixara-se na figura de um homem, porque como lhe dizia a sua amiga Muema de que D. Sancho I era a cara de Martim. Sim, ele era o filho que ela não tivera dele, porque era demasiado púdica ou epístolar, Ficava-me pelos e-mails, quando no fundo tinha uma enorme vontade de o olhar e dizer que o odiava. A última vez que nos encontramos na faculdade virei-lhe a cara , queria fazer-lhe sentir que ele não me dizia nada, mas Titas era sempre um presente para os olhos onde quer que o visse.
E agora estou aqui a matar-me aos poucos! A fumar! A sentir este sabor a nicotina como se estivesse a pedir à morte ou a qualquer ser superior para me vir buscar em suaves prestações. Martim. Talvez tenha sido a tua ousadia que me fez pensar na minha vida, quando tu me disses-te nesta mesa que eu queria investigar a figura de um rei apagado porque os meus pais desejavam um homem e não uma mulher! Como aquilo mexeu comigo! Agora bebia o café e aquele líquido na minha boca tinha um sabor estranho não me sabia tão bem como acontecia normalmente, sentia que a observavam ao de longe alguém que não via há muito tempo.
Ao ver o mar sinto uma segurança nunca vista, um universo capaz de trazer compensações que nestas alturas as memórias fazem doer, uma espécie de caixas de mágicos onde as facas nos vão entrando na alma e isso faz parte da memória, cada parte uma mais afiada que outra. Aqui e ali a dor é una. Um dia ao falar disto a Moema senti que Sancho I e Titas são o mesmo não sei porque me deu esta ideia, mas foi como se alguém se me preparasse uma armadilha para enganar a morte de Titas. O que Titas me havia dito naquela tarde... agora eu tinha um único pensamento... estudar Sancho I era uma forma de manter a memória de Titas / Martim vivo.
3: A Chegada
Quando um de nós tem uma ideia por mais pequena que seja de uma desgraça sorrimos , mas temos a tendência para esconder essa faceta menos nobre porque a sociedade a considera abominável. Os ardis que propomos montar às vítimas que optamos tratam-se de seres desgraçados, uns farrapos aos quais não há o mero interesse de lhe tirar o tapete. Eu integro-me nessa categoria, fui um homem que tive o mundo inteiro aos pés mas acabei por perder tudo. A Bíblia conta a minha história. Podem procurar ou chegar a uma igreja e ouvir uma lenga–lenga e que eu sou aquele que aguenta tudo. Meus caros senhores eu não sirvo de exemplo para ninguém, nem essa “tiazinha–intelectual“ a que Santanás e Deus se propuseram desferir o golpe fatal. Eu tenho pena da vida dela daqui para o futuro. O que lhe poderá acontecer se o Demónio e Deus se lembrarem de jogar ao azar com ela. Tenho-lhes ódio! Por isso vou fazer com que essa felicidade momentânea seja reduzida a cacos, como uma autêntica descoberta arquéológica seja colada aos bocadinhos com uma enorme paciência laboratorial.
Assim acabo por ter uma enorme ternura por esta mulher que passa horas de volta dos livros, lendo documentos, reescrevendo o texto que tem em mãos para entregar ao orientador, reconheço assim a sua enorme vontade em descobrir a sua identidade como se estivesse em volta em pó prestes a ser limpa dando-se afinal de contas pequenos pormenores que até então esses arquéologos se dariam conta de uma descoberta bombástica.
Lembro-me de Sancha em pequena. Sempre atenta, sempre pronta a superar-se numa família onde 25 de Abril era assunto morto e enterrado, apenas lhe fora entregue o gosto da cartilha maternal. Ela acabaria por ser conhecida como “fascizóide “.Apesar dessa cicatriz educacional Sancha sempre foi boa aluna , porque quiz esquecer quem era a sua família apesar de ter registado ao mais ínfimo pormenor tudo aquilo que lhe era dito. Ela era uma sombra na família tal como o rei que se havia de perder por amores Sancha nunca iria singrar na vida.
Sancha testou-se a si mesma para conhecer os buracos negros que haviam dentro de si para encontrar a liberdade de pensamento que nunca tivera desde criança.
Martim era a faísca que a acendia, era a página arrancada do diário secreto dos seus pensamentos, com ele tudo fazia sentido!
O seu ar aparente de dandy retirado de uma revista masculina de moda. Sancha olhava provocatoriamente para aquele homem mirando-o de alto a baixo centrando-se a partir da zona das calças de sarja com bolsos através de olhares libidinosos ao qual a sua família morreria de vergonha.
