Um triller gastronómico
Hoje estamos aqui para fazer uma grande revelação. Revelação essa que tem sido menosprezada pelos investigadores da Antiguidade Oriental, nomeadamente da área da assiriologia.
Serão estas informações, assim, tão temíveis? Destruirão vidas? Não o sabemos mas têm sido deixadas de lado pelos investigadores que acham que o quotidiano é um assunto menor.
Desenganem-se todos aqueles que entendem que a alimentação é um problema menor, e por isso possa ser comparado a um caso policial arquivado por falta de provas.
Alguém disse um dia que a investigação histórica se pode comparar a um inquérito policial. Como poderemos centrar essa mesma investigação com o quotidiano?
Partimos do princípio que devemos reconstruir todas as peças da nossa investigação, desde os pormenores mais insignificantes. Tomaz Eloy Martínez, escritor argentino, afirmou no ano passado numa entrevista, que muitas vezes os escritores recorrem à história para reconstruir casos históricos mal resolvidos, partindo do seu ponto de vista literário.
O historiador deve ter essa mesma função. Se há um crime, há um suspeito. E onde existem suspeitos há que procurar provas. Para provarmos a nossa teoria segue-se um inquérito policial baseado num texto literário intitulado “A Águia e a Serpente”.
Iremos provar não só como todo o solo era avesso ao cultivo de alguns produtos agrícolas, a sua salinidade assim o demonstra, como pela geografia, a temperatura agreste da Mesopotâmia do Norte diferente da do Sul, demonstrando-nos que este povo teve que agir com sabedoria e astúcia face às intempéries que lhes eram oferecidas. Estas revelações não nos são dadas pelas datas, mas pelas tábuas cuneiformes, ou ainda pelas placas de argila que nos dão provas de acontecimentos importantíssimos como matrimónios, nascimentos, tratados de paz ou ainda famosas receitas que não estão inscritas num único livro mas que alguns arqueólogos puderam, juntando as peças oferecer-nos as suas hipóteses.
Interessam-nos ainda histórias do simbólico como os textos mitológicos que fazem referência a um determinado tipo de alimentação: a ritual, a alimentação simbólica, já que neste caso o mundo deve estar em ordem de acordo com os deuses.
Os historiadores voltam-se então para esse segredo gastronómico mesopotâmico. O que faz então que um grupo de homens e mulheres se dedique a estudar a cozinha? O que faz com que a cozinha se torne tão fascinante aos nossos olhos?
Há relativamente pouco tempo um jovem historiador descobriu na reserva de um museu uma tábua cuneiforme com o título “Instruções a Cereja”:
Quando a conheci ela estava completamente desfeita. Não conseguia suportar pela perda dos seus filhotes. O seu amigo Águia traíra-a por gula. Por isso ela estava disposta a descobrir porque razão era tão especial a comida. O deus Samash deixou o seu amigo fugir, dizia ela que se recordava da hora em que retirou pena a pena do seu amigo à dentada. Samash disse-lhe que ela devia esperar. A paciência, dissera o deus, era uma virtude. Falhara alguma vez o deus da justiça?
Por isso ela começou-me a contar toda a história. Há muito tempo atrás ela e a Águia fizeram um pacto de amizade perante Samash. Tiveram filhos. Quando a serpente trazia da caça cabras monteses ou gazelas, a águia e os seus filhos comiam a caça.
Quando a Águia trazia da caça, a pantera do deserto ou um animal selvagem, a serpente e os seus filhotes também comiam.
Tudo se transformou quando os filhos da águia cresceram e tiveram asas fortes para deixar o ninho. A Águia concebeu maus pensamentos e comunicou-os aos filhotes: ia comer os filhos da serpente e voar para o céu, sem descer mais que à altura do cimo das árvores.
