Uma viagem à volta do Oriente no percurso fantástico queirosiano entre o Mefistófeles lusitano nas viagens entre o Egipto e a China
Edward Said
afirmou que o Oriente era uma invenção
do Ocidente . Foi desta forma que
optamos também estudar como é que os
escritores olharam para o Império nos seus romances de ficção . Esse foi
um dos aspectos que nos levou a seguir a
viagem para Oriente lavada a cabo por dois escritores portugueses : Camilo Pessanha
e Eça de Queirós . Ao mesmo tempo fomos
reencontro personagens ou caminhos deixados nos seus escritose na essência do
espírito da época . Por ser um tempo
pouco explorado como tema de investigação partimos desde logo para os romances de cariz orinetal como é o
caso do Eça e seguinte outros parâmetros para o segundo caso . Quais são
as fontes para o estudo “? Romances ,
jornais , crónicas ou pura e simplesmente desvaneios de vaidade dos dois
autores ? Ou uma simples moda de época e de espírito ?
Segundo a
entrada Mandarim no Dicionário Eça de
Queirós reponde muito bem à noss questão
“ O Mandarim , novela de carácter
fantástico que eça escreveu durante umas férias em Angers para o Diário de
Portugal como compromisso que não pôde cumprir , o da entrega dos Maias que se comprometera a publicar nesse mesmo
periódico . Veio assim o Mndarimcompensar a faltado prometido (…)[1]”
Ao que parece esta obra surege não só pela via da scircunstâncias deum
contracto , mas também uma espeçie de
A esse caso
decidimos explorar Dicionários de Literatura , Dicionários do Eça[2]
, para o caso da Relíquia seguimos as análises de Luís Manuel Araújo[3]
. Autor incontornável para quem decida
estudar a viagem de Eça pelo
Egipto.O que não faltam são estudos sobre esta viagem e sobre o orientalismo de
Eça no Egipto , quer em Portugal , quer no Brasil já encontrem estudos dentro
desta temática orientalizante . Ao mesmo tempo que não existem estudos sobre o
Mandarim do Eça .O nosso interesse por
estas duas obras demarcam não só pelo tom satírico, mas ao mesmo tempo uma crítica acentuada
contra a Igreja e ao memso tempo um abandono a tudo aquilo que Eça
fizera durante muito tempo descrever a realidadeportuguesa Tal como
Maria Filomena Mónica anuncia explica desde já a nossa convicção em seguir esta
demanda pelo mafarrico queiroziano “À menor oportunidade o artista desartava da
realidade : < aparecem fantasmas e em que podemos
encontrarao canto da página o Diabo, esse terror delicioso da nossa infância
católica .>>Eça vinga-se das horas passadas com o conselheiro Acácio(…)[4]”
Embora
Eça o demonstre na história de Teodorico Raposo ( Relíquia ) , na seguinte, já demonstra uma clara mudança de estilo, ou mesmo, o percursor de um outro género literário ou
mesmo até antecipar o estilo a que os
escritores latino – americanos, narram
uma realidade para lá do tempo inexistente ou quem sabe até surreal ,
independente desse movimento claro que rompe
com todas as convenções Eça inscreve-se como o Tomas Mann português
criando um Fausto lusitano [5].
Aos amantes do Oriente e oriundos de outros ambientes decidimos seguir talvez
um Demónio Queiroziano. Sendo ele um
viajante invulgar, impulsionador de desejos , ordens e cobrador de almas . O
Diabo é desta forma nosso mais ilustre guia que nos fez seguir pelos quatro cantos do mundo para procurar a famosa
campainha e o famoso Mandarim . Alguns autores afirmam que Eça não terá
visitado Macau , apenas leu algumas obras
e que a partir delas descreveu lugares e situações . Será então “O
Mandarim “um romance de viagens ou uma comédia ?
Antes de
iniciarmos esta viagem queríamos
agradecer a um grupo de pessoas que
durante o período da nossa investigação
nos apoiou , não só em leituras e conversas
que tiveram um efeito produtivo para a sua viagem : à Helena Correia ,
leitura ávida , crítica e amiga , ao Nuno Lopes
sempre diponível e que pode de uma certa forma ouvir com enorme
paciência as minhas angústias e conseguir este manuscrito,a querida Adriana Lisboa que durante estes três últimos
anos temos conversado sobre atemática do
oriente e da literatura de viagens , cuja amizade nasceu a partir do seu livro Rakushisha e que mais uma vez se mostrou pretável nos indicou o livro Poética da Geografia, ,
deu-nos pistas para os alicerces da história da vaigem como um escritor sabe
tão bem definir, à nossa amiga Neusa que
estando de longe nos dava força para continuar continuarmos e como os últimos
são sempre os primeiros não nos poderíamos
esquecer do nosso professor Paulo
Jorge Fernandes que logo no início do primeiro semestre nos fez seguir uma
viagem ao Oriente .