Sancha a “Povoadora “ desejava ter o seu espaço próprio e esquecer a ideia de monarquia que lhe haviam incutido desde miúda. Tudo isso estava a mudar porque Sancha estava prestes a ter uma mudança de trezentos e cinquenta graus.
Assim que vi pela primeira vez o seu rosto acabei por me apaixonar por ela, porque ela me recordava tudo aquilo que eu fora um dia. Rico, respeitado, casado e com filhos.
Porém tudo isso mudou a partir de uma única aposta de duas “pessoas “ que se detestavam e gostavam de jogar com a vida dos seres humanos, talvez porque nunca tivessem tido necessidade de fazer psicanálise, por isso não tinham capacidade de olhar para dentro de si.
Eu sou a prova disso, sou uma espécie de cobaia dessa desgraça, aquele que nasceu um dia morreu e pereceu.
Quero preparar a vingança ao reconstruir a vida de Sancha , a partir da morte do homem que a fazia viver. Era sem dúvida um cruel destino, tirar-lhe a ideia paterna dentro dela. Mas vocês perguntar-me-ão: Mas você não terá vida?
Todos me conhecem como aquele que se resignou perante as situações ,sempre temente a Deus e agora estou a ver a mesma história a repetir-se. Tenho que fazer alguma coisa.
Vejo Martim chegar. Está morto. Entontecido, sem saber o que fazer, posto à prova, são lhe dadas várias senhas para que adquira um curso para novas competências, isto resume-se ao universo da morte. Esses cursos têm início a partir do momento em que eles se dão conta de que já partiram do outro mundo para este, onde eles crêem que não há outra vida para além daquela que tiveram.
Esses cursos de formação tem por norma aprender-se a ser morto e o que fazer quando os defundos vêm as suas campas.
As questões que lhes fazem são as seguintes:
“Você não consegue adaptar-se a esta nova fase? Acredita que pode viver mais mil anos? Onde? E em que corpo?
Para lhes dar essas respostas existem formadores tão famosos que vocês não iriam acreditar! Agatha Christie, Sherolk Holmes, Freud, Young a quem Deus e o Diabo repetiram programas ao mesmo tempo sem que estes tivessem tempo para os fazer, tudo era feito encima do joelho . Mas isso não vou descrever aqui. Resta imaginar. Até breve.
Estavam tão ansiosos por este momento que eu não vos podia deixar sem mais um capútulo desta história. São cada vez mais os leitores que dão dicas e conselhos para continuar com determinada personagem é a mesma coisa que fazer uma petição pela queda da Ministra Gabriela Canavilhas a favor de um director do Museu Nacional de Arqueologia. Será esta a famosa Vingança de Job? Uma verdaeira reviravolta? Não haverá aqui uma pura estratégia de marketing de guerrilha?
POis agora vem a história afinal Deus e o DEmónio nunca se derão tão bem...
Cordialmente,
SHERAZADE
AQui vai então mais uma capítulo para todos aqueles que queriam a minha história...
2:Memórias
Procurei na Idade Média as histórias de príncipes e princesas, mas depressa descobri que a Idade Média era muito mais do que isso, era muito mais do que aquela noite dos mil anos que me tentaram um dia vender. A Idade Média está acima de tudo nos atalhos que os investigadores fazem para para encontrar as pessoas que lá estão nos buracos, nos infernos , purgatórios e paraísos da manhã de ontem.
Olhei então para o mar e tirei um cigarro da mala. Ando a fumar imenso. Quando vejo Titas, enervo-me bastante. Penso na forma como irei falar com ele quando o encontrar, porque me irrita aquela forma que ele tem de olhar, de que o mundo é todo dele. Sim, ele é o meu princípe. Ele tem tudo o que me irrita. È de esquerda, é a favor da despenalização do aborto e eu não sou, não quero aceitar a morte de um inocente. Pronto! Não aceito a morte de um pessoa que está numa cama , não me venham com as histórias da legalização das drogas leves. Mas Titas beija bem. Consegue hipnotizar-me! Ainda me lembro de ir ver ao cinema filmes que nem se quer gostava só para o ver, sentir a sua presença. Estar sentada ao pé dele. Sabia que ele gostava de outras pessoas, que preferia a companhia dessas pessoas à minha, mas eu esquecia tudo e queria acreditar que um dia ele viria ter comigo trazer-me um ramo de flores, ou de uma outra forma mais guerreira me levaria nos seus braços e me raptaria. Estaríamos os dois a fazer amor e depois comentaríamos qualquer coisa. Olharíamos o nascer do sol e beberíamos um café pela baixa. És tão falso, Titas. Só de me lembrar que me deixei enrolar pela tua conversa da treta, de fumar um charrinho para ter um minuto de atenção. Os homens não prestam. Mas hoje sei que me amavas e que essa era a sua forma de agir com todas as pessoas. Aquele sorriso desconcentrava-me completamente! Bastava-me vê-lo e ficar de rastos!