Objectou a águiazinha mais nova que isso seria transgredir o juramento e incorrer na ira e anátema de Samash. A Águia não escutou, não ouviu que ia, diziam os seus filhotes. Desceu e comeu os filhotes da serpente. Pela tarde, ao findar do dia , a serpente voltou. Trazia o tributo da carne, que depôs à entrada do seu ninho. Olhou o ninho não existia. Inclinou-se: já não viu os seus filhotes. Com as unhas esgravatou então o solo, e do ninho, os turbilhões da poeira escureciam o céu. A serpente deitou-se então chorou, ante Samash corriam as suas lágrimas : “Tive confiança em ti, ó Herói Samash! Por ti, dei à águia presentes da minha amizade; temi o teu juramento e honrei-o; não concebi o mal contra o meu camarada; ora ele, seu ninho intacto , o meu devastado; o ninho da serpente tornou-se lugar de lamentações; são e salvos estão os seus filhotes, os meus já não existem! Ela desceu e comeu a minha descendência! O infortúnio que me aconteceu, tu Samash o conheces. A serpente pede vingança e obtém-na. O deus da justiça ordena que a serpente mate um boi selvagem que Samash tem atado na montanha, fure o seu ventre e se esconda no buraco feito na barriga do boi. A águia virá banquetear-se; a serpente deve então agarrá-la , arrancar-lhe todas as suas asas e lançá-la numa gruta. A águia não atendendo ao pedido do filhote mais pequeno, caiu na armadilha: Desceu e pôs-se por cima do boi selvagem. Primeiro , a águia inspeccionou a carne , quis ver o que estava à frente e por de trás dele. Avançou, passo a passo, com cuidado, aproximou-se da gordura que cobre os intestinos. Quando entrou, a serpente apanhou-a pelas asas... a águia abriu a boca e disse à serpente: - Tem dó de mim! Como um noivo dar-te–ei um presente! Mas a serpente abriu a boca e disse: - Se te soltasse, que diria eu a Samash, lá no alto? Era contra mim voltava o teu castigo, este castigo que precisamente eu te devo infligir!
Cortou-lhe radicalmente as penas, arrancou-lhe as asas e deitou-a numa gruta, para que morresse à fome e à sede.
Depois deste episódio a serpentezinha seguiu o seu caminho não ouvindo falar mais sobre a águia. Samash disse-lhe que ela devia procurar as respostas para lá das montanhas. Após esse local sagrado estavam, os segredos dos seres humanos. Diziam até que ali naquele local gelado os humanos haviam criado um sistema de refrigeração para que eles pudessem manter as suas bebidas frescas. A serpentezinha ficou maravilhada imaginando-se já a rastejar o seu corpo no meio do gelo.
- Hum! Que maravilha!
De súbito as suas ideias voltaram-se para os seus filhotes vítima de repastos gastronómicos . Quem sabe que junto dos seres humanos ela não obtivesse as repostas? Voltou-se novamente junto do deus Samash:
- Senhor, eu gostava de ir para lá das montanhas para descobrir os segredos dos homens e mulheres!
A serpentezina não se explicou melhor e no meio desta confusão ela iria iniciar uma aventura gastronómica junto do palácio real. Transformada numa linda mulher. A sua vontade mais uma vez fora-lhe concedida. Ali estava num armazém de um grande palácio. Numa cozinha real. O cozinheiro ficou a olhá-la Ela não sabia o que estava a acontecer. Imaginou imediatamente que ele comentaria o facto dela ser um réptil.
- Rápido! Rápido! Siga o cozinheiro chefe! Está a olhar para onde? Não sabia que era isto que ia fazer?
Passou por uma queda de águia e observou-se. Era sem dúvida uma linda mulher.
- Você será aprendiz do cozinheiro oficial! Deve obedecer às suas ordens e seguir à risca, poderá fazer algumas intervenções. O cozinheiro mostrou-lhe então a dispensa daquele palácio onde estavam os cereais, as carnes, peixes cujos os vendedores traziam todos os dias, sendo este uma espécie de imposto a pagar ao Estado. Estava prestes a ser submetida a um teste. No meio daquela azáfama. O chefe dos cozinheiros olhou-a de alto a baixo. A serpentezinha apresentou-se dizendo que tinha curiosidade em trabalhar com o chef mas afamado de todo o império. Voltou-se novamente e observou-a atentamente. –
- Vamos ter que fazer as coisas por partes! Todos os dias são enviados dois litros de farinha para a fabricação da cerveja, não só terás que saber as suas diferenças, como aquelas que são de primeira qualidade, ainda também os diferentes ingredientes, os géneros de cervejas que terás em mãos. Aqui vivem mais de um milhar de pessoas, trabalham técnicos altamente especializados onde escolhem todos os dias vegetais, carnes e peixes frescos.
- Como sabes tudo isto? – perguntou ela extenuada com tanta informação.
- Minha linda é o meu trabalho! Ainda agora começamos! Agora vamos por mãos à obra porque hoje o nosso rei irá dar uma grande festa.
