A 17 de Junho de 2010 folheava numa tarde o jornal Público quando olhei para um artigo que me chamou à atenção “As lendas só são lendas porque acreditamos nelas”[1]e pensei em inscrever-me no mestrado em História Contemporânea para desenvolver um aspecto único, fora dos parâmetros centrais da política ou da questão institucional. Interessava-me recolher as memórias dos descendentes de homens e mulheres, que durante anos tinham tido a fama de se transformarem em lobos e lobas nas noites de lua cheia, e que por algum azar teriam que viver com esta maldição. Pensei logo que era mesmo aquilo que eu queria estudar num futuro mais próximo. Estudar o lobisomem, como também procurar respostas para um fenómeno que hoje em dia afecta a extinção do lobo visto como o mau da fita, o animal que come as ovelhas, um ser sanguinário e predador. O lobo foi vítima do imaginário popular que fazia dele nas fábulas, nos ditados populares, em contos e sobretudo nas histórias infantis aquele ser mau e pronto a abater. Para tentar compreender este fenómeno decidi traçar cerca de dois mil anos de história na qual o lobo e o cão foram-se separando nesta aventura tomética. Durante esta demanda decidi pesquisar não só romances, como também relatos orais, processos judiciais e moedas onde o lobo surge como totem de uma determinada comunidade. Por isso não pude deixar de recuar aos tempos pré –históricos e observar as diferenças entre o lobo, o homem e o cão.
Se a ideia inicial era estudar um grupo de pessoas que eram descendentes de homens e mulheres que tinham fama de se transformar em lobos, a tarefa tornou-se inglória, porque os entrevistados se tornaram indisponíveis, porque temiam ser catalogadas como familiares de monstros, loucos haviam sido internado em hospitais psiquiátricos.
Desta forma fui obrigado a mudar o plano de estudo do meu trabalho e os objectivos inciais, se numa primeira fase seria estudar a forma como decorria a vivência entre familiares e comunidade entre as mesmas pessoas, agora já não havia mesmo dúvidas, mesmo sendo um caso real de foro psicológico, denominado licantropia, havia reminisciências de um passado nas zonas do Norte do País . Grande parte da população da região de Setúbal, assim como noutras cidades são oriundas de zonas montanhosas do Norte do País e mesmo as zonas mais próximas como Azeitão e Palmela poderiam ter estas mesmas histórias. Contactei o museu de Palmela, estive no Arquivo Distrital onde pensei encontrar alguma história ou processo judicial que se pudesesse encontrar vestígios entre o crime e a crença nesta lenda milenar.
Parti então para a segunda fase deste trabalho investigar a história do lobisomem a partir da sua origem, de que forma é que é que foi criada esta lenda e se foi desenvolvendo até ser escrita por diversos autores e ser contada em histórias para crianças foi um passo.
Costuma-se dizer “quem não caça com cão, caça com gato” e foi o que decidi fazer. Procurei os relatos orais recolhidos no século XIX por Adolfo Coelho[2].
O lobisohomem é um ser por excelência muito rico na tradição oral e na literatura em pormenores e histórias relatadas desde a Grécia Antiga, muito embora se possa conhecer uma aresta desta história, decidi pegar em todas as versões e juntá-las até chegar a uma conclusão. Sendo frequente ainda na representação destas histórias de que o lobo surja como companheiro do homem,ou simplesmente corredor, por correr fado. O certo é que a crença popular refere também o cavalo, o burro e o bode. Não se estranha por isso que no fadário popular, o lobisomem enquanto produto da fantasia popular, possa ser considerado como uma tentativa de apresentar uma criatura onde se conjuga a ferocidade maléfica do lobo com as emoções, angustiadas ou igualmente maléficas do homem. Aliás a fantasia tem a característica de produzir seres e situações que “não são materializadas” e que por isso, são apenas indícios para quem os cria ou para quem neles acredita.
O que me interessava investigar na história do lobisohomem, não é só aquilo que foi transmitido ao longo de milhares de anos, mas também o que fez variar a história do lobisohomem, por diversas culturas e em casos especiais se transformou numa espécie de ingrediente local condimentado à moda da cultura autócne.
Se a ideia inicial era estudar um grupo de pessoas que eram descendentes de homens e mulheres que tinham fama de se transformar em lobos, a tarefa tornou-se inglória, porque os entrevistados se tornaram indisponíveis, porque temiam ser catalogadas como familiares de monstros, loucos haviam sido internado em hospitais psiquiátricos.
Desta forma fui obrigado a mudar o plano de estudo do meu trabalho e os objectivos inciais, se numa primeira fase seria estudar a forma como decorria a vivência entre familiares e comunidade entre as mesmas pessoas, agora já não havia mesmo dúvidas, mesmo sendo um caso real de foro psicológico, denominado licantropia, havia reminisciências de um passado nas zonas do Norte do País . Grande parte da população da região de Setúbal, assim como noutras cidades são oriundas de zonas montanhosas do Norte do País e mesmo as zonas mais próximas como Azeitão e Palmela poderiam ter estas mesmas histórias. Contactei o museu de Palmela, estive no Arquivo Distrital onde pensei encontrar alguma história ou processo judicial que se pudesesse encontrar vestígios entre o crime e a crença nesta lenda milenar.
Parti então para a segunda fase deste trabalho investigar a história do lobisomem a partir da sua origem, de que forma é que é que foi criada esta lenda e se foi desenvolvendo até ser escrita por diversos autores e ser contada em histórias para crianças foi um passo.
Costuma-se dizer “quem não caça com cão, caça com gato” e foi o que decidi fazer. Procurei os relatos orais recolhidos no século XIX por Adolfo Coelho[2].
O lobisohomem é um ser por excelência muito rico na tradição oral e na literatura em pormenores e histórias relatadas desde a Grécia Antiga, muito embora se possa conhecer uma aresta desta história, decidi pegar em todas as versões e juntá-las até chegar a uma conclusão. Sendo frequente ainda na representação destas histórias de que o lobo surja como companheiro do homem,ou simplesmente corredor, por correr fado. O certo é que a crença popular refere também o cavalo, o burro e o bode. Não se estranha por isso que no fadário popular, o lobisomem enquanto produto da fantasia popular, possa ser considerado como uma tentativa de apresentar uma criatura onde se conjuga a ferocidade maléfica do lobo com as emoções, angustiadas ou igualmente maléficas do homem. Aliás a fantasia tem a característica de produzir seres e situações que “não são materializadas” e que por isso, são apenas indícios para quem os cria ou para quem neles acredita.
O que me interessava investigar na história do lobisohomem, não é só aquilo que foi transmitido ao longo de milhares de anos, mas também o que fez variar a história do lobisohomem, por diversas culturas e em casos especiais se transformou numa espécie de ingrediente local condimentado à moda da cultura autócne.
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