Este "blog" é a versão "on-line" da fanzine "Tertuliando", publicada pela Casa Comum das Tertúlias. Aqui serão publicados: artigos de opinião, as conclusões/reflexões das nossas actividades: tertúlias, exposições, concertos, declamação de poesia, comunidades de leitores, cursos livres, apresentação de livros, de revistas, de fanzines... Fundador e Director: Luís Norberto Lourenço. Local: Castelo Branco. Desde 5 de Outubro de 2005. ISSN: 1646-7922 (versão impressa)
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sexta-feira, agosto 17, 2018
DE QUE FALAMOS QUANDO FALAMOS DE FICÇÃO CIENTÍFICA PORTUGUESA?
Comecemos pelo princípio : que é isso de ficção científica portuguesa? Ou ainda antes , será que existe tal coisa ? É que, se já é dificil definir o que é na realidade, a ficção científica , mais difícil se torna tentar encontrar aquilo que nela possa ter . Ou seja , que se entende quando se fala de ficção científica em portuguesa? FC feita em Portugal?
Numa época que se assitiu na política ao fim do salazaismo , à transição para a ligeira abertura Marcelo Caetano e, por fim ,ao 25 de Abril , é a primeira das épocas relativamente férteis em textos portugueses de Ficção Científica .
Diante deste cenário enquadramo-nos perante uma conjuntura internacional pós segunda – guerra mundial onde as descolonizações são a palavra de ordem , a passagem de um momento de esperança após a morte de salazar . Todos sonharam com a alteração climática do Inverno para a Primavera Marcelista . No entanto Marcelo Caetano apenas fez uma pequena mudança de penteado institucional , lavou a cara às instituições e tudo continuou na mesma . É
neste conte contexto nacional numa luta entre colonizador e colonizados ,procura de defesa do El Dourado Português contra o tsunami da descolonização . A ficção científica de Mário Henrique Leiria é na opinião de Maria Manuela Kriller “Uma literatura de carácter político com maior incidência nos Novos Contos do Gin Tónico , onde a ironia e o humor dão o tom panfletário . (…) Põe em causa os seus generais , ditadores , miliatres , nazis e dissidentes soviéticos (…)”
A sua experiência como tradutor fê-lo criar um universo muito próprio . A. Huxley , Isaac Azimov foram alguns dos autores traduzidos por Mário Henriques Leiria na colecção Argonauta. Durante este mesmo período escreveu o prefácio do romance de Clifford Simak as Cidades Mortas.
Para compreendermos melhor esta apropariação da ficção científica por Mário Henrique Leiria iremos seguidamente analisar algumas das obras traduzidas pelo autor e seguidamente contrapondo-as com as obras que o autor caricaturou , quer nos "Novos Contos do Gin Tónico" , quer em" Contos de Direito Galático, quer no Mundo Inquetante de Josélia 18.
Na página seguinte apresentaremos um esquema diante do binomio Ficção Científica traduzido por Henrique Leiria na colecçe Argonauta ( Livros do Brasil) Ficção Científica Leiriniana . Durante a nossa pesquisa identificamos alguns textos manuscritos , mais concretamente “Sabe o que é … Sistema de Planetas Interplanetários ? “19, recortes de crítica literária europeia e sua opinião sobre este género literário 20
Apresentamos seguidamente um excerto de Contos do Gin Tónico para vermos como se apresenta o género de ficção científica leiriniana :
“Pul-Tra, rastejador polipoide de Algol-7, caixeiro viajante de máquinas de solidão, ao desembarcar no porto estelar de Troikalan em actividade profissional, foi abordado no bar do dito astroporto por Crostol, indivíduo insecto-voador, indígena do planeta, que delicadamente o convidou a tomar um recipiente de «Grum-Kvas VOP» como símbolo de boas vindas. Pul-Tra, com dois tentáculos e extremo cuidado, pegou no insecto indígena e, em gesto ritual, arrancou-lhe cerimoniosamente os órgãos visuais. Dado este acontecimento, foi detido para averiguações por um membro do Departamento Gravito-Sentencioso que gravitava de serviço no astroporto. A queixa foi imediatamente apresentada por Brastol, membro do grupo reprodutivo de Crostol (5º sexo), baseada na alegação de destruição desnecessária praticada na pessoa de um indivíduo do citado grupo. Processando-se em seguida a análise de Conjuntos, Circunstâncias e Condições, alegou a defesa que Pul-Tra, como todos os naturais de Algol-7,era de condição pacífica, sempre pronto a retribuir qualquer delicadeza recebida.Dado que, por contingência psico-somática, todos os naturais dessa região prezam e consideram como o maior bem a solidão e a contemplação interna (zan-zan-dag), Pul-Tra, ele mesmo vendedor das mais requintadas máquinas de solidão produzidas pela sua raça, devolvera no melhor estilo a amabilidade de Crostol, libertando-o dos órgãos visuais e, assim, da presença de imagens externas inoportunas. A acusação (Ministério Público – Comarca de Troikalan) no entanto, não aceitou esta argumentação, considerando que, como é sabido, os órgãos visuais dos indígenas de Troikalan são o elemento sustentador do equilíbrio sexual (5º sexo) dos grupos reprodutivos e a destruição desnecessária dos mesmos pode pôr em grave risco a imprescindível polinização das fecundações de grupo. A ignorância deste facto, disse, não pode de forma alguma servir como argumento para a absolvição do rastejador polipoide Pul-Tra, de Algol-7.
Como fez notar, há outras maneiras de ser agradecido além de «andar por aí a vazar olhos» .
A sentença (Sector de Rigel – Comarca de Troikalan) foi benigna, considerando como circunstância atenuante a boa-fé com que o acto fora praticado, embora a acusação tivesse protestado energicamente. Pul-Tra foi sentenciado a suportar luz nos olhos directa e ininterruptamente durante 37 rotações algolianas (factor + 7), com pena suspensa por 3 ciclos de Rigel. Ao grupo reprodutivo de Crostol foram concedidos dois binóculos reprodutores extra e, como indemnização simbólica, a posse temporária, durante a pena suspensa, do apêndice caudo-solitário de Pul-Tra. Pergunta-se aos estudantes atentos: foi a sentença coerente com os trâmites planetários em vigor (Sector de Rigel) ou houve abuso de poder?(…) “ O conto não tem quaisquer marcas temporais.
Esta obra tendo como tema a politica e a suas mudançasradicais, fez-que querer lê-la, pois o fascismo foi um regime duromas desenvolveu a nossa economia e a democracia foi e é um regime que desenvolveu a nossa sociedade, mas os ultimostempos do fascismo e o primeiros da democracia foram muitoexagerados e assim o autor recorre ao sarcasmo para os criticar,assim percebi um pouco mais dessa altura de uma forma maisinteressante.A obra está bem fudamentada, os seus contos não continuammuito grandes, mas em comparação ao primeiro livro estãomaiores, o que se torna um ponto desfavoravel, pois os seusmaiores contos são muito confusos, irracionais. Os pequenostambem o são, mas talvez por serem menores tornam-se maissimples para a sua compreensão. O sarcasmo está presente emtoda a obra, é como se fosse a imagem de marca do autor.Esta obra fez-me entender que esta altura foi muito complicada eque nem tudo está explicado nos livros, visto que o autorescreveu a obra antes e depois do 25 de Abril, é como se fosseum testemunho do que realmente acontecia no povo , como nãofoi censurada, a obra é bastante explicita dentro dentro dos sarcasmo do autor.
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