O jovem cozinheiro começou por mostrar os diferentes tipos de cereais, a escana a chamada triticum dicccum usada para fazer pão e cerveja , ainda era conhecido a triticum monoccum. O centeio e a aveia não era cultivado no médio oriente. Quando a serpentezinha perguntou se havia azeite na dispensa o jovem olhou-a .
- Já vi tudo, Nana, é assim como se chama, não é?
A serpentezinha tremeu. O cozinheiro sabia de tudo. Ela lembrava-se das horas em que passava a arrastar-se pelas oliveiras provando aquele molho suculento.
È estrangeira, Nana respondendo:
- Claro que sim, sou da Galileia. Nós viemos para cá quando o meu país foi invadido pelas tropas do vosso rei.
- Psiu! – disse o jovem. Não fale disso aqui! Este é um dos locais que todas as paredes têm ouvidos. Cuidado com o que fala e a quem fala! – disse o jovem olhando-a .
- Gostava de lhe dizer que não existem oliveiras no nosso país, Senaqueribe o grande tentou trazer oliveiras, mas não houve qualquer resultado, mas cultivavam-se leguminosas. Quanto às bebidas alcoólicas há frutos tais como os figos, as uvas que são cultivados nas regiões montanhosas, as uvas são usadas para fazer sumos, mas haviam diversos tipos de vinhos , mas o cultivo das hortaliças requeria também um enorme trabalho, dividindo-se pequenos bancos podiam cultivar-se inúmeras plantas, as cebolas eram comidas com pão. A serpentezinha olhou o cozinheiro e disse:
- Pelo amor de Samash! Isso deve dar cá um hálito! Ah! Que horror! Faz–me lembrar o meu irmão mais novo...
Foi então que se recordou do seu tesouro mais pequeno que adorava roubar cebolas e come-las. A sua filhinha dizia que havia de ser cozinheira para não terem que andar à caça todos os dias. “Mamã, um dia vou trabalhar para ti. Vou fazer um livro de receitas e vou fazer um pão com inúmeras coisas , todas elas para não termos que comer diversas vezes ao dia. A serpentezinha ria-se, dizendo-lhe:
- Litinha, mas todos nós temos que comer várias vezes, porque se não comermos ficamos fracos e indefesos.
- Mas eu vou inventar algo que encha até aqueles seres que andam com duas pernas!
- Litinha! Esses seres são seres humanos!
A serpentezinha começou a chorar.
- O que foi? – perguntou-lhe o jovem.
- O meu irmãozinho foi sacrificado na altura em que o culto ao deus Baal foi imposto e foi sacrificado .
No meio daquela conversa um dos trabalhadores, um pasteleiro apareceu pálido.
- O que se passa? – perguntaram a serpentezinha e o jovem cozinheiro em coro.
- Há uma greve os agricultores recusam-se a trabalhar, até que todos os seus meios, os seus trabalhos sejam reconhecidos, até os pescadores que têm um contracto de arrendamento dizem-se injustiçados.
- Mas então o que fazer? A festa de inauguração é daqui a várias horas e dizes-me que está tudo parado?
- Sim, dizem que a culpa foi de um jardineiro que cometeu uma falta contra a deusa Inana. O cozinheiro olhou para a serpentezinha pensando se era ela a deusa .
- Carne não há carne? Não há leite para o pato assado? – perguntou de súbito a serpentezinha lembrando-se numa das famosas receitas inventadas pela sua filhinha .
O pasteleiro e o cozinheiro olharam-se. Não sabiam como se fazia aquela receita. Dizem até que os poucos cães que habitam por aqui estão a desaparecer. Um deles que era um membro diplomático hitita foi morto junto de uma colmeia .
A serpentezinha disse:
- Eu conheço um jurista amigo meu, ele pode fazer rever as leis .
- Quem é esse teu amigo ?
- Samash!-respondeu ela .
- Parece não ser boa coisa, dizem os advogados que esse deus é um pouco cínico e serve a dois senhores. –disse o cozinheiro cada vez mais pasmado
- Mas ele serve-se a ele mesmo. O que foi? Estás a olhar para mim dessa maneira, porquê? Era só o que me faltava! Já viu isto, pasteleiro?
Samash apareceu–lhes naquele instante e disse:
-Estamos com vários problemas um dos jardineiros reais foi acusado de ter violado uma deusa, enquanto um espinheiro tomou o poder e está a criar uma degradação diplomática...