Não sei o que se está a passar comigo mas desde àlgum tempo para cá cada vez que olho para as representações de D. Sancho I vejo unicamente uma pessoa. Martim ou Titas no melhor dos casos. Lembro-me sempre dele cada vez que pego na tese à qualquer coisa que não está a jogar bem. Bem sei que a sua morte não me deixou nada bem, acredito que por vezes nós temos a tendência para exigir, para reclamar. Fui usada por ele, ou eu usava-o para deitar fora a minha tensão que sentia na altura da faculdade. Encontravamo-nos no mesmo café onde agora estou e aí ele falava-me de que eu era uma menina mimada, nunca olhara para a história medieval do ponto de vista dos vencidos e falava-me da história escrita por Alváro Cunhal, descrevia-me os relatos de Fernão Lopes das lutas de 1383-1385. Dizia-me então a base do povo, das lutas, dos pormenores onde se via o princípio da descrição de um grande escritor. Apesar das nossas diferenças Titas completava-me, tinha me dito um bruxo que um dia que o meu grande amor, decidira mudar a minha vida ,fazer uma introspecção. Ele dissera-me que nós os dois completavamo-nos, mas nunca teríamos a mesma opinião. Hoje acredito nisso! A vida encarregou-me de trazer as recordações como se estivessem expostas numa bancada de um hipermecado à mão de semear. Gostava de sentir a sua pele de bébé, o seu rosto de manequim e a sua aparência de danddy. Fascinava-me o seu aspecto de revolucionário, talvez tenha esse aspecto que veja agora em Sancho I. Ele era agora o seu menino. Via-me ali com ele a falar, enquanto observava agora os namorados a falarem apaixonadamente. Arrependera-se de não ter tido um filho dele pois acreditava que ia ver renascer a cara do pai no seu filho, pois tal como diz a tradição os filhos são a continuidade dos pais ,diziam-lhe. E agora estava ali a saborear recordações. Estava na Idade Média. Fixara-se na figura de um homem, porque como lhe dizia a sua amiga Muema de que D. Sancho I era a cara de Martim. Sim, ele era o filho que ela não tivera dele, porque era demasiado púdica ou epístolar, Ficava-me pelos e-mails, quando no fundo tinha uma enorme vontade de o olhar e dizer que o odiava. A última vez que nos encontramos na faculdade virei-lhe a cara , queria fazer-lhe sentir que ele não me dizia nada, mas Titas era sempre um presente para os olhos onde quer que o visse.
E agora estou aqui a matar-me aos poucos! A fumar! A sentir este sabor a nicotina como se estivesse a pedir à morte ou a qualquer ser superior para me vir buscar em suaves prestações. Martim. Talvez tenha sido a tua ousadia que me fez pensar na minha vida, quando tu me disses-te nesta mesa que eu queria investigar a figura de um rei apagado porque os meus pais desejavam um homem e não uma mulher! Como aquilo mexeu comigo! Agora bebia o café e aquele líquido na minha boca tinha um sabor estranho não me sabia tão bem como acontecia normalmente, sentia que a observavam ao de longe alguém que não via há muito tempo.
Ao ver o mar sinto uma segurança nunca vista, um universo capaz de trazer compensações que nestas alturas as memórias fazem doer, uma espécie de caixas de mágicos onde as facas nos vão entrando na alma e isso faz parte da memória, cada parte uma mais afiada que outra. Aqui e ali a dor é una. Um dia ao falar disto a Moema senti que Sancho I e Titas são o mesmo não sei porque me deu esta ideia, mas foi como se alguém se me preparasse uma armadilha para enganar a morte de Titas. O que Titas me havia dito naquela tarde... agora eu tinha um único pensamento... estudar Sancho I era uma forma de manter a memória de Titas / Martim vivo.
