JARDINS – COMO REFLEXO DE PAZ E REENCONTRO DO HOMEM COM DEUS
Ao escolher
o tema do jardim como parte integrante da paisagem natural, decidi
ligá-lo como resposta à proposta e exemplo apresentado pelo arquitecto
paisagista Gonçalo Ribeiro Teles. Antes de entrarmos na essência do tema e da
sua fórmula. Optamos por seguir os livros de Paulo Pereira, Ana Janeiro sobre
os Jardins do Saber e do Prazer e na
remodelação do novo modelo do Jardim do Bonfim
nos princípios do século passado (O Setubalense).
Neste sentido a poesia e a utopia
determinada por um autor refere as normas pelas quais se enquadram o espaço
envolvente e a recuperação do lugar perdido durante muitos tempos. É neste
sentido que escolhemos o jardim como factor primordial de um regresso ao Paraíso Perdido Bíblico que se centra num plano divino entre Deus e o
Homem. É aqui que o arquitecto
paisagista se metamorfose de Deus e
aqueles que irão usufruir desse mesmo
espaço serão novos seres de um novo
cosmos. Daí que achamos essencial extrair
das palavras de Paulo Pereira
sobre a noção de jardim. O jardim especializa o espaço, que procura
reproduzir tanto quanto possível o Paraíso, como se tratasse de “claustros
“seculares privados. O jardim “português “ resulta, assim de um quadro
artístico e mental de longa duração que resulta, assim de um quadro artístico
e mental de longa duração que remonta à
Idade Média e as duas fontes principais, muitas vezes complementares:
o jardim islâmico, em que a dimensão da “horta de recreio “ e de produção,
num espaço fechado e geralmente percorrido pela água, se associa à dimensão
plástica e de lazer; e claustro monástico, orientado, simbolizando o Paraíso
com os “quatro rios “, como braços de água
que passam pela quadra ou partem do lavabo, com os quadrantes que disso resultam preenchimento
com canteiros de flores perfumadas e árvores de fruto(citrino) .É sobre este pano de fundo que vão assentar as
outras variações dos jardins portugueses, sabendo-se que a partir do século XVII
e, sobretudo, durante o século o século XVIII, os jardins e quintas de recreio
se vão afeiçoar, cada vez mais, a
soluções aculturadas, geralmente “à italiana”e “à francesa “. Mas uma
constante do jardim português é a sua tripartição em horto, pomar e mata, estes últimos com funções de produção e recreio. O jardim adquire no
século XVII uma dimensão de maior alcance, particularmente se tivermos em conta
exemplos como o Palácio Fronteira. Neste jardim, para além da faceta
compendial , estrai-se a relação com a Antiguidade Clássica enquanto história, para dela se
reter a mitologia que entra
imediatamente ao serviço de um discurso,nítido, patente, poderoso ,em torno
da história pessoal do comitente, da família e do próprio reino português .Vários são os exemplares de quintas que se apresentam exemplos típicos de
Bacalhoa, Fronteira ,Quinta Real de
Caxias, Jardim das Sereia ,Jardim do paço Epicopal de Castelo Branco .Após este
breve passeio sobre o Jardim édenico idealizado desde a mais alta antiguidade,se preparou, criou lugares de prazer, saber na procura do conhecimento onde na
mais alta tradição árabe os jardins seriam lugares de recanto, descanso,
prazer e criação literária .As grandes realizações, as grandes “fábricas “,
passam a ser definidas em função do seu
destino: como elementos de arquitectura sagrada ( o palácio e poder; a igreja
,lugar de manifestação social ,o jardim ,onde se manifesta o cosmos)e nalguns
casos, de arquitectura mística (nas igrejas, nos conventos e nos sacromontes ,lugares de retiro e de busca espiritual vivida individualmente
ou colectivamente,através de peregrinações e de procissões) .Foram ainda
nos jardins foram criadas festas de casamento ao longo da história, festas de
homenagem, de consagração de poder, noutros sentidos eram nos jardins
que as pessoas conversavam, viam espectáculos
de música, teatro e também foram nos jardins que se deram os primeiros
ensaios revolucionários, também convém não esquecer que ainda hoje os jardins são lugares de romance e sedução ,onde os animais envolvem
um lugar como se presenciassemos o retorno de Noé após o dilúvio .É pois o
jardim o repasto celestial das almas perdidas
que se reencontram perante o pastor paisagista e daquilo de onde se
extrai o elemento essencial para reencontrar a sua própria vida.
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