A Serpentezinha conhecia os apetites de poder do espinheiro disse:
- Vamos falar com os trabalhadores do palácio, na hora da apresentação do rei e da inauguração do palácio que aos olhos dos presentes tinham contornos surreais. Todo o palácio tinha a forma daquela planta em forma de lápis–lazúli e ele tencionava apresentar um novo panteão de deuses, cactos, e outros animais de rosto que aos olhos da Serpentezinha mudou-lhe o rosto completamente.
- Já sei como é que vamos apanhar este espinheiro! Ele é vaidoso! Mandaremos trazer do palácio do prazer um grupo de sacerdotisas que apresentem a história da deusa e do seu pastor, uma canção de amor mas à forma deste senhor, dar-lhe a apresentar mais tarde que já temos o problema resolvido. E eu sei quem é o assassino do diplomata hitita. vamos fazê-lo trazer a verdade. Os seus planos mais íntimos através de uma simples cerveja. Apresentaremos uma nova receita...
- Qual ?
- Não há! Então? Meus caros, as cervejas são servidas com canudos ou palhinhas, nós vamos dar-lhe o contrário. uma cerveja a fermentar, mas muitas cervejas que a verdade aparecerá. –disse a Serpentezinha .
- Esperemos que tenhas razão – disse o porta dos voz dos trabalhadores. Não temos nada. Não há esperança! Esta planta é intolerante! Não há alegria no rosto das pessoas...
- Esta noite. Não haverá falhas. Faremos uma recepção e em memória da minha filha faremos um jantar deslumbrante – disse a Serpentezinha desmascarando-se .
O cozinheiro olhou-a e começou a chorar:
- Perdoas-me?
- Do quê? Fiz algum disparate?
- Eu amo-te! Fui imprudente! Estar aqui contigo! Assim que te vi, percebi a mensagem de Samash. Eu sou a águia. Tinha inveja da forma como tu tratavas os teus filhos! Quando estive naquela gruta recordei a minha vida, desde a altura que a minha mulher me abandonou, me deixou com os meus filhos: Pedi auxílio a Samash e ele transformou-me num homem, retirou-me as asas e fez-me descer à terra e estar sobre as ordens de outra pessoa, num país onde havia esperança. Decidiram então pôr mãos à obra. Aquela noite era de facto memorável, todos os presentes estavam recostados em liteiras, sentados de pernas cruzadas sobre o chão. A sua dieta estava presente nos cereais através da cevada, trigo e milho e eram fabricadas ainda tortas, como complemento desses cereais cebolas, pepinos. A carne e peixe estavam presentes naquele ambiente festivo. De um momento para o outro a Serpentezinha ainda sobre a forma de mulher indicou a um dos empregados que devia enviar uma cerveja sem palhinha ao rei. O rei olhou para o copo que tinha diante de si.
- É uma novidade! Esperemos que goste.
De um momento para o outro o espinheiro entusiasmou-se e bebeu sem parar. Excitado começou a apresentar todos os seus planos para chegar ao poder e os planos que teve diante do jardineiro futuro rei, filho da deusa ,provocou um incidente em todos os campos.
- Eu disse-lhes que eu era o salvador deste país !Matei o diplomata levando-o até a uma colmeia mostrando que ele era um ladrão. Quando ele se opôs a ajudar-me. Droguei a deusa e o jardineiro, nem sabia... claro que sabia que era a sua mãe, mas todos estes factores fariam com que as pessoas...
Samash apresentou-se como oficial do reino que anulava todos os seus poderes , mostrando que a Violação contra a deusa não acontecera. Eles aceitaram o plano para desmascararem o rei.
Esta é a famosa história de um reino, de uma apresentação de um novo reino, de uma usurpação de poder, mas como as grandes memórias pelos entes queridos nunca são esquecidos. A Serpentezinha tornou-se uma pizzeira pois mas antes dos turcos levarem este famoso pão com diversos condimentos faria história no mundo inteiro. Esta é sem dúvida a história de uma grande revelação. Uma revelação que estava para lá dos livros de história, mas que a história da literatura e do amor irão repetir alguma vez. È que por vezes milagres acontecem, quando ainda por cima os filhotes da serpente apareceram como prova da transformação da águia. È caso para dizer que a águia e a serpente se casaram e tiveram filhos um pouco estranhos é claro, mas a boa disposição e a criatividade nunca faltou. Em breve todos vocês terão conhecimento dessas receitas criadas pela Serpentezinha. Não faltem. As nossas vedetas estão à vossa espera. Divirtam-se .
