Contrato de leitura
A noite do
Halloween faz-nos lembrar com cada coisa… Não é que me fui lembrar da história
da Penélope, Telemaco e Ulisses? Oh,
meu Deus, não devo estar nada bem!
Ainda por
cima, com este trabalho que tenho que fazer… Senti uma brisa estranha, as
folhas das árvores esvoassavam, tocando-me asperamente como se fosse a língua
de um gato.
-Não
temas, disse a voz. Eu sou a deusa
Minerva. Aquela que estava presente nas acções mentais dos homens. Sou mais
velha que todos os teus familiares juntos…
Não podia
acreditar naquilo que estava a viver , seria pelas histórias cheias de fantasia, das partidas que me faziam, ou seria “uma pegadinha “como dizem os
brasileiros
“Vou pagar
p’ra ver “, pensei . Até que tive uma ideia maravilhosa… já que ela era mais
velha como dizem os brasileiros . Será
que ela me podia contar a história de Ulisses antes de a escrever para a escola?
Imaginar o
passado é tão estranho…
- Ah! Não
queres imaginar…? Isso é mau… -disse-me a deusa.
- Então?
–perguntei morto de curiosidade.
De um
momento para o outro vi –me numa praia e aí olhei um homem dando à costa.
- Quem sou
eu ? Onde estou ? –perguntou o homem de cabelos compridos e barba…
- Fala
–disse-me a deusa. Agora falarás por mim, mas quando acordares não te irás
recordar de nada, pensarás que foi
apenas um sonho.
- Estás
vivo, Ulisses –disse eu.
- Tu estás
vivo, estás em casa, depois de
viajares durante dez anos. Estarás tu preparado …para enfrentar a realidade?
- Porquê ?
Muita coisa mudou , Ulisses.O teu reino,a
tua mulher é seduzida conquistada diariamente, e não é só pelos seus lindos
olhos, mas também pela posição social…
- Ah ! Vou
vingar-me deles , um a um e vou desfazê-los…
- Nada
disso, vais disfarçar-te e eu faço tudo isso…
- Senhor…
Pouco tempo
depois Ulisses estava irreconhecível e graças a mim, eu era um deus, um bruxo,
aquilo que quiserem pensar de mim, mas estava
agir de acordo a minha consciência… Parecia um daqueles mendigos, um
vagabundo! Estava uma lástima, o rei
que vergonha!
Apesar das
dificuldades, Ulisses conseguiu ser reconhecido pela ama da sua esposa .
Ulisses seguiu à risca as minhas
indicações, que se passasse por mendigo
e que fosse pedir esmola no seu próprio palácio e se apresentasse como
pretendente da sua própria mulher…
Não era o
máximo eu estava a ver tudo como se estivesse no cinema, só
faltavam os óculos 3 D… até tinha vontade de comer umas pipocas…
Claro que
não podia fazer isso, a deusa era tão rígida, tão séria que nem sequer podia
cantar , dizia que Orfeu… o flautista desaparecera à procura da sua amada, Euridice…
-Ah,
desculpem –me estar a contar-vos tudo,
mas isto foi tão maravilhoso, ver a
forma como ele se apresentou. Apesar daquelas vestes pegajosas, rasgadas,
cheias de nódoas e buracos…
Ele tinha
um aspecto meu Deus …
Até parecia
que andava ali na Avenida Luísa Todi a
pedir moedinhas… mas foi pedir moedinhas à sua mulher… e a parva não
reconheceu, mandou os guardas expulsarem-no dali …
Como é que
era possível estar a acontecer? Foi então que decidi agir por conta própria,
sem que a “deusa que me
enerva “ me estivesse a controlar…
Fiz com que
aparecesse de uma só vez o seu càozinho Argus , tão giro, tão felpudo, e já
muito velho que reconheceu o seu dono. Ladrou tanto que o palácio todo foi à
janela…
- Ai meus
deuses do Olimpo, já não se pode abrir as portas da casa que vem toda a gente a correr?
- Ai ,
minha senhora o pedinte desmaiou, e está cheio de sangue, disse a sua ama de
leite.
- Então
leva-o para a salinha, dá-lhe de comer, lava-o, ou pede a umas das escravas que o lavem, que aquilo parece cheirar à cabeça da Medusa…
- Ai
menina, e se daquele corpo saiem cobras…
- Euritreia, tens com cada ideia! Depressa antes que os cronistas vejam tudo, descrevam
tudo .Ainda por cima aquele chato do Homero
que está aqui a fazer pesquisa para escrever um romance em verso,
chamada Odisseia, diz que sobre o meu
amado Ulisses… Ai que saudades…
- Ah ,
menina , o que faço se aparecer aquele detective… o Hérodoto ?
- Outro que
tem a mania que só fala as verdades…
leva-o para a biblioteca, ele que fale com os pretendentes, pede-lhe que faça perguntas…
- Pois,
menina, mas ele acabou de encontrar o tear desfeito novamente e foi contar
tudo…
- Só me
faltava isso agora, deixa-me pensar tens um pano e umas cordas?
- Mas para
quê, Penélope? –perguntou ama cheia de curiosidade .
- Não faças
perguntas, Euritreia. A curiosidade matou o gato… Vê se há nos armazéns se
há um bom pedaço de madeira e pede a um
dos carpinteiros dar-lhe uma forma idêntica a um barco...
- Para quê, menina? –perguntou-lhe a ama.
Não aguentei mais a curiosidade e disse:
- Olha para
fazer Kite surf… ele que vá andar pelas ondas ,para não meter água…
Minerva ouviu os gritos de Penélope. A ama chorava…
A deusa Minerva apareceu diante de mim irritada, pregando-me um sermão:
- Menino
insolente, arrogante e mimado.
-Como pudes
te alterar o passado? Daqui a pouco temos cabines telefónicas a andar! Vou-te
transformar numa coruja e só vais sair desse feitiço quando eu quiser…
Oh, meu
Deus! Como podia adivinhar ? Que
vergonha transformado numa coruja e a deusa a tirar-me uma fotografia pelo
telemóvel …Pouco tempo depois todos aqueles que cunhavam moedas colocavam um
mocho com a minha cara… e Ulisses recuperou
tudo a que tinha direito…Casa, Trono, Filho, já que a ama de
Penélope descobriu uma cicatriz quando olhou para os pés dele… O que
foi feito do pai da história? Ao que parece foi para Haiti de prancha de surf, voando e visitando todos os países do mundo…há quem diga que é desde essa
altura que as pessoas acreditam que existe vida inteligente fora da terra… Que
estúpidas…
E Homero?
Tornou-se o maior poeta… é por causa dele
que vos conto isto tudo…
Como castigo da minha afronta, voltei ao dia em
que a nossa professora de Português nos pede o final da história de Ulisses…
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