fanzine Tertuliando (On-line)

Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)

quarta-feira, março 30, 2005

POEMA D’ AMOR

Quantas vezes, de súbito, emudeces?
Quantas vezes, os teus olhos
Se afogam nas lágrimas
Que a custo reténs?
E eu que queria bebê-las
E devolvê-las recicladas
Em sorrisos carinhos
Ternuras silêncios.

Ciente da mágoa causada
Mas nunca procurada
Consciente das feridas feitas
De que queria curar-te
Queria lambê-las
Beijá-las
Amá-las
Para que as feridas
Feridas não fossem mais.

Como dizer-te
Como explicar-te
Esse calor
Esse ardor
Essa dor gostosa
Esse fogo doce
Como traduzir/expressar
Estes sentimentos
(o significado das batidas do meu coração)
Em belas palavras
Como falar-te
Da invasão libertadora
Que afogou mágoas passadas,
E agora, ocupante
Do meu coração.

Como dizer-te
Que te amo
Sem ficar nu.
Porque falar de mim
É desnudar-me sem fim,
Por muito que aspire a nadar
Nas tuas lágrimas, mar cândido.
São tuas as labaredas
Que me derretem
E eu mergulho no mar
Procurando em vão
Arrefecer o meu amor,
E assim,
Evitar amar-te
Não por não querer-te
Mas por temer perder-te
Na condição presente
Por não querer
Aspirar a um amor
Muitas vezes efémero
Quando poderei ter
Uma longa amizade.
Valerá o amor
O risco de uma amizade?

E depois,
Não são loucos os que amam?
Não são esses os que sofrem?
Estou farto de sofrer
De me perder de amor.
No fundo,
Em nome de nada.
Duma mão cheia de nada.

O amor
É como a areia
Que me foge
Pelos dedos
Fecho a mão
E ele teima em fugir
Ainda assim
Quando terá fim?

Ontem pensei que sim.
Hoje já não sei.
Amanhã, o futuro dirá.


Luís Norberto Lourenço

FIGUEIRA DA FOZ, AGOSTO/2000