Partida
O nosso
interesse pela literatua e a sua temática pelo império levou-nos a traçar o percurso da literatura da viagens feitas
pelos escritores por escritores portugueses que fossem em viagens ou que pelo
menos ali estivessem num determinado posto diplomático . A nossa atenção
centrou-se logo por dois autores portugueses . Eça de Queirós e Camilo Pessanha
. Como é que se poscionam ou olham para esses luagres exóticos ? Ou na melhor
das hipóteses poderiam ter estado mesmo nesses locais que referem nas suas
obras de ficção , escritas na época para os jornais como forma de fazer vender
e atirá-los para a fama . Mas não era o caso dos nossos biografados , pelo
menos de Eça . O mais curioso é que um autor detentor d eum ponto de vista
muito próprio arguto , se não sarcástico acabou por sair da linha realista como nos habitou em romances como os Maias ,
o Primo Basílio e até mesmo o Crime do Padre Amaro.Os investigadores também se centraram nesse
aspecto e apontaram pelo menos Eça leitor hávido de autores clássicos,
católicos e ao mesmo tempo moralistas . Mas o que é que faz um autor como Eça
mudar o seu estilo de escrita ? Porque entra ele dentro do estilo do fantástico
? Será uma mudança de pensamento ? Ou seria fruto das circunstâncias ? Ou já
haveriam géneros que iriam cair no gosto
dos seus leitores ? Vejamos que as duas obras
que iremos analisar em breve , traçam estilos moralizantes , sátiras
,mas ao mesmo tempo que saiem fora do género
a que Eça nos habitou .Como é que pode ser visto o diabo que pactua com
Teodoro de Eça no Mandarim ? Qual será a
virtude de Teodorico Raposo ? Serão Teodoro e Teodorico Raposo uma transposição
da personagem como uma forma de dar continuidade ao ciclo sátira ?
Imbuídos
com a égide do pós colonialismo de estudos
do Orientalismo de Edward Said [6],
ou mesmo até uma GeografiaPoética da
Viagem que nos alertam para a procura de
um género nascido pelos antigos pastores bíblicos expulsos do paraíso[7]
. Mas viajar é muito mais do que isso ,
viajar é penetrar dentro de outro universo que faz com que os seus leitores penetrem num
universo mágico . Será então Eça de Queirós o percursor de Realismo Mágico ? Onde seres sobrenaturais
entram na vida de uma pessoa e
convivem com ela , e que as suas próprias viagens sejam elas
estados de alma ou penetrem dentro da nossa essência, noutros séculos . Seria
esse o propósito de Eça ou quereria ele parodiar um determinado tema usando o
género de literatuar deviagens ? Já outros autores comparam o ínicio da
Relíquia como a introdução da obra de Garret ?
Para iniciarmos esta nossa viagem ou história deveremos estar preprarados para viajar . Afinal o que é viajar ? Será então esse o tema de viagem que Eça quer dar aos seus leitores ?
Para confirmarmos esta teoria socorremos na
opinião queirosiana Elena Losada Soler : “A antiga imagem do “homem viator “
que maior viagem que a própria vida ! Sobrepõem-no no Romantismo outras
características . Entre elas , a e que a viagem deve ser solitária para ser
mais amplamente iniciática . De facto , quando viajam,os , mesmo acompanhados
estamos sós , porque as emoções e a simpressões suscitadas pela viagem são
individuais e apenas minimamente transmítiveis [8].
Viajar é aprender e o viajante volta diferente a si próprio,como afirma Eduardo
Subirts :“La experiencia del
viagecoincide de la pérdida de la identidad . (…) [9]’
O viajante
moderno – não o turista , que é outra espécie , é o errático navegador (porque
a viagen romântica é por mar ) em busca de uma Ítaca inexistente . No fim do
século XIX essa viagem romântica
ressurge nos simbolistas e decadentistas
quase com a mesma filosofia , mas com o itenerário levemente alterado .