Serão estas informações, assim, tão temíveis? Destruirão vidas? Não o sabemos mas têm sido deixadas de lado pelos investigadores que acham que o quotidiano é um assunto menor.
Desenganem-se todos aqueles que entendem que a alimentação é um problema menor, e por isso possa ser comparado a um caso policial arquivado por falta de provas.
Alguém disse um dia que a investigação histórica se pode comparar a um inquérito policial. Como poderemos centrar essa mesma investigação com o quotidiano?
Partimos do princípio que devemos reconstruir todas as peças da nossa investigação, desde os pormenores mais insignificantes. Tomaz Eloy Martínez, escritor argentino, afirmou no ano passado numa entrevista, que muitas vezes os escritores recorrem à história para reconstruir casos históricos mal resolvidos, partindo do seu ponto de vista literário.
O historiador deve ter essa mesma função. Se há um crime, há um suspeito. E onde existem suspeitos há que procurar provas. Para provarmos a nossa teoria segue-se um inquérito policial baseado num texto literário intitulado “A Águia e a Serpente”.
Iremos provar não só como todo o solo era avesso ao cultivo de alguns produtos agrícolas, a sua salinidade assim o demonstra, como pela geografia, a temperatura agreste da Mesopotâmia do Norte diferente da do Sul, demonstrando-nos que este povo teve que agir com sabedoria e astúcia face às intempéries que lhes eram oferecidas. Estas revelações não nos são dadas pelas datas, mas pelas tábuas cuneiformes, ou ainda pelas placas de argila que nos dão provas de acontecimentos importantíssimos como matrimónios, nascimentos, tratados de paz ou ainda famosas receitas que não estão inscritas num único livro mas que alguns arqueólogos puderam, juntando as peças oferecer-nos as suas hipóteses.
Interessam-nos ainda histórias do simbólico como os textos mitológicos que fazem referência a um determinado tipo de alimentação: a ritual, a alimentação simbólica, já que neste caso o mundo deve estar em ordem de acordo com os deuses.
Os historiadores voltam-se então para esse segredo gastronómico mesopotâmico. O que faz então que um grupo de homens e mulheres se dedique a estudar a cozinha? O que faz com que a cozinha se torne tão fascinante aos nossos olhos?
Há relativamente pouco tempo um jovem historiador descobriu na reserva de um museu uma tábua cuneiforme com o título “Instruções a Cereja”:
Quando a conheci ela estava completamente desfeita. Não conseguia suportar pela perda dos seus filhotes. O seu amigo Águia traíra-a por gula. Por isso ela estava disposta a descobrir porque razão era tão especial a comida. O deus Samash deixou o seu amigo fugir, dizia ela que se recordava da hora em que retirou pena a pena do seu amigo à dentada. Samash disse-lhe que ela devia esperar. A paciência, dissera o deus, era uma virtude. Falhara alguma vez o deus da justiça?
Por isso ela começou-me a contar toda a história. Há muito tempo atrás ela e a Águia fizeram um pacto de amizade perante Samash. Tiveram filhos. Quando a serpente trazia da caça cabras monteses ou gazelas, a águia e os seus filhos comiam a caça.
Quando a Águia trazia da caça, a pantera do deserto ou um animal selvagem, a serpente e os seus filhotes também comiam.
Tudo se transformou quando os filhos da águia cresceram e tiveram asas fortes para deixar o ninho. A Águia concebeu maus pensamentos e comunicou-os aos filhotes: ia comer os filhos da serpente e voar para o céu, sem descer mais que à altura do cimo das árvores.
