Desde a mais tenra infância que tive um fascínio por histórias de lobisomens, nessas alturas saía à noite para ver se existiam ou não. Desde essa altura que fui fazendo uma pesquisa paciente, primeiro em histórias infantis, depois noutro registo, o da histórias fantásticas e nos últimos tempos sobre as questões antropológicas deste “ser”.
Maldição, bruxaria? Seriam certamente cânones aproveitados por essas mesmas histórias ditadas pelo cunho da Igreja, na transição do paganismo para o Cristianismo.
Tal como nas histórias infantis em que as personagens devem procurar feiticeiros que lhes dêem respostas para acabar com os feitiços lançados, também decidi percorrer a floresta imensa da historiografia nacional e internacional. Que autores se dedicam ou dedicaram a estudar estas mesmas matérias?
Costuma-se dizer e com razão, “Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto”, e foi assim que decidi fazer percorrer diversas bibliotecas académicas (fossem elas de antropologia, história, ou não, de centros de investigação), todas elas se pautavam pelo mesmo registo uma ausência total destes estudos. Apenas se soltaram alguns magos e feiticeiras que tinham as poções historiográficas necessárias para chegar a acabar por este feitiço.
Na maior parte das vezes estes feiticeiros encontram-se e encontram fórmulas de encontrarem novas formas de continuarem as suas tarefas , neste caso evidente encontrei invocações certeiras de um dos encontros através de actas de estudos de literatura oral galega. Nestas actas encontrei pormenorizada investigação desde memórias, relatos, estudos, pesquisas arqueológicas, sínteses de lendas e um estudo da queda do deus em que o autor define que o lobo deixa de ser um deus presente no pantãeao basco, para passar a ser um aliado do demónio[1].
Passada essa transição, seria necessário aproximar-nos não só do período medieval, mas também como é que se reproduziu a ideia de um homem que era lobo, caçador e ao mesmo tempo homem, víril e sedento de carne, estando presente o estatuto do grupo, como fazendo parte do lobo. Há sobretudo dois estudos que nos ajudam a elaborar este imaginário medieval a partir da construção de reis que seguiam em regra as leis da Igreja e as novas regras impostas por esta mesma instituição[2], daí que o mesmo autor tenha escrito um pequeno estudo obra que tenha desenvolvido a evolução do lobo, a partir da sua estrutura, dentição, grupo e posteriormente, tenha abordado como foi construído o imaginário lendário e mítico em torno do lobo[3].
A partir daqui nasce uma nova concepção de lobo aquele a que a Igreja Católica foi construíndo ao longo dos séculos em que o lobo era servo do diabo.
De uma certa forma as lendas se foram apropriando desta última fase, que o diga Carlo Zimburgo que analisou grande parte dos escritos para época do final da Baixa Idade Média à transição do Renascimento.
O feitiço do lobo mau é algo que me estimula há muito tempo, e nesse sentido foi através de Carlo Zimburgo que encontrei os primeiros elos de ligação com o final do Império Romano e das invasões bárbaras , e posteriormente de grupos de homens vindos do Oriente trazendo as suas próprias culturas, e com elas as histórias de seres que levavam pessoas e eram capazes de comunicar com o demónio[4].
Em Portugal não há ainda uma obra sistemática sobre o imaginário de uma comunidade relatina á temática do lobos durante um determinado período temporal. Apenas tive acesso a algumas obras e autores que tivessem feito trabalhos semelhantes para estes períodos, Alexandre Ferreira indicou uma pista de duas páginas na sua tese de doutoramento “Os Mouros Míticos de Trás os Montes”[5], por esse motivo decidi comparar os géneros e embrenhei-me dentro dos bosques da literatura onde podemos encontrar alguns ecos da representação do lobisomem ao longo da Idade Média[6].
Nos últimos dez anos têm vindo a ser desenvolvidos nas universidades portuguesas alguns estudos sobre o imaginário dos lobisomens nos últimos dois séculos, nomeadamente através de Maria Amélia Colaço[7], posteriormente a revista Estudos Orientais num número dedicado aos estudos de homenagem ao Professor Doutor António Augusto Tavares, apresentou um dos seus artigos sobre a ligação do homem e do lobo numa perspectiva arqueológica[8].