3: A Chegada
Quando um de nós tem uma ideia por mais pequena que seja de uma desgraça sorrimos , mas temos a tendência para esconder essa faceta menos nobre porque a sociedade a considera abominável. Os ardis que propomos montar às vítimas que optamos tratam-se de seres desgraçados, uns farrapos aos quais não há o mero interesse de lhe tirar o tapete. Eu integro-me nessa categoria, fui um homem que tive o mundo inteiro aos pés mas acabei por perder tudo. A Bíblia conta a minha história. Podem procurar ou chegar a uma igreja e ouvir uma lenga–lenga e que eu sou aquele que aguenta tudo. Meus caros senhores eu não sirvo de exemplo para ninguém, nem essa “tiazinha–intelectual“ a que Santanás e Deus se propuseram desferir o golpe fatal. Eu tenho pena da vida dela daqui para o futuro. O que lhe poderá acontecer se o Demónio e Deus se lembrarem de jogar ao azar com ela. Tenho-lhes ódio! Por isso vou fazer com que essa felicidade momentânea seja reduzida a cacos, como uma autêntica descoberta arquéológica seja colada aos bocadinhos com uma enorme paciência laboratorial.
Assim acabo por ter uma enorme ternura por esta mulher que passa horas de volta dos livros, lendo documentos, reescrevendo o texto que tem em mãos para entregar ao orientador, reconheço assim a sua enorme vontade em descobrir a sua identidade como se estivesse em volta em pó prestes a ser limpa dando-se afinal de contas pequenos pormenores que até então esses arquéologos se dariam conta de uma descoberta bombástica.
Lembro-me de Sancha em pequena. Sempre atenta, sempre pronta a superar-se numa família onde 25 de Abril era assunto morto e enterrado, apenas lhe fora entregue o gosto da cartilha maternal. Ela acabaria por ser conhecida como “fascizóide “.Apesar dessa cicatriz educacional Sancha sempre foi boa aluna , porque quiz esquecer quem era a sua família apesar de ter registado ao mais ínfimo pormenor tudo aquilo que lhe era dito. Ela era uma sombra na família tal como o rei que se havia de perder por amores Sancha nunca iria singrar na vida.
Sancha testou-se a si mesma para conhecer os buracos negros que haviam dentro de si para encontrar a liberdade de pensamento que nunca tivera desde criança.
Martim era a faísca que a acendia, era a página arrancada do diário secreto dos seus pensamentos, com ele tudo fazia sentido!
O seu ar aparente de dandy retirado de uma revista masculina de moda. Sancha olhava provocatoriamente para aquele homem mirando-o de alto a baixo centrando-se a partir da zona das calças de sarja com bolsos através de olhares libidinosos ao qual a sua família morreria de vergonha.
Sancha a “Povoadora “ desejava ter o seu espaço próprio e esquecer a ideia de monarquia que lhe haviam incutido desde miúda. Tudo isso estava a mudar porque Sancha estava prestes a ter uma mudança de trezentos e cinquenta graus.
Assim que vi pela primeira vez o seu rosto acabei por me apaixonar por ela, porque ela me recordava tudo aquilo que eu fora um dia. Rico, respeitado, casado e com filhos.
Porém tudo isso mudou a partir de uma única aposta de duas “pessoas “ que se detestavam e gostavam de jogar com a vida dos seres humanos, talvez porque nunca tivessem tido necessidade de fazer psicanálise, por isso não tinham capacidade de olhar para dentro de si.
Eu sou a prova disso, sou uma espécie de cobaia dessa desgraça, aquele que nasceu um dia morreu e pereceu.
Quero preparar a vingança ao reconstruir a vida de Sancha , a partir da morte do homem que a fazia viver. Era sem dúvida um cruel destino, tirar-lhe a ideia paterna dentro dela. Mas vocês perguntar-me-ão: Mas você não terá vida?
Todos me conhecem como aquele que se resignou perante as situações ,sempre temente a Deus e agora estou a ver a mesma história a repetir-se. Tenho que fazer alguma coisa.
Vejo Martim chegar. Está morto. Entontecido, sem saber o que fazer, posto à prova, são lhe dadas várias senhas para que adquira um curso para novas competências, isto resume-se ao universo da morte. Esses cursos têm início a partir do momento em que eles se dão conta de que já partiram do outro mundo para este, onde eles crêem que não há outra vida para além daquela que tiveram.
Esses cursos de formação tem por norma aprender-se a ser morto e o que fazer quando os defundos vêm as suas campas.
As questões que lhes fazem são as seguintes:
“Você não consegue adaptar-se a esta nova fase? Acredita que pode viver mais mil anos? Onde? E em que corpo?
Para lhes dar essas respostas existem formadores tão famosos que vocês não iriam acreditar! Agatha Christie, Sherolk Holmes, Freud, Young a quem Deus e o Diabo repetiram programas ao mesmo tempo sem que estes tivessem tempo para os fazer, tudo era feito encima do joelho . Mas isso não vou descrever aqui. Resta imaginar. Até breve.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home