Objectou a águiazinha mais nova que isso seria transgredir o juramento e incorrer na ira e anátema de Samash. A Águia não escutou, não ouviu que ia, diziam os seus filhotes. Desceu e comeu os filhotes da serpente. Pela tarde, ao findar do dia , a serpente voltou. Trazia o tributo da carne, que depôs à entrada do seu ninho. Olhou o ninho não existia. Inclinou-se: já não viu os seus filhotes. Com as unhas esgravatou então o solo, e do ninho, os turbilhões da poeira escureciam o céu. A serpente deitou-se então chorou, ante Samash corriam as suas lágrimas : “Tive confiança em ti, ó Herói Samash! Por ti, dei à águia presentes da minha amizade; temi o teu juramento e honrei-o; não concebi o mal contra o meu camarada; ora ele, seu ninho intacto , o meu devastado; o ninho da serpente tornou-se lugar de lamentações; são e salvos estão os seus filhotes, os meus já não existem! Ela desceu e comeu a minha descendência! O infortúnio que me aconteceu, tu Samash o conheces. A serpente pede vingança e obtém-na. O deus da justiça ordena que a serpente mate um boi selvagem que Samash tem atado na montanha, fure o seu ventre e se esconda no buraco feito na barriga do boi. A águia virá banquetear-se; a serpente deve então agarrá-la , arrancar-lhe todas as suas asas e lançá-la numa gruta. A águia não atendendo ao pedido do filhote mais pequeno, caiu na armadilha: Desceu e pôs-se por cima do boi selvagem. Primeiro , a águia inspeccionou a carne , quis ver o que estava à frente e por de trás dele. Avançou, passo a passo, com cuidado, aproximou-se da gordura que cobre os intestinos. Quando entrou, a serpente apanhou-a pelas asas... a águia abriu a boca e disse à serpente: - Tem dó de mim! Como um noivo dar-te–ei um presente! Mas a serpente abriu a boca e disse: - Se te soltasse, que diria eu a Samash, lá no alto? Era contra mim voltava o teu castigo, este castigo que precisamente eu te devo infligir!
Cortou-lhe radicalmente as penas, arrancou-lhe as asas e deitou-a numa gruta, para que morresse à fome e à sede.
Depois deste episódio a serpentezinha seguiu o seu caminho não ouvindo falar mais sobre a águia. Samash disse-lhe que ela devia procurar as respostas para lá das montanhas. Após esse local sagrado estavam, os segredos dos seres humanos. Diziam até que ali naquele local gelado os humanos haviam criado um sistema de refrigeração para que eles pudessem manter as suas bebidas frescas. A serpentezinha ficou maravilhada imaginando-se já a rastejar o seu corpo no meio do gelo.
- Hum! Que maravilha!
De súbito as suas ideias voltaram-se para os seus filhotes vítima de repastos gastronómicos . Quem sabe que junto dos seres humanos ela não obtivesse as repostas? Voltou-se novamente junto do deus Samash:
- Senhor, eu gostava de ir para lá das montanhas para descobrir os segredos dos homens e mulheres!
A serpentezina não se explicou melhor e no meio desta confusão ela iria iniciar uma aventura gastronómica junto do palácio real. Transformada numa linda mulher. A sua vontade mais uma vez fora-lhe concedida. Ali estava num armazém de um grande palácio. Numa cozinha real. O cozinheiro ficou a olhá-la Ela não sabia o que estava a acontecer. Imaginou imediatamente que ele comentaria o facto dela ser um réptil.
- Rápido! Rápido! Siga o cozinheiro chefe! Está a olhar para onde? Não sabia que era isto que ia fazer?
Passou por uma queda de águia e observou-se. Era sem dúvida uma linda mulher.
- Você será aprendiz do cozinheiro oficial! Deve obedecer às suas ordens e seguir à risca, poderá fazer algumas intervenções. O cozinheiro mostrou-lhe então a dispensa daquele palácio onde estavam os cereais, as carnes, peixes cujos os vendedores traziam todos os dias, sendo este uma espécie de imposto a pagar ao Estado. Estava prestes a ser submetida a um teste. No meio daquela azáfama. O chefe dos cozinheiros olhou-a de alto a baixo. A serpentezinha apresentou-se dizendo que tinha curiosidade em trabalhar com o chef mas afamado de todo o império. Voltou-se novamente e observou-a atentamente. –
- Vamos ter que fazer as coisas por partes! Todos os dias são enviados dois litros de farinha para a fabricação da cerveja, não só terás que saber as suas diferenças, como aquelas que são de primeira qualidade, ainda também os diferentes ingredientes, os géneros de cervejas que terás em mãos. Aqui vivem mais de um milhar de pessoas, trabalham técnicos altamente especializados onde escolhem todos os dias vegetais, carnes e peixes frescos.
- Como sabes tudo isto? – perguntou ela extenuada com tanta informação.
- Minha linda é o meu trabalho! Ainda agora começamos! Agora vamos por mãos à obra porque hoje o nosso rei irá dar uma grande festa.