Mais recentemente Arturo Branco, do Brasil, apresentou uma tese inovadora sobre o imaginário social construído a partir de fontes e da busca das razões pelas quais Bram Stocker escreveu o romance “Drácula”[9]. Passando os últimos séculos chego século XIX numa altura em que todas as lendas pressupõem uma nova busca com carácter científico, por almanaques, processos judiciais, e até mentais como uma outra forma de olhar as mentalidades e aqui esteja a resposta para quebrarmos o feitiço, ou simplesmente, processos judiciais ou psiquiátricos à boa maneira do Doutor Lombroso[10] .
A primeira lenda do lobisomem afirm que e quem tiver mais de um filho varão, o sétimo deverá correr fado, a menos que tenho um padrinho um irmão (o primogénito). A segunda hipótese diz-nos que se o padrinho no baptismo ocultar certas orações, estará a contribuir para que a criança se torne lobisomem. Por fim, a terceira e última hipótese, diz-nos que é através do casamento de parentes das mesmas famílias que podem nascer um lobisomem. O fadário consiste em ir despir-se à meia-noite, numa encruzilhada, espojando-se no chão, onde um animal já fez o mesmo[11].
Depois de termos analisado as questões dos arquétipos da história do lobisomem ao longo dos séculos, como é que a lenda do lobisomem se foi apropriando da imagem do lobo através de imagens, contos, moedas, e até na literatura. Em Portugal, Camilo Castelo Branco abordou o tema no folhetim “Os Mistérios de Lisboa”.
Maldição, bruxaria? Seriam certamente cânones aproveitados por essas mesmas histórias ditadas pelo cunho da Igreja, na transição do paganismo para o Cristianismo.
Tal como nas histórias infantis em que as personagens devem procurar feiticeiros que lhes dêem respostas para acabar com os feitiços lançados, também decidi percorrer a floresta imensa da historiografia nacional e internacional. Que autores se dedicam ou dedicaram a estudar estas mesmas matérias?
Costuma-se dizer e com razão, “Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto”, e foi assim que decidi fazer percorrer diversas bibliotecas académicas (fossem elas de antropologia, história, ou não, de centros de investigação), todas elas se pautavam pelo mesmo registo uma ausência total destes estudos. Apenas se soltaram alguns magos e feiticeiras que tinham as poções historiográficas necessárias para chegar a acabar por este feitiço.
Na maior parte das vezes estes feiticeiros encontram-se e encontram fórmulas de encontrarem novas formas de continuarem as suas tarefas , neste caso evidente encontrei invocações certeiras de um dos encontros através de actas de estudos de literatura oral galega. Nestas actas encontrei pormenorizada investigação desde memórias, relatos, estudos, pesquisas arqueológicas, sínteses de lendas e um estudo da queda do deus em que o autor define que o lobo deixa de ser um deus presente no pantãeao basco, para passar a ser um aliado do demónio[1].
Passada essa transição, seria necessário aproximar-nos não só do período medieval, mas também como é que se reproduziu a ideia de um homem que era lobo, caçador e ao mesmo tempo homem, víril e sedento de carne, estando presente o estatuto do grupo, como fazendo parte do lobo. Há sobretudo dois estudos que nos ajudam a elaborar este imaginário medieval a partir da construção de reis que seguiam em regra as leis da Igreja e as novas regras impostas por esta mesma instituição[2], daí que o mesmo autor tenha escrito um pequeno estudo obra que tenha desenvolvido a evolução do lobo, a partir da sua estrutura, dentição, grupo e posteriormente, tenha abordado como foi construído o imaginário lendário e mítico em torno do lobo[3].
A partir daqui nasce uma nova concepção de lobo aquele a que a Igreja Católica foi construíndo ao longo dos séculos em que o lobo era servo do diabo.
De uma certa forma as lendas se foram apropriando desta última fase, que o diga Carlo Zimburgo que analisou grande parte dos escritos para época do final da Baixa Idade Média à transição do Renascimento.
O feitiço do lobo mau é algo que me estimula há muito tempo, e nesse sentido foi através de Carlo Zimburgo que encontrei os primeiros elos de ligação com o final do Império Romano e das invasões bárbaras , e posteriormente de grupos de homens vindos do Oriente trazendo as suas próprias culturas, e com elas as histórias de seres que levavam pessoas e eram capazes de comunicar com o demónio[4].
Em Portugal não há ainda uma obra sistemática sobre o imaginário de uma comunidade relatina á temática do lobos durante um determinado período temporal. Apenas tive acesso a algumas obras e autores que tivessem feito trabalhos semelhantes para estes períodos, Alexandre Ferreira indicou uma pista de duas páginas na sua tese de doutoramento “Os Mouros Míticos de Trás os Montes”[5], por esse motivo decidi comparar os géneros e embrenhei-me dentro dos bosques da literatura onde podemos encontrar alguns ecos da representação do lobisomem ao longo da Idade Média[6].