Que bagagem literária levava Eça para a sua grande viagem ? Fontes , é claro francesas . Entre outras possíveis a Constantinople de Théphile Gautier (1855) e talvez também o roman Le roman de la momie ; o Voyage en Orient de Gérard de Nerval (
Como afirma
Michel Orfay em Teoria da Viagem toda a viagem inicia-se geralmente numa
biblioteca[10]
, numa agência de viagens ou pura e
simplesmente em revistas de viagens . Mas em pleno século XIX que meios teriam se não os autores que
quisessem escrever ou visitar um país distante, exótico e conhecido , não fora por acaso que este seu
livro”O Mandarim “ apresentado ainda em vida sem o seu conhecimento , Oliveira
Martins
envia uma cópia do Mandarim para uma revista francesa onde costumava celebrar , a Revue Universelle
Internacionalle , de Paris . Na nota apresentada no livro de Maria Filomena Mónica esta tradução francesa não foi famosa , pois foi
redigida uma tradução tão má , que na maior parte dos casos os franceses e
estrangeiros preferiam pagar do seu próprio bolso as traduções a preços
astronómicos. [11]
Animação turística satânica ?
Como
temos visto não foi fácil de qualquer
forma seguir a famosa campainha e a sua posição estratégica . Como impulsionar
a sua vontade a um homem que apenas desejaria ficar com o dinheiro daquele que morrera ? Não , Teodoro não queria apenas
isso ele queria ir aoutros locais , estar diante de um estilo de vida que nunca tivera . Portanto
qual será então a melhor forma de começar por desejar a morte de alguém s enão
por um folheto ? E é aqui que começa a nossa viagem …. A partir da Feira da
Ladra , apartir do desejo de uma outra
transformação pessoal.
Estando o lisboeta
Teodoro a ler uma obra que comprara na feira da Ladra , toma
conhecimento de que , no fundo da China , existia um mandarim «mais rico que
todos os reis de que a fábula ou a História contam », cuja fortuna poderia ser
sua , caso ele tocasse uma camapinha aparecia , enquanto uma «voz insinuante e
metálica », a do Diabo, convidando a usá-la .Teodoro gostava de se rico, ma s,
também apreciava a rotina da vida pequeno-burguesa , a escolha não era simples
: «a vida humilde tem doçuras : é grato , numa manhã de sol alegre, com o
guradnapo ao pescoço , diante do bife da grelha , desdobrar o Diário de
Notícias; pelas tardes de Verão , nos bancos gratuitos do passeio, gozam-se a
ssuavidades do ídilio ; é saboroso , à noite no Martinho , sorvendo aos golos
um café, ouvir os verbosos injuriar a pátria (…)»Mas a expectativa do pecúlio
acabou por o vencer. Todos os hóspedes ouviram o tinido da campainha . Nas
estepes chinesas , Ti-Chin-Fu morria .
E vos
quereis também ouvir o tinir da campainha para nos seguirdes ? Poderia nos
questionar o próprio Diabo Queiroziano . Impulsionador de desejos , cobrador de
almas , este Diabo é quase tão mordaz e irónico .Satanás é desta forma o nosso
guia que nos levará à ascenção e queda de Teodoro , quase numa posição de
remissão e culpa vista na literatura
cristã . Será este o propósito ? Ou será para criticar os costumes daquele mandarim
que sucumbiu ao dar um suspiro a milhares de quilómetros de Lisboa ?
[1] Cf A.
Campos matos “O Mandarim “in Dicionário
Eça de Queirós . A . Campos Matos
, ed. Caminho , 1998 ,
2 Cf
Dicionário de Eça de Queirós , ed . Caminho ,1998 , Lisboa , A . Campos Matos
(coord de) sobretudo as entradas
Mandarim , a Relíquia e polémicas sobre a questão do império.
3 Cf Luís Manuel Araújo , Eça de
Queirós e o Egipto faraónico , ed. Comunicação , 1987
4Cf
Maria Filomena Mónica , Eça de Queirós , Quetzal editores , 1 A ed., 2001, p.175
5 Cf Eduard said , Orientalismo , ed. Cotovia
6Cf
Michel Ofray , Teoria da viagem , ed .
Quetzal , 2009 ,, p.26
7Cf
Elena Losada Soler “Touristes e viajantes : Teodorico Raposo e Fradique Mendes
no Oriente “in VII Cursos Internacionais de Cascais – Serões Queirosianos
, p.107
8Cf
Rduardo Subirats : Figuras d ela
consciencia desdichada , Madrid , 1979 , p.77
9Cf Michel Ofray , op.cit , p.26
10 Cf Maria Filomena Mónica , op.cit ,
p174
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