O jovem cozinheiro começou por mostrar os diferentes tipos de cereais, a escana a chamada triticum dicccum usada para fazer pão e cerveja , ainda era conhecido a triticum monoccum. O centeio e a aveia não era cultivado no médio oriente. Quando a serpentezinha perguntou se havia azeite na dispensa o jovem olhou-a .
- Já vi tudo, Nana, é assim como se chama, não é?
A serpentezinha tremeu. O cozinheiro sabia de tudo. Ela lembrava-se das horas em que passava a arrastar-se pelas oliveiras provando aquele molho suculento.
È estrangeira, Nana respondendo:
- Claro que sim, sou da Galileia. Nós viemos para cá quando o meu país foi invadido pelas tropas do vosso rei.
- Psiu! – disse o jovem. Não fale disso aqui! Este é um dos locais que todas as paredes têm ouvidos. Cuidado com o que fala e a quem fala! – disse o jovem olhando-a .
- Gostava de lhe dizer que não existem oliveiras no nosso país, Senaqueribe o grande tentou trazer oliveiras, mas não houve qualquer resultado, mas cultivavam-se leguminosas. Quanto às bebidas alcoólicas há frutos tais como os figos, as uvas que são cultivados nas regiões montanhosas, as uvas são usadas para fazer sumos, mas haviam diversos tipos de vinhos , mas o cultivo das hortaliças requeria também um enorme trabalho, dividindo-se pequenos bancos podiam cultivar-se inúmeras plantas, as cebolas eram comidas com pão. A serpentezinha olhou o cozinheiro e disse:
- Pelo amor de Samash! Isso deve dar cá um hálito! Ah! Que horror! Faz–me lembrar o meu irmão mais novo...
Foi então que se recordou do seu tesouro mais pequeno que adorava roubar cebolas e come-las. A sua filhinha dizia que havia de ser cozinheira para não terem que andar à caça todos os dias. “Mamã, um dia vou trabalhar para ti. Vou fazer um livro de receitas e vou fazer um pão com inúmeras coisas , todas elas para não termos que comer diversas vezes ao dia. A serpentezinha ria-se, dizendo-lhe:
- Litinha, mas todos nós temos que comer várias vezes, porque se não comermos ficamos fracos e indefesos.
- Mas eu vou inventar algo que encha até aqueles seres que andam com duas pernas!
- Litinha! Esses seres são seres humanos!
A serpentezinha começou a chorar.
- O que foi? – perguntou-lhe o jovem.
- O meu irmãozinho foi sacrificado na altura em que o culto ao deus Baal foi imposto e foi sacrificado .
No meio daquela conversa um dos trabalhadores, um pasteleiro apareceu pálido.
- O que se passa? – perguntaram a serpentezinha e o jovem cozinheiro em coro.
- Há uma greve os agricultores recusam-se a trabalhar, até que todos os seus meios, os seus trabalhos sejam reconhecidos, até os pescadores que têm um contracto de arrendamento dizem-se injustiçados.
- Mas então o que fazer? A festa de inauguração é daqui a várias horas e dizes-me que está tudo parado?
- Sim, dizem que a culpa foi de um jardineiro que cometeu uma falta contra a deusa Inana. O cozinheiro olhou para a serpentezinha pensando se era ela a deusa .
- Carne não há carne? Não há leite para o pato assado? – perguntou de súbito a serpentezinha lembrando-se numa das famosas receitas inventadas pela sua filhinha .
O pasteleiro e o cozinheiro olharam-se. Não sabiam como se fazia aquela receita. Dizem até que os poucos cães que habitam por aqui estão a desaparecer. Um deles que era um membro diplomático hitita foi morto junto de uma colmeia .
A serpentezinha disse:
- Eu conheço um jurista amigo meu, ele pode fazer rever as leis .
- Quem é esse teu amigo ?
- Samash!-respondeu ela .
- Parece não ser boa coisa, dizem os advogados que esse deus é um pouco cínico e serve a dois senhores. –disse o cozinheiro cada vez mais pasmado
- Mas ele serve-se a ele mesmo. O que foi? Estás a olhar para mim dessa maneira, porquê? Era só o que me faltava! Já viu isto, pasteleiro?
Samash apareceu–lhes naquele instante e disse:
-Estamos com vários problemas um dos jardineiros reais foi acusado de ter violado uma deusa, enquanto um espinheiro tomou o poder e está a criar uma degradação diplomática...
