A propósito do livro “ Manifestos Contra o Medo”
Luís Norberto Lourenço (autor do livro), José Carlos Casaquinha (apresentador do livro)
e Luís Miguel Ensinas Nunes (Director Biblioteca Municipal de Portalegre).
A Escrita como Processo de Transformação do Real*
[a propósito do
livro “ Manifestos Contra o Medo”]
Biblioteca
Municipal de Portalegre
Falar de um livro é, desde logo, falar
do universo do autor: da sua realização social, do reconhecimento que conquistou
ou não, da sua atividade socioprofissional; é refletir sobre o seu universo
socio-afetivo, sobre a forma como foi narcisado, sobre os interesses, opções, motivações,
sobre as paixões, as amizades, os desencantos.
É todo este percurso de aprendizagem, de
vida, extraordinariamente pedagógico e único, que gera em cada um de nós, uma
sensibilidade peculiar, uma certa forma de captar o nosso real e interagir
sobre ele numa perspetiva de influenciar, de transformar, de reparar: um
processo que é único em cada um de nós e que nos torna, também seres humanos
únicos.
O processo criativo – seja a
literatura ou outros - constitui uma forma, de o criador analisar a sua
realidade, uma forma de ele próprio se encontrar, se arrumar, se ajustar. Quer
dizer: ao construir para o exterior, para ser lido, visto, ouvido, o criador
plasma na obra a captura que faz da realidade e, neste processo, está também a
analisar-se, a recompor-se, a reparar alguma coisa que existe dentro de si,
como se enclausurasse no livro o seu sentir, os seus anseios, os seus medos.
Nesta perspectiva, o processo de
escrita faz parte da oficina que temos em cada um de nós e que serve para
pensarmos refletirmos, transformarmos o nosso real e, nessa transformação,
transformarmo-nos a nós próprios num sistema adaptativo permanente à dinâmica
da vida. O tempo de escrever, é um tempo solitário, de evocação, de
idealização, de libertação: cada palavra, frase, cada texto, constitui um
partejar de meditações, fantasias, sonhos ou desencantos, frustrações, angústias.
Escrever é dar um grito, é uma forma de exorcizar e projetar o nosso
desassossego.
O livro “Manifestos Contra o Medo –
Antologia de uma intervenção cívica”, do Dr. Luis Norberto Lourenço,
devolve-nos a sociedade em que vivemos, em toda a sua complexidade: produzido
por uma mente extraordinariamente rica, inquieta e interventiva, “Manifestos
Contra o Medo” envolve-nos em temas tão diversificados como medicina,
violência, nazismo; bibliotecas públicas, aborto, judeus; jornalismo, racismo,
reforma agrária; amor, política, direitos humanos.
Em toda esta complexidade o autor
fala-nos da sociedade que temos vindo a construir, devolvendo-a à nossa análise,
inquietando-nos com ela mas, mais: desafiando-nos a resistir, a agir, desafiando-nos
a construir um mundo melhor.
Socorrendo-se de um processo panfletário
na construção da narrativa (aliás, também usado por Eça de Queiroz na critica
mordaz à sociedade do seu tempo), o autor propõe-nos um olhar tomográfico sobre
a sociedade, descortinando, em vários planos, aspetos marcantes do nosso real social:
uma realidade que nos limitamos a viver, de forma leviana, acrítica,
adormecida.
Num labor militante e analítico de produção
literária ao ritmo das ocorrências da vida social, o escritor convida-nos a uma
vivência mais atenta, refletida, interventiva, desafiando-nos a tomar partido nas
realidades que ocorrem no nosso dia-a-dia. Tomar partido, sem medo, intervindo
de forma organizada, numa dimensão democrática: individual, grupal, social, até
influenciar positivamente, os acontecimentos da nossa sociedade. Ao longo do
livro vamos recordando temas que incendiaram as páginas de jornais, abordando-os
agora à luz do pensar esclarecido, vigilante, crítico e livre de Luis Norberto
Lourenço.
Mas, o que descreve o livro? De que se
ocupa? Do nosso real social: da complexidade das dinâmicas sociais: do amor, do
aborto, dos direitos humanos; do 25 de Abril, das elites, do fim do ensino
público; da política cultural, da abertura das bibliotecas ao fim de semana,
(como em Espanha), da democracia; da ética, dos juízes, dos comboios da Beira Interior;
do racismo, da medicina, de Aristides de Sousa Mendes; da Constituição, da
abolição dos partidos, do valor da cooperação.
98 artigos: uma intervenção crítica
notável na qual o autor nos devolve, de forma inconformista e consequente, o
retrato inquieto da sociedade que temos vindo a criar, uma sociedade que
necessita de ser consertada. 98 artigos: uma intervenção crítica notável que
nos deixa, do princípio ao fim, num dedilhar curioso e ávido de páginas.
14/07/12
*Por: Carlos Casaquinha
Vista parcial dos tertulianos presentes.
Foto ilustrativa do empenho promocional do livro da Biblioteca Municipal de Portalegre.
Nota editorial:
A Casa Comum das Tertúlias organizou uma tertúlia na Biblioteca Municipal de Portalegre, no dia 14 de Julho de 2012, pelas 21h 30 (que entrou pela noite dentro... até à 1h), para mais uma (a 4.ª, depois de Castelo Branco, Algés e Caldas da Rainha) apresentação do livro "Manifestos contra o medo: antologia de uma intervenção cívica", de Luís Norberto Lourenço e prefaciada por Luís Raposo (Director do Museu Nacional de Arqueologia), inserindo-se esta obra na colecção "Rosa Sinistra", sendo o número inicial da mesma. A apresentação do livro contou com a presença do autor e esteve a cargo do enfermeiro José Carlos Casaquinha, o qual fundou com o autor a iniciativa cívica e cultural "Espaço Tertúlia", em Portalegre, em 2002. Conta o evento com o apoio da Câmara Municipal de Portalegre e da Biblioteca Municipal de Portalegre. A CCT e o autor agredecem a todos os elementos da BMP que aguentaram estoicamente até à 1h! O cartaz e o convite deste evento foram elaborados por Hugo Domingues.
O texto aqui publicado é aquele lido pelo Carlos Casaquinha na apresentação.
O texto aqui publicado é aquele lido pelo Carlos Casaquinha na apresentação.
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