Nos últimos dez anos têm vindo a ser desenvolvidos nas universidades portuguesas alguns estudos sobre o imaginário dos lobisomens nos últimos dois séculos, nomeadamente através de Maria Amélia Colaço[7], posteriormente a revista Estudos Orientais num número dedicado aos estudos de homenagem ao Professor Doutor António Augusto Tavares, apresentou um dos seus artigos sobre a ligação do homem e do lobo numa perspectiva arqueológica[8].
Mais recentemente Arturo Branco, do Brasil, apresentou uma tese inovadora sobre o imaginário social construído a partir de fontes e da busca das razões pelas quais Bram Stocker escreveu o romance “Drácula”[9]. Passando os últimos séculos chego século XIX numa altura em que todas as lendas pressupõem uma nova busca com carácter científico, por almanaques, processos judiciais, e até mentais como uma outra forma de olhar as mentalidades e aqui esteja a resposta para quebrarmos o feitiço, ou simplesmente, processos judiciais ou psiquiátricos à boa maneira do Doutor Lombroso[10] .
A primeira lenda do lobisomem afirm que e quem tiver mais de um filho varão, o sétimo deverá correr fado, a menos que tenho um padrinho um irmão (o primogénito). A segunda hipótese diz-nos que se o padrinho no baptismo ocultar certas orações, estará a contribuir para que a criança se torne lobisomem. Por fim, a terceira e última hipótese, diz-nos que é através do casamento de parentes das mesmas famílias que podem nascer um lobisomem. O fadário consiste em ir despir-se à meia-noite, numa encruzilhada, espojando-se no chão, onde um animal já fez o mesmo[11].
Depois de termos analisado as questões dos arquétipos da história do lobisomem ao longo dos séculos, como é que a lenda do lobisomem se foi apropriando da imagem do lobo através de imagens, contos, moedas, e até na literatura. Em Portugal, Camilo Castelo Branco abordou o tema no folhetim “Os Mistérios de Lisboa”.
[1] Para este assunto vejam-se as actas do Colóquio “O mito que fascina : do lobo ao lobishome “Actas do II Congresso de literatura oral em língua galega , 166 pp .. Aqui são apresentados algumas das conclusões de José Luís Garrosa , Axton Gomes e Xabier do Campo foram extraídas para algumas reflexões .
[2] Cf Daniel Bernard, Le sangue noir , Paris ,Gallimard , 1 ed, 1994 ,
[3] Cf Daniel Bernard, L’homme et loup , ( avec la colaboration de Daniel Dubois , Paris , s/ d Bernier Levaut , 1981 , 94 pp
[4] Cf Carlos Zimburgo , História Nocturna – A decifração do Sabat , Ed. Relógio de Água , 1995 , 1 a ed,
[5] Cf Alexandre Correia ,, Mouros Míticos em Trás os Montes ,vol.1 , Dissertação de Doutoramento à Universidade de Trás os Montes em Literatura POrtuguesa orientada pelo Professor Doutor Pedro Tamen , 2006, pp 52-54
[6] Cf Philiphe Menard , Les Histoires de Loup – Garou au Moyen – Age , in Symposium de l’homme ,Prof Riquer , Barcelona- Universitat Quadrenas , Crena , 1986 , pp 209 – 239
[7] Cf Maria Amélia Colaço ,O homem , o lobo e o cão , Dissertação de Doutoramento inscrita na Universidade Lusíada de Lisboa ( 1998 ) a decorrer ainda a sua investigação )
[8] Cf , Estudos Orientais – Revista do Instituto Oriental da Faculdade de Ciências Socais e Humanas , n . 7, 1998, Estudos de Homenagem ao Professor Doutor António Augusto Tavares
[9] Cf Arturo Branco , O morcego e o lobo , Tese de Mestrado em História Social , Goiania , 2009
[10]Para este assunto veja-se o artigo de Félix Castro Vicente, “Bibliografia sobre o Caso de Manuel Rosamanta “O homem de Urito “de um pregode cordel desconhecido sobre o tema” , Revista Lerhes , n.9(2009) , pp1-16
[11] Para este assunto veja-se a tese de Alexandre Parrita Ferreira , Mouros Míticos de Trás os Montes ( Disertação de Doutoramento ) , vol.I , p52
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