A Serpentezinha conhecia os apetites de poder do espinheiro disse:
- Vamos falar com os trabalhadores do palácio, na hora da apresentação do rei e da inauguração do palácio que aos olhos dos presentes tinham contornos surreais. Todo o palácio tinha a forma daquela planta em forma de lápis–lazúli e ele tencionava apresentar um novo panteão de deuses, cactos, e outros animais de rosto que aos olhos da Serpentezinha mudou-lhe o rosto completamente.
- Já sei como é que vamos apanhar este espinheiro! Ele é vaidoso! Mandaremos trazer do palácio do prazer um grupo de sacerdotisas que apresentem a história da deusa e do seu pastor, uma canção de amor mas à forma deste senhor, dar-lhe a apresentar mais tarde que já temos o problema resolvido. E eu sei quem é o assassino do diplomata hitita. vamos fazê-lo trazer a verdade. Os seus planos mais íntimos através de uma simples cerveja. Apresentaremos uma nova receita...
- Qual ?
- Não há! Então? Meus caros, as cervejas são servidas com canudos ou palhinhas, nós vamos dar-lhe o contrário. uma cerveja a fermentar, mas muitas cervejas que a verdade aparecerá. –disse a Serpentezinha .
- Esperemos que tenhas razão – disse o porta dos voz dos trabalhadores. Não temos nada. Não há esperança! Esta planta é intolerante! Não há alegria no rosto das pessoas...
- Esta noite. Não haverá falhas. Faremos uma recepção e em memória da minha filha faremos um jantar deslumbrante – disse a Serpentezinha desmascarando-se .
O cozinheiro olhou-a e começou a chorar:
- Perdoas-me?
- Do quê? Fiz algum disparate?
- Eu amo-te! Fui imprudente! Estar aqui contigo! Assim que te vi, percebi a mensagem de Samash. Eu sou a águia. Tinha inveja da forma como tu tratavas os teus filhos! Quando estive naquela gruta recordei a minha vida, desde a altura que a minha mulher me abandonou, me deixou com os meus filhos: Pedi auxílio a Samash e ele transformou-me num homem, retirou-me as asas e fez-me descer à terra e estar sobre as ordens de outra pessoa, num país onde havia esperança. Decidiram então pôr mãos à obra. Aquela noite era de facto memorável, todos os presentes estavam recostados em liteiras, sentados de pernas cruzadas sobre o chão. A sua dieta estava presente nos cereais através da cevada, trigo e milho e eram fabricadas ainda tortas, como complemento desses cereais cebolas, pepinos. A carne e peixe estavam presentes naquele ambiente festivo. De um momento para o outro a Serpentezinha ainda sobre a forma de mulher indicou a um dos empregados que devia enviar uma cerveja sem palhinha ao rei. O rei olhou para o copo que tinha diante de si.
- É uma novidade! Esperemos que goste.
De um momento para o outro o espinheiro entusiasmou-se e bebeu sem parar. Excitado começou a apresentar todos os seus planos para chegar ao poder e os planos que teve diante do jardineiro futuro rei, filho da deusa ,provocou um incidente em todos os campos.
- Eu disse-lhes que eu era o salvador deste país !Matei o diplomata levando-o até a uma colmeia mostrando que ele era um ladrão. Quando ele se opôs a ajudar-me. Droguei a deusa e o jardineiro, nem sabia... claro que sabia que era a sua mãe, mas todos estes factores fariam com que as pessoas...
Samash apresentou-se como oficial do reino que anulava todos os seus poderes , mostrando que a Violação contra a deusa não acontecera. Eles aceitaram o plano para desmascararem o rei.
Esta é a famosa história de um reino, de uma apresentação de um novo reino, de uma usurpação de poder, mas como as grandes memórias pelos entes queridos nunca são esquecidos. A Serpentezinha tornou-se uma pizzeira pois mas antes dos turcos levarem este famoso pão com diversos condimentos faria história no mundo inteiro. Esta é sem dúvida a história de uma grande revelação. Uma revelação que estava para lá dos livros de história, mas que a história da literatura e do amor irão repetir alguma vez. È que por vezes milagres acontecem, quando ainda por cima os filhotes da serpente apareceram como prova da transformação da águia. È caso para dizer que a águia e a serpente se casaram e tiveram filhos um pouco estranhos é claro, mas a boa disposição e a criatividade nunca faltou. Em breve todos vocês terão conhecimento dessas receitas criadas pela Serpentezinha. Não faltem. As nossas vedetas estão à vossa espera. Divirtam-se .
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